Só me lembro de acordar no outro dia com mais fome ainda do que já havia (o ponto é, quando você dorme morto de fome, você acorda mais morto de fome ainda). Decidi sair do quarto e ir ate o refeitório.Tive que sair sorrateiramente pois os meus dois colegas de quarto ainda dormiam.Deviam ter chegado tarde da noite, quando eu já estava dormindo e nem me chamaram para não me acordar. Estava um, todo enrolado na coberta, parecendo um casulo, e o outro, estava com apenas as pernas de fora. Peguei minhas roupas sem acordar eles e fui para o banheiro e tomei banho (o chuveiro ainda esta queimado). Sai de la e resolvi comer.

Fui ao refeitório, até que quando estava chegando la encontrei a sapa-gigante me olhando com cara feia. Dei meia volta e fui para debaixo de uma arvore grande que eu sempre ficava nos tempos livres, e que eu costumava ficar le embaixo olhando as estrelas. Era uma macieira de primeira (Confesso a vocês que não sou muito fã de maçãs...Mas quando se esta com fome é melhor que nada). Comi algumas maçãs e cochilei um pouco embaixo da arvore. Quando acordei percebi que estava atrasado, não daria tempo nem de ir para os alojamentos pegar um lápis. Fui correndo para as salas de aula, na esperança que a professora ainda não tivesse entregado as provas.

Sai correndo nos corredores que davam acessos para as provas e subi as escadas, virei à direita e passei de uma porta. Voltei ate a porta que tinha passado e olhei la dentro.Teresa já estava passando as recomendações, voltei o corpo e fiquei na frente da sala e falei:

"Com licença professora" passando a mão nos cabelos e com um sorriso sem graça.

"Sertekeros, como sempre se atrasando, estou começando a achar que você só faz isso para os outros te olharem, ainda mais hoje que eu falei que haveria pessoas novas, quer chamar a atenção. Acho que devia ir dar uma passadinha na sala da senhorita Pifes, a psicologia da escola, mais tarde" a professora estava errada, tudo que eu mais queria era não chamar a atenção, ainda mais hoje, que teria pessoas novas na escola, começaria de novo passando a ideia de 'o menino problemático, que precisa de ajuda, pois tentar desesperadamente chamar a atenção' odiava esse titulo que colocaram em mim.

Virei os olhos e falei com um sorriso falso: “Nossa tudo que eu mais quero é chamar atenção. Mas como disse, depois da prova eu vou procurar ajuda. Agora, posso entrar ou não?"

"Entre"

"obrigado, ha, visite mais meu tio, ele gostou muito de você, sabia?"

A professora ficou vermelha e sem graça e abaixou a cabeça e arrumou os óculos, tentando disfarçar que ficara vermelha feito uma pimenta.Sentei no único lugar vago na sala, ficaram todos me olhando e isso é horrível (a pior parte de chegar atrasado, se você já chegou sabe do que eu estou falando,é que todos querem saber por que você chegou atrasando, e quem era você e te olhavam como se culpassem você por algo muito grave. Como se olhassem para o cara que matou a mãe, exemplo estranho, mas olham assim mesmo).

Sentei perto da janela, do lado de um cara estranho de sobre tudo preto, que usava uma cartola preta. Me lembrei por alguns momentos de Arthur.Até que Teresa se recompôs e cortou minha linha de lembranças falando sobre o teste. E distribuiu uma folha para cada primeiro aluno de cada fileira, e iam passando as provas.

Peguei minha folha e era o ultimo da fileira, então não precisava entregar folhas para mais ninguém. Lembrei então que não havia passado em casa e que estava sem lápis. Vir-me-ei para o lado e pedi para a pessoa mais próxima de mim,o esquisito.

"Ei, com licença, mas...Você poderia me emprestar um lápis?"

"Amarelo ou prata?"

"Ahhh... De escrever?"

"Não, não. Estou perguntando a 'capa' do lápis.Então amarelo ou prata?"

"Sei la, prata?"

"Boa escolha. Se tivesse falado amarelo eu não ia ter" disse ele com um sorriso de lado, seu olho estava sombreado por causa da cartola,não dando para vê-lo direito. Mas também, quem usaria uma cartola no meio da sala? Em plena 10h30min da manhã?

Olhei meio de lado e peguei o lápis e me virei

"Obrigado, depois eu te devolvo"

'O que você pensa e sabe das Estrelas'

Bom, de acordo com a ciência as estrelas são uma grande e luminosa esfera de plasma, mantida íntegra pela gravidade. Para alguns as estrelas foram feitas para as pessoas ficarem perto dos familiares que já haviam morrido (de acordo com eles, quando as pessoas morrem elas viram estrelas). O que eu penso é que todas as teorias estão certas.

Meu pai uma vez me disse que Deus criou as pessoas e que quando seus entes queridos morriam eles ficavam muito tristes. Uma criança antes de dormir pediu a Deus que ele deichasse ele ver a mãe nem se fosse um pouco e então as estrelas surgiram. Iluminando não apenas o céu ao anoitecer, mas também a alma das pessoas que perderem quem elas tão amavam.

Acho que foi por isso que peguei essa mania de olhar para o céu à noite, acho que mais ainda hoje em dia. Antes olhava para ver se alguém la em cima me ajudava, hoje olho e me pergunto se alguém que eu tanto amo esta bem, e se ela se lembra de mim, se ela pensa em mim todas as noites como penso nela.

Para as estrelas não 'morrerem'(se transformarem em buracos negros) elas precisam da luz do Sol. E sei que ninguém acredita nisso mas, se um dia o Sol (a estrela central do Sistema Solar) para de fazer sua própria energia e vier a 'morrer' ela levaria toda a humanidade consigo. Eu sei que ninguém acredita nisso, mas já passou pela minha cabeça e eu acho que seria possível.

Esse foi o meu teste de ciências. Quando acabei, Tereza veio até minha mesa e recolheu o teste. Olhei para o lado, para devolver o lápis para o esquizito, mas ele não estava mais la.

Sentei em baixo da maçainheira com o lápis na mão.Até que de repente uma mão pegou no meu ombro e disse:

"Eai, como foi a prova,cara?"

Olhei para o lado e vi que era o sujeito esquisito.

"Ah... Eu estava te procurando..."

"É, percebi. Você tem visão de raios-X?" disse ele rindo

"É serio, eu queria devolver o lápis..." foi então que eu entendi a piada "Eu...eu estava procurando por você então cansei e sentei embaixo da arvore"

"É mesmo? Pois eu vi outra coisa" disse ele pegando o lápis

Eu estava pronto para xingar ele, quando um maluco de boina e roupas largas chegou correndo, parecia um animal, então disse:

"Que bom que achei vocês" disse ele recuperando o fôlego

Adivinhem, também não dava para ver o rosto do infeliz.Mas sua voz me parecia familiar.

"Vamos temos que ir agora" continuou ele

O esquisito me puxou pelo pulso me levantando e então começou a correr e a me puxar

"Deve ser algum engano. Acho que me confundiram com alguém e..."

"Não, você é você e eu sei quem é você” disse o esquisito me cortando, que depois dessa frase estava mais para maluco.

Continuamos correndo ate que demos de cara com um espelho. Então eu travei. Não podia ser verdade, agora tudo fazia sentido. Agora eu sabia por que a mulher do refeitório havia se assustado. Como eu não tinha percebido antes?

"O...O meu olho! Meus Deus..." disse eu cobrindo o olho com a mão e abaixando um pouco a cabeça

"Você não se lembra como ele esta assim ou não quer acreditar?" perguntou o esquisito puxando ainda mais a cartola só dando para ver ser sorriso de lado. Ele estava errado eu sabia o que havia acontecido, eu havia falado com Joana ontem. Então...por que parecia tão distante aquilo tudo? Será que eu estava me esquecendo de alguém? De alguma coisa importante? Ao mesmo tempo em que me lembrava de tudo e sabia como havia ganhado aquele machucado e quem era Joana, parecia que não fazia a menor ideia, só achava que conhecia eles de algum lugar..Mas qual? Por que lembrava tanto da pequena época que passei com meu pai e meu tio? E das historias que minha vó contava para minhas primas enquanto eu depois de ter recusado ouvir, pois falava que era de crianças de menina, e continuava a ouvir atrás da porta, pensando que ninguém sabia...?Nada fazia sentido...

"Arthur, o que faz aqui?"

O príncipe se assustou tanto que perdeu o jeito e acabou caindo, com a cartola no seu olho. Então ele tirou a cartola e colocou no colo, com as pernas cruzadas. Dando para ver seus cabelos pretos e bagunçados.Então ele disse sorrindo:

"Sets, desde quando..."

"Não faço a menor ideia, às vezes eu nem me lembro de quem é você. Apenas disse, estou confuso de mais" disse eu de costas ainda para ele o cortando, me senti mal por ter falado isso para alguém que eu achava que era meu melhor amigo, mas eu não me lembrava de ao certo por que eu achava isso.

"O que esta acontecendo aqui gente?Por que estão ai parados? E pó que você esta sentado seu idiota? Não me diga que é hora do chá de novo..." disse o maluco, revirando os olhos

"Ola Alpha!Tudo bem?"

Alpha caiu de bunda no chão

"Arthur desde quando? Ele..."

"Agora que se sentou pode ser a hora do chá. Junte-se a nos Sets?"

Eu ri.

"Vocês não mudam" disse eu agachando e me virando olhando para eles, cobrindo o machucado do olho com meu cabelo preto, que estava mais comprido do que nunca.

"Ei, ninguém me respondeu.Seu cretino, me fale logo!!"

"Só falo para pessoas que tem mais de 1,80 de altura. Tome seu chá e cale a boca"

Chorei de rir. E os dois então sorriram. Então continuei:

"Mas, para onde estavam me levando?"

"Todo mundo esta esperando, estamos te levando de encontro"

"Como assim, todo mundo?"

"Desculpa cara, eu tentei, juro que tentei...Mas..Você sabe quem eu não consegui trazer e..."

"Não tem problema. Desculpe pelo que falei agora pouco eu não queria te magoar, você sabe como é importante ter trazido o pessoal aqui para me ver. E o simples fato de você tentar eu sou eternamente grato a você" disse me levando e estendendo minha mão para ele. Que a pegou e se levantou e bateu a mão nas minhas costas.

"Eternamente...Quanto da isso em xícaras de chá?"

"Am??"

ele riu e Alpha continuou:

"Ele ta com essa mania de chás agora, depois do noivado parece que ele começou a tomar mais chá...Ahhhhhhhhh cara, você estava se sentindo sozinho, vem ca!!Ahhhhhhh, eternamente grato, como você é legal" e começou a me abraçar e a me apertar

"Realmente, me arrependo pelo que acabei de dizer...Me solta sua raposa. E que historia é essa de chá?" depois do 'raposa' ouvi um resmungar de 'Pow cara' e alguns choramingo e ele me soltou.

"Único momento que posso ficar sozinho. Ela fica falando comigo de coisa de vestido...Me irrita um pouco, ela precisa de uma amiga. Estou farto” disse Arthur ainda rindo da fala de Alpha.

"Vamos logo então" disse segurando a risada.