Apenas um olhar

Capítulo 100:


O final de semana havia passado, e Anita se viu obrigada a voltar com sua rotina normalmente, mas a garota sabia que não conseguiria, pois nada estava normal, ao contrário tudo se encontrava de cabeça para baixo, como depois de uma tempestade, onde a ventania soprava imponente e levava consigo tudo e qualquer rasto de coisas boas, esperança e otimismo e só deixava a destruição. E ficar trancada dentro de casa nunca foi tão conveniente, pensou ela... Ao andar descompensada pelos corredores do colégio, confusa sem saber que rumo tomar até sua sala, Anita foi pensando até quando aquele martírio se arrastaria, ela se sentia devastada, sozinha, totalmente sem foco, seu mundo estava ruindo, era só o que ela conseguia decifrar. Ben não a havia procurado, ela havia ignorado os pedidos de notícias de Julia e Serguei que de alguma forma pressentiram que algo estava fora do lugar, com certeza aqueles tinham sido os três dias mais longos de sua vida. Anita se viu não sabendo o que pensar? Como agir? Ela tinha que pensar em algo para se livrar de Antônio e dos devaneios do garoto, mas isso parecia algo improvável, longínquo.

Ao final do corredor, quase próximo à porta de entrada da sala do terceiro ano, ela avistou Ben, vindo da direção oposta, Anita parou onde estava a observar apenas, o garoto acabou fazendo a mesma coisa quando levantou o olhar e pôs os olhos na menina. Os dois ficaram sem saberem como agir, por um instante, lamentaram abalados, por tanta estranheza que os unia em tal momento... Até que Anita, mesmo cercada de tantas incertezas resolveu ir ao encontro dele.

– Oi bom dia. – proferiu ela o encarando de perto, procurando um meio de disfarçar toda insegurança que estava em sua voz, mais tenebrosa ainda ela estava com a resposta que receberia.

– Bom dia. – Ben respondeu a lançando um olhar confuso, que Anita não pode deixar de constatar.

– Tava preocupada, eu não tive notícias de você, todo final de semana. – afirmou Anita. – Mais eu... – ela recuou quando pressentiu que lhe faltava coragem para tocar no assunto, talvez ter consciência da mágoa e tristeza de Ben só a faria se sentir ainda pior, se é que dava, imaginou a garota por um segundo.

– Deixa eu ver se adivinho, aí você pensou que o Antônio poderia saber que você me contou. – ele acabou sendo rude, mesmo sem querer, a verdade era que aquela história toda havia tirado a paz de Ben tanto quando de Anita, imaginá-la a mercê de Antônio o causava uma sensação horrível.

– Ben, por favor. – Anita o olhou como se pedisse que ele não a punisse ainda mais.

– Você é... – suspirou o rapaz ao constatar que podia ter feito besteira, movido por algo que não ajudaria e nem se quer ajudaria Anita, a indiferença, que ele não pode deixar de sentir. – É você, tá tudo bem, o Antônio... – perguntou ele, com medo de suas suposições sobre o risco que a menina corria se concretizarem.

– To sim, o Antônio me deu uma trégua, e também morando ao lado ele pode perceber que eu não saí de casa o tempo todo. – Anita contou com raiva na voz, uma raiva que ela já nem sabia de que lado vinha. – E você, achei que você fosse me procurar, ou pra entender... – Bom você ficou confuso com isso tudo, ou pra me convencer a contar pra alguém. – ela concluiu agoniada.

– E iria adiantar, minha insistência Anita. – cobrou Ben ressentido. – Mesmo eu me estando muito preocupado com você. – admitiu ele.

– Não se preocupa comigo não, eu to legal na medida do possível. – Anita alegou. – Só espero que você também fique. – ele o desejou, junto a um olhar entristecido.

– Eu vou pra aula. – anunciou ele, a deixando paralisada.

– Tá, eu vou lá daqui a pouco. – foi à única coisa que a garota soube lhe dizer.

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Anita encarava sua imagem ao espelho, sem coragem e animo para assistir a aula, sua tristeza estava a sucumbindo, o olhar abatido à aparência apagada, era só o que ela vislumbrava.

– Caramba Anita, te procurei na escola toda, onde você estava te liguei várias vezes o feriado inteiro, fui na tua casa você mandou a Sofia dizer que você tava indisposta. – Julia abriu a porta do banheiro e viu a amiga inercia a olhar seu reflexo no e espelho.

– O que você quer Julia. – Anita proferiu desconexa.

– Falar com você né e entender. – Julia argumentou, parando ao lado dela, percebendo que havia algo errado, mas só decifrou que Anita estava mal-humorada, raivosa e sem se importar com absolutamente nada.

– Entender o que? - Eu não tenho nada pra falar, eu vou pra aula. – desviou-se Anita de respondê-la.

– Que isso Anita, tá me ignorando porque, você endoidou. – O que está havendo? – falou Julia ferozmente.

– Nada. – sustentou Anita já impaciente.

– Nada, então não houve nada com o Ben também, porque tá fazendo isso, porque terminou com ele. – Julia retrucou já nervosa com o jeito pacato da amiga. – Ele tá sofrendo, você não vê isso. – a morena disse indignada.

– Chega, me deixa em paz. – Anita pediu em um grito que ecoou por todas as paredes do ambiente. – Eu não aguento, não aguento mais, me deixa Julia, você não vai poder me ajudar. – declarou ela aos prantos, em lágrimas de angustia e apreensão.

– Anita, meu deus! - O que foi? – Julia só soube assustar-se com o jeito transtornado da garota e a abraçou.

– O Antônio, foi ele que me fez terminar com o Ben, ele tá louco Julia, louco. – Anita revelou entre lágrimas e mais lágrimas.

– Mais como, por quê? – indagou a menina confusamente.

– Eu não sei, ele tá tramando alguma coisa muita séria, eu tenho quase certeza disso. – proferiu Anita tenebrosa.

– Calma tá bom, me conta isso direito, mas antes se acalma por favor. – pediu Julia a abraçando novamente.

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Julia e Anita resolveram, deixarem a aula de lado e conversarem sob o silêncio do casarão que estava vazia já que todos cuidavam de sua vida naquele manhã.

– Quer dizer que você e eu tínhamos razão, as cartas com aquelas mensagens bizarras era mesmo do Antônio. – Julia procurava uma segunda confirmação depois que Anita a explicou tudo que se passará nos últimos três dias.

– É, ele teve a cara de pau de vir aqui no colégio aquele dia que a gente se despediu pra contar os planos doentes dele. – confirmou Anita devastada.

– Mas, e agora? – se perguntou Julia assustada com o que se passava com a amiga.

– Eu não sei, eu acabei falando pro Ben, eu não aguentei carregar isso sozinha. – balbuciou ela.

– Mais e ele. – a morena ficou sem conseguir imaginar a reação de Ben.

– Disse que eu teria que falar com nosso pais com alguém, não sei, como eu me recusei ele mal me olhou quando a gente se encontrou no corredor agora pouco. – falou Anita com pesar.

– Anita e se ele tiver razão. – pensou Julia.

– Ju, o Antônio, ele não está nem aí pra nada, pra ele tanto faz se ele vai destruir o Ben, ou eu junto ou se ele vai carregar todo mundo que tá na minha volta. – Anita justificou não vendo saída. – Quem que acreditaria em mim Julia, o Antônio iria mentir dissimuladamente, cínico e frio como ele sempre fez, no final a taxada como louca seria eu, não ia adiantar. – Anita afirmou, sabia e viveu como ninguém a capacidade manipulação que o garoto tinha a seu favor.

– Ai pior é que era bem capaz de você ter razão. – concordou Julia, lembrando-se de como Antônio agiu para afastar Anita de Ben meses atrás.

– Eu tenho que conseguir alguma prova do que o Antônio tá tramando, só assim eu vou ter uma chance de que as pessoas acreditem em mim. – supôs Anita. – E com o Ben com raiva de mim, pelo menos ele não vai se aproximar. – disse ela tornando a deixar uma lágrima escapar.

– Não fica assim, a gente vai dar um jeito. – garantiu Julia esboçando um sorriso otimista. – Mais por onde você pretende começar essa busca por provas, porque pode ser arriscado Anita. – Julia temeu pela segurança da amiga.

– O Antônio me deixou escapar que ele poderia por gente pra me vigiar, se ele tem algum comparsa alguém que tá ajudando ele, ele só pode ter conhecido essa pessoa lá na instituição de menores. – constatou Anita.

– E se ele descobre que você tá indo lá atrás dele. – Julia alertou.

– Vou ter que arriscar Julia. – encorajou-se Anita. – Se eu ficar parada o Antônio me destrói, se eu fizer alguma coisa ainda a uma esperança, mesmo que seja arriscado, mais pode ser a única chance que eu tenho. – falou ela.