Ao Pôr do Sol

O Primeiro Dia de Trabalho - parte 2


Eu entrei na barraca, talvez chamem de loja só que eu acho que é uma barraca. Thomas foi colocando as tartarugas, brincos e outros animais que um dia foram aleijados em uma prateleira. Eu tentei ajudar ele, mas lembrei que sou um desastre para isso antão resolvi ficar sentada olhando para minhas unhas que estavam horríveis até ele terminar. Eu fiquei examinando o local, a barraca era bem no começo da praia para quando aquelas mulheres que vivem fazendo compras chegarem já acharem que devem comprar só para dizer que foi para a praia, só que elas nunca vão usar. Também tinha um balde no cantinho da barraca, ele tinha um cheiro péssimo e parecia ser muito velho, também tinha vários quadros com mensagens tipo “Paz e amor” ou “Sol e mar”, a areia era seca e áspera deve ser por isso que Connor tem um pé tão “ressecado” que vive me arranhando quando esta na minha casa no frio, ele coloca os pés nas minhas pernas para poder esquentar eles, então eu brigo com ele que fica nos pés da minha mãe “Vovó, tia Ash brigou comigo!”, isso quando pai dele não o leva para a fazenda da família o que é um milagre em minha vida.

– Para que serve o balde?- eu o perguntei quando ele finalmente desceu.

– Ashley, quando você trabalha na praia você tem sede e bebe muita água e consequentemente acaba fazendo muito xixi, e como não posso ficar saindo eu faço naquele balde.

– Que nojo, eu espero que não fique fedendo aqui!

– Não vai, eu pego um pouco de água do mar e misturo, assim não fede.

Eu coloquei o dedo na boca com uma língua para fora mostrando que aquilo era realmente muito nojento, eu senti vontade de vomitar só que ele me acharia fresca se isso acontecesse então acho melhor fazer de tudo para não vomitar. Quando a primeira cliente chegou, ela parecia ter bastante dinheiro, mas era uma mulher bem simpática e me convenceu que não tinha nenhum caso com o cunhado quanto parece pela sua cara.

– Por favor querida, me dê duas tartarugas daquelas de tamanho médio eu acho que ficará perfeito com a nova decoração da minha casa – ela disse apontado para uma das tartarugas de trinta dólares.

– Te dar não tem como, mas o Thomas pode pegar para a senhora comprar.

Thomas soltou uma curta risada pelo nariz, parou de limpar as prateleiras e pegou a tartaruga que ela tinha pedido. Eu a estreguei, ela deixou o dinheiro no balcão e foi embora fingindo que não fui eu que a atendi, eu sei que não sou boa nessas coisas. Eu não sou daquele tipo de pessoa que gosta de falar, só que eu precisava pagar as tartarugas e sei que vai levar a eternidade para eu terminar de pagar. Thomas pegou o dinheiro, e me devolveu três pratas.

– Ela te deixou uma gorjeta, isso significa que não esta indo tão mal assim.

– Eu sou péssima nisso, ela deve ter me odiado e acho que não dá para fazer nada com esse dinheiro – eu disse colocando o dinheiro no bolso.

As horas se passavam e eu achava aquilo cada vez mais insuportável, além de ver as pessoas se divertindo e eu não, estava um calor infernal e toda hora eu tinha que ficar me virando porque Thomas precisava urinar no balde. Eu estava ficando completamente entediada por não poder nem ter ninguém para conversar, até um grupo de garotas bem bronzeadas chegaram na barraca.

– Ajudante nova Thomas? – uma delas perguntou.

– Sim, Holly. O nome dela é Ashley, Zoe a contratou para ela conseguir pagar as dividas que vez por ter esbarrado em eu e quebrado muitas tartarugas...

– Que foda, deve ter sido legal subir dos infernos e cair bem em cima de Thomas Parker.

Eu me apoiei no balcão porque já soube que aquilo iria me custar preciosos longos minutos de vida, aquele grupo de garotas que na verdade eram somente três olhavam tanto para Thomas eu acho que me custaria muito tirar elas de lá. Eu virei os olhos novamente pedindo paciência, eu acho que a paciência que Deus tem para me dar já acabou, isso explica a vontade gigante que bater em Holly. Ela me dava curtos olhares, eu fingia que não estava vendo, mas aquilo estava ficando cada vez mais insuportável.

– Foi legal sim cair em cima dele, só que estou começando a me arrepender.

Ela me ignorou e voltou a olhar para Thomas.

– Espero que consiga ir para o show semana que vem, estarão várias bandas legais. Eu comprei um ingresso extra caso você queira ir – ela deixou o ingresso em cima da mesa. – Vê se não anda mal acompanhado Thomas, pessoas trazem azar.

Eu peguei o balde de água que estava ao meu lado disfarçadamente para que ela não veja, fiquei na ponta dos pés para consegui ver o outro lado do balcão para ver se ela estava vestida, não, estava com um biquíni tão pequeno que parecia que ela pegou de umas das bonecas de quando ela era criança. Eu coloquei o balde por cima do balcão e me abaixei como se fosse pegar alguma coisa, eu esperei um pouco então levantei com tudo fazendo que o balde virasse e toda a água misturada com xixi que estava lá caísse sobre ela, eu me senti mal por fazer aquilo só que estava se tornando insuportável, quando ela sentiu o frio da água em seu corpo que tinha ficado a manhã inteira torrando no sol ela deu um curto grito que fez que todas as poucas pessoas que estavam na praia olharem para ela com uma cara de “Por que essa retardada esta gritando?”. Ela saiu um pouco sem graça e as outras duas que estavam com ela riram um pouco, naquele momento eu fiquei imaginando o que Scarlett diria para mim: “Ash você é fodona amiga, eu adorei a cara que ela fez quando a água caiu nela”. Só que não era Scarlett que estava comigo, era Thomas e eu não havia feito algo que ele goste.

– Eu não estou a fim de pedir desculpas, quando a consciência pesar eu peço – eu disse antes que ele me criticasse.

– Pelo menos ela me deixou mais um ingresso.

– Por que você não devolveu seja tinha um?

–Assim posso levar alguém antes que eu pegue uma guitarra e jogue na cabeça da Holly.

Eu ri.

– Você tem uma risada agradável, pelo menos há uma coisa de agradável em você.

Eu estava quase caindo no sono novamente no balcão quando Noah chegou com uma praça debaixo do braço e dessa vez estava de óculos e seco. Ele se aproximou de eu e me deu um suave beijo na bochecha, eu me senti que não estava em mim mesma, só que eu não tinha uma bola na mão para jogar nele.

– Não sabia que trabalhava aqui Ash...

– Nem eu sabia, mas isso é uma história longa e deprimente. Não sabia que surfava em dias de semana...

– Quando estamos de férias todos os dias são domingos, vou achar ótimo passar aqui e te ver todos os dias.

– Eu não posso dizer o mesmo, mas foi legal te ver aqui hoje... – eu percebi que ele estava querendo ir embora. – Noah, quando puder vá na casa de Ammy para podermos sair.

– Eu irei sim, é sempre um prazer te ver Ashley – ele saiu.

Então Thomas deu uma risada escandalosa e olhou para eu como se eu tivesse feito a pior ação do mundo, ele se aproximou me fazendo grudar as costas do balcão e poder senti o cheiro de leite azedo que vinha da boca dele sendo insuportável.

– Você não pode perder tempo com esse tipo de pessoa que vem aqui para nos atrapalhar.

– Noah não é esse tipo de pessoa, esse tipo de pessoa é a Holly e você sabe disso! – eu disse gritando chamando a atenção das pessoas que passavam.

– Eu não convidei Holly...

– Eu não convidei Noah...

Ele saiu de perto de eu, eu fiquei feliz por novamente poder respirar sem sentir cheiro de leite azedo, eu acho que já estava ficando roxa e com os olhos mais estufados do que já são. Sentei-me na cadeira, quando eu olhei o relógio de pulso e vi que já passavam das cinco o que significa que eu já poderia ir para casa de Ammy, e começar meu segundo turno como babá do pirralho do meu sobrinho.