Ao Avesso

Capítulo 2 - Parte 1


Doze anos depois, o Verão acabara de começar, Vanessa se arrumava para o último dia de aula antes do início das férias. Como odiava a escola! Ao terminar seu banho, vestiu sua roupa de baixo rosa, sua saia rosa, sua blusa rosa e calçou sua sandália rosa. Entupiu seu rosto de maquiagem e passou perfume.

– Rosa, tão fabuloso, não?! – dizia histericamente para si mesma antes de ouvir uma buzina.

– Vanessa, Miley chegou! – gritou Gina Hudgens do andar de baixo. Vanessa desceu as escadas como se fosse uma princesa, com postura correta, olhando para frente e com um sorriso cínico no rosto.

– Não vai tomar o café-da-manhã?! – disse a mãe, preocupada.

– Argh, por favor, Gina, sabe quantas calorias tem nessa panqueca? E se contar o molho então... urgh... beijo-beijo, tchau-tchau – disse jogando beijos no ar, e desfilando até a porta de saída da casa.

– Mas, Vanessa, tem que se alimen... – Vanessa bateu a porta – tar. Vanessa correu pelo jardim de sua casa como podia naqueles saltos, carregando sua micro-bolsa rosa.

– Aaaaaaaai, gata-garota, você está um A-R-R-A-S-O! – dizia Miley, sua amiga rosa. Opa, sua amiga que também usava rosa e estava sentada no banco de motorista de um conversível que não é necessário mencionar a cor.

– Claro né, meu bem! – disse entrando no carro. A amiga acelerou. – Você esperava que eu fosse vestida feito a ralé da escola no último dia de aula?! – Miley riu-se, histericamente.

– Argh, viu o suéter que Monique Coleman ontem? Tipo, helloooo, alguém dá uma renovada no guarda roupa dela?! – falava Miley.

– Aquela garotinha é uma ridícula – continuou Vanessa. A morena ligou o rádio.(Ouça Mind Trick )– AAAAAAAAAAAAAAH! É JAMIE CULLUM AMIGA, UHUUUL! – disse levantando-se do banco e carona e começando a dançar. Miley ria. Último dia de aula, Boston Union High School. Vanessa Hudgens e Miley Cyrus desfilavam ao entrar no colégio e todos abriam caminho para as rainhas passarem. Enquanto isso, do outro lado da escola entrava Brianna Andrews e sua fiel escudeira, Tiffany Thousend, jogando o cabelo de um lado para o outro como se estivessem em um comercial de xampu. As rainhas caminhavam até o único alvo, Zachary Efron, o capitão do time de futebol americano. Ali estava ele, Zac com os meninos do time e de sua banda, Danger Zone (inspirei em uma suposta música de J. Mac). O garoto conversava com seu melhor amigo, Corbin Bleu.

– Oi Zac! – disseram Brianna e Vanessa juntas.

– Argh, Brianna. – disse a morena, raivosa.

– Argh, Vanessa. – disse a loiríssima Brianna.

– Argh, Tiffany. – disse a própria Tiffany. Pois é, quem entende essas meninas com cérebro cor-de-rosa?

– Oi meninas. – disse Zac, nem um pouco animado.

– Tudo bom? - Agora eu to muuuuito melhor. – respondeu Brianna em uma tentativa de voz sexy.

– Ofereça-se mais Brianna, a sua investida em Zac foi muito sutil. – falou a morena, irônica.

– Ótimo, agora eu tenho que ficar ouvindo conselhos de uma zé-ninguém dessa escola.

– Meninas... – tentava interromper, Zac.

– Zé-ninguém é a sua fuça, eu mando e desmando aqui nesse colégio, meu bem.

– Ai, Hudgens, acho que você tá se confundindo com a minha pessoa. Hello, EU sou a dona dessa joça.

– Olha só... – Zac tentou mais uma vez.

– Andrews, acho que a tinta barata amarela que você passou no cabelo tá afetando seu cérebro. Zac saiu de lá, e seus amigos o seguiram. O sinal tocou e as duas continuaram discutindo.

– Olhem pra mim, eu sou Vanessa, tenho cara de retardada e tenho 6 dedos no pé esquerdo. – Brianna “imitava” a morena.

– ÓÓ! Eu NÃO tenho seis dedos, tá legal? Aquela foto que saiu no jornal da escola é puramente falsa, igual a esse seu cabelo e esse seu nariz. Dr. Wisconsin que fez, querida? Processa, porque tá pior que antes! Hahaa!

– EEI, vocês duas aí, pra sala – dizia um monitor de corredor. - Rrrr... – Vanessa grunhiu olhando para a loura e virou o corredor a caminho de sua sala. Brianna fez o mesmo.

Fim da hora do almoço do último dia antes do início das férias, Boston Union High School.

– É oficial, minha mãe convenceu meu pai a irmos para Nova Jersey nessas férias, visitar os meus avós. – dizia um rapaz loiro de olhos claros e pele muito branca, para a amiga, enquanto caminhavam pelo corredor da escola. – Tenho quase certeza de que vovó tentará me dar dicas de adesivos para dentadura novamente.

– Olha pelo lado bom, Lucas, pelo menos não terá que passar o verão inteiro em Boston fazendo um completo nada enquanto pessoas como Vanessa Hudgens e Brianna Andrews vão a festas todos os dias e desfilam pelos seus mundos rosa. – debochava uma garota com pele e cabelos morenos.

– Nem me fale, podia jurar que aquela amiguinha de Vanessa encarou o suéter que você usou ontem. Provavelmente deve ter feito algum comentário como ‘aquela garota é tão cafona’ e blá blá blá. – dizia o loiro.

– Eu bem que percebi – falou. - Elas sinceramente acham que estão com tudo, não é? Quando vão perceber que são simplesmente ridículas?

– Haha, eu duvido muito que isso um dia aconteça, Monique. Acho que elas não vivem sem toda aquela marra de patricinha.

– Acha? Pois eu tenho certeza. – afirmou Monique. – Agora vamos, temos aula de literatura com o professor Campbell e uma das rainhas da escola está em nossa classe. – disse, lamentando-se e indo em direção ao fim do corredor.

– Ahm, acho melhor irmos por outro caminho. – sugeriu Lucas, ao notar que Miley Cyrus e Vanessa Hudgens se aproximavam.

– É, você provavelmente tem razão. – Monique conclui, virando-se para o outro lado do corredor.


Vanessa e Miley andavam pelo corredor com sorrisos cínicos no rosto, como se estivessem posando para uma foto.

– Ora ora ora, se não é a Coleman, ou eu deveria dizer a vassoura de piaçaba? – Comentou Vanessa, maldosamente sobre a colega de classe ao aproximar-se dela, e riu-se junto a Miley. -

Vanessa, posso saber qual é o seu problema comigo? – perguntou Monique, virando-se para a morena, impacientemente.

– Ei, que tal irmos para a aula, Monique? – Lucas tentava impedir a amiga de continuar a conversa nada amigável com Vanessa.

– Ninguém falou com você, albino. – Miley o disse, fazendo Vanessa rir.

– O meu problema com você é aquela matéria idiota no jornal da escola sobre o meu pé esquerdo! -

Argh, por favor, Vanessa, não é rainha da escola? Supere isso!

– Eu disse que ia me vingar – disse Vanessa com o tom de voz ameaçador, se aproximando de Monique. – e a vingança continua valendo. – Vanessa se afastou e mudou a voz para a fina e estridente que normalmente usava.

– Ai, se vocês nos dão licença… temos coisas mais importantes para fazer do que ficar discutindo com a ralé.

– Bye-bye, losers! – completou Miley. As duas amigas saíram desfilando (novamente) a caminho da sala de aula.

– Cara, você não ama essa escola? – disse Lucas, irônico, após as meninas saírem.

– Vem, deixa elas pra lá, Campbell nos espera!

Aula de Literatura com professor Campbell, Boston Union High School.

– Bom, como disse na aula passada, hoje vamos fazer um esquema de perguntas e respostas sobre o romance ‘Orgulho e Preconceito’ de Jane Austen que vocês leram, ou deveriam ler nesse bimestre. Zachary Efron – falou lendo o nome do garoto em uma pasta de notas – pode descrever Elizabeth Bennet?

– Ahm, - Zac limpou a garganta – Elizabeth é a segunda das cinco filhas dos Bennet e era considerada a mais inteligente das irmãs, mas isso não contava muito, porque na época o que os homens procuravam era a beleza e não o verdadeiro conteúdo. Era confiante e reservada e nunca se apaixonou até conhecer o Sr. Darcy.

– Muito bem, é o bastante Sr. Efron. – o professor o interrompeu - ... ahm, Vanessa Hudgens, poderia nos dizer o porquê do título, ‘orgulho e preconceito’.

– Er, a razão do título ser orgulho e preconceito deve-se a – Ao fato de Elizabeth ter sido preconceituosa com Sr. Darcy, o julgou como sendo igual aos outros antes mesmo de conhecê-lo, e Fitzwilliam Darcy era muito orgulhoso para admitir que estava apaixonado pela filha dos Bennet. Vanessa pensou. – Você sabe como a sociedade era preconceituosa naquela época, né, prof?! Muito preconceituosa, e orgulhosa, patriota, essas coisas. Sim, ela sabia a resposta certa. E por que não respondeu? Não faria bem para a imagem de rainha da escola ser vista como a nerd de literatura, concordam?! Zac balançou a cabeça e olhou para o chão, caçoando da menina, mentalmente.

– Absolutamente errado, Hudgens, mais uma vez. Quando vai começar a ler os livros indicados?

– Ah, dá um tempo Campbell, é o último dia de aula!

– E é por isso que devo deixar você sabendo que está em recuperação de Literatura, terá que vir para a escola durante o verão.

– Você só pode estar brincando! – revoltou-se Vanessa. – Até parece que eu colocarei os pés nessa escola nas férias!

– Bom, não tem escolha. Ou vem, ou é reprovada. Mas vamos continuar com a aula. Quem poderá responder à pergunta que Vanessa não foi capaz de responder? – o professor olhou novamente a sua planilha. – Monique Coleman?!

– Elizabeth Bennet foi preconceituosa por julgar Sr. Darcy e este orgulhoso por não admitir que a amava.

– Muito bem, veja um exemplo Vanessa, há pessoas que realmente lêem o que lhes é dito. Assim prosseguia o jogo de perguntas e respostas do professor.

Ao fim da aula:

– Como hoje é a nossa última aula, devo informar a vocês que terão que ler um livro no período de férias – dizia o professor, meio ao burburinho formado após falar sobre o livro de verão.

– Ei, não terminei de falar ainda.

– Qual é galera, vamos respeitar o professor?! – Corbin levantou em sua carteira. – Na moral, cala a boca aí. – Zac riu do jeito de seu amigo e Monique sorriu para Corbin. A classe se acalmou.

–Obrigado Corbin. Continuando...Vocês lerão a peça ‘Cyrano de Bergerac’ de Edmond Rostand e no primeiro dia de aula isso vai ser cobrado, tá legal?! – continuava Campbell. – Agora saiam da minha sala! (: – disse após o sinal tocar. Vanessa saiu da sala de aula possessa. Recuperação de Literatura? Gina a mataria quando soubesse, encontrou Miley conversando com Drew e juntou-se a eles.

– Nossa Vane, o que aconteceu? Que cara é essa – perguntou a amiga rosa.

– Nada, Miley, deixa pra lá. Oi Drew – cumprimentou o amigo jogador de basquete.

– Oi Vanessa – disse Seeley, galanteador – Estava falando com a Miley sobre a festa que vai ter lá em casa hoje. Meus pais tão fora da cidade e precisamos comemorar a chegada das férias de verão!

– Você pensa em tudo mesmo, não é Drew? Uma festa! Era justamente o que eu estava precisando!

PAUSE! Cara, tenho que concordar com a nossa protagonista nessa parada de ‘justamente o que ela estava precisando’. Porque ela realmente precisava daquela festa. Bom, não daquela festa em si, mas do que aconteceria na festa (que eu sei, você sabe, nós sabemos o que é. Ou não). Geralmente, jovens tem o costume de dizer, ‘Essa festa promete’. E geralmente, a festa nem é tão boa, ou tem tantos acontecimentos assim. Mas aquela festa, ahh, aquela festa prometia. Acredite quando eu digo que a partir daquela noite, as coisas definitivamente não seriam as mesmas.

– Ótimo, então eu espero ver você lá, morena. – respondeu o jogador. – E você também Mileyzinha. – Drew beijou a bochecha das duas e seguiu seu caminho.

– Aaaai, ele é um gaaaato! Gata-garota, a gente não pode perder essa festa!

– E não vamos, Mi. – afirmou a morena. - Drew disse que toda a escola estará lá, dos nerds a nós, a elite.

– Argh, isso significa que Brianna também vai. Mas o que é um piolho na cabeça de um macaco, certo?

– Han? – Miley parecia confusa.

– Quis dizer que ela é um mero detalhe, Miley. - Ah, certo, haha, o seu jeito de falar é tão...

– Peculiar? – sugeriu Vanessa.

– Han? – Miley perdeu-se novamente.

– Miley, vamos deixar essa conversa para lá e falar de nossas unhas? Quem sabe você consegue acompanhar assim?

– Adorei a idéia, Vanessinha... fiz a minha ontem, cor jabuticaba, gostou?! – perguntou mostrando as unhas para a morena.

Enquanto isso, do outro lado da escola.

– Cara, viu só, aquela garota é uma verdadeira porta! – Zac conversava com Corbin.

– Confesso que até eu sabia aquela resposta! – Corbin respondeu. – Mas dá um desconto né, Zac? Uma garota não pode ser bonita e inteligente ao mesmo tempo.

– Ah, você tá delirando. Acredito que exista sim alguém inteligente e com uma aparência beeem agradável. – afirmou Zac.

– Mas você é um palerma mesmo, né?! As duas garotas mais gatas da escola dando o maior mole pra você, e tu pensando em alguém inexistente?! – ria-se Corbin.

– Que nada, esse alguém virá, você vai ver!

– Tá legal, continua nessa sua crença ingênua. Mas enquanto esse alguém não vem, que tal aproveitar a solteirisse na festa do Drew de hoje à noite?

– Não posso, tenho que ficar com a minha irmãzinha, ela iniciou o tratamento hoje. – disse desanimando-se.

Stella, era a irmã mais nova de Zac. Tinha 7 anos, e carregava muito peso para uma criança de tão pouca idade. Sua família havia descoberto há alguns meses que sua caçula tinha câncer no sangue, e logo trataram de ajeitar as coisas para um tratamento eficaz. Era triste ver alguém tão novo, tornar-se tão frágil e incapacitado.

– Ei, cara, não esquenta. A Stellinha é forte, vocês vão ver que tudo vai ficar bem. É como na música ‘Every little thing is gonna be alright’ – cantou Corbin, citando Bob Marley e despertando um sorriso no amigo

– Aquele maconheiro genial sabia do que tava falando!

– Nossa, começou a cantar tão cedo? Guarde para o ensaio depois da aula – Ryne aproximava-se.

Os amigos conversaram até o sinal bater e eles serem forçados a entrar em suas respectivas salas de aula. Sinal do fim da aula tocou e todos começaram a cantar e dançar. Mentira, mas todo mundo ficou feliz. Então... Antes de continuar a história, gostaria de de esclarecer que na festa do Drew (infelizmente) não haverá a presença de nenhum stripper, sorry gente. Voltando a história.

No estacionamento da Boston Union High School, a falcatrua começara.

– Vem logo, Tiff, antes que elas cheguem – dizia Brianna descendo as escadas para o estacionamento ao ar livre.

– Calma Bri, não posso ir muito rápido com essa sandália caríssima, custou muuuuito no cartão do papai.

– Argh, que inútil! – esbravejou – Deixa que eu mesma faço essa droga. Me dá a faca! – Calma gente, ela não iria esfaquear ninguém. Tiffany deu à Brianna um canivete.

– Um canivete? O que você é? Uma escoteira?! Cadê a faca que eu pedi?! - Desculpa, Bri, mas não tinha jeito de trazer uma faca pra escola, a minha bolsa é muito pequena e não poderia ficar carregando uma faca por aí. As pessoas poderiam notar.

– Que viesse com uma bolsa maior, sua idiota. Brianna chegou perto de um conversível rosa e fincou a ponta de corte do canivete nos pneus do lado esquerdo. - Ai ai, vamos ver como aquelas garotas se saem na caminhada de volta para casa. – e gargalhou como um cientista maluco. – Vamos, elas já devem tá chegando. – falou, apressando-se a deixar a cena do crime.

Miley e Vanessa desciam as escadas para o estacionamento, ainda conversando sobre suas unhas.

– É, aquela idiotinha da manicura arrancou-me um bife! – reclamava Miley.

– Sabe como é, né, amiga? Não se pode ir em salão que não seja confiável. Eu, por exemplo, faço unha e cabelo no Deluxe, e por isso nunca perco a pose (: - Vanessa deixava claro.

– Com certeza, vou passar a frequentar apenas o Deluxe, também. – Miley abriu a porta de seu conversível, sentou-se no banco de motorista e ligou o motor. Vanessa sentou-se ao seu lado.

– Faz muito bem! – a amiga acelerou, e o carro andava como se estivesse em cima de pelotas.

– Ué, o que aconteceu? – Miley desligou o motor, e desceu do carro para averiguar a situação. – Não acredito, alguém dilacerou os pneus do meu carrinho.

– Mas isso é ridículo. – disse Vanessa saindo do veículo também. – Quem faria uma coisa de... Ah, Brianna!

– Acha que foi ela?!

– Claro, aquela bezerra desmamada tem muita inveja da nossa popularidade, Miley, não sabe disso? Com certeza foi ela!

– Mas e agora, o que a gente faz? – perguntava Miley perdida.

– Eu poderia trocar o pneu, mas tem muita gente por aqui. Não cairia bem alguém como eu fazendo trabalho de mecânico... – pensou alto.

– Sabe trocar pneu?!

– Não, não sei não. – mentiu

– Acho que teremos que ir andando para casa por hoje. – disse com um pouco de raiva da situação em sua voz. Miley riu.

– Está brincando, não é?!

– Bem que eu gostaria.