Apenas um olhar

Capítulo 121:


E a angustia e a espera interminável ainda continuava e ninguém mais parecia suportá-la, nem com o mínimo de calma que a situação exigia, um misero pingo de sanidade para a mente e corações de todos que estavam presentes naquela sala, para que assim não beirassem a loucura, mergulhados em todo o desespero que os unia naquele momento.

Nem mesmo eles pensaram um dia, que teriam tanto medo de perde-la, Anita parecia alguém tão contraditória nos últimos tempos, mas de repente toda raiva, impaciência, indignação, e julgamentos pelas atitudes da menina, os fizeram sentiram-se tão tolos, tão cruéis, e principalmente tão enganados, seres humanos frágeis e totalmente medrosos, pois agora só a vida e o destino e todas as suas preces de que tudo desse certo podiam ser os responsáveis, por livrar cada um deles da culpa e da dor de perde-la ,sem que nada mais pudesse ser feito.

— Ronaldo eu não vou mais aguentar isso, porque esse médico não voltou mais aqui, porque ele não me diz nada sobre minha filha, ela é minha filha Ronaldo. – Vera choramingava sentada num banco próximo ao corredor, com a cabeça jogada ao ombro do marido, percebendo que não tinha mais forças e se quer lágrimas suficientes para suportar aquela situação, apenas queria sua Anita de volta, mesmo que nem sempre tivesse sido a mãe que a menina quisesse, e nem a que conhecia sua filha melhor, queria ter a chance de continuar errando, de a entender, e não o preço de carregar tal angustia por toda sua vida.

— Ele sabe disso Vera. – Ronaldo não tinha mais o que dizer, não sabia mais como consolar sua família, nem como ajudar sua enteada, e muito menos como abrandar seu nervosismo, cujo ele preferia deixar somente dentro de si para não piorar ainda mais as coisas por ali.

— E eu que acreditei que ela estava apaixonada por ele, que queria ficar com ele, como eu pude. – a mulher dizia referindo-se a Antônio, e o tom de rancor se fez presente em sua voz, como ela pode acreditar em tal sandice, e agora a vida que deu plenos poderes também a Antônio, lhe estava a condenando, lhe tirando justamente Anita, aquela que ela mais julgou erroneamente.

- Ela nunca esteve Vera, nem antes e nem agora. – Ronaldo se atreveu apenas a dizer isso.

— Porque você não contou, porque você deixou. – talvez Vera tivesse que arrumar um meio de entender aquela trama que lhe trouxe tanto sofrimento.

— Eu só queria evitar, mas foi tarde. – Ronaldo lamentou com um enorme peso em seu coração. – O que ela também queria com todas as forças dela, que ele não nos machucasse, e principalmente que ele não fizesse nenhum mau ao Ben, é dele que ela gosta, sempre foi, e porque eu não deixei esses dois ficarem juntos antes de tudo isso ser semeado. – ele disse dominado por melancolia.

— Nós podíamos ter dado um outro rumo pra isso sim, mas agora é tarde. – Vera respondeu compreendendo os pensamentos condenados do marido.

— Gente, gente o médico, tá chamando. – Giovana correu até eles após avistá-los, nada calma e o olhar de susto não passou desapercebido.

— Ele falou da Anita. – Vera deu um salto se erguendo, mal sabendo como seu coração suportava tantas batidas.

— Não, quer dizer pediu pra chamar vocês antes. – Giovana disse engolindo em seco todo seu susto.

— Doutor, eu já posso ver a Anita. – Vera indagou de imediato após ver o homem alto de roupas brancas parado a sala de espera os aguardando.

— Não. – ele disse parecendo não muito calmo.

— Mais ela está bem, afinal. – Ronaldo perguntou não sabendo medir o quanto temia aquela resposta.

— Bom é, simplificando até pra não assustar ainda mais vocês, ela chegou aqui desmaiada e não respondendo nenhum sentido, nós tentamos acorda-la, mas creio que até pela situação, e por uma queda de pressão brusca foi um pouco em vão no início... – ele dizia olhando atentamente a todos, que souberam ficarem ainda mais apreensivos.

— Mais cadê a Anita. – Sofia passou entre os sofás questionando o homem abrupta, com Sidney a seguindo.

— Sofia deixa ele terminar, pelo amor de deus. – Ben resolveu intervir, já que corria o risco de todos caírem em questionamentos, o que prolongaria ainda mais aquela situação.

— Então ela teve uma hemorragia um pouco severa eu diria, a fratura foi superficial, mas o corte atingiu uma veia do braço, que digamos é principal, importante, ela perdeu bastante sangue, chegamos a temer um caso de hipovolemia. – ele fez uma pausa pensativo. – E também pelo meu olhar de médico diria que ela está debilitada, enfim pra situação dela ser mais confortável, uma transfusão de sangue seria o melhor, mas o banco do hospital está em falta, mas estamos resolvendo isso mais... – justificava o homem.

— Eu doou, a gente tem o mesmo tipo sanguíneo. – Sofia e manifestou nervosamente.

— Tipo O. – supôs encarando a loira. - É claro que você precisa passar por um processo de rotina antes. – ele disse.

— Não me interessa, eu sou a única pessoa dessa sala que pode fazer isso pela Anita, nem minha mãe tem o mesmo tipo sanguíneo. –Sofia ignorou o médico decidida.

— Então venha comigo. – ele disse pensando em encaminhar a moça até uma enfermeira.

— Sidney, eu não gosto muito de agulhas, na verdade nem de sangue. – Sofia viu todos ainda paralisados e solicitou nem mesmo sabendo por que o apoio do rapaz, mesmo que encorajada a garota temeu um pouco sua façanha, porém havia algo mais importante e que seu medo em jogo à saúde de Anita.

— Eu vou com você, fica tranquila. – o rapaz garantiu lhe dando um meio sorriso.

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— Tudo bem. – Sidney olhava para a loirinha a amparando no corredor.

— Sim, na verdade eu achava que era um pouco pior. – Sofia afirmou caminhando devagar. – A Anita vai melhorar não vai. – podia até estar um pouco zonza, mas ainda só conseguia pensar na irmã e no tempo passado que não sabia ao certo quando era, apenas queria vê-la, depois de ter sido liberada pela enfermeira.

— Vai sim, e você foi uma grande surpresa hoje. – ele alegou orgulhoso.

— Não quero o mal dela, você nem acredita eu sei, mais eu nunca quis machucar a Anita de verdade, e nunca pensei que um dia eu pudesse viver o risco de a perder, eu não sou um monstro Sidney, mesmo tendo feito muita coisa errada desde sempre com ela, eu gosto dela, ela é minha irmã, e eu não fiz nada de mais, eu sei que se fosse ela, faria o mesmo por mim, a Anita sempre me protegeu, mesmo que as vezes eu a chamasse de careta, caçoasse dela por agir tão correta, ela só queria me proteger, e eu nunca dei valor, continuei sempre batendo de frente com ela, no fundo acho que eu só queria provar um dia que eu era igual a ela, melhor do que ela, mais eu nunca consegui né. – Sofia confidenciou emotiva, com Sidney a ajudando a sentar-se em uma sala vazia, onde a simpática enfermeira informou que ela poderia repousar após a coleta de sangue.

— E você com certeza hoje conseguiu. – Sidney garantiu acariciando o rosto dela. - Não pensa nisso agora. – pediu ele pesando ser o melhor ela não agitar-se.

— Obrigada por ter ficado comigo. – Sofia agradeceu, e Sidney não pode notar que nunca a viu tão desarmada, tão a Sofia que ele sabia que existia por trás daquela patricinha cheia de vontades.

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— Ela está no quarto. – finalmente o médico deu a noticia que toda família queria.

— Eu posso vê-la agora. – Vera insistia em meio a comemoração da família, só queria olhar para o rosto de Anita.

— Bom é, ela está sedada, creio que acorde mesmo só pelo amanhecer, mas se a senhora quiser de fato, mas só podemos permitir uma pessoa por enquanto, por hoje , pois ela precisa repousar. – comunicou ele.

— Vera é, você não vai poder falar com a Anita mesmo, ela está dormindo, deixa o Ben vê-la agora, amanhã você pode fazer isso melhor. – Ronaldo quis aguentar com a esposa ao notar o olhar desapontado e triste do rapaz ao ouvir tal fato, no fundo Ben só queria olhar pra ela, certificar-se por si mesmo que ela ficaria bem.

— Mais Ronaldo, é minha filha. – Vera disse contrariada.

— Bom o quarto é mil e dois, só falar na recepção, com licença. – o médico retirou-se achando melhor deixar a família decidir sozinha.

— Eu sei meu amor, mais pense no que é melhor pra ela, na escolha que a Anita faria. – Ronaldo tomou como justificativa, apenas queria acabar com o desespero do filho, que ainda estava cravado em seu olhar, e para um pai aquilo já havia se prolongado demais.

— Você quer dizer que ela não quer me ver é isso. – Vera magoou-se, e talvez Anita nem quisesse mesmo, já que ela não acreditou nela, Vera simplesmente culpou-se.

— Não, ela jamais desejaria isso, a Anita te ama, mas nesse momento, pelo que os dois passaram, os momentos de angustia envolvidos nisso tudo, deixe que ele a veja, amanhã você faz isso meu amor, ela está dormindo não vai poder falar com você hoje. – Ronaldo ainda insistiu ponderando calmamente.

— Eu concordo, mas amanhã assim que autorizarem eu que vou visitar minha filha. - taxou Vera não vendo outra saída a não ser aceitar, talvez Ronaldo estivesse certo e esse fosse o verdadeiro desejo de Anita.

— Eu te agradeço Vera, muito obrigada. – Ben afirmou dando um abraço de gratidão na madrasta.

— Não tem de que. – Vera respondeu bondosa.