Arquivos Perdidos Os Legados Do Número 8
Capítulo 14
Acordo ansioso para me encontrar com Devdan. Saio da cabana e corro até ao borde do precipício e me jogo no aguas lá em baixo, todas as manhãs fazia isso. Nadei por alguns minutos e fui encontrar Devdan. Quando chego perto do lago vejo que Devdan tem uma bolsa cheia de coisas.
– Bom dia jovem rapaz. – Disse Devdan.
– Bom dia Devdan. – digo e rapidamente ele me bate no meu braço com uma vara. – Aiiii – Gritei.
– É Mestre Devdan, ninguém te ensinou que deve respeitar os mais velhos.
– Desculpe, Dev... Mestre Devdan.
Devdan pega uma bolsa e me joga até mim.
– O que isso? – digo.
– Achei que ia precisar.
Quando abro a bolsa encontro uma rede, três tapetes coloridos, uma panela grande e fósforos.
– Fósforos? – digo mostrando a caixinha para Devdan.
– Por enquanto, mas vou te ensinar a fazer fogo. – disse com um sorriso debochado.
Sorrio de volta e percebo que Devdan está mancando.
– O que aconteceu com a sua perna?
– Me machuquei ontem. Nessas montanhas existe muito perigo. Mas sei me cuidar, vivo aqui a mais de setenta anos.
– Onde você estava ontem depois que nos despedimos?
– Em minha casa. – disse Devdan pegando algumas pedras do chão.
– Você mora aqui sozinho?
– Ninguém nunca está sozinho meu rapaz. Vishnu sempre está conosco.
– Vishnu? Acho que já vi uma estatua dele perto do mercado uma vez. É uma cara que tem quatro braços né? – digo e rapidamente Devdan me bate outra vez com a vara.
– Mais respeito. – fala Devdan serio. – Vishnu, Shiva e Brahma eles fazem parte da trimurti, a trindade hindu. E Vishnu é o deus supremo e preservador do Universo.
Devdan pega uma foto de seu bolso e me mostra. Vi um homem azul com quatro braços e em cada mão segurava um objeto.
– O que é isso que ele está segurando? – pergunto.
– Esses são seus atributos divinos: Pantchdjanya (uma concha) ela possui todos os cinco elementos da criação: ar, fogo, água, terra e éter. Quando se assopra nessa concha, pode se ouvir o som que deu origem à todo o universo, o Om. O Sudarshana (disco, parecido com um CD) representa o controle dos seis sentimentos, servindo de arma para cortar a cabeça de qualquer demônio (será que funciona também com Mogs?). Padma (Flor de Lotus) é o símbolo da pureza e representa a Verdade por trás da ilusão. Kaumodaki (Cajado) representa a força da qual toda a força física e mental do universo são derivadas.
Vejo que enquanto Devdan fala, ele está arrumando vários montinhos de pedras e quando percebo havia oito montinhos com oito pedras em cada. Ele me olha e diz:
– Oito é um numero muito interessante, não é? – me disse com sorriso.
Achei muito estranho essas indiretas, como ele sabia de tudo isso? Seguro forte seu braço e o encaro.
– Quem é você de verdade? O que sabe sobre mim?
Ele me olha com um sorriso calmo e incrivelmente torce meu braço por detrás da minha cabeça e eu caio de joelhos imobilizado e ele disse:
– Não deixe dominar-se pelo passado, você vive no presente e caminhando para o futuro.
Fiquei perplexo com o que Devdan havia feito e por suas palavras.
– Sou seu amigo e quero te ajudar, mas primeiro você terá que aprender uma lição muito valiosa. Confiança. – disse Devdan me soltando e estendo a mão para me ajudar a levantar – Vamos caminhar. – ele sai me dando às costas.
Caminho incrédulo ao lado de Devdan e subimos umas montanhas até uma toca de um Urso Pardo e que quando ele percebe nossa presença sai da toca. Ele nos encara e ruge bem alto. Dou um passo para frente para enfrentá-lo, mas Devdan estende sua vara e impede que eu avance.
– Calma jovem aprendiz, ela não quer nos atacar, ela só quer defender seus filhotes.
– Ela? – pergunto confuso.
Devdan caminha tranquilamente até o urso que já estava de pé e media quase três metros.
– Tem certeza? – digo apreensivo.
– Shiii. – fez Devdan colocando o dedo na frente da boca.
Conforme ele se aproxima mais brava ela fica. Devdan fica perfeitamente imóvel olhando fixamente nos olhos furiosos dela, até parece que eles estão conversando. O urso avança e Devdan continua parado olhando nos olhos dela, de repente ela para de bramir e se abaixa colocando suas quatro patas no chão. Ela vem calmamente em direção a Devdan, que tira de sua bolsa uma sacola cheia de frutas silvestres e coloca na boca do urso e acaricia sua cabeça. Ele me olha e sorri e eu sem entender muito que aconteceu sorrio de volta. Ele da às costas para o urso e me disse:
– A confiança que temos em nós mesmos, reflete-se em grande parte, na confiança que temos nos outros. O homem que tem confiança em si, ganha à confiança dos demais.
Por mais que eu tenha medo de confiar em outra pessoa, tenho uma grande sensação de que Devdan é muito confiável. Caminhamos de volta para o lago e eu caminho de cabeça baixa. Devdan me olha e diz:
– Você perdeu muito meu rapaz, tem muita tristeza nos seus olhos.
Eu paro de caminhar e o encaro.
– Não é tristeza, só é raiva e ódio. – digo serio.
– Não meu jovem, é tristeza e também tem um pouco de remorso. Se não soubermos esquecer, nunca estaremos livres de tristeza.
– Esquecer? Como eu posso esquecer o que fizeram comigo, com Reynolds, com minha família. – digo com lagrimas nos olhos.
– O segredo da saúde mental e corporal está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sabia e seriamente o presente, meu caro aprendiz.
Enxugo minhas lagrimas.
– Acho que já vou embora. Obrigado pelos presentes e por seus ensinamentos. Amanhã nos vemos de novo? – digo.
Devdan só assentiu com a cabeça e deu um sorriso incrivelmente calmo.
Caminho até o lago e me teleporto até minha cabana. Tiro da sacola as coisas que Devdan me deu. Pendurei a rede entre as paredes, coloquei os três tapetes coloridos em outra parede e ascendi o fogo com os fósforos que ele me deu. Tinha confessar foi o fogo mais fácil que ascendi. Deito na rede e penso em tudo no que Devdan havia me falado. Penso em como ele conquistou a confiança daquele urso feroz. Me levanto, fecho meus olhos e me concentro e imagino aquele urso. A confiança que temos em nós mesmos, reflete-se em grande parte, na confiança que temos nos outros. O homem que tem confiança em si ganha à confiança dos demais. Lembro das palavras de Devdan e começo a mudar. Cresço quase um metro e meio, minhas pernas e braços ficaram mais grossos, minhas mãos se transformaram em garras e meu corpo ficou tomado por pelos negros, eu era um urso. Solto um rugido com toda minha força que as paredes até tremem. Volto a minha forma normal e fico muito feliz que palavras de Devdan me deram confiança o bastante para desenvolver melhor meu Legado. Saio da cabana e olho as estrelas e logo vejo a estrela que Reynolds havia me dito que era Lorien. Olho pra ela estendendo meu punho fechado e digo:
– Eu vou me tornar mais forte, vou matar Setrákus-Ra e reconstruirei Lorien junto com os outros Gardes, eu prometo.
Fale com o autor