Tánatos

Era um campista um pouco mais velho, bonito, mas uns 35 anos, por ai. A camiseta laranja do Acampamento Meio-Sangue estava levemente suja, jeans escuro esfarrapado, tênis preto da Nyke vinha até a cima do calcanhar. Tinha cabelos negros, como a escuridão do infinito do universo – lembrava muito o cabelo de Nyx, branco como papel, olhos cinzentos e barba por fazer. Cheirava a terra molhada e cinzas. Apesar de tudo isso, lembrava um pouco Johnny Depp no “Cada um tem a GêmeaqueMerece”.

Ao longe, Beccs deu um tchau.

– Tánatos?

– Pode me chamar de irmão, mas tudo bem. Rebeca me deixou entrar no acampamento, sorte que com essa barulheira toda nessa arena ninguém pode ouvir o trovão de aprovação da Nyx.

Já chegando perto, Yudu chegou e enfiou uma faca na costelas de Tánatos, que ficou incrédulo.

– Você é imbecil?

– Sabia que era você, negrinho. - disse Yudy, guardando a faca.

– Negrinho?

– Certos idiotas me chamam assim por causa das minhas asas negras. - logo o corte sumiu, Tánatos não pareceu nem por uma hora com dor. - Filho de Hades.

– Nããão, Afrodite! Não reconhece um filho do deus do submundo quando vê um?

– Vai encher outro, filhote de deus.

– Cale-se! Se não...

– Se não? - dessa vez Tánatos se levantou, ligeiramente irritado. - Posso tirar sua alma agora mesmo antes que possa dizer Deus.

Yudy deu uma fraquejada.

– O.K. Chega vocês dois. Venha... irmão. - peguei o braço de Tánatos, que recuou. - É melhor conversarmos longe daqui.

– E seu amiguinho ali? - Yudy apontou para Pierce, que agora lutava com um Paul que estava só com uma cimitarra. - Ele vai perder, mas eu pensei que mesmo assim você torceria por ele.

Fiquei a fitar, então suspirei.

– Pierce tem Jena e se merecem. - e sai.

O tempo parecia diferente, parecia... elétrico... de alguma forma. Tirei um Ted do vazio e fiquei a modelar nas mãos, gelada como sempre e seus olhinhos saiam e voltavam como quando você aperta dos olhos de um caracol ou lesma.

Tánatos observava o céu.

– Os deuses não gostam da decisão da nossa mãe. Zeus está furioso, mais ainda está com Rebeca. Sua própria filha, vamos dizer assim. Quebrou mais uma vez o pacto dos três grandes e, o mínimo que Rebeca devia fazer pelo pai, não faz.

– Isso é bom... não é?

– Claro. Está nos ajudando.

Ri, sem graça.

– Conheceu minha irmã?

– De longe. - pegou o Ted da minha mão e começou a modelar. - Não sou muito família. Ela nunca precisou de mim ou de qualquer um dos meus irmãos e irmãs. Talvez de Moros - o Destino, mas aquele cego é como nós. Somos todos desunidos. Claro que se passarmos perigo nos unimos, mas é poucas ocasiões que isso acontece. Aliás, a maioria de nós somos todos irritados desde que os mortais e semi-deuses nos consideraram Deuses Menores. Um insulto para deuses que presenciaram a criação e já esteve na presença de Caus, o criador de todos nós.

– Hum... que dó. Mas, voltando ao assunto, ouvi dizer que minha irmã era poderosa. Disseram já algo sobre “maga elementar”.

– Pois é. Também eu sabia pouco.

– Sabia?

– É, mas agora eu sei.

– O que você sabe? - parei na sua frente, o impedindo de dar um passo se quer em frente. - Diga.

– Calma! Só... bem, Nyx só quer te ajudar. Nossa mãe. Sabe né?

– Tá, ok, pula essa parte.

– Você tanto pode aceitar a proteção dela como negá-la. Podemos ajudar um ao outro, sou um deus e posso te proteger mais do que ninguém. Mas, se negar, pode continuar aqui tanto como virar o que sua irmã um dia quase conseguiu.

– E o que ela quase conseguiu?

– Ser uma maga elementar. Assim vai poder se proteger sem depender dos outros. - ele pegou uma folha do chão. - Pode até escolher ficar nesse acampamento, mas não vai ser para sempre. - a folha escureceu na sua mão. - Você tem inimigos no Olimpo, no Mundo Inferior, entre monstros e até também semi-deuses. Você sobreviveu por dezessete anos, teve mais sorte do que sua irmã, e agora tem a oportunidade de viver até que morra naturalmente, privilégio que que sua irmã não teve. - então a folha escura se desintegrou numa massa de pó.

Ted saiu das mãos dele e se encolou no meu pulso, com medo que acontecesse com ele o mesmo que aconteceu com a folha.

– Você escolhe, irmã. Tem três opções, isso se não achar uma quarta. Fica, vai comigo ou se torna maga. Pode morrer também, mas acho que isso é a última coisa que passou por sua mente.

Uma gritaria de vitória vinha da arena, corria o nome do vencedor por todo acampamento até a árvore de Thalia. Nisso, decidi o que faria.