— Aeris... Isso não pode ser verdade! – O corpo da garota estava mole, embora ainda quente, nos braços do rapaz. Seus olhos estavam fechados e havia algum tipo de paz em seu semblante, apesar da ruína eminente do mundo.

Cloud não conseguiu evitar o nó que se formava em sua garganta.

— Não se preocupe, em breve ela se tornará parte da energia do planeta. Tudo o que resta é ir para o norte. A “terra prometida” me aguarda nos campos congelantes e lá eu irei me tornar um novo ser, me unindo junto ao planeta. Igual a essa garota. – Sephiroth respondeu de forma simplista, apontando com a cabeça para o corpo recém caído, como se a morte daquela pessoa não significasse nada.

Bom, para ele realmente não significava.

— Cale a boca! O ciclo da natureza e seu estúpido plano não são nada! Aeris se foi. Ela não irá mais falar, rir ou chorar, nem ao menos ficará com raiva. E enquanto a nós, o que podemos fazer? E quanto a minha dor? Meus dedos estão formigando. Minha boca está seca. Meus olhos estão queimando! – Cloud respondeu, piscando para evitar as lágrimas que se formavam nos cantos dos seus olhos. Não conseguia parar de pensar que era tudo culpa dele, que todas as mortes pesavam em suas costas porque ele não havia sido bom o suficiente para salvar aqueles que ele amava.

— O que você está dizendo, garoto? Está tentando me dizer que você também tem sentimentos?

— É claro que sim! Quem você pensa que eu sou?!

E então Sephiroth riu, como se alguém acabasse de lhe contar a melhor piada do mundo. Seu riso era seco e o som cortava ainda mais o coração de Strife.

— Pare de agir como se estivesse triste. Não há necessidade de fingir que está com raiva, também. Isso porque, Cloud, você é uma simples marionete. Minha marionete.

A voz fria e calculada de Sephiroth fez o sangue de Cloud ferver de raiva. Ele não conseguia acreditar que o Soldier Primeira Classe era tão inescrupuloso, nojento... tão diferente do que o rapaz via quando saía em missão com o mais velho. O que havia acontecido com seu ídolo? O loiro lembrava-se tão bem da época em que Sephiroth era tudo que ele queria ser...

Tudo que ele queria ter.

— Eu te odeio, Sephiroth. Eu te odeio! – gritou, deixando o corpo de Aeris no chão para logo alcançar a Buster Sword, colocando-se em posição de ataque. Cloud não conseguia pensar com clareza, queria apenas que a lâmina afiada da espada atingisse o coração do inimigo, vingando-se assim do rastro de mortes deixado pelo caminho.

Foi quando Sephiroth colocou-se também em posição de ataque, segurando a Masamune com apenas uma das mãos e sustentando um olhar que mesclava deboche e frieza, porém imponência, que Cloud pode lembrar-se de como seu coração batia de forma esquisita sempre que via o homem na Shin-Ra. Ele era apaixonado pelo Soldier Primeira Classe, não podia negar. Mas isso não importava agora. Sephiroth havia matado Aeris, Aeris! Ele jamais poderia perdoar isso, jamais esqueceria esse sentimento de perda que sufocava seu peito como se fosse explodir a qualquer momento.

Sephiroth teria que pagar por isso, e teria que ser pelas mãos de Cloud.

Resignado, o rapaz correu em direção ao inimigo, segurando a Buster Sword com toda a força que tinha. Investiu com um dos lados da lâmina, tentando acertar o mais velho em um corte diagonal, mas seu ataque foi defendido pela lendária espada que o mais velho manuseava. O som dos metais se encontrando era alto, quase ensurdecedor, e podia-se observar pequenas faíscas saindo do encontro das armas. Mas Sephiroth era mais forte e mais experiente, não atoa possuía o título de melhor soldado do mundo. Assim, jogou todo seu peso contra a espada de Cloud, fazendo com que o rapaz soltasse sua arma e o metal caísse de forma estridente no chão.

Seph não tinha tempo para brincadeiras, ele tinha que ir para o norte o mais rápido possível. Portanto, não se importando com mais nada, partiu, deixando um rapaz louro catatônico para trás.

— Você não é mais forte que eu e sabe disso.

XxX

— Apenas um clone, Cloud Strife. Você é apenas um clone.

Sephiroth tentava a todo custo fazer com que Cloud se sentisse confuso e duvidasse dos seus pensamentos e lembranças. Ele queria que o rapaz parasse de lutar contra seus ideais e ficasse ao seu lado, defendendo seus objetivos.

— Você não entende, Sephiroth... Não entende! Você não precisa fazer nada disso, então, por favor, pare! – O rapaz praticamente suplicou, tentando fazer com que Sephiroth desistisse, mesmo sabendo que isso era impossível.

Assim, começou a aproximar-se, andando a passos lentos em direção ao Soldier. Cada vez em que a sola de sua bota tocava o chão, produzia um barulho que parecia anunciar uma tragédia, quase como um agouro. Quando chegou mais perto, colocou a Buster Sword novamente nas costas e deixou suas mãos caírem ao lado de seu corpo.

Estava, pelo menos por alguns minutos, sendo pacífico.

— Sephiroth... – voltou a chamar, dessa vez com a voz mais branda. Estava a um palmo do rosto do Soldier e agia com cuidado, não queria que as coisas saíssem do seu controle.

— Não se aproxime, Strife. Por favor, não se aproxime. – Por breves segundos o loiro pensou ter ouvido dor e lamúria na voz do inimigo, mesmo que por tão pouco tempo. Sephiroth fazia uma cara de dor, como se estivesse queimando seu próprio corpo de fora para dentro e não conseguisse suportar.

— Você não precisa fazer isso. Qual o propósito, afinal? Qual o sentido em destruir tudo a sua volta?! – Questionou.

— Você não entende! Tudo que eu achei um dia saber... era tudo mentira! Minha mãe está congelada há séculos e ela precisa de mim, precisa do Lifestream. Não posso deixá-la! Eu tenho que me vingar, eu tenho que...

Foi quando Cloud o beijou.

Ele não sabia porque havia acabado de fazer uma coisa tão estúpida como essa, mas sentia que precisava. Cada um dos dias em que passou no QG da Shin-Ra, observando o homem de cabelos prateados e que era o ídolo de todo mundo, pareceu pesar em suas costas nesse momento. Ele queria que tudo pudesse ter sido diferente. Queria não odiar Sephiroth, queria não ter que mata-lo...

Mas ele tinha. Mesmo que o beijo fosse quase doce e que seu corpo inteiro queimasse por mais, ele tinha. Tinha que acabar com isso de uma vez por todas.

Sua mente então começou a ficar confusa e memórias estranhas passaram a aparecer. Um rapaz de cabelos negros com roupas de um Soldier Primeira Classe...

Seus lábios soltaram-se dos lábios de Sephiroth e ele caiu... Afundando-se no Lifestream até não poder mais saber quem era si mesmo.

XxX

O olhar de Tifa sob suas costas enquanto ele se afastava fazia-o sentir-se um lixo. Ela estava ali, disposta a oferecer ao rapaz conforto, carinho e paixão, mas ele não queria. Seus dias resumiam-se em pensar sobre o que poderia ter acontecido se as coisas tivessem ocorrido de modo diferente. Talvez, em alguma realidade paralela, Aeris e Zack fossem felizes como deveriam ter sido e talvez, só talvez, Sephiroth estivesse bem. Mas afinal de contas, quem ele queria enganar? Sephiroth havia surtado, ido pelos princípios errados e quebrado todo aquele mar de sentimentos que antes enchiam seu coração.

Cloud conseguia se lembrar, como se fosse ontem, da primeira vez em que vira o Soldier Primeira Classe pessoalmente. Ele era tão... exuberante. Seu cabelo era enorme e cor de prata, tão grande que chegava quase aos pés e passava uma aura de imponência para o rapaz.

Era isso. Sephiroth era imponente.

Era com isso que Cloud sonhava enquanto observava Sephiroth, durante sua estadia na Shin-Ra. Ele queria ser um Soldier Primeira Classe também. Almejava estar ao lado de Sephiroth e ser reconhecido como o melhor soldado do mundo, ser a verdadeira elite, tão imponente quanto o mais velho... Mas ele não era nada. Não passava de um rapaz de cérebro confuso e com memórias que nem mesmo eram suas por direito. Sua mente era só um emaranhado de lembranças falsas e verdadeiras, momentos que ele jamais saberia se havia ou não presenciado se não fosse pela ajuda de Lockhart.

Cloud não sabia se todas aquelas coisas haviam mesmo acontecido; mas, ao julgar pela reação da sua pele quando ele se lembrava, acreditava que sim.

— Fique onde você deve, Sephiroth: nas minhas memórias.

— Você deveria saber que eu nunca serei apenas uma memória.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.