Apart

Capítulo Único


Tenso, tamborilava os dedos na mesa à sua frente, sozinho em seu apartamento. A razão de todo o seu estresse? Seu namorado Shinobu encontrava-se no momento na Austrália, visitando um amigo seu.

Numa vã tentativa de se acalmar, começou a andar pela sua sala de estar, seus olhos sempre escorregando para a mesinha onde repousava o seu telefone sem fio. Num momento de coragem — ou talvez de fraqueza —, pegou decididamente o aparelho, e discou o número da pessoa que mais sentia falta.

Hello? — escutou do outro lado da linha.

Fechou os olhos, sentindo a voz de Shinobu falando em inglês percorrer o seu corpo inteiro. Que doce melodia, pensou, um sorriso inconsciente formando-se em seu rosto. Ele se considerava estúpido por isso — mal iniciara propriamente uma conversa com o seu namorado e já sentia-se melhor.

— Shinobu? — chamou-o, num tom incerto.

— Miyagi? — respondeu, parecendo não acreditar no que ouvia. — É você mesmo?

— Sim, por que não seria eu? — ergueu uma sobrancelha, desconfiado. Ele deveria estar esperando a ligação de outra pessoa, notou. Sentiu algo desconfortável instalar-se em seu coração.

— Não — o garoto logo tratou de explicar-se —, é só que, bom — parecia não saber o que dizer —, eu estou aqui há mais de uma semana e só agora você me ligou. — confessou num sussurro, envergonhado.

Mesmo não podendo ver o seu namorado, Shinobu sabia que o ele ficara vermelho com a sua declaração. Observou a praia à frente do deque onde estava, e sorriu em meio a esse pensamento.

— Eu estava trabalhando. — ambos sabiam que aquela era uma das típicas desculpas esfarrapadas de Miyagi.

— Então você me ligou para falar o que? — o mais novo simplesmente adorava irritá-lo. Para o seu namorado aquilo aparentava ser uma mera provocação, porém Shinobu tinha um Às na manga — depois de um mês juntos ele percebera que o seu amado expressava seus verdadeiros sentimentos somente quando era desafiado.

— Eu... — engoliu em seco, tentando ganhar coragem — Eu queria saber como você está. — explicou, e não importava o quanto Miyagi se esforçasse para soar neutro, o outro já detectara uma nota de sinceridade e medo em sua voz. O garoto sorriu abertamente desta vez, e diferente do seu namorado, não tentou esconder a sua satisfação:

— Eu estou bem. Aqui faz mais calor do que eu me lembrava, mas tirando isso não há nenhum problema. Ah! — lembrou-se de algo —, na verdade eu cozinhei para James ontem e ele disse que minha comida é péssima, acredita? — parou de tagarelar para rir de si mesmo, porém logo percebeu que o mais velho não aproveitara aquela pausa para caçoá-lo, ou para fazer uma reclamação quanto à sua comida — Miyagi, você está bem? — perguntou, duvidoso.

— Sim, por que não estaria? — ficou na defensiva.

— Miyagi... — deixou o nome do seu amado desenrolar-se em sua língua, resultando em um sussurro carinhoso. — O que aconteceu? — foi cuidadoso. Antes de dar chances ao outro de negar algo, continuou: — Conte-me, por favor. — pediu num tom baixo e preocupado. Escutou um suspiro cansado do outro lado da linha:

— Estão ocorrendo dezenas de casos de pedofilia por todo o Japão — admitiu, numa voz fraca.

— E você tem medo de...? — parou sugestivamente, incentivando o outro a falar mais. Este, por sua vez, inspirou fundo antes de continuar:

— Nós somos como eles? — questionou. Ao escutar isso, Shinobu parou de andar, surpreso. Logo sentou-se sobre a madeira do deque, tentando encontrar a resposta mais adequada. Passou uma das mãos pelos cabelos, tenso.

— O que você sente por mim? — respondeu com outra pergunta. Estreitou minimamente os olhos, temendo o que o outro diria. Ele sentia as suas mãos suarem frio, e a temperatura parecia ter aumentado ainda mais. Deu um meio-sorriso ao notar a sua reação acerca seu namorado — então é assim que as pessoas se sentem quando se apaixonam, percebeu.

— Como assim? — Miyagi franziu o cenho, e Shinobu despertou de seu devaneio. — Eu o amo, é claro. — disse isso num murmúrio tímido.

— Eu o amo também. — confessou, num tom de voz leve. — Você é meu. — acrescentou, num tom decidido. — O que nós temos é consensual e...

— Shinobu-chan, onde foi que você aprendeu palavras tão difíceis? — o sarcasmo de Miyagi transbordava pelo celular do garoto. O mais novo sorriu com a provocação, percebendo que seu namorado voltara ao normal.

— Eu li aqueles livros que você me deu. — admitiu — Mi-chan... — começou, e em troca escutou um suspiro exasperado vindo do outro — Eu amo você. — disse.

— E eu amo você. — respondeu, mais calmo. — Espero que volte logo, porque eu sei que você sente minha falta. — debochou.

— Eu voltarei o mais rápido que puder. — prometeu do fundo do seu coração.

Shinobu estava extremamente feliz — aquela tinha sido uma das ligações mais especiais que fizera na sua vida. Arrependia-se por não ter conversado pessoalmente com Miyagi, para ter a chance de vê-lo tão exposto. Se surpreendera com as confissões feitas por ele, e admitia ter gostado daquilo mais do que deveria.

Agora tudo o que restava era voltar para casa para reencontrar o seu amado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.