— Galera, o Baek-hyun está chegando! — anunciou Jong-dae, após checar a mensagem em seu celular.

— Apaguem as luzes! — gritou Min-seok, riscando o fósforo para tentar acender as velas sobre o bolo. Ao lado da porta, Kyung-soo olhou pela última vez a rua lá fora, e então a sala ficou toda escura.

No escuro da casa, tudo o que ouvíamos eram nossas próprias risadas enquanto nos atrapalhávamos, tropeçando uns nos outros em busca de um lugar para nos escondermos num misto de excitação, animação e nervosismo.

Ainda aos risos depois de Min-seok quase ter deixado o bolo cair, decidimos rapidamente que nos esconderíamos atrás do sofá ao ouvirmos o barulho do carro dos pais de Baek-hyun sendo estacionado na garagem da casa. Chan-yeol tirou algo da mochila, um objeto de forma cilíndrica, e ficou em posição de ataque com ele na mão.

— O que é isso, Chan-yeol? — perguntei risonho.

— Nossos fogos. — Riu. — Não poderia deixar passar.

— Você não existe.

— Shh! Já estão na porta! — sussurrou Jong-dae.

Ouvimos o barulho das chaves rodando na fechadura e então a porta se abrindo. Quando as luzes se acenderam, todos nós nos levantamos gritando “surpresa!”, com direito a um pulinho e um gritinho estridente de Baek-hyun, seguidos de um enorme sorriso ao finalmente identificar o que estava acontecendo, para então começar a gargalhar. Algo estourou ao meu lado e confetes voaram pela sala, seguido dos nossos risos por Chan-yeol não ter conseguido estourá-los no momento de entrada do aniversariante.

Baek-hyun ficou estarrecido por um momento, olhando tudo em volta. A decoração era simples, com alguns balões coloridos pelas paredes da sala e um painel escrito “Parabéns!” com desenhos dos personagens de Cavaleiros do Zodíaco encontrados por Chan-yeol em uma loja de decorações para festas. Ele me contou que fora amor à primeira vista e que mesmo que Baek-hyun não admitisse, sabia que adorava o anime. Ademais, haviam dois balões grandes com os números 16 e um bolo de chocolate decorado com morangos feitos por Min-seok e Kyung-soo que eu sabia que estava uma delícia.

— Eu pensei que tivessem esquecido de mim! — disse ele, depois de um bom tempo em silêncio. Não sabia ao certo, mas tinha quase certeza que seus olhos estavam marejados.

— Não falamos com você na escola hoje propositalmente — contou Jong-dae.

— Era para a gente não ter falado com ele apenas hoje? Eu passei a semana inteira sem nem olhar na cara dele! — disse Kyung-soo, arrancando risadas de todos.

— Eu avisei que era só por hoje! — Riu Min-seok, recebendo aquele olhar de Kyung-soo que colocava medo em todo mundo.

— Estão perdoados pelo aniversariante, crianças — disse Jong-dae, colocando-se entre eles e passando os braços pelos ombros de cada um, trazendo-os para perto.

— Ainda estou decidindo — disse Baek-hyun, rindo, e então seus olhos pousaram em Chan-yeol. — Não acredito, você veio mesmo!

— Quem você acha que escolheu o tema da decoração? — perguntei, vendo Chan-yeol enrubescer.

Fomos todos para a cozinha para finalmente cortar o bolo. Baek-hyun deu um abraço em todos nós, deixando de lado o fato de ter sido ignorado durante todo o dia de seu aniversário e também durante a semana por Kyung-soo. Enquanto comíamos, não conseguia parar quieto, querendo saber de todos os detalhes da surpresa, quem tivera a ideia, quando compramos as coisas e mais tarde soube que entrou em contato com Chan-yeol para saber onde ele havia achado o painel temático.

— O bolo está incrível — comentou Baek-hyun. — Se eu puder chutar quem fez, diria que foi Jong-dae e que a calda foi feita por Xiumin.

— Woooow! — dissemos todos ao mesmo tempo.

— Para ter ficado incrível desse jeito é porque claramente foi feito por mim — disse Jong-dae com um sorriso convencido e Min-seok lhe mostrou o dedo médio.

— Eu tive medo real de Jong-dae matar Min-seok por ter errado a dosagem do leite, mas aconteceu algo pior: ele queimou o bolo — contou Chan-yeol, rindo.

— Nunca senti tanto ódio em toda minha vida.

— Talvez tivesse dado certo se você não me estresasse com sua mania de controle. — Min-seok revirou os olhos.

— Talvez eu não fosse tão assim se você prometesse ficar de olho no bolo e realmente ficasse.

— Que seja!

O barulho da campainha cessou nossas risadas por um momento, e Jong-dae se dirigiu à porta. Yixing e Lu Han entraram em nossos campos de visão, ambos sorrindo quando Baek-hyun correu até eles, abraçando-os em seguida. Senti o olhar de Kyung-soo sobre mim do outro lado da mesa, e então meu rosto corou ao saber o que ele queria dizer.

Yixing e Lu Han já eram nossos conhecidos pelas aulas de Educação Física, mas nossos amigos nunca se falaram mais do que o necessário para escolha de times até Baek-hyun ser escolhido por eles para o futebol. A afinidade entre eles foi para além dos jogos, e Jong-dae até achou que perderíamos Baek-hyun, e assim ele decidiu apresentá-los a nós.

As relações entre o grupo se estreitaram verdadeiramente quando Kyung-soo entrou como vocalista na banda que Yixing formou com outros dois alunos da escola, Lu Han e Se-hun, o que nos levou a frequentar os ensaios que aconteciam da garagem da casa de Yixing. Foi quando as trocas de olhares se tornaram mais frequentes, as madrugadas foram ocupadas com trocas de mensagens, quando os toques por baixo da mesa já não eram mais por acidente e uma ida à biblioteca passou a significar trocas de beijos.

Estávamos naquela situação em que todos sabiam, mas ninguém falava nada. Não com palavras. Eu sentia os olhares dos outros sobre mim e sabia que Baek-hyun tinha uma piada na ponta da língua, que não soltava para não constranger também a Yixing, mas mais tarde eu com certeza seria alfinetado. Chan-yeol era o único que estava de fora, ainda não tínhamos intimidade o suficiente para falar sobre assuntos tão pessoais, mas eu achava que talvez não faltasse muito para ele perceber também. Não se fosse esperto.

Min-seok disse algo no ouvido de Chan-yeol que não consegui entender, mas logo compreendi o que poderia ter sido quando Chan-yeol se levantou de sua cadeira e foi para a cadeira seguinte. Min-seok fez o mesmo logo em seguida, deixando a cadeira ao meu lado vaga, e esta foi puxada por Baek-hyun e ocupada por Yixing a pedido deste. Senti meu rosto esquentar com os olhares e sorrisos maliciosos sobre nós; se Yixing reparou em qualquer coisa, não demonstrou, apenas se sentou ao meu lado e puxou uma conversa qualquer.

— Vocês também sabiam da surpresa? — perguntou Baek-hyun.

— Sim, mas não conseguimos chegar na hora. Tivemos que esperar o Zitao ir lá em casa pegar as baquetas dele comigo — respondeu Yixing.

— Kyung-soo nos contou que vocês vão tocar em um mês — disse ele, empolgado, fazendo Yixing sorrir. — Disse que conseguiram um show.

— Será um pequeno show, apresentaremos no máximo seis músicas, porque outras duas bandas também tocarão. Mas estamos empolgados por ser na nossa pizzaria preferida. Vocês estarão lá, certo?

Yixing olhou para todos de maneira rápida, mas foi em mim que seus olhos pararam por último.

— Claro — falei, tímido, vendo-o sorrir para mim e então senti sua mão pegando a minha delicadamente por baixo da mesa.

— Claro que Jun-myeon estará lá, Yixing — provocou Baek-hyun, arrancando gargalhadas altas de todos ali.

Entre piadas insinuantes e alfinetadas, o tempo passou silencioso e regado a risadas, e só nos demos conta disso quando Chan-yeol recebeu uma ligação de sua mãe pedindo que voltasse para casa. Apesar de sua objeção, não teve escolha e teve realmente que ir.

— Eu também tenho que ir — anunciei, levantando-me. — Disse à minha mãe que estaria em casa antes de meia-noite. Vou aproveitar para ir junto com Chan-yeol.

Ouvimos um resmungo generalizado pedindo para que ficássemos, mas realmente não tínhamos escolha, então pegamos nossas mochilas e iniciamos nossa curta caminhada para casa. Ainda podia sentir o toque de Yixing em minha mão esquerda, que ele apertou, e o olhar que me deu antes que eu me levantasse ainda estava em minha memória em um “até logo” silencioso. Nos encontraríamos no dia seguinte para o ensaio da banda, mas eu estava ansioso mesmo para o cinema que marcamos. Seria nosso primeiro passeio juntos sem nossos amigos em volta para soltar piadas.

— Suho? — A voz de Chan-yeol me despertou. — Por que está sorrindo olhando para sua mão?

Sua pergunta me pegou totalmente desprevenido, de forma que comecei a gaguejar, tentando buscar uma resposta que não denunciasse o que eu estava pensando, o que só deixou tudo ainda mais ridículo e risível.

— É sobre o Yixing? — perguntou ele, olhando bem para minhas feições com um sorrisinho no rosto.

— Não! Por que seria sobre Yixing? — rebati na defensiva, o que fez Chan-yeol gargalhar.

— Eu vi a forma como vocês se olharam. Tá rolando alguma coisa?

A pergunta direta me fez corar ainda mais.

— Não precisa me dizer nada se não quiser. Me desculpe — disse ele, ao me ver virando o rosto quando me senti confrontado.

— Está tudo bem, Chan! Sério! — falei, pousando a mão em seu braço. — Respondendo à sua pergunta… Ér… Bem… Talvez.

— Ele parece gostar de você — declarou de maneira simplória.

— Sério? — Arregalei os olhos.

— Sério. — Chan-yeol sorriu. — Vocês vão sair?

— Ah, sim. Vamos ao cinema. — Sorri bobo.

Quando voltei a olhar para Chan-yeol, percebi que seu sorriso parecia ter crescido em seu rosto, o que me causou uma sensação de conforto naquela primeira vez que conversávamos sobre algo além da escola e nossos gostos para quadrinhos. Ele não estava interessado em fazer piadas como os outros meninos, mas sim parecendo genuinamente querer saber sobre nós.

— Mas e você, tá interessado em alguém? — perguntei. Chan-yeol corou fortemente.

— E-eu? Claro que não, Jun-myeon!

Bingo! Quando Chan-yeol não me chamava pelo apelido, era porque havia alguma coisa acontecendo.

— Desembucha.

— Okay… Hum… Tem uma garota na nossa sala… a estrangeira…

— Roseanne?

— Sim. A gente tem, sabe, conversado de uns tempos pra cá… Ela é bem legal.

Há alguns minutos era Chan-yeol quem ouvia e comentava com tranquilidade sobre o que eu ouvia. No entanto, ao falar de Roseanne, era ele quem tomava a posição de acuado, como se estivesse encurralado em suas próprias palavras, o que me fazia lembrar do Chan-yeol absurdamente tímido que conheci e que não dava as caras há uns bons meses.

— Você pretende falar com ela, certo? — perguntei.

— F-falar c-com ela? — Arregalou os olhos por trás dos óculos. — Claro que não! Ficou maluco, Suho?

— Por que não?

— O que eu falaria pra ela?

— Chama ela pra sair, oras.

— Claro que não! Ela me daria um fora e nunca mais falaria comigo!

— Você não sabe o que ela poderia dizer. Talvez ela queira sair com você. Aliás, se ela te der um fora, quem estará perdendo será ela — brinquei, vendo um sorrisinho nascer nos lábios de Chan-yeol. — Pensa sobre, ok?

— Ok…

— Promete?

Chan-yeol passou a mão pelos cabelos ondulados em um sinal de desconforto que eu já conhecia bem e então cruzou os braços em frente ao corpo.

— Talvez.

— Chan-yeol... — chamei seu nome em tom de aviso.

— Tudo bem, eu prometo que vou pensar sobre! Mas só pensar, não significa que vou chamar ela pra sair mesmo!

— Deixa de ser bobo!

— Ah, você não entende. É bonito e desejado.

— Desejado? — Gargalhei alto. — De onde tirou isso?

— Não finja que não percebe as meninas te olhando! Você chama atenção.

— Mas não são as meninas que eu quero.

— Sei bem quem você quer — brincou ele e dei um soco leve em seu braço esquerdo que o fez rir mais alto.

— Você é um babaca, Park Chan-yeol.

— Que seja. Você vai ao ensaio amanhã?

— Claro. Você também?

— Sim. Não se esqueça que a noite de filmes será lá em casa.

— Por favor, não me diz que vamos assistir Aquaman?

— Você realmente achou que eu deixaria passar o filme do meu herói favorito? Os humilhados precisam ser exaltados!

— Não tem como exaltar o Aquaman, Chan-yeol. Só você insiste nisso.

— Se você ainda não leu Os Novos 52!, não tem o direito de opinar.

— Eu sempre vou opinar sobre isso!

— Se o Yixing te desse os quadrinhos de presente, você engoliria tudo em uma semana.

— Vai à merda, Chan-yeol!

Me despedi de Chan-yeol quando chegamos à porta de sua casa, prometendo que almoçaríamos juntos no dia seguinte e então, encolhido em meu casaco, caminhei sozinho até minha casa, não muito longe dali.

Não precisei estar perto da porta para ouvir os gritos dos meus pais vindos lá de dentro. Não precisei nem mesmo pisar no jardim para ouvir meu pai chamando minha mãe das piores coisas possíveis. Também não precisava que a luz da varanda estivesse acesa para identificar o corpo de Jong-in sentado em um dos degraus da entrada da casa com os olhos presos em algum jogo de corrida no celular bem rente ao seu rosto, como se ele não estivesse de óculos. Jong-in costumava ser melhor do que eu em abstrair as brigas de nossos pais. Mesmo no pior dos cenários, ele estava pleno e centrado em seus jogos e leituras, fazendo um papel melhor do que eu em se manter calmo e não absorver o que não era da sua conta — muito melhor do que eu, que absorvia boa parte das ofensas de meu pai direcionadas a minha mãe.

— Pensei que não voltaria para casa hoje — comentou ele, sem tirar os olhos do telefone.

— Se eu soubesse que as coisas estariam assim, teria pedido para dormir na casa de Baek-hyun.

— Ainda pode voltar.

A ideia era tentadora. Baek-hyun já presenciara inúmeras brigas de meus pais nas vezes em que esteve em minha casa, então não precisaria mentir, apenas fazer o que eu fazia de melhor quando ele estava em minha casa nas piores horas: lidar com o problema como se fosse insignificante e não como se pesasse em mim. No entanto, o tom de voz de meu pai interrompeu meus pensamentos e Jong-in e eu entramos em casa, subindo as escadas para o quarto de nossos pais em um recado silencioso: qualquer som diferente de um grito e abriríamos a porta. Era sempre assim.

E assim ficamos, tensos, olhando um ao outro, ouvindo nossa mãe tentar falar por cima de nosso pai, que mandava ela calar a boca com um tom de voz que nos mandava o recado do que possivelmente estaria por vir. Senti um bolo se formar em minha garganta e as mãos suarem. Jong-in estava mais firme e já estava com a mão esquerda na maçaneta. E quando a ameaça deixou de ser um ordem de silenciamento, ele abriu a porta interrompendo a discussão.

Meu pai tinha o cenho franzido e o rosto vermelho de raiva. Minha mãe chorava e, olhando-a atentamente, vi que tremia. Será que ela percebia meu corpo tremer com tanta evidência como eu percebia o seu?

— M-mãe, tá tudo bem? — perguntei.

— Sim, querido. Está tudo bem. Seu pai e eu só estamos conversando.

— Conversando… sei… — Jong-in murmurou. Sem olhar para ela, completou: — Qualquer coisa, chama a gente.

— Não é nada demais, filho. Vão dormir, amanhã vocês acordam cedo — disse. No fundo do quarto, meu pai se mantinha calado, mas com o olhar firme em nós.

Jong-in fechou a porta e voltou a pegar o celular no bolso de seu pijama, encaminhando-se para seu quarto. Observei-o se sentar em sua cama e se encostar com os olhos na tela, voltando ao seu estado habitual como se nada tivesse acontecido e me perguntando como ele conseguia aquilo quando eu estava exausto de tudo desde sempre.

Quando saí do banheiro, alguns minutos depois, a gritaria tinha recomeçado. Foi quando coloquei os fones de ouvido, deixando a música tocar em seu volume mais alto, e o bolo em minha garganta se desfazer em lágrimas.

A voz de Kyung-soo era doce nos versos de R U Mine?, tecendo as palavras baixinhas e roucas, contrastando com a presença forte da guitarra que eu podia ouvir escapando dos fones, extendendo seu mundinho particular na garagem de Yixing. Tirei delicadamente o fone da orelha direita e coloquei na minha para acompanhá-lo entre risos com minha voz desafinada.

Arctic Monkeys foi uma boa escolha — comentei.

— Não levei fé quando Chan-yeol sugeriu essa música até ouvi-la.

— Pagou sua língua.

— Sempre, né? - Riu.

Do outro lado da garagem, Yixing andava de um lado a outro com o telefone colado na orelha, tentando ligar para Se-hun, o guitarrista, que estava rotineiramente atrasado. Resmungava alguma coisa que não consegui entender até aumentar seu volume de voz quando Se-hun atendeu o telefone no que parecia ser o milésimo toque.

— Onde você está? Como é? Dormindo? — rosnou Yixing. — Se-hun, são três e meia da tarde, porra! Estou te esperando há trinta minutos porque você está dormindo?

Yixing passava a mão pelos cabelos descoloridos, puxando-os numa tentativa de descontar a raiva e o nervosismo, uma mania que notei quando sentei na carteira atrás da sua durante uma prova de Matemática. Ali, porém, ele parecia irritado como nunca, e puxando os cabelos com muito mais força. Senti vontade de me levantar e puxar sua mão, segurando-a entre as minhas, mas a piadinha que Baek-hyun fazia ao meu lado já me deixava constrangido o suficiente.

Chan-yeol apareceu na garagem junto com Jong-dae, segurando uma garrafa de água que ofereceu a nós. Deu um pulinho no lugar com o berro de Yixing e então ele e Jong-dae soltaram uma risadinha.

— Quer saber, cara? Você 'tá fora! — disse Yixing. Tentou dizer algo mais, mas pareceu ter sido interrompido por Se-hun por um momento, tomando o controle logo em seguida — Onde vou conseguir outro guitarrista? Não faço ideia, mas com você a gente não continua! Vai se foder!

E foi assim que desligou a ligação, murmurando um "já volto" e então sumindo da garagem pela porta que dava para dentro da casa, enquanto todos pareciam ainda sem saber o que fazer quanto à explosão de Yixing.

— Você deveria falar com ele — disse Baek-hyun em meu ouvido. Eu podia sentir a malícia em sua voz.

Senti meu rosto corar com a ideia de ir atrás de Yixing e levantei relutante após Kyung-soo comentar que também achava que poderia ser uma boa ideia. Tentando acalmar as batidas de meu coração e inutilmente secar o suor de minhas mãos, passei pela porta, procurando por Yixing. Encontrei-o de costas para mim, apoiado na bancada da cozinha. Batia o pé esquerdo nervosamente no chão e parecia respirar fundo. Delicadamente, pousei uma mão em seu ombro, atraindo sua atenção.

— Desculpe por aquilo. — Forçou um sorriso. — Se-hun me tira do sério com os vacilos dele.

— Eu sei. — Ri. — Mas está tudo bem. Eu acho.

— Acha? — Arqueou uma sobrancelha.

— Agora vocês precisam de um novo guitarrista — falei. Yixing fechou os olhos, suspirando cansado.

— Que merda! Não faço ideia de quem poderemos chamar!

— Sei que vai dar um jeito.

De maneira tímida, pousei a mão em sua nuca, acariciando-a de maneira leve, vendo Yixing tentando se acalmar. Meus dedos tocaram seus fios de cabelo, sentindo a maciez destes em minha pele e a intensidade de seus olhos sobre os meus.

— Senti sua falta, sabia? — confessou, referindo-se aos dias que estávamos sem trocar beijos pelos cantos da escola. Senti meu rosto corar fortemente, mas não pude conter o sorriso bobo em meus lábios.

— Senti sua falta também — sussurrei.

Yixing soltou um risinho e me puxou para perto, colando seus lábios aos meus. Senti seu aperto firme em minha cintura e seus dedos em meus cabelos em uma carícia que começou calma, mas se intensificou junto aos seus beijos.

Perdi a noção do tempo e espaço em seus braços, desligando-me do propósito de eu ter ido até ele, até senti-lo se afastar de mim. Foi quando ouvi o barulho de passos anunciando que alguém se aproximava da cozinha. Lu Han parecia conter o sorriso ao nos ver tão próximos, sabendo bem do que se tratava, mas deixou qualquer piadinha de lado ao olhar para Yixing.

— Chan-yeol pode tocar guitarra no lugar de Se-hun! — anunciou.

— Chan-yeol toca guitarra? — Yixing arqueou a sobrancelha.

— Sim. E muito bem — respondi.

— É mesmo? Já viu ele tocar?

— Já! Várias vezes! Ele sabe tocar várias músicas do Arctic Monkeys e aprende rápido — contei.

— Parece que tem passado bastante tempo com ele — disse Yixing, olhando-me.

— Bem, ele é meu amigo, né? — falei.

— Às vezes, queria que você passasse tanto tempo comigo como passa com ele. — Riu.

— Crianças, deixem a DR pra depois, tudo bem?

Senti meu rosto corar na hora com as palavras de Yixing, mais uma vez sentindo vergonha com a possibilidade de estar deixando-o de lado pelos meus amigos. Yixing não queria ficar acima deles; queria, na medida do possível, ter mais espaço em minha vida, o que me soava totalmente compreensível quando durante a semana tudo o que estava ao nosso alcance era trocar beijos por armários que guardavam produtos de limpeza e cabines de banheiros que cheiravam a urina.

— Deixa disso, Han, não tem DR nenhuma acontecendo. Vamos logo ver se o Park é realmente tão bom — disse por fim, e pude sentir seu tom de voz provocativo.

Por sorte, Chan-yeol era realmente muito bom. Tão bom que lancei a Yixing meu melhor olhar de quem dizia "eu te avisei", que ele respondeu com um revirar de olhos, apesar do sorrisinho travesso em seus lábios. E então disse a Chan-yeol que ele ficaria na banda, atualizando-o do show que chegava e que, com isso, ele precisava se apressar para tirar as músicas da setlist.

— Yixing parece estar sendo um pouco duro com ele — comentou Baek-hyun ao meu lado.

— Acho que não. O tempo até o show de fato é curto.

Baek-hyun pareceu, assim como eu, aceitar que Yixing só estava tentando fazer o melhor pela banda, e não que possivelmente estava, de fato, tratando Chan-yeol com certa diferença.

E que passaria a tratar todos os meus amigos com diferença.

Fui o primeiro a chegar na casa de Chan-yeol na sexta-feira para nossa tarde de filmes. Sua casa me era memorável com aquele pequeno jardim com flores de cores diversas, que coloria aquele quarteirão tão insipido com suas casas brancas tão comuns. O tempo de cuidado das flores era dividido de maneira desigual, sendo Chan-yeol o que mais se encarregava de cuidar delas, contou-me um dia, e olhar o resultado de suas horas de dedicação me fazia pensar que seus cuidados realmente trouxeram frutos.

Quando toquei a campainha, uma figura desconhecida me atendeu. Era um chinês bastante alto, mas também parecendo um tanto desengonçado, o que contrastava com a imagem inicial que passava com o jeans rasgado, a camiseta de uma banda de j-rock que eu nunca ouvira falar e aqueles cabelos pretos que brilhavam provavelmente com a escova que fazia para ter tudo tão perfeitamente no lugar, mas que tinham as pontas pintadas de azul.

— Olá? — Forcei um sorriso. — Procuro pelo Chan-yeol.

— Qual o seu nome?

— É Kim Jun-myeon.

O chinês colocou a cabeça para dentro da casa e se pôs a gritar:

— Chan-yeol! Tem um Kim Jun-myeon na porta!

Lá de cima, Chan-yeol gritou de volta:

— Deixa entrar!

E então ele abriu espaço pra mim na porta, onde deixei meus sapatos para entrar de meias. A sala cheirava à pipoca com manteiga e vi que tinha um balde cheio sobre o sofá, enquanto na mesa de centro havia um copo grande de refrigerante.

— Adiantei a pipoca — comentou o chinês atrás de mim — Servido?

— Acho que vou esperar pelos outros.

— Você que sabe — disse, dando de ombros. Passou por mim e se jogou no sofá, colocando o balde sobre suas pernas. Encheu a mão de pipoca, levando-a à boca e deixando algumas cairem no caminho. Catou as que caiu e comeu.

— Sou Kris Yifan, amigo do Chan-yeol.

— Prazer. — Sorri.

— Vocês são da escola, certo? Chan-yeol fala bastante de vocês. Semana passada eu conheci o Baek-hyun.

— Ele também vem hoje.

— Achei ele meio babaca, mas ok.

Fiquei calado.

— Você e Chan-yeol se conhecem de onde?

— Éramos vizinhos desde criança até ele se mudar. Mas ele só mora a 15 minutos de bicicleta da antiga casa, então nem fica difícil pra gente se encontrar. — Deu de ombros. — Fiquei puto quando soube que 'tavam rindo dele na escola. Não sei quem aqueles babacas pensam que são pra fazerem isso.

Fiquei em silêncio. De repente, as palavras de Kris pareciam serem direcionadas a alguém em específico, e eu soube disso na forma como falava e me olhava. Não era sobre eu em especial, era sobre nós.

— Essa fase ficou para trás.

— Espero que tenha ficado mesmo… — disse Kris, olhando-me com os olhos cerrados. Respirei fundo.

— O que você quer dizer com isso?

— Que eu não acredito de todo em vocês e que estarei olhando por Chan-yeol.

Chan-yeol entrou na sala, pegando-nos naquele silêncio quase mortal, mas aparentemente sem perceber o clima nada amistoso entre mim e Kris. Tinha os cabelos úmidos de quem tinha acabado de sair do banho e os óculos ainda nas mãos, com as lentes embaçadas pela umidade do banheiro depois de seu banho quente.

— Que bom que já se conheceram. — Sorriu genuinamente. — Acho que os outros já devem estar chegando.

Chan-yeol se sentou ao meu lado e iniciou uma conversa sobre as pipocas queimadas de Xiumin ao ver o balde no colo de Kris, que abriu alguns sorrisos para acompanhar as gargalhadas do amigo. Eu acompanhava a conversa sorrindo tímido, quando senti o telefone vibrar em meu bolso com uma mensagem que eu sabia ser de Yixing dizendo que estava com saudades. Tentei sem sucesso conter o sorriso que nasceu em meu rosto ao ler sua mensagem. Ainda que estivéssemos juntos no dia anterior, eu também já sentia falta de estar com ele.

Lay ❤ (15:40)

já tô com sdd ❤ queria que estivesse aqui.

Jun-myeon (15:41)

também ❤

Lay ❤(15:41)

e pq não vem?

Jun-myeon (15:41)

tarde de filme na casa do Chan-yeol

Lay ❤ (15:42)

estou com aquela jockstrap que você adora. não pode mesmo vir?

Jun-myeon (15:42)

adoraria, mas realmente não posso

Voltei a guardar o celular no bolso com o soar da campainha ecoando pela casa. Chan-yeol se levantou para atender a porta e eu ouvi algumas risadas antes dos garotos entrarem um atrás do outro, fazendo alguma piada sobre Jong-dae não deixar que Xiumin queimasse as pipocas daquela vez. Eles cumprimentaram Kris de maneira educada, mas pude perceber que Baek-hyun tentava disfarçar a cara feia ao percebê-lo ali, ao contrário do próprio Kris, que deixava transparecer suas expressões fechadas.

Quando as discussões sobre quem faria a pipoca finalmente cessou, Chan-yeol colocou os DVD's para rodar. Naquela tarde, iríamos maratonar os filmes do Shrek como bons adolescentes, enquanto as horas nos permitissem, rindo como bobos e estudando as reações de Kyung-soo conforme o filme corria.

Ao final do primeiro filme, decidi checar logo as mensagens incessantes em meu telefone, que vibrou em muitos momentos durante a tarde. Haviam algumas mensagens de minha mãe, me pedindo para não voltar tarde, mas a maioria era de Yixing, que parecia não cansar de me dizer o quanto queria me ver e de me mandar fotos insinuantes de si mesmo.

Lay ❤ (19:00)

tem certeza que não pode vir? tenho algo para você

Lay ❤ enviou uma foto

A foto enviada era um insuante retrato de seu corpo seminu na jockstrap que me fez respirar fundo para tentar controlar a ereção que se formava entre minhas pernas.

Lay ❤ (19:03)

está tudo bem, myeon?

Jun-myeon (19:03)

e pq não estaria?

Lay ❤ (19:03)

demorou um pouco para responder…

Jun-myeon (19:04)

estou tentando controlar a ereção que você me deixou

Lay ❤ (19:04)

resolvo pra vc. só vir até mim.

Jun-myeon (19:04)

Lay…

Lay ❤ (19:05)

eu sei que vc quer

Jun-myeon (19:05)

são meus amigos

Lay ❤ (19:05)

vc tá com eles todos os dias. quanto a mim… a gente só se vê umas poucas vezes até mesmo na escola.

O telefone voltou para o meu bolso sem que a mensagem fosse respondida. Havia um incômodo que crescia em meu peito que eu não conseguia entender, mas que isolava minha mente de tudo o que acontecia ao meu redor: meus amigos fazendo piadas sobre o filme, o cheiro da segunda rodada de pipoca, os olhos observadores de Kris sobre mim, e então indo para meus amigos, como se não entendesse o porquê de eu estar tão quieto quando todos riam tanto.

A última mensagem de Lay rondava meus pensamentos. Ele não estava mentindo, pois, de fato, não nos encontrávamos tanto quanto eu costumava encontrar meus amigos, mas havia também o incômodo por sua insistência de todos os dias e em ocasiões específicas, como quando eu estava na companhia deles. Eu, no entanto, findava qualquer preocupação com relação a isso colocando em minha cabeça que ele estava certo e que eu, de fato, não dedicava a ele tanto tempo quanto dedicava aos meus amigos.

E foi com essa certeza que deixei uma desculpa de que precisava ir e segui para sua casa.

Minha mãe parou o carro na frente da pizzaria e ficou cerca de cinco minutos encarando a entrada silenciosamente, não me deixando sair, mas também não falando nada.

Eu ficava completamente frustrado. Sabia que estava escaneando as redondezas em busca de qualquer sinal de bebidas alcóolicas e drogas ou de qualquer motivo pequeno para me levar de volta para casa. Não era fácil convencer seus pais de que um show com a galera da escola não passava disso quando ninguém tinha idade o suficiente para comprar bebidas, a não ser que quem quer que fosse o proprietário não ligasse para esse fato e soubesse da bebida rolando entre menores de idade — o que meus pais não precisavam saber.

— Mãe, o show vai começar daqui a pouco. Já acabou com as suas paranoias? — perguntei impaciente.

— Você vai ser liberado quando eu achar que deve. Quando seus filhos e filhas tiverem 16 anos, você vai entender o porquê da minha “paranoia” — respondeu ela, curta e grossa. — Não sai daqui desacompanhado, entendeu?

— Sim, mãe.

— Não aceite bebidas de estranhos!

— Sim, mãe.

— Não deixe seu copo com qualquer pessoa!

— Sim, mãe.

— Qualquer emergência, me liga.

— Siiiiim, mãe! Posso ir?

— Pode — disse por fim, beijando-me os cabelos. — Mamãe te ama.

— Também te amo, mãe.

O ambiente da pizzaria já não mais configurava o de um restaurante comum da redondeza, mas sim um point que reunia a galera tão distinta de mim nas ruas e nos corredores da escola. O cheiro de cigarro e cerveja no ar me eram estranhos, assim como os cabelos coloridos, raspados, piercings e algumas tatuagens que me faziam destoar deles e delas em meu moletom escuro por cima de uma camisa velha de alguma série de TV. Até que eu encontrasse meus amigos, senti-me fora de meu lugar, até entender que mesmo eles se sentiam deslocados. Se não fosse por Kyung-soo, talvez não estivéssemos ali.

No espaço apertado e aberto que se encheu rapidamente, eles conseguiram pegar uma mesa graças à pontualidade extrema de Jong-dae, que esperou cerca de 30 minutos até Chan-yeol chegar, e então Baek-hyun e Min-seok, que disse que ia ao banheiro e até então não tinha voltado.

Conversei rapidamente com eles e me contaram que Kyung-soo e Chan-yeol estavam bastante nervosos. Eles estavam com os outros na parte de trás do palco, fazendo uns últimos ajustes e talvez afinando instrumentos. Algum tempo depois, eles mesmos apareceram, seguidos de Lay. Percebi logo os olhos esbugalhados de Chan-yeol por trás dos óculos.

— Chan, fica calmo — disse a ele, pousando a mão em seu ombro. — Vai dar tudo certo.

— Se eu errar as notas? E se eu colocar o efeito errado na guitarra?

— Ninguém aqui é profissional, Chan-yeol. Todos estamos suscetíveis a erros. Fica tranquilo — disse Kyung-soo atrás de si. Por mais que falasse de forma calma, eu percebia que estava um pouco nervoso também.

Balancei a cabeça em agradecimento e abracei Chan-yeol, afagando seus cabelos. Quando me afastei, percebi seu rosto choroso.

— Vai dar certo, Chan. A gente tá aqui por você.

Vi-o abrir um sorrisinho que esquentou meu interior antes de Baek-hyun pular em suas costas e Jong-dae abraçá-lo de frente, ambos repetindo que tudo daria certo e que no final ele estaria pulando pelo palco, tocando guitarra, querendo animar a todos e fazendo assim jus ao seu apelido Happy Virus.

Me afastei um pouco deles para dar alguma atenção a Lay. Há quase duas semanas que nossos encontros estavam limitados às idas furtivas ao banheiro e, na medida do possível, às escapadas para o armário do zelador, por conta de seus afazeres com a aproximação do show. Eu não poderia estar sentindo mais falta de estar a sós com ele como naquele momento.

— E você, como está? — perguntei.

— Não estou nervoso, mas também nem tão confiante. Só calmo — respondeu ele, passando a mão em meus cabelos. O ato era simplório e normal para ele, mas me causou uma intensa vermelhidão em meu corpo. — Estou com saudade de você. Isso sim, eu sinto demais.

— Também estou. — Ri nervoso.

— Você pensou sobre aquilo que te falei? Sabe, meus pais estão fora essa noite, a gente poderia ir lá pra casa...

Lay deixou as palavras no ar e meu interior borbulhou em nervoso novamente, como vinha acontecendo com frequência há quase um mês desde que tocou naquele assunto pela primeira vez e não parou mais: sexo.

Eu não era inocente de achar que aquele dia nunca chegaria ou que eu morreria virgem, mas nosso relacionamento, mesmo que não oficializado, ainda era muito recente. A própria ideia de um relacionamento em si ainda era muito nova para mim, porque não era só um relacionamento e minhas primeiras experiências em algo mais sério, havia muitas outras questões envolvidas, sendo a principal delas eu me assumir.

Eu sabia que o dia estava chegando. Sabia nos toques ousados de Yixing entre minhas pernas, nos beijos cálidos que distribuía por meu pescoço, mas ainda me sentia nervoso e inseguro, como se ainda não estivesse pronto para aquilo, e ele sabia disso. Lay sabia o quanto eu ainda não estava confiante e por isso eu evitava tanto o assunto — porque eu sempre passava tempo demais ouvindo ele tentando me convencer disso.

— Lay, eu não sei se é uma boa ideia...

— Como não é uma boa ideia? Teremos a casa inteira para nós dois a noite toda!

— Acho que… acho que não estou pronto — falei baixinho.

— Jun-myeon, já te disse que não há o que temer. É bem simples. Você parece nem mesmo confiar em mim!

— Eu confio em você!

— Então por que não vamos? — questionou. — Sabe, eu fico irritado toda vez que a gente conversa sobre isso porque você sempre se esquiva e parece colocar mil obstáculos na frente. O primeiro é que você ainda nem mesmo se assumiu pros seus pais. Pode não transar comigo, mas desse jeito talvez não seja comigo e nem com ninguém.

Suas palavras me paralisaram. Sentia o impacto forte, como que afundando em meu peito, e então meus olhos se enchendo de lágrimas. Ele estava certo ou ele estava sendo insensível? Eu deveria ser mais como ele e menos como eu? Eu deveria me forçar a me jogar para saber no que vai dar?

Lay abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompido com a chegada de Kyung-soo dizendo que era hora deles subirem em palco. Yixing se voltou para mim, afagando meus cabelos de leve e deixou um beijo em meu rosto antes de sair. Forcei um sorriso como nunca antes e coloquei na minha cabeça que eu estava de fato dificultando coisas simples e que eu era sensível demais para Yixing.

Ele não tinha dito nada além da verdade.

Xiumin apareceu no meio do show bastante bêbado, sem conseguir se manter equilibrado por muito tempo e precisando de nossa ajuda. Como bons idiotas, rimos de seu estado, mas foi quando ele vomitou no tênis de uma garota que soubemos que era hora de ir.

Fiquei encarregado de procurar por Chan-yeol e o achei alguns minutos depois no espaço atrás do palco, percebendo tarde demais que ele conversava com uma pessoa especial.

— Chan- Me desculpe, não sabia que estava ocupado!

— Está tudo bem! — disse ele, o rosto corando fortemente junto a Roseanne.

— É que o Xiumin tá passando mal e a gente precisa ir...

— Claro! — Virou-se para ela. — Me desculpe, Rosé, mas eu preciso mesmo ir. A gente se vê na escola!

— A gente se vê! — Sorriu ela, fazendo Chan-yeol parecer um idiota de repente.

Com um adolescente bêbado em mãos, seguimos tão cambaleantes quanto ele pela rua até a casa de Kyung-soo. Lá, Baek-hyun e Jong-dae se encarregaram de arrastá-lo até o banheiro e, mesmo da sala, pude ouvir o som que denunciava seu péssimo estado.

Não havia muito que Chan-yeol e eu pudéssemos fazer no momento em que já havia três cuidando dele, então ficamos na sala, vendo os porta-retratos da família Do pela sala.

— Suho, não queria perguntar na hora, mas… Tá tudo bem entre você e Yixing? — perguntou Chan-yeol em um tom de voz cauteloso.

— Sim! Claro! Por que não estaria?

— Eu vi vocês conversando antes do show. Ele parecia irritado.

— Só estava nervoso.

— Jun-myeon… não é natural que alguém converse com você irritado e segurando seu braço.

Fiquei em silêncio por um tempo.

— Não quer mesmo me contar o que houve?

Sentia-me sem palavras, mas antes disso, quebrado. E por isso fiquei quieto por um bom tempo antes de abrir a boca para dizer algo que eu nem sabia o que era.

— Os pais de Yixing foram viajar e ele queria que fôssemos pra sua casa — contei com a voz trêmula. Apesar de não encará-lo, sentia Chan-yeol me olhando atentamente. — Eu… Eu não queria ir.

— Ele fez aquilo só porque você não queria dormir na casa dele? — Chan-yeol soava incrédulo. — Nossa, que babaca!

— Não era só por isso — disse baixinho, mas Chan-yeol ouviu e voltou a me olhar.

— Como?

— Quando alguém te chama para dormir na casa dela, não é somente para dormir.

— Eu chamo você só pra dormir!

Ainda que tivesse um bolo em minha garganta, sua inocência me arrancou uma risada.

— Quando você está ficando com alguém, geralmente há segundas intenções nisso. E… Enfim… Yixing queria transar — contei. Chan-yeol arregalou os olhos por trás dos óculos.

— O quê? É sério? Ele...

— Eu sei, fui bobo.

— Bobo?! Suho, como você foi bobo? Como você acha que foi bobo por possivelmente não estar pronto pra isso?

Chan-yeol soava incrédulo. E depois de muito tempo, eu percebi que era de fato um absurdo, que eu seria o vilão da história, jamais o contrário, enquanto Yixing contasse ela. Seria sempre eu colocando obstáculos, gerando ciúmes e sendo difícil, mas nunca ele me pressionando, me desrespeitando e sentindo ciúmes em momentos inoportunos.

Quando Chan-yeol colocou a mão em meus cabelos, eu percebi que chorava. Chorava porque não aguentava a dureza das palavras de Yixing quando ele socava suas verdades contra mim, quando ele me tocava mesmo eu não querendo e quando ele me fazia acreditar que estava errado e que eu era menor do que pensava.

— Suho, olha pra mim — pediu ele, calmo. Colocou o dedo longo em meu rosto e o virou devagar em sua direção. — Não deixe ele te fazer acreditar que você é o problema por não se sentir pronto quando você tem esse direito. Mesmo que você já tivesse saído com outros caras antes, você teria o direito de dizer não. Você sempre vai ter o direito de dizer não. Se Yixing realmente se importasse com você, não te apressaria, mas te respeitaria em todas as suas questões. Ninguém tem o direito de te apressar.

Suas palavras tocaram fundo em mim, fazendo-me chorar ainda mais nos braços de Chan-yeol, que não disse nada, apenas me abraçou forte contra si e afagou meus cabelos dizendo baixinho que estaria lá por mim.

Senti outros braços em minha volta e soube que os outros estavam ali. Afagaram meus cabelos, acariciaram minhas costas e me disseram que tudo iria ficar bem. Xiumin caiu no chão ali perto, querendo se juntar a nós, nos arrancando risadas.

Enquanto eu tivesse eles, tudo ficaria bem.