Aristocratic Moan

Chapter III - Bloody Sin


Aristocratic Moan

Chapter III - Bloody Sin

Mesmo que fechasse os olhos mil vezes, mil vezes ele veria a mesma cena. Sangue... Muito sangue e faces amadas, que ele era incapaz de reconhecer, se dissolvendo em uma poça grossa e podre de um viscoso líquido escuro. Mas havia algo de diferente daquela vez... Jasmine estava lá.

Yuu começou a derreter, como todos os outros indivíduos por lá... Ainda havia um sorriso em seu rosto. Tudo ficou claro e Teru suspirou, aliviado, ao avistar a ampla janela da morada da Condessa... Era um mero pesadelo.

Mas... E como estava Jasmine You? Apesar de saber que não passara de um sonho, o garoto não conseguiria deixar de se preocupar. Correu o mais depressa o possível até o quarto de visitas, onde certamente encontraria Yuu.

Vazio... Ora, talvez ele já estivesse esperando na sala de visitas, aquela com o xadrez, para ensiná-lo a jogar. Com um sorriso no rosto, Teru apressou-se na direção de tal sala, com uma ansiedade curiosa e fora do normal.

Desta vez, sua intuição não o enganara. Jasmine estava lá, contudo... Havia outro alguém ali também. Quem poderia ser? Curioso e preocupado, o garoto abaixou-se para espiar pelo vão entre a porta e o chão... Era Juka.

Yuu parecia incomodado. O outro o cercava e se aproximava cada vez mais... Estavam perigosamente próximos. Uma das mãos do rapaz de cabelos prateados fez o rosto de Jasmine chegar inda mais perto do seu. Teru sentiu uma quase incontrolável necessidade de deter aquilo.

- Teru? - A voz da condessa ecoou pelo corredor e o garoto se levantou, prontamente - O que está fazendo?

- Condessa! - O menino gritou, sem pensar muito, correndo e agarrando a cintura de um surpreso e feliz Hizaki.

Conforme Teru havia previsto, a porta se abriu e ambos saíram da sala, ligeiramente espantados. Yuu abriu os braços e o garotinho atendeu seu chamado, correndo até ele.

- Minha rosa! - Juka beijou a mão de seu líder de forma cortês - Detesto ser o portador de más noticias, mas... Aconteceu um ataque muito semelhante ao do mês passado durante esta madrugada.

- O do mês passado... - Hizaki suspirou, preocupado - Aquele sofrido pela... Família de Teru?

- Precisamente. - O fiel servidor de cabelos prateados quase sorriu - O alvo, desta vez, foi um bordel... A dona do mesmo é a... Amada de Kamijo.

- Será que... - O loiro mordeu os lábios - Houve algum sobrevivente?

- Infelizmente para você, minha flor, sim. - Ele enlaçou Hizaki por trás e sussurrou em seu ouvido - A mulher e seu marido passam bem... Por hora.

- Algum suspeito?

- Não vamos tocar nesse assunto, minha rainha... Pode ser um pouco chocante, sendo que nem ao menos tenho certeza e...

- Eu lhe perguntei! - Hizaki gritou, mas, percebendo a falta de classe, acalmou-se e repetiu, em tom mais baixo - Eu lhe perguntei e exijo uma resposta, Juka!

- Yuki. - O rapaz respondeu - Você se lembra dele, minha rosa?

- Como me esqueceria? - A Condessa arregalou os olhos - Mas... Ele não faria isso, faria, Yuu?

Jasmine You, como se se recusasse a se envolver, entrou, acompanhado de Teru, na sala de visitas, com o objetivo de ensinar xadrez ao garoto.

- Yuu...? - O líder suspirou e, após alguns segundos desperdiçados encarando o nada, imerso em seus pensamentos, mirou Juka, com firmeza no olhar - Juka, investigue isso com afinco e peça a Yuki que me faça uma visita, sim?

- Mil vezes, minha rosa.

- Com o baile a se aproximar, é melhor eliminarmos estes problemas de uma vez por todas!

- Conforme você ordenar, minha amada e perfumada flor.

~oOo~

O cheiro forte de morte ainda estava presente no local. Naquela manhã, não era possível se uma jovem de sorriso estonteante e suas meninas limpando alegremente, muito pelo contrário, via-se uma senhora desanimada esfregando o chão com força, tentando livrar-se daquela cor e o aroma impregnados em toda parte.

- Kaya! - Kamijo adentrou, preocupado. Ao vê-lo, a mulher desequilibrou-se e precisou ser apoiada pelo recém chegado - Eu fui até o enterro, mas você não estava lá. Hora disse-me que você estaria aqui... Está tudo bem?

- Senhor duque... - Kaya suspirou e, ajudada pelo rapaz, sentou-se em um banquinho qualquer - Estávamos fechando e... aconteceu tão depressa... eu nem ao menos... não pude...

Ela apoiou a cabeça no duque, permitindo suas lágrimas rolarem uma vez mais. A cena ainda estava fresca em sua memória... Alguém havia entrado, um rosto nada familiar, pedira algo para beber e, minutos depois, parecia ter se interessado por uma mocinha... Ele a chamou, ela se enlaçou em seu pescoço e então... Sangue... Muito sangue e desespero, e tudo escureceu, inexplicavelmente.

- Kaya, você viu a face do criminoso? - Kamijo questionou, contudo arrependeu-se assim que sentiu o corpo de Kaya contrair-se - Não precisa responder se não quiser! Perdoe-me por perguntar, eu...

- Eu vi, mas... Não prestei atenção. - As mãos dela envolveram-no pela cintura, de forma quase inconsciente - Era um rapaz jovem e completamente normal... achei que fosse apenas um outro... cliente. Eu... eu...

Ela tremia e chorava de forma quase incontrolável. O duque sentiu a consciência pesada por causar à pobrezinha mais um momento de profunda dor. Ele precisava fazer alguma coisa para distraí-la... Alguma coisa para fazê-la esquecer os acontecimentos daquela madrugada.

Uma lembrança o atingiu, subitamente. Na tarde anterior, ele havia passado algumas horas na joalheria, escolhendo a peça perfeita para sua amada. Ele retirou a luxuosa caixinha do bolso, puxando delicadamente a mão de Kaya, encaixou em um de seus dedos um anel de safira precioso e brilhante.

- Talvez não seja a melhor hora, mas... - Kamijo beijou a mão da madame várias vezes, aproveitando o momento para desfrutar do indescritível perfume da moça - Este anel... Ele fica muito mais bonito em sua mão, sabia disso?

Um silêncio extremamente desconfortável se seguiu. As palavras de Hora, e mesmo seu rosto, saltavam na mente de Kaya.

“Se ele souber...”

“Ele vai embora...”

“Como todos os demais.”

- Senhor duque... - Ela se levantou, esquivando de seu visitante - Vá embora.

Kamijo pensou em se negar, pensou em discutir... Mas... Ela parecia seriamente preocupada. Portanto, com um suspiro, ele se encaminhou para a saída. Contudo, antes de partir, ele ergueu o queixo daquela que tanto amava e selou seus lábios por uns três ou quatro segundos.

- Kaya... Estou sério a respeito de você. Jamais se esqueça disso.

- Se tem tanta certeza... - Ela revirou os olhos - Venha aqui conversar comigo mais tarde, assim que o sol desaparecer por completo.

~oOo~

- Xeque-mate! - Teru gritou, animado, alinhando a torre branca com o rei negro. - Acho que agora peguei o jeito, Jasu!

Jasmine passara as ultimas horas tentando ensinar o garoto a jogar xadrez, o resultado fora surpreendentemente bom. Era como se ele tivesse sido treinado naquilo desde muito pequeno e já podia jogar uma partida desafiadora com qualquer um.

Contudo, o garoto não conseguia tirar da cabeça a cena de Juka se aproximando perigosamente de Yuu. Inexplicavelmente, a situação lhe trazia uma sensação desagradável e indescritível.

- Nee... Jasu... - Teru tentou tocar no assunto, sem parecer demasiadamente curioso ou intrometido - O que você e... Juka estavam fazendo mais cedo?

- Humn? - Jasmine riu um pouco, reorganizando as peças em seus devidos lugares - Absolutamente nada, querido. Apenas conversando. Por que a pergunta?

A cena se repetia vezes e vezes na cabeça do menino. Ainda assim, era realmente uma decisão prudente insistir no assunto?

- Apenas... uma tola curiosidade, Jasmine.

~oOo~

Ele atravessava os corredores em violentos passos apressados. Seus cabelos, negros, moviam-se levemente, acompanhando o vento vindo de uma janela esquecida aberta. Seus olhos estavam fixos na figura imponente à sua frente, a figura da Condessa.

- Seja bem vindo, Yuki. - Hizaki cumprimentou, estendendo-lhe a mão - Recebeu o convite para o baile que acontecerá daqui a poucos dias?

- Hizaki! - Os olhos de rapaz estavam repletos de uma fúria atípica, e ele empurrou a mão de líder para longe de si - Não fui eu! Eu não ataquei ninguém!

- Yuki... Juka disse que...

- Ele está mentindo! - Yuki gritou, incrédulo e impaciente - Hizaki... Você me conhece, não conhece? Você sabe que eu não faria isso!

Um longo instante se seguiu, o moreno estava sendo analisado. A veracidade de suas palavras estava sendo meticulosamente avaliada. Hizaki fechou os olhos, num longo suspiro. Era difícil desconfiar das palavras de Juka, mas... Ele falara “suspeito” e não “culpado”.

- Yuki, vou dar-lhe um voto de confiança. - O líder balbuciou, em tom baixo e inseguro - Mas... Se você for realmente o culpado...

- Eu não sou!

- Eu disse “se”!

- Ele não é, Hizaki! - A voz de Yuu, subitamente, ecoou pelas largas escadarias - Acredite em mim. Acredite no Yuki. Ele é inocente.

- Yuu... - A condessa virou-se, atordoada e confusa - Está dizendo que... Juka mentiu?

Um silêncio hospedou-se novamente no local. Yuu, antes com olhar direto e firme sobre o líder, agora encarava o chão. Yuki suspirou brevemente, ligeiramente aliviado e mais calmo. Hizaki aguardava uma resposta daquele que costumeiramente o aconselhava... Pela primeira vez, Jasmine não parecia disposto a respondê-lo.

O moreno rapaz virou-se, disposto a ir embora antes de ser acusado novamente. Aquele que se disfarçava como viscondessa o seguiu. O líder não falou nada, limitou-se a se sentar e ponderar a situação cautelosamente.

Passinhos lentos e gentis ecoaram pelas escadarias. Aquele que era chamado de “condessa” virou-se e avistou Teru a se aproximar, hesitante. Hizaki abriu os braços e um sorriso terno surgiu em sua face. O menino correu e aconchegou-se em seu colo confortável e quente.

~oOo~

Kamijo estava ansioso. Era difícil esconder isso de qualquer um que o visse. O sol já havia quase desaparecido por completo e então ele a teria... Sua doce amada... Ah, que imensa alegria!

Não constava em seus planos, contudo, um encontro repentino com Jasmine You e Yuki durante o trajeto até a casa da cafetina.

- Kamijo! - Yuu abriu um sorriso repleto de mistério - Que bom vê-lo desocupado! Que tal vir até aqui conosco por um instante? Temos que conversar!

- Jasmine... - O Duque sorriu e continuou caminhando, passando pelos dois como se não existissem - Lamento, mas tenho um compromisso.

- Dane-se o seu compromisso. - Yuki segurou o pulso do outro com violência - Precisamos ter uma conversa agora mesmo!

~oOo~

Ah horas passaram cruelmente devagar. O sol já nascia e Kaya insistia em esperá-lo. Hora observava em silêncio a aflição de sua companheira. Ele já havia previsto que isto acabaria por acontecer.

- Deixe de besteiras, Kaya! - O rapaz enlaçou o ombro de sua esposa delicadamente - Ele não apareceu nem ao menos para ouvir a verdade... Esse “duque” não valia a pena.

Kaya esquivou-se de seu marido rapidamente, pondo-se de pé. Não seria a primeira vez que aquilo aconteceria... Não seria a primeira vez que alguém a deixaria para trás... Então, por que era tão difícil encarar a realidade?

- Talvez ele já tenha descoberto... Não sei como, mas... - A cafetina respondeu, dentre soluços e lágrimas - Ele deve ter achado que sou louco! Por isso ele não veio! Ele já descobriu, Hora! De alguma forma, ele já sabe que eu não sou uma mulher!

- Kaya! - Hora o abraçou e apertou contra seu corpo, como se não quisesse perde-lo jamais - Esquece esse duque, por favor! Eu estou aqui, sempre estive... Zelando por você. Não importa se você é homem ou mulher, Kaya... Eu amo você tanto que chega a arder!

O sol surgira e iluminara as casas completamente. Várias pessoas despertavam, prontas para iniciar um novo dia. Enquanto isso, Kaya atirava sobre aquele que chamava de “esposo” lágrimas doces de auto-piedade. Hora olhou pela janela, aliviado do duque não ter aparecido... Ninguém tiraria seu amado de seus braços. Nunca.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.