Ao Seu Lado

Capítulo Dois.


O tom alaranjado no céu e as poças de água na calçada deixavam claro que uma legítima chuva de verão havia dado as caras naquele final de tarde em Nova Iorque. Ao lado de Mary e Rose, Regina sorria cansada depois de um longo dia de trabalho. Com a bolsa pendurada no ombro, a mulher acariciava carinhosamente a barriga pequena. Sua mãe ficava indignada que aos 4 meses sua barriga ainda fosse tão pequena. E Regina tinha que concordar… Parecia que sua menininha não queria crescer tanto assim.

Abriu ainda mais o sorriso ao pensar na filha. Havia tido uma consulta naquela manhã, e fizera a descoberta do sexo ao lado de sua irmã. A morena se encontrava em êxtase. Tão feliz que tivera dificuldade para se concentrar para registrar toda a consulta após a ultrassonografia. E talvez não tenha conseguido registrar muita coisa além de que sua menininha estava crescendo forte e saudável.

Escorado na lateral de seu carro, observando-a distraída com as amigas, Robin sorria ao vê-la tão contente e iluminada. A forma como ela acariciava a barriga fazia com que o coração dele aquecesse, e ele mal conseguia aguentar a vontade de juntar a mão a dela.

Robin estava fora da cidade nos últimos dias, em uma viagem com a turma a qual era responsável na escola que trabalhava. O lugar era quase um acampamento, o que tornava o sinal de celular péssimo, por isso eles se falaram poucas vezes, e ela não fazia ideia que ele voltaria hoje.

Além disso, o professor tinha conhecimento de que a mulher havia tido uma consulta, e estava preparado para levá-la a sua hamburgueria favorita, para que ela se deliciasse com o hambúrguer da casa enquanto lhe contava todos os detalhes.

Distraída com as amigas, Regina ainda não havia o notado, mas Rose não demorou a perceber a figura do melhor amigo de Regina ali, e apontou delicadamente com o dedo em direção do homem. Robin viu perfeitamente quando o cenho de Regina franziu, enquanto ela focava o olhar à procura do que a amiga estava apontando, no meio daquele vai e vem característico de Nova Iorque. O homem conseguiu ver também o momento exato em que a surpresa tomou o rosto dela, um sorriso com todos aqueles dentes perfeitos nascendo no rosto da mulher.

Não demorou para que ela fizesse o caminho até ele, se jogando em seus braços e o apertando contra si. Robin circulou a cintura dela, enterrando a cabeça e inspirando o perfume daquele cabelo cheiroso, cheiro que ele conhecia e sabia decifrar de longe. Ele amava aquele cheiro.

Como amigo, é claro. Ele se esforçava para sempre lembrar disso.

Longos segundos fora o tempo que se perderam nos braços um do outro, Regina se afastando apenas para deixar um demorado beijo na bochecha de Robin, que sentiu o coração acelerar.

"Você não me disse que voltava hoje!" Regina disse, um sorriso a brincar em seu rosto, enquanto ainda continuava pertinho do loiro, as mãos segurando delicadamente nos braços fortes.

"Eu queria fazer uma surpresa, Regina." acariciou a bochecha dela delicadamente. "Estava com saudades."

"Eu também estava. Foi muito difícil não ter você aqui todos esses dias, para fazer todas as minhas vontades." brincou com ele, arrancando aquele riso que tanto amava. Os olhos castanhos se perderam por alguns segundos naquela fisionomia linda de Robin, e Regina lutou para acalmar os sentimentos que inundaram seu peito.

"Pois bem, estou de volta e quero te recompensar por todos esses dias fora." assegurou, sorrindo com o biquinho que ela fez com os lábios. Se afastando, o loiro levou as duas mãos até o ventre da mulher, deixando-as lá enquanto desviava os olhos para as duas mulheres que pareciam observar Regina e ele bastante interessadas. "Quero te levar para jantar, você tem algo marcado com suas amigas?" fez um leve aceno em direção a Rose e Mary e, com um estalo, Regina lembrou-se que estava acompanhada antes de vê-lo ali. Sabia que depois da cena que as duas mulheres testemunharam, amanhã seria um dia de muitas perguntas na hora do café.

A mulher pediu que ele aguardasse um pouco e se afastou, as mãos de Robin pareciam relutantes em deixar a barriga dela. Regina demorou um tempo para explicar a situação a Mary e Rose, tentando cortar qualquer suposição estúpida por parte das duas. Robin riu com todas as vezes que ela revirou os olhos e logo a mulher estava de volta, caminhando em direção a ele.

"Onde você vai me levar?"

"Quem começa com as perguntas sou eu, dona Regina." bateu na ponta do nariz dela. "Como foi a consulta?" os azuis cheios de expectativa tomaram a atenção da mulher por um momento.

"Você sabe… Nada muito esclarecedor…" começou, fingindo desinteresse, pegando as mãos dele e colocando em sua barriga. "Apenas que vou ter uma menininha!" disse de supetão, atenta a reação dele. Robin abriu a boca para falar algo, ainda processando a informação que Regina jogou. Quando os azuis marejaram, ela soube que ele havia entendido bem. Fazendo algo que a morena não esperava, Robin a abraçou fortemente, quase erguendo-a do chão, fazendo com que os braços dela se agarrassem ainda mais a ele.

"É a melhor notícia que eu poderia receber. Parabéns, querida! Estou tão feliz por você." beijou a testa dela. "Prometo que estarei aqui sempre que precisar, por você, por ela…"

"Obrigada por ser tão incrível. Eu tirei a sorte grande por ter um melhor amigo como você." sorriu, emocionada, embora a palavra melhor amigo não fosse mais a que desejasse usar a respeito do loiro. Tentou abafar esse pensamento, assim como todos os sentimentos que vinham crescendo em seu coração há semanas. Era isso que Robin era. Era como ele a via. E ele estava ali por elas. Era o que importava.

"Eu pensei em jantarmos naquela hamburgueria que você ama… O que acha? Faz jus a ocasião?" perguntou, voltando a levar as mãos à barriga dela. Regina sorriu, admirando o que ele fazia.

"Por mim pode ser. Desde que você me deixe passar no mercado antes, eu preciso muito comer ao menos um pedaço de abacaxi. Minha boneca está exigindo." fez uma careta, recebendo um olhar surpreso de Robin.

"Mas, você odeia abacaxi!" falou, sem acreditar.

"Eu sei." Ela deu um pequeno sorriso, seguido de uma careta. "Mas, estou com desejo." explicou, e o loiro não conseguiu segurar o sorriso ao ver os olhos dela brilharem. Abacaxi seria, então.

"Tudo bem, os desejos dessa rainha e dessa princesa são uma ordem!" brincou e uma gargalhada gostosa deixou os lábios de Regina.

Eles tiveram uma noite incrível depois disso. Robin levou Regina em uma feirinha de rua ali perto, comprando muitas frutas, além do abacaxi. Queria que a mulher e a bebê se mantivessem saudáveis. Depois de pedir uma faca ao feirante, Robin cortou o abacaxi ali mesmo para que Regina comesse um pedaço enquanto seguiam pelas ruas da Nova Iorque em direção a hamburgueria.

Enquanto esperavam os seus pedidos, Regina contou cada detalhe da consulta a Robin, e o loiro lhe falou como fora o passeio com os adolescentes energéticos. Regina descobriu que ele já estava na cidade desde o meio-dia, e, para sua decepção, ele havia almoçado com a namorada. A morena não sabia o que estava acontecendo, não tinha o direito de sentir aquilo. Robin e Marian estavam juntos há muito tempo, e Regina não se sentia dessa forma sobre o relacionamento deles antes. Sabia que estava errada ao sentir essas coisas depois de toda a atenção que ele havia dado para ela. Afinal, eles eram amigos. Sempre foram e sempre serão. Mas, nas últimas semanas, estava sendo difícil lidar com as sensações que Robin estava despertando nela.

***

"Sabe o que eu acho mais incrível em relação a essas roupas?" Robin perguntou, enquanto levava mais uma vez o body vermelho ao nariz. "Elas já estão com o cheirinho da bebê!"

"Robin!" riu, parando de dobrar as peças em seu colo e encarando o amigo. "É o amaciante, seu bobo. Tem esse cheirinho bom."

"Eu sei, Regina. Mas fico imaginando, será que ela vai ter esse cheirinho?" Colocou a peça no guarda roupa de Regina, no cantinho que ela havia separado para a bebê, enquanto o quartinho não ficava pronto.

"Eu acho que o cheirinho dela vai ser ainda melhor." sorriu, os olhos marejando apenas ao imaginar o cheirinho da sua bebê. Robin seguiu até ela, sentando-se ao seu lado.

"Se ela puxar a mãe, vai ser muito cheirosa!" disse, pegando uma das peças de roupa do colo dela. Regina se permitiu encará-lo.

"Ou ela pode puxar ao tio Robin, ele também é muito cheiroso."

"Tomara que ela puxe o nosso cheiro, então." Ele voltou-se para ela, pegando-a desprevenida enquanto o encarava. Regina sorriu sem graça, por um momento se perguntando como ficariam seus cheiros misturados. E os milhares modos de fazer com que aquilo acontecesse, nem todos sendo adequados para uma amizade.

A verdade é que, conforme as semanas passavam, Regina se via ainda mais apaixonada por Locksley. Ela tentava provar para si mesma que não era nada, apenas um sentimento passageiro. Ela estava grávida e sozinha, e Robin estava ali a todo momento. Mas a forma como seu coração acelerava ou a forma como ele a fazia se sentir completamente realizada não deixavam dúvidas quantos aos seus sentimentos. Ela havia se apaixonado por seu melhor amigo, e na verdade, talvez aquele sentimento já estivesse ali há muito tempo, mas, presa em um relacionamento fadado ao fracasso, ela não conseguiu perceber.

Mesmo com essa certeza, Regina sabia que o certo a se fazer era guardar esse sentimento a sete chaves em seu peito. Robin era comprometido. Era feliz com Marian, Regina sabia disso. Além do mais, ele era seu melhor amigo. Não conseguiria imaginar viver sem Robin, e arriscar a amizade que tinham naquele momento não era uma opção.

No entanto, colocar aquele sentimento em algum lugar profundo em seu coração era difícil. Demasiadamente difícil. Porque Robin era o pai que Regina queria para sua filha. O namorado que ela precisava e queria ao seu lado naquele momento. Foi ele quem esteve com ela a cada descoberta e novidade naquelas últimas semanas. E Deuses, ela podia jurar que ele parecia tão realizado com tudo. Tão envolvido. Como se aquele bebê fosse realmente dele.

Robin corria atrás de seus desejos. Cuidava para que ela seguisse todas as exigências da obstetra. Ele fazia qualquer trabalho pesado para que a mulher não precisasse erguer um prego. Agora que sua barriga estava maior, ele estava ali para massagens e jantares relaxantes. E Regina não entendia como ele conseguia fazer aquilo.

Mesmo comprometido, Robin vinha colocando o relacionamento deles em primeiro lugar. Sua filha era o foco do homem. Como se fosse dele também.

"Seus pais vem hoje a noite?" ele perguntou, depois de colocar a última roupinha na coluna perfeitamente organizada. Regina vinha ganhando inúmeros presentes para a bebê, muitos deles vindos do loiro. Zelena também amava já encher a sobrinha de mimos, e a poltrona que ficava no quarto de Regina era a prova completa disso. Inúmeros ursos de pelúcia, mamadeiras, chupetas e brinquedos de morder. Em um canto do guarda roupa, já havia duas pilhas de fraldas, pois a morena não queria deixar para gastar de última hora.

"Sim. Vou fazer um arroz de forno. Quer ficar com a gente? Papai vem também." convidou, se agarrando ao braço dele enquanto faziam o caminho para sala.

"Eu adoraria, mas marquei de jantar com Marian." ele falou, meio sem graça. Regina forçou um sorriso, trocando de assunto rapidamente.

"Busquei as amostras de tinta na loja, mas estou em dúvida entre as cores." seguiu até a ilha que separava a cozinha da sala, pegando a amostra e seguindo até Robin.

"Você disse que já queria pôr a cama de solteiro e o berço, não é?" pegou a amostra das mãos dela, se escorando no sofá.

"Sim. Algo bem simples, mas aconchegante. Até porque ela vai deixar tudo muito rápido, e nos primeiros meses não vou conseguir deixar ela dormir sozinha." sorriu, arrancando um riso dele também. "Pensei em uma cor neutra, como essa aqui." mostrou um tom de cinza pra ele.

"Perfeito! Eu gostei bastante, e você pode escolher um papel de parede do seu gosto, huh?" sugeriu recebendo um aceno positivo. "Falei com aquele meu amigo a respeito dos móveis. Se você ainda não achou ninguém, posso trazê-lo aqui para uma cotação, se você quiser."

"Seria ótimo se você pudesse fazer isso, eu peguei um contato, mas não senti confiança." sorriu amarelo.

"Combinado, então. Me avise quando quiser ir comprar as decorações, eu vou junto." deixou a amostra no braço do sofá, virando-se para ela, a tempo de ver ela lhe admirar. "O que foi?" Regina riu, negando com a cabeça. Os castanhos marejados. "O que houve, querida? Não preciso ir com você se não quiser."

Regina riu, aproximando-se dele, as mãos pegando delicadamente seus braços.

"Eu não consigo lhe agradecer por tudo que você tem feito… Eu adoraria que você fosse comigo. Amo ter você ao meu lado." Sorriu, emocionada. Robin encarou por longos segundos todo aquele rosto perfeito, tendo que reprimir a vontade de beijar cada pedacinho dele.

Desde quando pensava em Regina daquela maneira? Por Deus!

"Querida, não há pelo que agradecer. Vocês duas são importantes para mim…" sussurrou, limpando a lágrima que caiu dos olhos de Regina delicadamente.

"Você é importante para nós também." disse, se aproximando ainda mais e depositando um beijo demorado na bochecha do loiro. "Vem comigo na próxima consulta?" pediu, as mãos tomando o rosto dele.

"É sério?" riu, os azuis marejados. Regina confirmou. "Meu Deus, claro que vou!" a puxou para um abraço, Regina afundando a cabeça no pescoço dele, enquanto sentia o perfume que adorava.

Aquele era uma das formas do cheiro deles se misturarem. Uma das doces formas. E Regina adorava.

Desfizeram o abraço algum tempo depois, quando um chute foi sentido pelos dois. Aquele tipo de momento já era recorrente, mas ambos sempre se mostravam deslumbrados quando acontecia.

"Que arteira!" Regina comentou, a mão acariciando delicadamente a barriga, conforme a filha fazia a maior festa.

"Igual a mãe dela." provocou, colocando a mão junto a de Regina. "Oi, princesa!" se inclinou, deixando um beijo delicado, fazendo os olhos de Regina marejarem. "Titio Robin ama você, ok? Nunca esqueça."

"Ela não vai esquecer, essa criança ama a sua voz." um sorriso convencido nasceu no rosto de Robin.

O celular de Regina tocou em cima da ilha da cozinha, e a mulher se afastou para atendê-lo. Era Zelena, para perguntar qual sobremesa Regina e a bebê gostariam para o jantar.

A morena não saberia dizer quem a mimava mais, se Robin ou Zelena.

Depois de conversar com a ruiva, Regina seguiu devagar até Robin, não conseguindo completar o caminho, entretanto. Uma tontura a tomou, fazendo com que a morena se escorasse no primeiro móvel que conseguiu alcançar.

"Regina!" Robin demorou poucos segundos para chegar até ela, segurando sua cintura delicadamente. Regina tentou sorrir para tranquilizá-lo, mas ainda se sentia bastante tonta. "Querida, o que está sentindo?" perguntou, passando os braços pelas pernas dela e a levantando em seu colo.

"Só uma tontura. Deve ser o calor." circulou o pescoço dele com os braços e logo estava sendo depositada em cima do sofá, Robin colocando seus pés delicadamente sobre duas almofadas. A morena pôs as mãos sobre os olhos, puxando uma forte respiração. Robin sumiu para a cozinha, minutos depois voltando com o vidro de sal e um copo de água. A morena não conseguiu evitar o sorriso, tirando as mãos dos olhos e encarando o loiro apavorado. "Acalme-se, se não, quem vai passar mal é você!"

"Regina!" exclamou indignado. Se ajoelhou ao lado dela, tirando os fios castanhos do rosto delicado. Regina conseguia enxergar perfeitamente a preocupação em seus olhos.

"Querido, estamos bem. É normal isso acontecer em dias muito quentes. Apenas deixe eu dar um fim nesse copo de água que tudo vai se normalizar, huh?" pegou a mão dele, lhe dando uma piscada. Robin confirmou, embora a preocupação não tenha ido embora. Ele lhe alcançou a água e a ajudou a sentar para poder beber.

"Isso já aconteceu mais vezes?" perguntou um tempo depois, sentado no chão à frente do sofá, enquanto a mão acariciava os fios de Regina delicadamente. A atenção da mulher estava no programa de TV sobre decoração, e demorou a voltar a atenção para o loiro.

"Eu sou uma mulher grávida, meu bem, isso acontece muitas vezes. Só que foi a primeira vez que você estava junto. Não se preocupe." Pegou a mão dele, beijando o nó de seus dedos. Robin sorriu nervoso, sabendo que não poderia atender o pedido dela.

"Não consigo não me preocupar com vocês duas, Regina. Vocês são importantes demais."

"Se você soubesse o quanto é importante para nós. Para mim." se sentou, ajeitando-se e puxando a mão dele. Robin entendeu o recado, se colocando ao lado dela e a puxando para seus braços. Regina descansou a cabeça no peito dele e fechou os olhos, sentindo Robin a apertar mais em seus braços.

O colo dele era o lugar mais calmo do mundo.