Apolonyx

Nunca Insulte Um Deus


Acordei... azul.

Não, isso não foi uma metáfora. Literalmente acordei com meu corpo todo azul escuro por baixo da camisola, na verdade eu estava coberta de vários e vários Ted's. Eles não me incomodavam, eram frios e pulsavam.

Semicerrei os olhos, olhei para meu corpo.

Entre meus seios, sobre meu coração, estava vários queimados – como se eu tivesse levado vários choques sobre a pele.

Onde é que eu estava?

Cade Beccs? Pierce? Ou até mesmo Polemos? Eu só me lembrava que estava no Arena de Combate assistindo o Sr. Super-Irritado-semideus lutando contra o Mr. Hormônio-De-Quatro-Patas.

Sentei, pus os pés ao lado da cama e coloquei a cabeça entre as mãos com os cotovelos apoiados sobre os joelhos.

- Meus deuses! - ofeguei.

Levantei a cabeça e dei de cara com dois olhos negros como a morte.

Diego. Umpf, agora eu me lembrava.

- Nyx disse que ficaria bem. - e me abraçou. Não sei explicar como é abraçar a personificação da morte, acho que seria impossível então explicar como é com um deus.

Rolou um clima.

- Éh... - sorriu, melancólico. - Sinto muito pelo que aconteceu e... Dafni, quando eu te pedir para fazer uma coisa, pelo amor de Eros, faça.

- Não consigo me lembrar direito do que aconteceu.

- Ainda bem. Nossa mãe... - tossiu. - Nyx apagou o rosto de Humbaba da sua mente, você não superaria se ainda tivesse essa lembrança.

- Nyx... ela esteve aqui?

- Sim.

Abaixei a cabeça.

- A nossa última conversa não foi muito boa. Pensei que estaria sentida comigo.

- E por isso não te ajudaria? Bobagem. - olhou em direção a janela, o sol brilhava agora.

Arqueei as sobrancelhas.

- Tudo bem? - perguntei.

- Hum... não gosto de sol. Sabe, não é a minha “praia”. - mostrou-me a palma da mão e escureceu-a.

Sorri, levantei e puxei-o pela mão.

- Infelizmente. - comentei, rindo. - E meu treinamento? Quando vamos procurar nosso professor?

- Já temos. E você o ofendeu.

- O que? Não vai dizer que... aquela criança?! Um bebê vai me ensinar magia elementar? Opa! Tá, claro.

- O deus Enki tem mais de dez mil anos, tenha respeito.

- Hei! Desculpa ai, deus!

Ele me puxou pela base da nuca e me beijou.

- Nunca insulte um deus.

Fiquei em estado de choque.

- Aliás, espere um dia. Insultos e deboches ficam fresco por um bom tempo na nossa memória. E – apontou para o banheiro a minha direita. - se troque. Beccs espera na fora.

E saiu.

Não me mexi por um bom tempo. Passou uns cinco minutos e então entrei no banheiro, tomei um banho morno – lá não era frio nem quente, penteei meu cabelo e me troquei. Coloquei um shorts jeans curto, regata branca solta – quase até a barra do shorts, meias brancas e tênis.

Quando passei pela sala, Diego estava sentado numa cadeira no canto mais escuro da sala e observava seu colar como se estivesse hipnotizado. Depois de uns segundos, ergueu os olhos em minha direção.

Não consegui encará-lo, sai.

Do contrário que estava ontem, hoje havia várias pessoas andando pela vila. Eu era a única que vestia roupas modernas, me senti um peixe fora d'água. As mulheres usavam uma espécie de túnica com mangas curtas e justas, parecido com os Kalasirirs egípcio, alguns usavam um tipo de cinto. Os homens usavam o mesmo traje, um pouco mais solto talvez e longo chegando até os pés. Alguns utilizavam cintos enfeitados, ornamentados, bordados ou ambos.

Avistei então Beccs conversando com uma mulher aparentemente bêbada na “Casa Grande”, aquela casa antiga estilo japonês ou chinês no final da trilha que era como uma rua principal da vila que já mencionei antes.

Ao caminhar até ela percebi olhares em minha direção. Tinha a ver com o rolo que teve ontem com Humbaba ou com o que eu estava usando?

Chegando lá, Beccs me abraçou na hora.

Ela vestia uma túnica de lã ou linho branco com uma das alças presa por um broche dourado em forma de raio, tinha uma tiara de louros em torno da cabeça que combinava perfeitamente com a trança embutida com fios finos de ouro que fizera. Estava igualzinha as mulheres da antiga Grécia.

Isso me deixou mais desconfortável.

- Eu sou a única vestida assim né?

Beccs sorriu.

- Estrangeiros tem que se vestir com os trajes típicos do seu país e, no nosso caso, de acordo com a nossa descendência. Os gregos, é claro. O que aconteceu com a túnica que deixei no seu banheiro?

- Túnica branca? Quer dizer, um pano longo e branco?

- É. Como esse.

Comecei a rir.

- Pensei que fosse uma toalha.

- Ah – revirou os olhos. - Tudo bem.

- E essa? - mencionei o queixo em direção a mulher bêbada. - Quem é?

- O-o-o-oi! - ela apertou minha mão. - Me chamo Ninkasi, deusa da cerveja. Você toma?

- Awm, não.

- Que pena. - sorriu consigo mesmo. - Pode me chamar de Nink... o-o-o-oi! Quem é você?... Ah! - virou-se para Beccs. - Rebecca? O que faz aqui? O que eu faço aqui?

Arregalei os olhos, confusa.

- Nink, beba. - disse Beccs.

- Por quê? O que eu fiz?

- Agora.

Uma cerveja surgiu do nada na mão da deusa e ela bebeu.

- Ninkasi tem perda de memória recente.. - cochicou comigo. - Quer dizer, mais ou menos. Só esquece do que acontece quando está bêbada, tipo, sempre. Quando acaba o efeito, ela fica assim.

Quando o copo sumiu, Nink ficou meio cambaleante e seus olhos nunca parecia se fixar em algum lugar.

- Desculpe. - a deusa riu. - Odeio meu lado lúcido, há, há!... ai, ai, ai, foi mal.

- Ninkasi, diz pra ela.

- Dizer o que, Beccs?

Nink colocou a mão no meu ombro e me puxou para para longe da Rebecca, em direção a floresta.

- O que foi?

- Wer vai te ensinar o elemento do ar, por ser o deus sumeriano da tempestade.

- Mas... awm... ele não estava numa confusão com minha... mãe? - eu não gostava de chamar Nyx assim, mas fazer o quê?

- Bem... preciso de mais cerveja. - apareceu um copo maior e mais cheia, bebeu e voltou a falar. - Vai ter um festival de pós a visita do sete espíritos.

- Sete espíritos?

- Não gostamos de falar o nome dele, mas... bem... Humbaba. Uma comemoração pós a visitar dele ontem.

- Ahh... tá.

- Então, o nosso querido deus Wer vai no festival. Ele, Enki, o deus do fogo Gibil e a deusa Ki da terra. Eles sempre veem, mas dessa vez virão também para ver que dias darão as aulas. Possivelmente vão separar em semanas, é o que eu acho.

- Hum... que horas vai ser?

- Daqui a pouco. Então vá se arrumar.