Another Wall

Como num Pesadelo


Jake não queria passar por aquilo de novo... Ele sabia que Ella ia dar um jeito de infernizar sua vida mais um pouco. Ela recorreu da decisão, alegando que ele a havia traído descaradamente, e que estava pedindo o divórcio por motivo torpe.

Por isso colocou o mesmo terno preto, mas ficou sentado na frente da penteadeira. Ouviu a outra pessoa andar pelo quarto, até o closet. Ouviu ela mexer nas gavetas e nos cabides. Então ela veio, o perfume recem-passado tomando o ambiente.

Ela usava uma saia mid de um tecidos algodão pesado negra e uma camiseta da mesma cor, com discreto decote meia lua. Uma coleira bem fina com um pingente de lua e um par de tênis de couro antigo. Prendeu a parte da frente dos cabelos ruivos em quatro tranças, que prendeu para trás, deixando o resto do cabelo solto. Por fim, lápis de olho e máscara de cílios.

—Tem certeza de que vai comigo?

Ela parou o que estava fazendo, mirando os olhos cinzentos no rosto do guitarrista.

—Não quer mais que eu vá? Eu posso te deixar no tribunal e te buscar quando tudo acabar.

No tempo que Jake demorou a responder, a ruiva se apoiou na penteadeira, deixando as mãos apoiadas ao lado do corpo. O fato do melhor amigo se esconder em sua barriga não surpreendeu muito. Jake odiava se sentir pressionado.

—Não quero ir...

—Não faça assim, bearboy.-Suspirou, acariciando os cabelos, agora mais curtos.-Não pode fazer assim, sabe o que seu psiquiatra disse. Não pode abaixar a cabeça.

—Mas eu não quero... Ela vai dizer coisas ruins...

—O que Ella vai dizer naquela sala é verdade, Jake?

—Não...

—Então do que está com medo, Jake? Não pode deixar que ela acerte você desse jeito, com gritos e mentiras.

—Mas eu não quero...

—Está com medo de chorar na frente do juiz?

—Uhum...

—Já não conversamos sobre isso? Chorar não é feio. E também já entendemos que o Jake não é obrigado e engolir sapo. Certo?

—Certo...

—Ótimo. Vem, deixa eu arrumar esse cabelo, está uma bagunça.

Meio contrariado, deixou a ruiva arrumar o cabelo e então seguiram para o tribunal no Jipe dela. Elizabeth lhe deu uma arquear a de sobrancelha quando chegou acompanhado por outra mulher.

—Izzy, essa é Amelyne Brooks. Ame, essa é Elizabeth Connor.

—Muito prazer, doutora.-A ruiva lhe deu um sorriso tímido.-Acha que é uma boa ideia?

—Ainda bem que não sou paga pra achar nada... Mas eu tenho certeza de que ele entrar sozinho naquela sala de audiência não vai ser boa ideia...

A morena passou o processo para a ruiva, que não deixou o amigo espionar. Mas pelo ódio que ele viu acender nos olhos tempestuosos, decidiu que não queria saber o que Ella tinha dito.

—Jake... Eu vou fazer uma ligação e já te encontro lá dentro, certo?

—Certo... Mas vai estar lá.antes de a audiência começar, não é?

—Claro, é bem rápido. Eu prometo.

Eles foram para dentro da sala, e Jake ganhou um olhar nada amigável da juíza substituta. Sentou em seu lugar quietinho, e ficou tão enfiado em si mesmo que não ouviu a melhor amiga voltar para dentro da sala. Mas Elizabeth e Amelyne trocaram olhares intensos, que não passaram despercebidos pela magistrada.

A porta foi aberta com barulho, mas Jake bem se virou para olhar. Dessa vez Ella havia caprichado. O primeiro degrau que ela tivesse de subir iria partir aqui vestido rosa ridiculo ao meio, ou fazê-lo subir até mostrar a calcinha. Se sentou de frente para o ex-marido e deu A cruzada de pernas.

A juíza chegou a ter de segurar o riso quando o homem simplesmente tocou o fodasse para aquela cena, que teria abalado muitos corações.

—Bom, declaro aberta a audiência de recuso do divórcio de Ella Cole e Jake Pitts.-A voz dela soou pela sala, e viu como o homem parecia pequeno.-Senhor Pitts, estou com a sentença dada pela minha colega da primeira turma em mãos. Apesar de ter sua assinatura em concordância, vou lhe perguntar: o senhor concorda plenamente com a divisão de bens aqui estabelecida, tendo em vista que tal acordo não parece lhe beneficiar de forma alguma?

—Sim meritissima. Como disse á vossa colega, não é preciso adquirir vantagem sobre a outra pessoa. Se tiver certeza de que o mérito por suas conquistas é seu, basta manter sua dedicação que irá recuperar tudo sem ser mau caráter ou desonesto.

A mulher finalmente parou de olhá-lo de forma carrancuda.

—Então, senhorita Cole.-Ela viu a mulher engolir em seco.-Alem da sentença, eu tenho aqui provas trazidas por você, sobre a suposta traição de seu ex-marido.-O olhar de ódio da atriz foi diretamente para aquela meiga figura ruiva que estava sentadinha nos bancos.-Assim como tenho provas de suas traições, e de que a relação entre Jacob Mark Pitts e Amelyne Brooks é puramente fraternal até o presente momento. Também tenho aqui todos os comprovantes de que recebeu, sem um centavo faltando, tudo o que é seu segundo esta sentença. O que me leva a crer que o senhor Pitts foi quem arcou com todas as despesas necessárias para que a divisão dos bens fosse feita. Mas eu gostaria de uma confirmação disto.-Voltou a olhar o homem.-Pois não permitiu que sua advogada colocasse este argumento nos autos.

—Sim senhora... Achei importante resolver tudo logo, para que cada um pudesse viver sua vida e não tivéssemos mais dores de cabeça ou discussões desgastantes.

—Excelente. Bom, a parte contraria tem algo a declarar?

Então começaram as acusações. A magistrada viu quando a ruiva simplesmente levantou de seu lugar e foi colocar as mãos nos ombros do homem,que até o momento tivera sido impecavelmente acertivo e educado. Viu a preocupação que acendeu nos olhos dela, depois que o viu baixar a cabeça perante os impropérios da atriz.

—Jake?-Chamou baixinho. Já na onda importava com o fato de Ella estar apontando o dedo e tendo "Vadia" como a palavra mais bonita dirigida a si.-Jake, está me ouvindo? Respire. Está tudo bem... Vai acabar logo. Calma.

A juíza fez sinal para seus guarda retirarem a mulher histérica do local, e deu uma olhava severa ao advogado, que correu atrás de sua cliente para tentar apaziguar os ânimos. Mesmo sem poder fazer isso, ergueu-se do tabalado, se aproximando dele.

Como uma criança, o homem abraçou a amiga, se escondendo em sua barriga. Chorava baixinho, quase sem soluçar.

—E-eu disse que e-eu não que-ria isso... E-eu quero ir pra ca-sa... Por favor... Por favor, Ame... Por favor...

—Tudo bem, bearboy...-As duas juristas olhavam a cena abismadas.-Tudo bem, eu estou aqui. Ninguém pode machucar você agora... Tudo bem... Vamos, seja meu menino bonzinho. Só mais um pouquinho, Jake. Isso vai acabar logo. Mas tem que ser bonzinho. Respire...

—Não... Eu quero casa... Eu quero casa... Eu quero minha mãe...

A ruiva fechou os olhos com força e limpou as lágrimas que lhe escorreram discretamente. Segurou o soluço para que ele não percebesse.

—Eu sei, meu príncipe. Eu sei que quer tia Carolyn de volta... Mas não pode... Imagine? Sua mãe aqui hoje? Eu daria qualquer coisa por essa cena.

"Qualquer coisa menos você."

—Minha mãe ia ficar muito zangada...-Se deu uma risadinha em.meio ao choro.-Ella não era tão corajosa perto dela...

—Oh, é claro que não. Tia Carolyn era uma loba.-A ruiva conseguiu se afastar o suficiente para limpar o rosto do amigo, deixando um beijo em sua testa, arrumando os cabelos que estavam bagunçados pelas vezes em que ele passou a mão de forma nervosa.-Pronto, gosto assim. Mesmo que esse sorriso seja muito pequeno pra você. Está tudo bem, certo? Vamos só terminar isso aqui. Eu prometo que vamos comprar mais amoras congeladas antes de ir pra casa.

—E mirtilos?

—Sim, e mirtilos.

—E mel?

—Jake, tem mel em casa...-As outras duas quase riram da carinha sem vergonha que ele fez.-Jacob! Você comeu todo o mel?-Ele acenou positivamente.-Sua nutricionista vai me matar!

—Não vai nao... Eu não conto pra ela que você me deu mel...

—Eu não dei! Você pegou na dispensa! É um urso mesmo...-A porta abriu e aquela mulher fatal do começo da audiência parecia uma desvairada, com a maquiagem borrada e os cabelos totalmente arrepiados pelos seu teatrinho. Tendo voltado a sua cadeira, a magistrada viu o homem enrigeceu na cadeira, e voltou para aquela expressão de mais puro desalento.-Ultima parte, certo? Vamos lá, está valendo seu smootie favorito. E provavelmente um mês de castigo sem mel.

—Certo...

—Consegue sozinho? Ou prefere que eu fique aqui?

—Fica aqui... Por favor...

Mais um monte merda dita, e a sentença final foi selada. Ella ainda tomou um prejuízo de três indenizações, que a juíza a fez transferir na mesma hora. Então todos saíram do tribunal.

Se despediram de Elizabeth e foram até um distribuidor de frutas no inicio de Los Angeles.

—Quer ficar no carro enquanto eu compro as frutas?

—Quero...

—Você vai ficar bem até eu voltar? Não vai fazer nenhuma bobagem?

—Vou com você...

E desceu do veículo. Entrelaçou os dedos aos dela, e não soltou em nenhum momento. Com as caixas térmicas lotadas, voltaram para Arts District. Surpreendentemente, os rapazes da banda já estavam na casa, e Jinxx havia acabado de fazer pipoca.

Amelyne deixou Jake sob vigia dos rapazes e foi fazer os smooties na cozinha. Estava tudo caminhando bem, quando Jake franziu a sobrancelha.

—Como entraram aqui? Nós dois passamos a manhã inteira fora.

—Com a chave reserva.

A resposta de Jinxx veio acertiva. Até demais.

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"-Por um acaso ela te contou o que fez? Todos esses anos que te manteve nas sombras? Quantas vezes ela dormiu com seu melhor amigo? Aposto que ele ainda era casado quando começaram a foder!-Havia um quê de satisfação insana naquele sorriso de Ella.-Hein, ruiva? Já contou pra ele que está mudando de vida para dormir com a mulher que dava por esporte para o melhor amigo dele?"

•~❦~•

Jinxx foi o único deles que casou nas vias de fato dentro dos últimos cinco anos. Casou, separou e agora tem uma nova namorada.

Jinxx era quem sumia sem dar nenhuma explicação, e quando voltava estava sempre disposto a conversar ou arrastá-lo pro psiquiatra.

Jinxx sempre Sabia quando tinha algo errado.

Jinxx não sabia porra nenhuma. Ela sabia. Ela cuidou dele.

Amelyne deu um jeito de preencher o espaço dele naqueles cinco anos. Ela dormiu com outro homem.

—Jake!

E já não lembrava de mais nada, além de acordar com aquele bipe desgraçado ao lado daquela cama desconfortável com cheiro de álcool acético.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.