Arte

Capítulo Único


Não sei se foi destino ou se sequer era pra ser. Só sei que, naquela noite de quinta-feira, eu encontrei Kim Mingyu. O calouro de artes visuais conversava com seus amigos numa animação indescritível. Alguma coisa me fez conhecê-lo, talvez o jeito que ele irradiava felicidade fosse mais que o suficiente para atrair-me para o garoto. Depois de alguns meses, nós já dividíamos os nossos mais insanos devaneios, um sempre ao lado do outro.

Ele gostava de me falar sobre arte. Picasso, Da Vinci, Van Gogh. Ah, Van Gogh. De alguma forma, ele sentia algo extraordinário pela tal Noite Estrelada. Mas o Kim não ficava apenas nos quadros, ele contava-me sobre esculturas, desenhos, música e até literatura. Aquele pequeno universo de coisas que transbordava imaginação era a minha diversão de segunda à segunda. Como gesticulava, a sua fala afobada que o fazia quase ficar sem ar, ele simplesmente parecia precioso demais para esse mundo.

Eu, por outro lado, fazia filosofia. Perguntava-o, de vez em quando, sobre as coisas da vida, o universo e tudo o mais. Alguns dizem que filósofos tem essa mania estranha de fazer perguntas que nunca terão respostas, o que não era de todo errado. Mas, ora, qual o sentido de fazer perguntas com respostas prontas?

Chegou um certo dia em que meu professor fez a seguinte pergunta: O que é arte? Claro, como qualquer pessoa faria, pensei em procurar num dicionário. Mas, com certeza, não acharia o que eu desejava. Tentei buscar em livros e mais livros de artes alguma coisa que desse-me sequer uma simples sombra do que eu deveria entregar. Para o meu desânimo, a cada vez que eu procurava, a incógnita apenas crescia.

Decidi conversar com Mingyu. Ele deveria saber alguma coisa, não? Afinal, artes era simplesmente o que ele respirava. Depois de um tempo jogando conversa fora, eu o perguntei. "O que é arte, afinal?". O silêncio pairou entre nós durante um momento. Eu observava seus olhos castanhos intrigados que procuravam uma resposta sólida em algum lugar de sua mente. Talvez nem ele mesmo saberia. Até que ele me deu uma resposta, sem muita certeza.

"Ah, Wonwoo. Você sabe, não sabe? Pinturas, livros e músicas podem ser considerados artes pelas pessoas. Mas, o que é, de fato, arte? Alguns dizem que é algo que te transmite algum sentimento, já outros costumam dizer que arte é aquilo que é belo. Eu acho que é apenas uma grande mistura de tudo isso."

E, então, eu decidi.

Se arte é aquilo que é bonito, poderíamos dizer que os seus olhos castanhos que estão em constante euforia, comportando uma constelação inteira seriam claramente arte. Ou o jeito que seus cabelos descabelados porque não havia tempo - ou ele simplesmente não teve vontade - de arrumá-los caíam com uma graça inexplicável sobre seu rosto. O seu sorriso, que eu não conseguia contemplar sem sorrir igualmente. Quem sabe o jeito que o garoto gesticulava com animação ao conversar comigo? Tudo isso era belo. Tudo isso era arte.

Seu sorriso transmitia-me felicidade. Seus braços envolvendo o meu corpo frágil me passavam o maior conforto que eu poderia sentir. E as suas lágrimas que eu detestava ver entristeciam o meu coração como nenhuma música poderia fazer. Ah, mas Mingyu transmitia ao meu coração amor. Mas o que seria o amor? Talvez o jeito em que ele me abraçava forte durante as noites tempestuosas, ou o jeito que ele me chamava de dele, aquela sensaçãozinha de calor, como se o sentimento em si abraçasse meu coração com seus pequenos bracinhos que parecem não suportar nem a menor das alegrias, mas pode comportar todo o meu carinho e afeição.

Então, professor, eu não abri um dicionário para fazer essa tarefa. E eu espero que, no final de tudo, abaixo das informações gramaticais de tal sentimento, esteja escrito com as mais singelas letras o nome do meu amor. Porque, ele sim, é a mais pura definição de arte.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.