Estamos no aeroporto de Mumbai. Nosso voo sai as 07:00pm. Somos os últimos a entrar no avião, todas as cadeiras já estavam ocupadas, menos duas que estavam no fundo do avião. Olho para cada passageiro tentando identificar algum Mog, mas todos parecem ser normais.

– Acho que o voo está seguro. - Disse Reynolds.

– Aquele Mog parecia ser uma pessoa normal, lembra? – digo alertando-o.

– Fique calmo e descanse um pouco.

Encosto no banco e durmo. No sonho vejo uma sala grande, parecia uma sala de conferencias. Havia dezenas de homens em uma mesa e outro homem do centro dela. Seus olhos eram tão negros quanto à noite e percebo que todos eles são Mogadorianos. Atrás dele tem uma foto de um homem de mais ou menos quarenta anos.

– Este homem se chama Conrad Hoyle. Seguindo informações de nossas fontes ele é Lorieno, um Cêpan. – disse o homem que estava no centro, parecia ser um General.

Meu coração para, como estou vendo tudo isso? Ele será o Cêpan de quem?

O General aperta um botão e mostra uma casa em chamas e disse que Conrad estava lá, mas conseguiu escapar. Depois mostra uma foto dele em um trem, a foto não tinha muita qualidade parecia que fora tirada de um celular.

– Cremos que Conrad está separado de sua Garde, que é nosso objetivo principal. Segundo nossas fontes é uma menina e tem de dez a treze anos. Ele está indo para Londres e deve ter um lugar seguro para se encontrar com a garota. – disse o General.

Vejo um ônibus vermelho de dois andares e lá dentro está Conrad. Logo depois vejo uma explosão e um homem sendo jogado pra fora e logo se transforma em cinzas. Os Mogs atiram no ônibus que começa a pegar fogo e Conrad desce com duas metralhadoras nas mãos. Uau os Cêpans são incríveis, penso.

Varias pessoas normais estão correndo para longe e escuto sirenes de carros de emergências. Conrad está atirando tudo o que tem nos Mogadorianos. A cena muda para uma casa e vejo uma garota de óculos com o cabelo castanho-avermelhado, escrevendo uma mensagem no computador, minutos depois sua casa está cheia de Mogadorianos.

Reynolds me acorda assustado por que estava falando e até chorando enquanto dormia.

– O que aconteceu? Por que está chorando?

– Acho que eles encontraram a Nume...

Sinto uma dor terrível em meu tornozelo direito. Uma dor que já conhecia. Mais um Garde, mais um companheiro estava morto. A fila havia andado e eu estava mais perto do meu destino de enfrentar os Mogadorianos. Olho para Reynolds que já sabia que isso significava. Ele olha pros lados e vê que o banheiro estava vazio.

– Vamos para o banheiro. Consegue andar?

Não consigo responder pela dor. Reynolds me pega no colo e me leva para o banheiro do avião.

– Algum problema senhor? – disse a comissária de bordo.

– Não senhora, ele está um pouco enjoado – mentiu.

– Mas senhor, vocês tem que voltar para seus lugares, já vamos começar a pousar e vocês precisam estar nos seus lugares.

– Já estamos indo.

– Se o senhor deseja, posso conseguir uma sacolinha para o caso dele enjoar outra vez.

Quase não consigo andar, mas voltamos para nossas cadeiras. A comissária me vê e pergunta:

– O que ele tem?

– Nada, é a primeira vez que ele está viajando, só está um pouco nervoso.

– Posso ajudar em algo?

– Claro. A senhorita pode me trazer uma garrafa com água e um pouco de gelo, por favor? – disse Reynolds.

– Como desejar senhor.

Quando a comissária dá as costas, Reynolds levanta a barra da minha calça e pergunta:

– Com o que você sonhou?

– Dessa vez foi diferente Rey. Vi tudo antes de acontecer. Com a Numero Um foi depois, mas com a Dois eu vi tudo antes, vi o Quartel General dos Mogs. Eles acharam o Cêpan e depois acharam a menina. – digo chorando.

– Fique calmo, daqui a pouco estamos chegando em casa.

A comissária volta com água e gelo. Reynolds molha um pano que tinha em sua bolsa, enrola o gelo em volta e coloca na minha perna. Posso ver o gelo derretendo pelo calor da cicatriz.

– Foi por isso que não apareceram mais Mogs no circo, eles devem ter ido atrás da número Dois. – disse Reynolds.

Olho para Reynolds e digo:

– Por que tenho esses sonhos?

– Talvez possa ser um legado que não tínhamos percebido. Porque geralmente a telecinese é a segunda a se manifestar, mas não é uma regra. – diz Reynolds terminando de colocar uma gaze com uma pomada no lugar da cicatriz.

– Esse deve ser o pior legado de todos, saber o que vai acontecer e não poder fazer nada.

– Em Lorien havia poucos Gardes com esse legado e eles faziam coisas extraordinárias. Esse legado é extremamente difícil de controlar. Exige muito treino e concentração, somente Pittacus Lore controlava esse legado perfeitamente.

– Sejam bem vindos a Nova Deli – diz o piloto pelo autofalante.

Desembarcamos e fomos rapidamente para casa em silencio.

– Foi uma viagem e tanto essa? – disse Reynolds tentando me alegrar.

– Não quero piadas hoje Rey.

Ele me olha serio e vê que estou muito abalado.

– Hey, a culpa não foi sua. – disse me abraçando de lado.

– Foi sim, se não tivesse tido essa péssima ideia de ir para Mumbai, você não teria sido ferido, os Mogs não nos encontrariam...

– E nós não descobriríamos seus legados. – me interrompe Reynolds – Oito agora que você finalmente desenvolveu seus legados precisamos treinar muito para nos encontrar-nos com os sete que ainda vivem, não podemos deixar mais ninguém morrer. Temos que treinar sua telecinese, sua força, velocidade e também seu preparo emocional. Você não pode travar como você travou contra aquele Mog. Sem contar que precisamos ter certeza que essas visões são mesmo um legado. – disse Reynolds.

– Eu vi também outra garota.

– Que garota?

– Outra de nós, ela era loira e tinha os olhos verdes, estava dentro de um carro e uma mulher parecia estar gritando com ela. Quando garota saiu brava de dentro do carro e bateu a porta, ela ficou completamente destroçada parecia que um caminhão tivesse acertado a porta carro.

Reynolds dá um sorriso e diz:

– Super força.

Abaixo a cabeça triste.

– Eu devo ser o mais fraco de toda a Garde.

Reynolds me abraça e diz:

– Você é mais forte do que imagina, talvez até mais forte que todos os Nove.

– Como assim? – pergunto confuso.

– Não posso te falar agora, isso pode atrapalhar seu treinamento. Mas saiba que você é muito forte. Seu avô era um grande amigo de Pittacus Lore e aprendeu muitas coisas com ele. Pittacus sempre conversava com seu avô sobre os sonhos que ele tinha com Setrákus Ra.

– Quem é Setrákus Ra?

– Ele é o Líder Mogadoriano que planejou e liderou a invasão a Lorien e que agora está nos caçando. – Disse Reynolds contando toda historia que ele conhecia sobre Setrákus Ra.

Quando escuto essas palavras sinto um formigamento em minhas costas e digo:

– Rey quero ficar forte e destruir esse tal de Setrákus Ra e todos aqueles vermes Mogadorianos.

Reynolds dá um sorriso torto.

– Era isso que estava faltando em você. Raiva. Agora podemos nos preparar melhor, mas primeiro temos que fazer uma coisa.

Ele pega uma mesa e me desafia pra queda de braço.

– Quer descobrir o que tem dentro da Arca?

Imediatamente me sento a sua frente e entrelaçamos nossas mãos. Começo colocando toda minha força e chego aos mesmos cinco centímetros da vez anterior e Reynolds começa e se recuperar e a vencer.

– Raiva, magrelo. Cadê a sua raiva?

Penso no dia da invasão, Malque me chamando de esquisito na Turquia, na morte de Um e Dois, do Mog em Mumbai, Setrákus Ra e sem perceber coloco a mão de Reynolds com tanta força sobre mesa que ela até se racha.

Reynolds dá um sorriso de orelha a orelha apesar da dor que está sentindo.

– Sabia que você não iria me decepcionar.

– Posso ver o que tem lá dentro agora?

– Agora sim.

Reynolds pega a Arca e me chama para abri-la junto com ele. Quando ele abre só reconheço a pedra da cura, vejo mais algumas pedras, um cristal verde, um anel de vidro, uma galho torcido, um pano preto que quando toco brilha em azul e vermelho.

– É só isso? Cadê as armas, facas e bombas? Quando eu ver um Mog vou atirar essas pedras nele até ele morrer? – brinco.

– Calma, você viu ontem o poder que essas pedras tem.

Busco mais coisas e vejo uma peça fina de ouro do tamanho de um lápis.

– O que isso faz? – digo apontando.

– Isso aqui é incrível. Você vai adorar. – Reynolds me atira o objeto. – Segure-o em cima da sua cabeça e balance como se fosse uma varinha.

Vejo que o objeto se expande para baixo como se fosse um rolo, ficando do tamanho de uma porta.

– Uau. E agora?

– De um passo para trás e fique diante dela. – disse Reynolds.

– Ok.

– Faça algum movimento. Melhor, como isso é um treino faça polichinelos.

Começo fazer polichinelos em frente da porta e vejo um reflexo meu fazendo a mesma coisa.

– Uau Rey isso é um espelho. – digo irônico.

– Pare de se mexer.

Para minha surpresa vejo que meu reflexo segue fazendo polichinelos.

– Isso é incrível. Como isso se chama?

Reynolds coça a cabeça e ri.

– Eu esqueci.

Rio junto com ele e digo:

– Que tal Duplicador?

Ele assente com a cabeça.