Apolonyx

Audiência - parte 2



Arfei. Só não desmaiei porque Apolo ajudou-me a levantar.

– Dafni Aghata Pandora. - sua voz grossa como um trovão coou por todo o salão, atingindo minha coragem em cheio. - Saudações.

As mãos do meu pai brilhavam nos meus ombros, logo senti minha coragem e energia se renovando.

– Deixa que ela mesma crie coragem, Apolo.

– Ela é minha filha, Zeus. Faço o que bem entendo.

– Está desafiando-me?! - se levantou.

– Zeus. - Atena se levantou da cadeira ao lado e pôs a mão sobre o ombro do pai, fazendo-o sentar.

Hera, elegante, assentiu em sua direção.

– Está bem. Só aceitei essa audiência pois estou disposto a fazer uma negociação. As previsões de seu pai não foram nada animadoras sobre o futuro.

– Está com medo de morrer, Deus dos Deuses? - perguntei, totalmente corajosa.

Controle sua filha, Apolo! - ele só não me fulminou em raios pois, por sorte, Atena o segurava.

– Não, papai! Deixa, deixa. - me aproximei dos deuses. - Quer uma negociação? Por quê? Por acaso todos os deuses morreram? Ou então Nyx,minha mãe, ganhou a guerra? - as mãos de Zeus pareciam irradiar pequenos raios, como Beccs quando fomos a vila sumeriana.

Hera se levantou.

– Abaixe o tom, semideusa nojenta! - gritou Hera, raivosa, já de pé. Suas mãos ficaram vermelhas, ela apontou o dedo para mim.

Apolo se interpôs entre mim e ela, armado de suas flechas divinas.

– Apolo! Abaixe essas flechas! - sussurrou Atena, ainda assim autoritária.

– Já perdi muitos filhos, Atena, e Pandora não vai entrar nessa lista. Não mesmo.

– Pai – apoiei a mão na sua arco e flecha, baixando-a. - Estamos aqui para negociar, não é, Zeus?

– Vamos nos acalma, tudo bem? - murmurou Ártemis. - Apolo, Zeus, Hera, por favor.

Num minuto os deuses se acalmaram. Dois, para Zeus, que suspirou.

– Então, Pandora, o que sugere para que a guerra não aconteça? O que nos tem a oferecer?

Sorri.

– Querem o antidoto da imortalidade? Tudo bem então.

O salão inteiro parecia prender a respiração.

– Você... o tem... ai?

– Poseidon? - assentiu. - Não. Não tenho.

Então relaxaram.

– Mas vou convencer minha mãe a dar para vocês. A vida das pessoas não compensa a guerra. Além disso, concordo com meu pai. Já perdi muito, perdi até minha irmã, e meus pais não vão entrar nessa lista. Muito menos minha mãe mortal. Estou disposta a tudo para que essa guerra não aconteça.

– Até prender Nyx junto com os Titãs?

Uni as sobrancelhas.

– Prendê-la?

– Sim.

Me aproximei.

– Ela já matou algum deus?

– Não.

– Ela já insultou, complicou ou se meteu em algo de vocês? Por acaso, ela fez algo de mal a vocês?

– Não, mas...

– Não. - interrompi. - Poseidon. Me diga, ela manda ou pede a vocês favores? Hum... pelo silencio, acho que pede. Não há razão nenhuma para vocês prendê-la. A não ser a razão de ela ter uma posição maior do que vocês, o que nenhum de vocês admitem não é? Bem, a história da Mitologia Grega não mente.

Hades mencionou um “sim”.

– Odeio ter de concordar com essa garota, realmente. Matou um dos meus monstros...

– O C.I.? Desculpe, mas foi ele que atacou primeiro.

– E você devia ter morrido!

– Olha, por enquanto, não quero morrer. Quando eu quiser, te aviso.

– Vou esperar. - se virou a Zeus. - Querido irmão – (ódio de irmãos no ar~...) - Embora eu adore a carnificina, lembre-se da visão de Apolo. Temos de confiar nessa ai.

– Confiar nessa semideusa?! - Zeus não conseguia mais ficar sentado. - Como posso confiar numa pessoa que nem mesmo respeita seus superiores?

– Superiores? Quem? - sacaneei.

– Vejam! - disse, incrédulo.

– Vamos parar com isso? - disse Ares, com olhos... bem, não parecia olhos. Pareciam dois corredores para a morte, tão ruim quanto o de Hades – que quase dava para enxergar o Tártaro com as almas atormentadas através deles. - Estão parecendo um bando de crianças!

Logo os deuses estavam brigando, menos Atena – que parecia estar com uma enxaqueca monstro.

– Chega! - gritou, abalando as estruturas do Olimpo. - Dafni Pandora, aceitamos sua proposta. Em troca, acabaremos com essa idiotice de guerra.

Sorri.

– E os monstros?

– Tranquilizados.

– E as outras mitologias?

– Estarão no seu lugar. - Zeus mencionou falar. - Não, pai. Está decidido. É o melhor para todos e, se depender de vocês, explodiremos nós mesmos antes até de que a guerra comece. Deméter?

– Sim? - uma moça parecida com a mulher do filme Orgulho e Preconceito se levantou.

– Encontre Hermes, que por algum motivo não está aqui, e envie-o para sua filha. Peça para acalmar as almas.

– Aham.

– Hades, cuide dos monstros. Pandora precisa de tempo.

Numa pequena explosão, ele sumiu.

– Afrodite... onde ela está? Tudo bem. Hefesto, encontre ela e peça para que acalme Humbaba.

– Ela não vai gostar nada. - eu não consigo descrevê-lo. É muito... diferente, potente, meio que poderoso e pernas de metal.

– Sei, mas pouco me importo. Aliás, quero que faça um grande estoque de novas armas divinas. Se o plano de Pandora não der certo, vamos lutar ao lado dela.

Então Hefesto saiu pela porta de ouro, passando por mim, parando brevemente para me observar.

– O que?! - Zeus parecia prestes a explodir.

– Não vou nunca lutar ao lado dos monstros. Se puder, levarei outras mitologias comigo! Dionísio e os outros, quero que avisem os outros deuses para que adiem a guerra o máximo que puder. Qualquer coisa, diga que estamos nos preparando.

– Atena!

– Cale a boca, Hera! Não está ajudando.

– Zeus! - se levantou. - Controle sua filha!

O deus suspirou.

– Ela tem o temperamento e a personalidade do pai. - materializou um raio na mão direita. - Pandora, faça o que quiser. Só cuidado com o que for fazer, lembre-se da primeira mulher que teve esse nome.

– Obrigada, Zeus.

Arqueou as sobrancelhas.

– Hum... - pegou a mão e Hera e de Atena. - Vamos. Temos muito o que fazer. Aliás, Apolo, venha. Quero conversar com você.

– Uhum. - virou-se para mim. - Filha, seu... amigo está aqui junto com Quíron, mandei uma de minhas musas chamá-los. Você vai ficar no Acampamento até Rebecca e Tánatos chegarem. Enquanto isso vá se armar e planejar o que vai fazer.

– Um amigo meu? Quem?

– Um tal de... Percy... algo assim.

– Pierce?! - foi um baque para mim ouvir o nome dele, já fazia muito tempo. Imagine quando eu o visse. - Ele está aqui?

– Sim. Estão te esperando nos Testrálios, que sua mãe mandou.

– Ela sabe que estou aqui?

– Foi a primeira pessoa que informei quando pedi para um dos seus irmãos te buscar e trazer a minha casa. Agora – me deu um abraço. - Vá com os deuses que te protejam.

Sorri, com os olhos lacrimejando.

– Quando vou poder te ver de novo?

– Talvez... se der tudo certo, em breve. Poderá me visitar sempre que quiser, sobre as nuvens do Monte Parnaso. Ou vá até o templo de Delfos no inverno. Sibila, meu oráculo, a encontrará disfarçada e te dirá como chegar a minha terra de Hiperbórea.

– Mas pai...

– Apolo, vamos. - a voz de Zeus estava calma, mas autoritária.

Apolo beijou o alto da minha testa.

– Até logo, Dafni. - uma amargura sombreou seus olhos ao dizer meu primeiro nome, e se foi.

Pelo que me lembro, na mitologia, houve uma história entre alguém chamado Dafni e meu pai. Ele fora atingido por uma dar flechas do Cupido, se apaixonando perdidamente por Dafni, mas ela não gostava dele. Pediu ao pai dela, um deus, para que a transformasse em alguma coisa para que não caísse nos braços daquele deus. Então logo ela se transformou numa árvore ou arbusto, não me lembro direito. Só sei bem que meu pai sofreu, sofreu muito. Talvez ele... lá no fundo ainda a amasse, claro, embora tenha-se deitado com algumas outras mulheres e ninfas – não o critico, mesmo achando isso errado. Será que Nyx sabia que meu nome era também uma homenagem a alguém que ele amou que... não fosse ela? Isso se ele a amasse mesmo, quando decidiu deitar-se com minha mãe.