Enquanto Leonard McCoy tratava o ferido, o nausicaano se sentara em um tronco e, sem tirar os olhos do médico, havia comido tranquilamente o guisado, usando apenas as mãos. Depois de acabar, ele jogou a panela no chão e soltou um grande arroto, satisfeito.

— A comida estava boa, humano – disse.

— Que bom que você gostou! Da próxima vez eu trago a sobremesa também – respondeu McCoy, olhando irritado a panela vazia.

O grandalhão nem se deu ao trabalho de responder. O doutor voltou então novamente a sua atenção para seu paciente, aplicando um medicamento com o hypospray (1) diretamente na ferida. Depois de alguns segundos de observação, McCoy suspirou desanimado.

— Ele continua sangrando – disse o médico – a ferida é muito profunda para o coagulante fazer efeito. Será preciso cauterizar.

— Faça isso então – respondeu o nausicaano.

— Não tenho nada no kit que eu possa usar – disse McCoy – a melhor opção seria eu tentar usar o phaser.

O nausicaano deu uma risada rouca.

— Você pensa seriamente que eu colocar uma arma em suas mãos, humano? – perguntou ele - Pense em outra solução!

McCoy franziu a testa e respondeu irônico:

— Estou aberto às suas sugestões “doutor”. Mas me diga rápido o que devo fazer, porque o tempo deste cara está acabando rápido.

E se sentou no chão, com os braços cruzados.

O nausicaano olhou, sem acreditar. Depois apontou o disruptor para ele.

— Que tal se eu matar você agora? – perguntou o sujeito.

— Grande ideia! – respondeu McCoy – depois você fica aí sentado, pensando na vida e vendo seu amigo morrer.

— Ele é meu irmão – disse o nausicaano.

Os dois ficaram em silêncio por alguns momentos, olhando um para o outro. Por fim o nausicaano se levantou e aproximou-se de McCoy, encostando sua arma na cabeça do médico. Em seguida tirou o phaser da cintura e o entregou a ele.

— Muito bem, humano – disse – faça o que for necessário. Mas qualquer movimento em falso eu expludo a sua cabeça.

O médico aplicou um anestésico no local. Em seguida pegou o phaser e o regulou para emitir um feixe concentrado de calor e o direcionou para as artérias do ferimento que ainda apresentavam sangramento e com muito cuidado foi aplicando o raio estreito, apenas o suficiente para estancar a hemorragia.

Depois de acabar de cauterizar, McCoy, fez com um curativo improvisado para fechar a ferida, usando o kit médico básico que havia trazido.

— Isto é o melhor que eu posso fazer por enquanto – disse o médico – precisamos esperar e ver como ele reage aos medicamentos.

— É bom que ele melhore humano! – disse o nausicaano, retirando o phaser de suas mãos – se ele morrer, você terá o mesmo destino num piscar de olhos.

— Que notícia encantadora – murmurou McCoy, suspirando e olhando para suas mãos sujas de sangue, que temiam ligeiramente.

O gigante voltou a se sentar no tronco, sem tirar os olhos do médico.

McCoy se encostou-se à árvore perto do ferido, também observando o nausicaano. Já deduzira que dificilmente sairia vivo desta aventura, seu “paciente” se recuperando ou não. Precisaria aproveitar qualquer vantagem ou brecha que conseguisse para sair daquela enrascada.

— Então – perguntou finalmente o médico para o sujeito – como é que o seu irmão conseguiu este “carinho” na barriga?

O nausicaano emitiu um som que parecia um grunhido e respondeu dando um sorriso feroz.

— Digamos apenas que nós nos envolvemos na negociação de alguns itens que havíamos “importado” para este planeta. Mas os compradores não pretendiam cumprir o nosso acordo e a situação não terminou nada bem para eles. Infelizmente meu irmão também foi ferido e por enquanto nós estamos muito longe da nossa nave.

— Que azar heim! – comentou McCoy.

O médico sabia que dentro de dois dias a equipe do resort viria buscá-lo em um carro aéreo para levá-lo de volta. Se ele não fizesse alguma coisa, com certeza todos seriam mortos assim que chegassem e estes dois já estariam longe quando seus corpos fossem achados.

Neste momento o nausicaano ferido começou a gemer e apresentar alguns tremores. Estes eram sintomas normais por ele estar debilitado e com febre. McCoy, vendo que o irmão dele estava olhando preocupado, decidiu que esta era a oportunidade que ele estava esperando.

Referência do Capítulo:

(1) Um Hypospray (coloquialmente, hypo) é um dispositivo médico usado para injetar líquidos no corpo de modo não invasivo, ao usar um sistema de ar comprimido para transferir a substância através da pele, sem o uso de agulhas, dor ou risco de contaminação.