Apenas um olhar

Capítulo 127:


Sofia entrou pela porta do quarto que dividia com as “irmãs”, carregando consigo um sorriso contagiante no rosto, estava feliz por ter seu trabalho reconhecido e elogiado... Afinal à loira tinha motivos para a felicidade animadora que emanava naquela noite, devido a ter sido procurada por um blog reconhecido e renomado no mundo da internet, quando o assunto era moda. Além disso, tinha outros motivos de alegria além de sua vida profissional, estava leve, livre de qualquer culpa, havia se acertado de vez com a mãe, pelo o que havia causado em seu casamento, pela primeira vez na vida, não viu problema algum entre ela e Vera, apenas amor e cumplicidade, sentia-se realizada por isso... Também havia aceitado Ronaldo, entendido o grande sentimento do padrasto e Vera, e mesmo que antes não gostasse do casarão, hoje ela ao menos tentaria cooperar para manter sua harmonia, não queria mais magoar sua mãe, havia entendido que isso não à traria felicidade alguma, então estava exercitando a paz com os pais, e os irmãos... Também tinha Sidney, pela primeira vez na vida se sentia amada, e plenamente feliz por isso, havia dado a chance de receber o amor do rapaz, e não estava se arrependendo de tal fato, ao contrário, gostava bastante de receber a atenção dele, quem sabe não passaria a acreditar nessas coisas de destino daqui em diante... Sidney podia ser seu destino, porque não...

A patricinha parou de cantarolar, ficando atônita à olhar para a irmã sob sua cama, parecendo mais chateada do que concentrada no livro que lia. – Anita? – ela chamou sua atenção em um tom de voz indeciso.

— Oi Sofia. – Anita fala, somente agora notando a presença da loirinha.

— O que você tá fazendo. – Sofia perguntou se aproximando. Revirou os olhos impaciente consigo mesma, a mais velha não fazia no momento nada de interessante... Ao menos a julgar pelo o que viu.

— Nada. – a outra garota respondeu, com um sorriso de canto, o que significava também que ela queria passar toda confiança possível de normalidade. – Bom é o que se faz, na minha situação. – Anita completou ironicamente, apontando para o braço enfaixado.

— Ah ok. – Sofia rebateu depois de todo silêncio, meio que bufando com a irmã. Irônica e indiferente, Anita conseguirá lhe irritar ainda mais...

— Ah você não vai lá no Embaixada, vai ter show do Victor e Léo de novo, olha não sei como, mais eles adoraram pagar de cantores desconhecidos e dar espetáculo em qualquer birosca. – a loira foi dizendo, enquanto caminhava até a própria cama carregando suas duas sacolas em mãos. – Tem gente pra tudo, vê se pode... – revelou ela entre uma gargalhada sarcástica, que fez Anita pensar que o jeito de desdenhar da irmã, nunca ninguém mudaria, era sua marca, quase um charme de sua personalidade, cuja irmã mais velha já conhecia e nem ligava.

— Acho que não. – Anita retruca já convencida do fato, observando a irmã loira, com um vestido preto belíssimo em mãos, Sidney se encantaria na certa, não tinha confirmação de Sofia, mas já sabia que os dois estavam tendo algo mais sério dessa vez... – Nossa mãe, nem iria permitir, esqueceu que ela está me vigiando. – fala ela, enquanto Sofia se concentrava em si.

— É. – a menina a encarou sem confiar com veemência, na justificativa dada, apenas cerrou o olhar astuta, em cima de Anita.

— É, e por incrível que pareça, não quero ter que ficar me explicando com ela. – garantiu Anita, tentando ser segura, mas notou a desconfiança da mais nova. Era reciproco, ambas se conheciam muito bem, Anita não podia negar, apesar das brigas a ligação entre as duas sempre foi intensa e inabalável, uma conhecia exatamente a outra, tanto para o bem quanto para o mal.

Sofia olhou ainda sob desconfiança para a irmã, e teve certeza, Anita estava decepcionada com Vera, mas talvez não quisesse compartilhar isso com alguém, estava escondendo seus temores habilmente, mesmo que o fardo estivesse pesando, e ela chegando a seu limite.

— Ah eu vou me arrumar então. – Sofia alegou descalçando as sandálias, pensando consigo mesma que a irmã queria mesmo ficar em seu canto, o que ela não concordava, mas preferia respeitar, ao menos por hora.

— Vai... – Bom show pra você. – Anita deseja, soltando o livro, iria desistir, há horas tentava ler a página dois, mas não se concentrava jamais...

— Tá, boa noite pra você. – a patricinha disse, incerta á respeito se o desejo seria realizado por Anita.

— Claro. – respondia Anita, pensando em seus devaneios que a dupla de cantores não a trazia sorte, sempre que eles apareciam no restaurante do pai de Ben, ela estava praticamente na pior, e dali em diante, era ladeira a baixo, caso Anita não tivesse animo e frieza o suficientes, para se reerguer sozinha. A moça optou por não pensar, mas sim dormir, era o melhor... Sofia tão logo saiu do quarto a cantarolar a mesma música que ocupava seus pensamentos quando adentrou o local.

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— Oi Ben. – a garota não resistiu em abordar o rapaz quando o viu distante, parado ao balcão. – Melhor show que eu já vi sabia. – Tais disse, não contendo toda animação.

— É eles são bons, mais eu devo confessar que só vi metade, porque o começo perdi. – Ben disse em um tom ameno, não estava com clima para festas, preferia a solidão, mas a insônia lhe atingiu, devido a todo barulhão vindo das dependências do restaurante, e trouxe consigo os maus pensamentos, então procurando evitar endoidecer de tanto pensar naquilo que não queria, acabou se rendendo e dando uma passada para assistir uma parte do show de Victor e Léo, não tinha pretensões maiores do que ficar jogado no balcão, acompanhando tudo de seu canto.

— Tava perdendo. – ela afirma com sorrisos.

— É. – ele fala sem muito assunto, ou disposto a encontrar algum. – E as aulas como tá indo. – o garoto quis ter um pouco de simpatia.

— Tão boas, mas ainda to perdida. – ela riu de si mesma. – Mais eu repito, não tenho como te agradecer, de verdade. – Tais alega grata por toda vida, pela ajuda do menino.

— Imagina. – Ben é humilde pela própria atitude.

— Ou quem sabe, eu posso. – a garota diz aproximando-se entre sorrisos. – Te convidar pra uma praia... – sugeriu alegremente, Ben desviou o olhar não muito afim de responder. – Ou você é do tipo que nem lembra dessa parte do Rio, preferia que não existisse. – ela brinca.

— Não, apesar de que faz tempo que eu não vou à praia mesmo, mais obrigado. – ele não mentiu.

— Tá aceito então. – insistiu ela uma segunda vez, não tinha nada a perder.

— Não, melhor não, eu te agradeço mais eu não to com cabeça. – Ben respondeu com tranquilidade, não queria decepcionar a garota, mas não tinha vontade e nem porque aceitar seu convite.

— Ok, e pra uma dança posso. – Tais não se rendeu, e o lança um olhar audacioso. – Ai que chato, acabei de me tornar a pior das pessoas, você não é do tipo de cara que acha normal uma garota convidar um cara pra sair. – a moça o desafiou brincalhona, para amenizar o quase fora que estava recebendo, devido a imensa reclusa dele.

— Não, nem esse cara e nem o cara que tá disponível, eu não estou em um bom momento, só isso. – Ben admitiu ponderando calmamente.

— Tudo bem, isso não é um pedido de namoro ainda, mais quem sabe. – Tais riu solar.

— É complicado, e eu sou enrolado demais, como eu disse, não é o momento e talvez nunca seja. – Ben a cortou, mas tenta ao máximo, não usar de falta de educação, nem tinha precedentes para isso, seria arrogância demais de sua parte.

— Ah entendi, tem outra garota na jogada. – ela o olha com esperteza, só podia ser esse o motivo de tanta renúncia. – Só acho que ela devia estar aqui então, cuidando do que é dela. – Tais agiu brincalhona, mas também sentiu uma pitada de acidez em seu comentário. Estava um pouco interessada em Ben, não podia negar, quem sabe também não se apaixonaria, se arriscaria a tentar, não viu motivos para não correr certo risco.

— Talvez, mais se ela não está aqui, é porque eu também fui covarde e não corri atrás, e isso tá me doendo, ainda mais do que a saudade que eu sinto dela. – Ben falou em defesa de Anita, não havia como a garota á sua frente saber, ela não conhecia sua história. Mas a verdade, é que por mais torturante o que estava vivendo, não podia jogar só a culpa em Anita, ele também estava sendo acovardado, não conseguia ter ânimo para resolver tudo de uma vez. – Você é muito bacana, dá pra ver isso, só que o problema é realmente comigo, não tem jeito, eu amo demais essa outra garota, pra afirmar que um dia eu estaria curado da forma como amor dela me drogou e me tirou do alcance de qualquer outra, é irreversível. – alegou o garoto sendo realista. - Mais minha amizade, eu posso te oferecer, sem mais intenções. – ele garante.

— Tá bom, eu vou ser uma boa perdedora, foi mal pela tentativa falha. – Tais preferiu retirar-se, enquanto havia dignidade para ela. – Amigos. – disse ela aceitando a proposta.

— Amigos. – Ben concorda com um sorriso conciliador. – E reafirmando, não é questão de perder, não há o que perder, o fato é que eu estaria sendo muito desleal principalmente comigo se eu agisse diferente. – reforça Ben em pura sinceridade, e com absoluta certeza sabia que não erraria, não haveria espaço para outro alguém dentro de seu coração, não enquanto Anita estivesse lá dentro, e algo muito forte também dava a certeza à Ben que nunca esqueceria a moça, nunca a tiraria de sua vida, mesmo que os caminhos dos dois dali em diante fossem mesmo separados.

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Ben andava sem grandes expectativas pelo corredor do colégio Destaque, já que não dava pra esperar muito de um final de aula, normalmente os alunos se dissipavam rápido, já ansiosos para deixarem o local, que é considerado por muitos um pesadelo que deve ser enfrentado já pela manhã... Sem pressa alguma, e até com os pensamentos ao vento, distraidamente Ben ficou indeciso a respeito se estava certo ou não, da cena que seus olhos viam, seria possível ele estar correto... E a moça que de costas, conversava com Raissa perto da sala da direção, seria mesmo Anita... Sua figura em estado de ataxia perante a imagem que seus olhos revelavam, fazia seu coração em silêncio bater forte.

— Não se preocupa viu Anita, eu vou falar com cada um dos professores sobre tua situação, vou explicar e garanto que eles entenderão. – Raissa comunicava solicita e atenciosa, diante da situação da aluna, que há alguns dias perdia provas e aulas, por seu estado de enfermidade não lhe deixar comparecer ao colégio.

— Obrigada Raissa, mais uma vez eu não tenho como te retribuir o que você está fazendo por mim. -tais Anita sorriu agradecida diante do empenho da mulher para com ela. E que mais uma vez, estava sendo crucial, para que ela não abandonasse mais um sonho, que estava ficando distante dela com o passar dos dias, o que era causado por todos os problemas enfrentados... A sua tão desejada faculdade de arquitetura, talvez fosse o único objetivo que Anita pudesse correr atrás e obter hesito, já que os outros pareciam escapar por entre seus dedos como areia, não importando em nada sua motivação em segurá-los para consegui-los.

— Nem precisa, imagina, eu sei que você merece demais. – Raissa jamais se arrependeria, sabia disso, gostava de Anita, e principalmente sabia de todo esforço que a menina vinha tentando manter para continuar de pé, e desde muitos meses. – Você é uma boa menina, tem muito mérito comigo, com todo o corpo docente, e eu fico muito honrada em ajudar... – garantiu ela, conseguindo arrancar de Anita o esboço de um sorriso fraco, preferindo não tomar partido em relação às palavras de Raissa, sentia-se como se não soubesse direito quem ela era neste momento, algo estava muito quebrado dentro de si, por mais que não estivesse disposta a deixar transparecer isso a ninguém, se sentiria tola, talvez ainda mais sozinha, incapaz, e pior não aguentaria a pena de pessoa alguma, se era isso que os outros lhe dariam, preferia a solidão. - Sei que você tem muito a conquistar, e ainda vai conseguir. – disse a orientadora repleta de otimismo, desejando tudo de melhor a Anita, era sincero, acreditava na moça e em seu caráter.

— É, talvez eu esteja mais predisposta a menina má... – era o pior que às pessoas pensavam e interpretam devido a tudo que ela viveu, Anita sabia com certeza... Seu julgamento já havia sido executado, e sua sentença era a de condenada, culpada... Prisão perpétua pela solidão de suas escolhas, sua pena... E o castigo à morte, que a atingia pela tristeza que sentia sufocando-a. – Mais eu te agradeço de novo. – ela sorriu querendo amenizar seu discurso, ao ver comoção no rosto de Raissa, não queria chatear a professora, ela já tinha feito muito por si, além do normal inclusive, já estava grata por isso. Além do mais, sabia que precisava esquecer o que sentia, era o caminho mais fácil para sair do vazio que estava caindo. – Tchau, então, assim que eu puder estarei aqui de novo, eu prometo, meu atestado está quase acabando. – justificou se despedindo tentando ser simpática.

— Tchau Anita, se cuida e força viu, que no final tudo vai dar certo. – Raissa afirmou, estendendo um abraço de carinho à moça, que sem dificuldades foi aceito por ela.

— To tentando sim, obrigada. – Anita sorriu de volta encerrando sua despedida da mulher. Estava resignada a aceitar, não tinha outra opção, a garota pressentia que teria que lidar com seu futuro de maneira amigável e sensata, mesmo que ele não fosse o que foi escolhido, e desejado... Era assim que teria que ser, teria que se preparar para isso por mais doloroso que fosse.

— Tchau... – respondeu a mulher, vendo ela virar às costas para ir embora, pacientemente.

- Ben... – o nome do rapaz saiu por seus lábios com surpresa, quando mais à frente no corredor, Anita deu de cara com ele, escorado em uma das paredes, o sentimento de confusão havia se apossado de todo corpo da garota... Definitivamente não estava preparada e nem queria aquele encontro, pensou que suas preces haviam sido atendidas, já que até então não havia ainda trombado com o rapaz, a essa altura também devanear nem dava, fingir não o reconhecer muito menos... Pois ele a via com clareza e pior parecia até espera-la, mas Anita ficou entristecida por dentro, ao não cogitar que aquela conversa fosse lhe trazer um pouco de felicidade... Talvez fosse ao contrário, era muito mais angústia que viria...

— Oi. – proferiu Ben, não evitando um sorriso repleto de empolgação por a ver, porém sua mente o alertou que disfarçasse, apesar da imensa alegria por saber que a moça já estava quase recuperada, sentiu certa tensão contida rondando Anita... – Eu não sabia que você já poderia vir pra aula. – perguntou ele, procurando achar o controle de suas emoções, que no momento pareciam escaparem de si.

— E não, mais a Raissa me ligou, querendo falar das provas que eu perdi, aí achei melhor sair um pouco de casa. – justifica ela, meio ofegante, já que não achava muito ar quando tentava respirar. De repente Anita pensa em sumir dali, não suportando agir com tamanha imbecilidade... Ben ficou mudo por segundos procurando o que responder, já que notava nitidamente a falta de assunto dos dois, e o rapaz chateou-se por isso.

O silêncio e o olhar fixo dele sobre Anita a fez querer derreter, ficar invisível... Qualquer coisa que a fizesse sair da frente dele imediatamente. – E você bom é... – Ben quis saber sorrindo confuso, pela energia desconhecida que os unia momentaneamente. – Como foi lá. – disse ele por fim.

— Foi o que. – Anita revidou o questionamento de volta ao não prestar atenção exatamente no que ele falava, enquanto o observava confusamente, talvez a saudade de tudo que o envolvia era muito maior do que tudo, apesar dela não admitir, e até mesmo se entristecer com aquilo. Mais uma vez tentou esquecer, quase em vão...

— Como? – ele confunde-se com a confusão que via refletida no olhar dela. – A conversa com a Raissa, o que ela disse afinal. – Ben explica com mais afinco, sentindo-se nervoso.

— Ah é claro. – Anita compreende sorrindo tímida, se praguejando pela mancada que deixava clara. – Foi boa, ela disse que vai conversar com os professores pra eu fazer as provas depois que eu voltar. – fala ela, em um tom tranquilo dessa vez, ao menos querendo estar. – Espero que eles concordem. – Anita proferiu meio desanimada, o que revelou para si mesma o tamanho do caos que estava sua vida e nem era somente a acadêmica, mas nesse momento poderia dizer que o pacote era completo, estava tudo de pernas para o ar, e isso às vezes era literalmente, era sua pura realidade, estava vivendo um momento onde absolutamente tudo se encontrava do lado avesso.

— Vão sim, você sempre foi boa aluna, eles irão entender que agora é hora de um voto de confiança. – Ben deu um meio sorriso otimista, um pouco consternado pelos problemas da garota, e por um segundo esqueceu-se da frieza com que via ela lhe tratando sempre, a cada palavra trocada desde o início da conversa. E sentiu decepção consigo mesmo, por não estar do lado de Anita lhe apoiando e ajudando, talvez se ver em plena solidão fosse o mal de toda indiferença demonstrada por ela, Anita precisava de compreensão, não de julgamentos, ele cogita agindo com compreensão... Não era a hora de a pressionar ainda mais, pressentiu o garoto, preferindo aceitar a distância dela, ao menos por hora, teria que entender, mesmo que fosse difícil. Mesmo que a saudade imensa que sentia lhe atrapalhasse.

— É tomara. – Anita disse meio incerta, controlando o desconforto que a rondava certeiro. – Bom eu tenho que ir, não posso demorar. – diz ela em um tom de pressa, realmente pensando que Vera poderia se agoniar caso ela não retornasse ao casarão rapidamente, bom essa foi à condição para que ela viesse sem sua companhia até a escola, depois de a mãe morrer de insistir alegando que viria junto. Anita não quis magoar a mãe, mas desde a ligação de Raissa quis sair sozinha, pois ansiava por um pouco de ar longe da casa da família e todos, precisava respirar, organizar suas ideias, e decidir principalmente o que faria conforme sua vida tivesse que voltar, aparentemente ao normal.

— Você veio sozinha. – Ben indaga preocupado, os irmãos poderiam ter sido um pouco compressivos e terem feito um pouco de companhia a garota, pensou ele. – Bom se você quiser. – Ben ia falando, mas receosa do que ouviria Anita foi o cortando um tanto tensa.

— Não, eu vim com o Pedro, ele não teve aula hoje, só disse que ia à biblioteca, deve tá lá até agora inclusive. – Anita exclama afoita, nem deixando Ben terminar, os últimos acontecimentos a fizeram temer ainda mais o que a proximidade dos dois poderia revelar, talvez um fim... Um fim, que Anita ainda estava se preparando para aceitar e principalmente unindo forças e toda coragem para lidar e suportar... O fim que ela não queria, mais que de certa forma não dependia mais só dela decidir, era uma decisão que não estava sob o alcance de suas mãos, a vida quem sabe não era a grande responsável, julgou entontecida.

— Claro. – Ben suspirou contornando a desilusão que o atingia.

— Tchau. – Anita afirmou com pressa, procurando com o olhar a direção da biblioteca, pressentiu seu coração apertado e confuso, ainda mais sombrio do que estava quando saiu de casa... Mais ninguém é frio por opção... E sim por decepção, e nesse instante Anita já se sentia corroída por dentro, como consequência nefasta de toda decepção que morava dentro de si. Ben continuou parado olhando a moça ir embora, sentindo-se incapaz de reagir diante da melancolia desanimadora que estava dentro de si. Estava tudo péssimo, ele desempregado, tendo que depender da caridade de Omar para ter onde morar, sua mãe o pressionando para voltar à Flórida, somando ainda tudo que foi semeado pelo ódio de Antônio... E seu pior mal, à distância e o medo de perder a pessoa que mais amava... Cansado, o garoto simplesmente suspirou frustrado.

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— Ai Anita porque você não liga pro consultório do médico, remarca está consulta. – Vera quase suplicava, pois devido a um compromisso urgente no trabalho, não poderia ir com a filha em sua consulta.

— Eu vou sozinha, não tem problema, vou de táxi, descer lá, e pra voltar à mesma coisa. – Anita revelou despreocupada com sua missão. Estava acostumada a andar só, isso não a assustava.

— Eu desmarco, vou com você. – a mãe sugeriu impulsiva e preocupada, notava Anita tão distante e isolada, que sentia uma vertigem forte ao imaginar a filha sozinha pelas ruas.

— Não imagina, perder tuas coisas por minha causa, nunca, eu vou não tem porque isso. – Anita rebateu nervosa com a opção dada pela mulher. Jamais queria dar mais motivos para a mãe lhe culpar por algo, além disso, também não queria que ela prejudicasse seu trabalho por sua causa. – Eu vou. – ela repetiu decidida.

— Então fala com teus irmãos. – Vera opinou como alternativa.

— Já falei, Sofia não me atendeu, e o Vitor e a Giovana falaram que tinham compromisso. – Anita disse, não evitando deixar escapar uma pontinha do descaso que pressentia, apesar de já o conhecer desde sempre.

— E o Ben. – Vera tocou no nome do rapaz deixando Anita levemente paralisada, foi pega de surpresa, não esperava que a mãe fosse agir tão direta, ou pior lhe perguntar algo à respeito, sabia que a mãe pensava desde sempre de seu envolvimento com o rapaz, e em parte preferia ainda continuar lidando com a distância e indiferença que Vera sempre demostrou com o assunto.

Vera observou a filha ainda fugindo de responder, procurando algo desajeitada dentro de sua bolsa e se arrependeu da pergunta de imediato, sabia que no fundo não tinha nenhum direito de se meter na relação da mais velha com seu enteado, devido à sempre deixar claro, o quanto a repudiava e achava leviana, a mãe ficou irritada consigo mesma pelos erros cometidos, e temeu nunca mais recuperar o carinho e cumplicidade da filha, isso a entristeceu...

— Eu não sei. – manifestou Anita, quebrando o silêncio constrangedor, um fio de raiva e revolta saiu em sua voz mesmo sem querer, não tinha o que dizer e nem queria falar do assunto com a mãe. – E tenho que ir, ou vou me atrasar. – disse ela fugindo de uma resposta conclusiva à doceira, simplesmente saiu andando com destreza até a porta de saída, deixando Vera para trás desanimada e com pensamentos que não gostava de ter.

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