Calmaria

Olho pra fora,
minha alma esfria...
De onde é que surge
essa minha agonia?

Crio meus sonhos
e esboço meus planos.
Busco tranquilidade;
encontro desenganos.

Recrio o mundo,
deixo-o do meu jeito
impondo meus desejos;
sou um arquiteto.

Olhos no trânsito,
coração acelerado.
Fecho os meus olhos,
respiro calado.

Reorganizo as bagunças
que as pessoas criam,
transformando-as em nuvens
que se dissipam,
se distanciam.

Minha mente se renova,
resplandece de ideias,
se abre para o conhecimento,
se divide em questionamentos:

Teorias biológicas,
físicas ou ideológicas
apresentam seus argumentos;
sou eu quem dou o consentimento.

Explico meus pontos de vista,
entramos em debates
e antes que me explique de novo,
a buzina toca estridente:
o sinaleiro se abre.

Meu mundo se vai,
os problemas voltam,
me angustio novamente
e se inicia uma revolta:
minhas ideias se descontrolam.

Acelero nervoso:
minha vontade de chegar é grande
para reorganizar o debate,
que agora mais parece um combate.

Quando posso voltar
para meu mundo imaginário,
me impressiono com a bagunça:
quase um cemitério!

As ideias mais cansadas
procuravam descansar,
renovar seus conhecimentos
para de novo conversar.

As mais eufóricas continuavam
no centro a discutir:
falavam e não se cansavam,
se feriam sem desistir.

Me coloco no meio,
chamo suas atenções:
"Podemos discutir,
mas não atacar nossos irmãos".

Elas concordam, relutantes,
que temos que nos unir
mesmo com pensamentos contrários,
para não virmos a ruir.

Quando tudo se organiza
e todas enfim se tranquilizam,
compartilhamos de um silêncio
que a todos estabiliza.

É restaurador
sentir o ambiente,
libertar a mente,
ouvir o silêncio.

Dentro de mim
reencontro minha paz
junto às minhas ideias,
minhas pequenas alegrias.

É aqui que acaba
os meus estresses sem fim;
é aqui que começa
minha calmaria, meu sim.

Meu sim ao silêncio,
à calma e à solidão;
meu sim ao desespero
de me perder na ilusão.

Ilusão de calmaria
que o mundo retira;
ilusão de tranquilidade
que minha alma respira.