As Aventuras do Pequeno Eryk

18 – Um Gênio Preconceituoso


A criançada fazia a festa na combe do pai de Jessy. Não era muito a oportunidade de andar em um veiculo sem ser o ônibus, então eles achavam tudo aquilo muito divertido.

Jessy estava sentada na frente da combe ao lado de seu pai, mas ela estava de joelhos na cadeira e olhava o pessoal que só era a maior zorra.

Eryk, Junior e Luane ficavam cantando uma musiquinha infantil qualquer. O jeito que cada um cantavam era tão legal que quem a escutassem acabariam cantando junto também.

Menos se você for alguém como o Jeová. O garoto até apreciava a musica, mas não fazia questão de cantar junto. Diferente dos outros, ele estava sentado e de braços cruzados. Apesar da cantoria não ser ruim, Jeová queria que eles parassem logo de cantarem. Jeová não gostava de barulho, mas como aquilo não era tão ruim para ele, ele não faz questão de interromper aquilo, a menos que o chamem para cantarem junto.

– E aí Jeová! Você não quer cantar também? – Pergunta Luane após ter parado de cantar junto de Eryk e Junior – que não tinham parado com a cantoria – e ter se sentado ao lado de Jeová.

– Já tem quem faça isso por mim. – Respondeu sem dar bola para ela.

– Poxa... Você bem que poderia se descontrair de vez em quando, né?

– Humm... Não.

– Aff!

– O Jeová é um charlatão....! – Cantaram Eryk e Junior em coro.

– COMO É QUE É?! – Pergunta um Jeová aborrecido.

– Aí! Sem briga na minha combe! Ou serão todos usados como rodas! – Ameaçou Srº Fredson.

Algum tempo depois...

– Ô...! – Com exceção de Jeová, todos ficaram admirados com o lugar.

Já aviam chegados à escola de Jessy. Segundo ela, seria lá a famosa Feira de Ciências. Ainda nem era o dia e o local já estava lotado. Todos preparavam suas invenções, que pareciam mais bugigangas. Algumas eram feitas de madeira, outras era feitas de plástico, e a maioria eram feitas a mão. Não que não seja útil, mas não era o que a Feira propôs.

– Olha, não sei o que você vai inventar Jessy, mas pelo visto, você já venceu isso. – Afirmou Jeová enquanto dava uma olhada ao seu redor.

– Jeová. Apesar de que eu queira muito que a Jessy vença, nós não podemos afirmar isso. Pode ser que apareça uma invenção muito melhor que a dela, seja lá qual for. – Alertou Eryk.

– Credo Eryk! Nem parece que você quer que ela vença. – Deduziu Luane.

– O Eryk só está sendo realista – Defendeu Jessy – Temos que estar preparados para o que vem por aí. Mesmo que eu tenha muitas chances de vencer, não posso esquecer que qualquer coisinha pode me fazer perder essas chances na hora.

– Isso mesmo! – Concordou Eryk – A minha mãe me disse uma vez que não podemos subestimar os outros, se não, nós seremos os prejudicados.

– Pode até ser! – Falou Junior – Mas a maioria aqui é adolescente, e a Jessy é a única da nossa idade que estar participando disso. Então eu acho que vai ser moleza!

E enquanto eles falavam, Luane acaba parando de acompanhar o pessoal e fica curiosa com uma multidão que formava em uma das áreas dos que estava preparando as invenções para depois.

Luane estava parada e observava tudo de longe. Quando a loirinha ver um garoto com cabelos curtos e prateados, olhos verde-esmeralda e pele albina, acaba ficando admirada.

– Que garoto bonito... – Admitiu Luane admirada.

– O que foi Luane? – Pergunta Jeová após ter percebido que ela não os acompanhava mais e resolvi ir até ela.

Jeová só precisou ver para a mesma direção que ela para entender.

– Não querendo ser chato e nem nada, mas nós vamos nos separar do grupo se nós ficarmos aqui. – Tentou avisá-la, mas foi em vão e Luane ainda ficava lá do jeito que estava.

– O que foi pessoal? – Pergunta Jessy para os dois, enquanto o primo e o amigo a seguia.

– Jessy você conhece aquele menino? – Pergunta Luane esperando que ela responda.

Quando Jessy vê quem é, fica um pouco surpresa.

– Isso é novidade. Não achei que ele estaria aqui. – Comentou Jessy para ela mesma.

– Você conhece ele Jessy? – Pergunta Junior curioso.

– Só de longe. O nome dele é Austin Vendaval, conhecido por ser um gênio prodígio. Doze anos, pele clara e família muito rica por sinal.

– Oh...!

– Nossa! Como você sabe de tudo isso Jessy? – Pergunta Junior surpreso.

– Nós gênios temos que nos reconhecermos um ao outro, não é?

– É. Eu acho...

– Há olha Jessy! Ele tá vindo pra cá! – Alertou Luane para morena um pouco nervosa. O rapaz era belo, o que fez o coração de Luane ficar a mil.

Porém, Jessy estava tranquila quanto a isso, mas mesmo assim, estava um pouco nervosa em relação a saber que tipo de pessoa ele era.

– Oi, meu nome é Luane, eu não vou participar dessa feira, mas eu-

– O que temos aqui. – Falou o garoto passando por Luane e ficando frente a frente de Jessy. A loira vira uma estatua rachada por ter sido ignorada sem mais nem menos, enquanto Eryk, Junior e Jeová começam a rir alto e histericamente da situação.

– Meninas... – Comentou Jeová entre as gargalhadas.

– Meu nome é Jessy Cardoso. Você deve ser Austin, certo?

– O que alguém como você faz por aqui? – Pergunta Austin.

– Eu vou participar. E pelo visto, seremos competidores, não?

– O que faz pensar que eu vou participar?

– Oras, um gênio numa feira de ciências, o faz pensar nisso, não? – Concluiu.

– Heh pois tem razão. – Afirmou Austin jogando seu curto cabelo para o lado.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAI QUE GATO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! – Gritava Luane com coraçãozinhos no lugar dos olhos.

– Como eu disse antes: Meninas! – Repetiu Jeová.

– Quantos anos você tem Cardoso? – Pergunta Austin.

– Acredite ou não, eu tenho seis anos.

– Eu já ouvir falar de você. Uma garotinha de seis anos já é uma gênio. Como isso é possível?

– É uma longa historia. E por motivos de segurança, eu não posso contar.

– Segurança? E você tem que se segurar de quem?

– Você não entendeu. VOCÊ tem que estar seguro de “mim”!

– Eu odeio quando ela faz isso! – Admitiu Eryk um pouco nervoso de medo.

– Heh! Não importa o que você vai inventar, eu já ganhei isso. – Afirmou Austin.

– Heh digo eu. Não tem como sabermos até chegar a hora. Então é bom você estar preparado, porque eu vou estar! – Advertiu Jessy.

– Você se acha muito, não é? Se você sabe tanto então deve saber quem inventou a lâmpada.

– Você chama isso de desafio? Eu chamo de piada. A VÁRIOS inventores! Humphry Davy, Henry Woodward, Mathew Evans, quer mais? Deveria me perguntar algo mais gratificante, como... Quem foi o primeiro professor?

– Há! Isso não é nem uma piada, é uma pegadinha. O primeiro professor no mundo foi os nossos pais. Você não saberia qual é o nome da primeira evolução da raça humana.

– Primatas para humanoides. Qual foi o primeiro filosofo?

– Tales de mileto. Quem inventou o carro?

– Karl F. Benz e Gottlieb W. Daimler. Quem criou a teoria da relatividade?

– Albert Einstein. Qual era o nome do pai do descobridor do Brasil?

– Dom João VI. Quem...

E enquanto os dois travavam uma batalha de Gênios, os cérebros de Junior e Luane estavam quase torrando, ao ponto de sai fumaça de suas cabeças. Enquanto Eryk e Jeová tentavam acompanhar o raciocínio dos dois, apesar de Eryk estar com mais dificuldades do que Jeová.

– Ai meu crânio! – Falou Junior sentindo sua cabeça latejar.

– Basta! Vamos acabar com isso logo. Só tem um jeito de sabermos isso! – Falou Austin.

– Com certeza! – Falou Jessy.

– Vencendo a Feira de Ciências amanhã! – Disseram os dois ao mesmo tempo.

– Bom, mas competições a parte, será um prazer competir com você. – Falou Jessy amigavelmente, enquanto estendia sua mão direita, esperando um aperto de mão.

– O que é isso? – Pergunta Austin.

– Ué? Você não sabe o que é um aperto de mão?

– É claro que eu sei. Eu pergunto o que faz pensar que eu vou apertar uma mão de uma negra?

Todos que estavam escutando isso foram surpreendidos. Já Jessy, não estava acreditando no que acaba de ouvir. Eryk acaba ficando mais interessado na conversa do que antes.

– O-o-o-o quê v-v-vo-você quis d-d-dis-dizer com isso? – Pergunta Jessy um pouco abalada.

– Eu quero dizer o que você ouviu. Não me socializo com a raça negra.

– Ei cara! Que historia é essa?! – Pergunta Eryk começando a se irritar.

– Você é racista? – Pergunta Jeová, sem perceber, deixa Jessy mais abalada do que já estava.

– Eu sou o superior da raça humana. O branco é sempre o principal dos humanos. E isso deveria continuar assim, se a nossa desprezível princesa Izabel não tivesse abolido a escravidão.

– ESCUTA AQUI SEU... – Eryk o segura pela argola da camisa e o encara furioso, enquanto Jessy desaba no chão, magoada.

– Jessy... – Chama Junior indo consolar Jessy. Os dois morenos se abrasão, enquanto sentiam a dor de um do outro.

– Uma atitude violenta de uma pessoa de pouco celebro, eu suponho. – Falou Austin ainda sendo segurado pela argola da camisa.

– Eryk você dali nele ou dali eu? – Pergunta Jeová ainda furioso.

– Você... Você não tem o direito de dizer isso! – Falou Junior com lagrimas nos olhos, enquanto Jessy já estava a chorar desde que ficou de joelhos no chão.

– Eu tenho o direito de tudo o que me bem entender! E você me solte! – Falou Austin se soltando de Eryk.

– Não importa se você é um Gênio ou não, se você é rico ou não, NADA te dar o direito de dizer isso! Olha como você deixou eles! – Aponta Eryk para Junior e Jessy.

– Eles estão no lugar que deveriam. No chão!

– ESCUTA AQUI CARA! – Jeová já ia avançar nele, mas Eryk o impede com seu braço. – ERYK ESSE CRETINO TÁ FALANDO DA SUA PRI-

– EU SEI DISSO JEOVÁ! – Interrompeu Eryk – Mas... Mas não se preocupe... “Porque a Jessy vai humilhar ele amanhã com a sua invenção incrível!” – Concluiu Eryk com um sorriso confiante e provocador para Austin.

– Essa crença, meu amigo, é fútil. Não adiantará de nada. Não existe ser mais inteligente do que o lado branco da humanidade.

– Não meu caro. O mais inteligente, é a PRÓPRIA humanidade! E a Jessy vai te provar isso amanhã! Que fique bem claro!

– Ora, ora... E porque você apoia tanto ela? – Pergunta Austin friamente.

– Hehe... Por quê, ele pergunta. – Repetiu Eryk – Sabe mesmo por quê? Porque ela é a minha prima! – Respondeu.

– Prima? Você não só defende uma negra como também defende sua prima distante?

– Distante? – Pergunta Eryk confuso. – Não, não. Ela não é uma das minha primas distantes. Ela é filha do irmão da minha mãe. – Respondeu sinceramente.

– Da sua mãe?! – Pergunta incrédulo – Ela é branca?

– É.

– E você é adotado?

– A-adotado?! NÃO cara! Eu sou filho dela mesmo.

– M-mas... Mas como isso é possível?!

– Ih mano. Nem eu sei de como é que nós nascemos. Minha mãe disse que é por causa da garça, mas-

– NÃO É ISSO SEU ESTROPÍCIO! Não, espere... Qual é a cor do pai e da mãe dela?

– Os dois são morenos.

– Mas... Isso significa que... Sua mãe tem um irmão negro?!

– Aham. – Respondeu Eryk alegre.

– Não... Isso eu não posso aceitar! JAMAIS! – Austin corre para ir embora, mas antes de cruzar a saída, ele para e fala para Jessy – Espero que você compareça amanhã, Cardoso... Porque se não... Darei um jeito de apagar TODA a raça negra! E olha que eu posso! – Ameaçou antes de ir embora finalmente.

– É ISSO AE! RALA PEITO DAQUI, E LEVE ESSE SEU PRECONSEITO RIDICULO COM VOCÊEEEE! – Berrou Eryk chutando o ar em seguida.

– Esse cara é malvado. – Afirmou Luane. – Será que ele pode fazer o que ele disse?

– Eu duvido! – Falou Jeová.

– Jessy, vamos... Jessy? – Chama Eryk pela prima, mas ele a encontra ainda de joelhos no chão, arrasada, enquanto Junior ainda a abraçava.

– E... Eryk... – Chama Jessy melancolicamente.

– Esse cara... ESSE CARA... – Junior estava tão abalado quanto a Jessy. Suas lagrimas caiam, mas não tanto quanto ela.

– Jessy... – Suspira Luane com a mão no coração.

– Jessy... Junior... Não se preocupe. Porque se depender de mim, vocês estarão no topo de todos. Vem cá, vem.

Eryk se dirige até os dois e os abraçam. Luane e Jeová fazem o mesmo. E enquanto a multidão que tinham formado com toda a berraria, estava lá, viam aquela cena como a mais linda e comovente possível.

Os cinco, abraçados, e encolhidos. Sentiam todo o carinho da união e, ao mesmo tempo, a dor que eles sentiam de ter que aturar um preconceito tão desumano.

Continua...