Apolonyx
Parcas me pedem ajuda
Apolonyx
Eu voltava da padaria, trazendo o café da manhã para nós, mas então escutei uma voz diferente em casa. Fiquei escondida para ouvir o que diziam, Rebecca estava comigo - uma amiga que parecia ter desmamado junto comigo de tanto que a nossa amizade era antiga.
Mamãe e a mulher autoritária pareciam discutir.
– Dafni, vamos embora. Eles dão lanche na entrada do prédio do curso. Esqueça esse café da manhã.
– Cale a boca, Beccs.
Encostei a orelha na porta.
– Que negócio é esse de “vou levá-la amanhã”?! - a mulher autoritária tinha voz de juiza da corte.
– Ela é minha filha. Eu decido se ela vai amanhã ou quando eu morrer.
– Sou a mãe dela!
– Eu sou a mãe dela. Eu que pari aquela semi-deusa, embora eu não tivesse a mínima consciência disso. - pela primeira vez minha mãe parecia ter ficado 40 anos mais nova, 25. - Você vem aqui exigir que eu a leve para esse acampamento de loucos depois de me possuir, quase tornando o meu corpo o seu corpo permanente. Quase banindo minha alma! Quem você acha que é depois de destruir minha vida? Por pouco não morri cuidando dessa menina e nem para o “todo poderoso” Apolo ajudar. Ele é o pai, mas nem se importa com ela.
– Compreendo, Vane. Mas há muito monstros querendo sequestrá-la, até deuses, achando que fazendo isso vai poder conseguir algo de mim. Me atingir. Querida, tenho certeza que não vai querer... nossa filha morta.
– E se eu quiser?
Tremi.
– Você não quer, tenho certeza por experiência própria. Dei a luz há um monte de deuses e personificações e por mais que alguns me aborreçam sempre vou querê-los vivos. A salvo. E olha que pari Inveja, Culpa, Discórdia, Fome, Castigo, Morte, Idade, Engano, Conflito, Miséria, Loucura, o deus da carnificina e o barqueiro do mundo inferior. Entre outros. E, olha que falando dessas personificações e deuses, é problema certo.
– Só pariu coisas ruins, tirando a Dafni.
– Há, há, há. Amiga, também pari: Atmosfera, Dia, Sono, Sonhos, Guardadoras dos Pomos de Ouro, Keres, Deusas do Destino, Retribuição, Amizade. Mas amo todos eles como se fossem todos bons.
– Haja útero...
– Espere - silencio... - nossa filha está por aqui. Hoje, Vane. Não posso mais protegê-la tanto, ela e os outros mortais podem ficar assustados.
– Dafni vai quando eu quiser.
A mulher nem deu bola.
– E, lembre-se, a noite.
Então abri a porta.
Não havia ninguém, a não ser eu e minha mãe.
– Apolo? Esse é o nome do meu pai? Pela mulher... sou adotada?
– Do que está falando?
Senti como se alguém passasse a mãos entre meus cabelos, mas nem me importei.
– A mulher que estava aqui, o que ela queria dizer?
– Quem? - silencio. - A atriz? Ela queria saber o que eu a ajudasse a treinar o diálogo do seu próximo filme.
– Mãe me poupe. Amiga atriz?
– Sim.
– E que tipo de amiga ela é que não ajuda a outra na pobreza.
– Não quero o dinheiro dela.
Bufei.
Ela só podia estar tirando uma com a minha cara.
Vou para o curso. Beccs está lá fora.
– Último dia. Aproveite.
– Claro.
No fim da aula, encontrei Beccs de novo.
Minha amiga parecia preocupada, olhava sobre os ombros toda hora como se estivesse sendo perseguida.
– Tudo bem.
– Tudo, Dafni.
– O que acha sobre a mulher na casa da minha mãe?
– Quem?
Dei um peteleco na cabeça dela.
– Alou! Para terra, planeta Beccs!
– O que?!
– “O que” digo eu! Vamos começar a brigar só porque você parece uma louca sendo perseguida?
– Bem... desculpe. - me abraçou. - Acabei de vez a mesma mulher pela quinta vez.
– Onde?
– Perto do poste, encapuzada.
Quando olhei, a mulher já estava na minha frente.
Cabelos negros, quase puro osso - embora meio a cor de pele, um vestido preto com pregas na cintura que era bem esquisito para a idade aparente.
Beccs se virou, com a mão literalmente em choque, escondendo um pouco com a manga da blusa.
– O que você quer aqui? - rosnou.
– Só quero ajuda. - era voz de velhinha.
– Quem é você?
– Não é ninguém.
– Sou Clotos. Moira, Parca, tanto faz. Sou uma das deusas do destino.
– Sério? - bufei. - eu estou perguntando, quem é você?
Beccs suspirou.
– Ok, vamos parar com esse jogo. Ela está falando a verdade. É uma das Moiras, Parcas, a que é responsabilizada a tecer os fios da vida. A pergunta certa é: Ajuda?
– Eu...
– Mas Beccs...
– Depois eu e tua mãe explicamos.
Dei ombros.
Uma outra mulher quase exatamente igual se junto a nós. Segurava um fio meio dourado.
– Sou Láquesis, responsável pelo quinhão de atribuições que se ganha durante a vida.
– E onde está a deusa Átropos?
– Sequestrada. Foram caçadores de recompensa olimpianos que a pegaram. Eram para estarem presos por traírem os deuses por terem se unido aos titãs presos.
– E porque não vão salvá-la?
– Ela foi sequestrada. Não sabemos onde ela está e há rumores de que eles descobriram o antídoto da imortalidade dos deuses, poção que só a personificação titã Nyx sabia.
– Ah, não.
Beccs parecia aterrorizada.
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