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Maria e Estevão - Um pedacinho de nós


Eu tinha um amor. Tentei salvar com todas as forças, mas não deu.


— Meu Deus! – gritava incessantemente agarrando-me com todas as minhas forças aos lençóis verde claro. – Tinha me esquecido completamente como, isso dói!

A enfermeira segurava a minha mão e injetava algum medicamento para aliviar a dor em minha veia. Minha barriga pulsava, a dor era insuportável.

— Calma, ainda não podemos fazer o parto, mas logo estará pronta, aguente firme. Você quer que eu ligue para alguém? Digo, sua família...

— Não! Não tenho ninguém. Vou ter o bebê sozinha. – senti uma pontada de agonia e um calafrio pelo meu corpo. Continuava a me contorcer.

— Tudo bem, aguente firme e respire fundo. Logo estará pronta. – a enfermeira passou a mão pelos meus cabelos e me olhou com compaixão.

Flashback On

Era sábado à noite, o céu estava limpo, cheio de estrelas , Estevão havia reservado o quarto de sempre , enfim entramos e uma enorme lembrança surgiu , dos momentos que ali passamos , nada mudou tudo está como antes

—Lembra? Esse era nosso quarto – Estevão tocou em minhas costas e acariciou meus braços - O mesmo que ficávamos para nos afastar de tudo e de todos , e ficarmos sozinhos , sozinhos você e eu - Falei enquanto sentia ele beijar todo meu pescoço e entrelaçar seus braços em minha cintura

— Como vou poder esquecer , entre essas quatros paredes você me fez muito feliz - quando me virei Estevão se aproximou de mim e me beijou intensamente, naquele momento eu senti uma corrente de calor queimar dentro de mim e meu coração disparava muito rápido. Podia sentir o coração de Estevão também, passei a mão por seus cabelos e ele segurou minha cintura com uma mão e com a outra segurou minha nuca. Minhas pernas tremeram, ele me levantou e me deitou na cama, ali tivemos nossa primeira noite de amor juntos depois de 20 anos.

Flashback Off

Respirava profundamente e apertava os lençóis da cama em que eu estava. A enfermeira entrou novamente no quarto, eu já estava ali há 2 horas sentindo dores terríveis. Logo atrás da enfermeira, vinha uma equipe e logo me colocaram na maca.
Eu chorava muito e tremia sem parar. Estava muito assustada minha gravidez era de alto risco foi bem difícil e solitária, tive algumas complicações e diversas crises .

Fui levada para uma sala a equipe me preparou e depois de alguns minutos entrou o médico na sala. Enquanto colocava as luvas falou empolgado:

— Pronta para receber seu bebê?
As dores pioravam a cada minuto, uma enfermeira ficou do meu lado segurando a minha mão.

O médico se ajeitou a minha frente e disse calmamente:

—Vamos lá, faça o máximo de força que puder. Respire e inspire.
Eu me contorcia e fazia o máximo que podia. Estava assustada, sentindo muita dor, mas muito ansiosa pelo meu filho, não sabia como seria daqui para frente, mas tudo que eu mais queria era ele em meus braços.

— Vamos Maria, mais força, ele está quase vindo.

Fazia mais força, estava cansada, gritava de dor. A única coisa que conseguia pensar era “que venha saudável, e com os olhos dele, por favor” Respirava rapidamente e apertava a mão da enfermeira.
— Muito bom, estamos quase lá.

Enquanto isso Estevão estava num quarto de hotel com uma mulher totalmente despida estirada em seu lado na cama. Estevão se revirava na cama, porém não caía no sono. Ficou um bom tempo olhando para um ponto fixo no teto, pensando e repensando. De repente quase que num pulo, Estevão se levantou ofegante, procurou suas calças em meio à bagunça que estava no carpete, logo em seguida pegou sua camisa e colocou sem as abotoar Estevão saiu do quarto o mais rápido possível, abotoando sua camisa. Inquieto esperou o elevador chegar e foi para o estacionamento, pegou seu carro e deu partida o mais rápido possível. Seu dedo indicador batia em movimentos rápidos no volante do carro e ele sussurrava coisas do tipo: “ Meu Deus será que Maria já ganhou o bebê ? sim, sim ela está de nove meses! Cara, eu sou um idiota.”. Estevão passava em todos os sinais vermelhos e agradeceu a Deus por essa noite ter estado na mesma cidade que eu.

Parou em frente ao meu prédio em que Maria morava e ofegante foi até o saguão.

— Lupita! Posso subir?

— Ihhh, seu Estevão, a Maria já foi pro hospital fazia umas 3 horas, eu até ajudei a coitadinha entrar num táxi.

— Hospital? Qual hospital, Lupita? Como assim?

— É, seu Estevão, a bolsa estourou, ela me disse o nome do hospital para que eu pudesse informar o taxista, ela estava com tanta dor que não...

— Me passa o endereço! – Estevão tremia dos pés a cabeça e andava de um lado para o outro.

Pulou em seu carro e deu partida ainda mais rápido dessa vez. Foi tão rápido que ouviu diversas buzinas de raiva e carros freando. Teve sorte de não ser parado pela policia. Seus dedos tremiam no volante e ele suava frio.

Na sala de cirurgia, eu continuava me contorcendo. O médico parou de tentar trazer meu filho ao mundo. Levantou-se preocupado e chamou alguns assistentes, sussurrando alguma coisa para eles.

— Doutor, o que é isso? O que está acontecendo?- me desesperei, estava muito cansada e sem forças. Meu rosto estava soando. Meu corpo estava soando. Minhas mãos tremiam geladas sobre as mãos da enfermeira que me olhava preocupada.

— Calma, Maria, tivemos algumas complicações e você vai ser levada para uma cesariana rapidamente, vai dar tudo certo. Apenas respire fundo e relaxe, não faça mais força. Logo seu bebê estará aqui conosco.

Minha visão estava um pouco embasada. Um homem entrou na sala e com a ajuda da equipe eu fiquei sentada na maca. Ele aplicou uma injeção que foi dolorosa demais para ser descrita. Logo em seguida me transferiram para outra maca e ao olhar onde eu estava me surpreendi com a quantidade de sangue que eu tinha derramado na outra maca. Agora eu me sentia um pouco tonta e nauseada.

Enquanto me levavam para outra sala eu ouvi uns gritos se aproximando.

— O filho é meu! Eu tenho que acompanhar! Maria!

Quando olhei para trás, avistei Estevão tentando ultrapassar a barreira feita por dois enfermeiros. Não conseguia ver sua expressão facial, por conta da minha vista embasada, mas pelo tom de sua voz parecia desesperado. Puxei o braço da enfermeira e falei com certa dificuldade.

— Ele é meu... O pai... Deixa-o vir.

A enfermeira rapidamente gritou “Ei, liberem o rapaz, é o pai da criança! Rápido ele tem que se arrumar para entrar na sala! Rápido!”. Tudo parecia em câmera lenta e a imagem de tudo foi se apagando lentamente. Apaguei por alguns instantes. Abri os olhos lentamente e senti uma pressão sobre minha mão. Ao abrir completamente os olhos avistei Estevão do meu lado, ele usava máscara e toca, e uma roupa verde. Ao meu redor uma equipe de médicos e enfermeiros. Havia um grande pano colocado na altura do meu tórax para que eu não pudesse ver o que estava acontecendo.

— Você está sentindo alguma coisa? – perguntou a enfermeira que estava do outro lado. Fiz que não com a cabeça. Olhei para Estevão, e ele sorriu para mim e com a outra mão passou em meus cabelos úmidos.

— Ele está quase chegando... – sussurrou em meu ouvido. Hesitou por um instante e completou a frase. –... Meu amor.

Ali naquela mesa de cirurgia, eu senti meu coração disparar novamente por ele. Estevão estava ali, de pé do meu lado, com seus lindos olhos brilhando e por trás daquela mascara um sorriso incrível, segurando a minha mão, ansioso por nosso filho, mais um pedacinho meu e dele. Tudo o que eu consegui fazer foi sorrir. Estevão se inclinou ao meu ouvido novamente e sussurrou.

— Maria , minha maria você é tão linda! Eu me sinto um tolo por tudo, eu precisava de tempo pra me estabilizar, para pensar em tudo. Me perdoa por ter te abandonado na cadeia , por não ter acreditado na sua inocência , por ter matado você para nossos filhos, me perdoa, Maria! Eu quero correr atrás de todo tempo perdido, quero ser feliz com você e com eles, minha família. Vocês são tudo que eu tenho.

Na minha mente passou tudo como se fosse um pequeno filme em câmera lenta. Eu e Estevão juntos , meus filhos me rejeitando por diversas vezes , minhas tentativas inúteis de encontrar o verdadeiro assassino de Patricia , minha gravidez de alto risco , nossas noites de amor a 20 anos , suas mãos sobre a minha cintura, minhas mãos sobre seus cabelos.

Deposite toda minha força nas mãos de Estevão e sussurrei.

— Eu amo vocês, e amo com toda força meus filhos.

— Eu te amo, meu amor. – uma lágrima desceu dos olhos de Estevão

Um choro de criança fez todos nós naquela sala respirarmos aliviados. Meus olhos encheram de lágrimas. Estevão colocou as duas mãos sobre sua boca, maravilhado com a imagem de nosso filho, tão frágil. Estevão voltou a segurar minha mão. Sorri aliviada, estava esgotada, sem forças. Fechei os olhos tranquilamente deixando as lágrimas rolarem. Meu coração parou. Ali eu fui embora, deixando mais um pedacinho meu para sempre com Estevão.

Os médicos tentaram me reanimar. Houve uma correria dentro da sala. Estevão teve que ser segurado por dois enfermeiros, chorava desesperado e gritava:

— Vamos, Maria, volta! Fica comigo, precisamos de você! Façam alguma coisa!

Nada aconteceu. Estevão segurou nosso filho ensanguentado nos braços e chorou incessantemente o beijando na pequena testa.

Miguel teve que ficar um mês na incubadora recebendo alimentação, já que eu não estava lá para alimentá-lo. Miguel, esse foi o nome que Estevão escolheu para nosso pequeno bebê, um dos meus nomes preferidos, ele tinha os olhos de Estevão, mas muitos dos meus traços e de Estrela.

Assim que Miguel foi liberado, Estevão o colocou no carro. Começariam uma vida nova. Estevão jamais seria capaz de me esquecer, de esquecer os dias que passamos juntos. Depositaria todo o amor em nosso mas novo menino.

O sol já estava a se por, Estevão arrumou Miguel no carro, para que ele ficasse bem seguro e deu partida no carro. Pegou estrada rumo a Mansão .


— Ei, amigão, agora vamos conhecer seus irmãos! Eu vou cuidar de você! – algumas lágrimas encheram os olhos de Estevão e ele olhou para nossa foto, que estava no painel de seu carro, a foto que tiramos no dia do casamento de Socorro mesmo dia esse em que Miguel foi concebido, enquanto eu sorria feliz.

— Eu te amo. – sussurrou.

Como eu gostaria de estar ali com eles.

Não queria que fosse assim. Só que eu tentei de todos os jeitos, todas as formas, e não deu. Me desculpe, mas dessa vez estou indo para não voltar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.