Seria ótimo dizer que, após aquele momento, os gêmeos não tiveram mais nenhuma crise de ciúmes e aceitaram a chegada de mais uma pessoa na casa com a mesma alegria e animação de quando descobriram a gravidez. Mas seria mentira.

Toda a família tratava o assunto com cuidado, não só com Miguel e Belle, mas também com Rafael e Marcela, lembrando como os pequenos haviam ficado enciumados com a chegada de Matheus, um ano e meio antes. Pedro era o mais tranquilo, já acostumado a dividir a atenção com os sobrinhos desde pequeno.

_ Belle, Miguel... Nós vamos ao shopping hoje. – avisou Fabinho, enquanto a família almoçava – Nós vamos comprar as coisas para o quarto da Catarina.

_ Ela num vai domi com a Belle? – perguntou Miguel, e os pais negaram.

_ Você tem seu quarto, a Belle tem o dela e a Catarina vai ter o dela. – explicou Giane – É aquele do lado do quarto de brinquedos, lembra que a mamãe mostrou para vocês?

_ E o que pecisa no cato dela? – perguntou Belle, enchendo a boca de cenoura.

_ Precisa do berçinho que ela vai dormir, um trocador, uma cômoda para guardar as roupinhas, uma cadeira para a mamãe amamentar ela... – Giane começou a listar.

_ O que é amamenta? – perguntaram os gêmeos.

_ Lembra que o Matheus tomava leite do peito da tia Luz quando ele nasceu? – os dois concordaram, vagamente – Então, quando o neném nasce, ele se alimenta do leite que a mamãe tem no peito.

_ Que nem os animaizinhos do livro, lembram? – perguntou Fabinho – O cachorrinho mama na mamãe cachorra, o bezerro na vaquinha... O bebê mama na mamãe dele.

_ E poque a gente não mama mais na mamãe? – os pais riram.

_ Porque quando os animais e as pessoas crescem, eles precisam de mais coisas que o leite que tem na mamãe deles. – explicou Fabinho, apontando o prato – Quando se é pequeno, não tem dentes para mastigar ainda, então só consegue beber leite. Entendem?

_ Mais ou menos. – eles fizeram cara de pensativos, enquanto os pais continuavam a comer – Então a Cat não pode come chotolate?

_ Não.

_ Vedinho?

_ Não.

_ Fango?

_ Nem frango, nem carne, nem nada. – Fabinho riu – Ela só vai poder beber leite por um bom tempo.

_ Que chato. – Miguel reclamou, começando a comer seu arroz.

_ Você não reclamava. – brincou Giane, acariciando o cabelo do filho – Na verdade você mamava o dobro da sua irmã, seu pequeno guloso.

_ Miguel gordo. – riu Belle, vendo o irmão fechar a cara.

_ Belle fedorenta. – ele rebateu.

_ Bobo.

_ Chata.

_ Cara de couja seca. – ela jogou comida no irmão.

_ Parou. – Fabinho reprendeu os dois, com a cara séria – Que coisa mais feia isso, brigando na mesa. Peçam desculpas um pro outro, e estão sem assistir desenho hoje.

_ Ah pai. – reclamaram, mas ele não desamarrou a cara.

_ O papai tá certinho. Quando é mal educado, fica de castigo. – Giane apoiou o marido – Pedindo desculpas, vamos.

_ Deculpa. – os dois disseram juntos, enfiando a cara do prato de comida e voltando a comer em silêncio.

~*~

Quando chegaram no shopping, foram direto para a loja de artigos para bebês. Fabinho acabou saindo com Miguel, os dois olhando coisas de menino, enquanto Giane analisava os itens de menina, acompanhada de Belle.

_ Mamãe? – chamou a pequena.

_ Fala princesa. – a mãe virou-se para ela, mas não se abaixou. A barriga de sete meses não permitia mais isso.

_ Poque a Cat não pode domi comigo? – perguntou a menina, fazendo a mãe se surpreender – Ela é menina também.

_ É que no seu quarto não cabe a cama e o berço. – explicou Giane – Nós deixamos o quarto maior para os brinquedos, e cada um de vocês tem um quarto só seu.

_ E se os binquedos ficarem no meu cato, e eu e a Cat fica no dos binquedos? – perguntou Belle, e Giane fez cara de pensativa.

_ Vamos falar com o papai, pode ser? – propôs Giane, pegando a filha pela mão e indo atrás do marido. Encontrou ele e Miguel entretidos com alguns brinquedos de menino – Fabinho?

_ Hã? Ah, oi tranqueira. – o homem sorriu amarelo, enquanto Giane ria – Algo errado?

_ A Belle pediu se ela pode dormir no mesmo quarto que a Catarina. – explicou a mulher, vendo o marido se surpreender – Ela quer que coloquemos os brinquedos no quarto dela e ela e a Catarina ficam no quarto maior.

_ Tem certeza Belle? – o pai se abaixou – A gente não vai ficar mudando vocês de quarto. Se você for dividir o quarto com a sua irmã, vai ser por alguns anos, pelo menos.

_ Tenho papai. Eu queo fica com a Cat no cato. – ela garantiu, e o homem trocou olhares com a esposa, que deu de ombros.

_ Tudo bem então. – ele se levantou – Acho que tem um decorador aqui nessa loja, não é? Que a Malu ficou falando da outra vez?

_ Tem... Vou procurar ele e conversar com ele. – Giane se afastou, deixando Fabinho com as crianças.

~*~

_ Amor... – Giane se aproximou com o decorador, algum tempo depois – Esse é o André. Ele me mostrou um projeto muito fofo.

_ Realmente... – o publicitário concordou, vendo a foto – Bom, a cama da Belle dá aqui. As roupinhas dela vão continuar no closet dela e do Miguel?

_ Acho melhor. E quando a Catarina ficar maiorzinha, dela também. Quando eles crescerem mais a gente pensa em mudar isso. – Fabinho concordou – Bom, precisamos do berço e da poltrona então. E das prateleiras, claro.

_ E ussos e bonecas. – Belle apontou a prateleira.

_ Mas já tem os seus, princesa.

_ É pai, mas tem que te da Cat também né? – os adultos riram – Miguel, você me ajuda a escole?

_ Tá bom. – os dois se enfiaram nos brinquedos, discutindo em voz alta.

_ Acho melhor eu ficar de olho. Você se vira? – Fabinho perguntou, vendo Giane concordar – Qualquer coisa me chama.

~*~

_ Pivete... – Fabinho se aproximou da esposa, enquanto ela esperava o vendedor finalizar a encomenda dos móveis – Acho que é melhor levarmos alguma coisa para o Miguel.

_ Também... – ela concordou – Querendo ou não, estamos montando um quarto novo para a Belle e para a Catarina. Melhor levar alguma coisa para ele não ficar chateado.

_ Vou ver se ele gostou de alguma coisa. – Fabinho se afastou, indo até o filho mais velho, que estava sentado – Alguém está quietinho demais.

_ To cansado. – mentiu o menino, fazendo o pai rir.

_ E aí? Gostou de alguma coisa? – Fabinho apontou a loja.

_ Tem uma bola gigante. – Miguel apontou a parte de poltronas – É pa senta.

_ Ah é? – o pai sorriu – E cê acha que ela ia ficar legal no seu quarto?

_ Acho que sim. – Miguel franziu a testa – Poque?

_ Quer levar ela? – os olhos do menino brilharam – Compramos coisa pra Belle, para Ca Catarina e para você também. Para os três, certo?

_ Sim. – concordou o menino, abraçando o pai – Bigada papai.

_ De nada, campeão. – Fabinho levantou com ele no colo – Agora vamos pegar a bola para levar para casa?

_ Sim.

Eles foram até a sessão onde o menino havia visto a bola e Fabinho viu que se tratava de um pufe. Falou com uma vendedora que foi buscar uma embalada.

_ Mamãe, olha o que eu ganhei. – Miguel gritou, correndo e arrastando o saco. Fabinho vinha atrás, rindo do filho.

_ Uma bola gigante? – Giane riu, abraçando o filho – Que linda.

_ Poque ele ganhou? – Belle fez bico.

_ Porque você ganhou coisas para o quarto seu e da sua irmã, e ele ganhou uma coisa para o quarto dele. – explicou Fabinho – Todo mundo merece presente, certo?

_ É. – ela concordou, mas ainda parecia emburrada.

_ Xi, acho que não vamos mais ao McDonald’s. A Belle tá emburrada. – Giane comentou, fazendo as crianças arregalarem os olhos – Vai continuar emburrada?

_ Não. – a menina sorriu para a mãe, fazendo os pais gargalharem.