Sem nem percebermos, desse dia em diante, eu e ele nos falávamos todo dia e acabamos nos tornando melhores amigos. Nossa formatura foi bem-sucedida, apenas um reprovado, um Uzumaki, mas um dos nossos professores se sentiu quase na obrigação de graduar ele e assim o fez, mas não me importei, pois eu sabia que Naruto tinha potencial, ele só brincava muito e as pessoas acabavam não levando ele a sério. Falo isso porque já o tinha visto treinando duro sozinho na floresta quando eu ia lá sozinha e ficava no topo de alguma árvore observando a vila e apreciando o silêncio, que geralmente era interrompido por ele, mas eu não falava com ele naquele tempo. Nos primeiros meses de amizade eu comecei a ir à casa do Kiba, a gente brincava com o Akamaru, dávamos banho nele, eu almoçava lá e às vezes ele almoçava na minha casa. Minha mãe não ligava muito para os meus amigos, ela gostava quando eu tinha companhia, assim, não precisava me aturar. Kiba era praticamente meu único amigo. Alguns anos se passaram e nossa amizade foi ficando cada vez mais forte. Cooperávamos em muitas missões de Rank D e outras coisas banais que o Sarutobi nos mandava fazer. Depois de exames bem tensos e com vários reprovados, nos formamos e viramos Chunnin, e passamos a fazer missões de Rank C e algumas de Rank B, a maioria delas, juntos. No dia que ele completou 16 anos, 7 de Julho, fez uma pequena festa no Ichiraku Ramen e convidou alguns amigos, inclusive eu. Ele me apresentou a Hinata, uma garota tímida que gostava do Naruto e não tinha coragem de falar para ele – o que eu acho que não é preciso, pois todos já perceberam isso, não sei por que ela esconde – e, também, comia ramen como ninguém, o Neji, um primo muito bonito e misterioso da Hinata – que eu estava curiosa para conhecê-lo melhor, - o Shino, um garoto meio estranho e reservado que a única coisa que falou no restaurante foi um “itadakimasu” quase inaudível, a Sakura e a Ino, as quais eu quase sentia vontade de matar quando faziam alguma piadinha com Kiba. O cabelo da Ino é maior que o meu e mais claro, e o cabelo da Sakura é bem diferente, rosa e curto. O Naruto era o único que eu conhecia ali. “Conhecia”, entre aspas, pois eu só falava oi, tchau, boa noite, bom dia, essas coisas... - Anna, você vai querer algo para beber? – Perguntou-me Neji que estava sentado no banquinho ao lado do Kiba. Ele tem lindos cabelos longos e castanhos, é bem diferente, porém bonito. Era estranho vê-lo falando assim, normalmente eu o via sempre calado e só falava quando era necessário. Observei que o Kiba lhe lançou um olhar que eu quase senti medo. Eu não sabia bem o que falar então neguei. - Não, Neji, obrigada. Hinata, que estava sentada no banco ao meu lado esquerdo soltou uma pequena risadinha. Não entendi bem o porquê, apenas ignorei. O Naruto estava do lado da Hinata, ele olhava muito para ela, mas quando ela o via observando-a ficava vermelha e desviava logo o olhar. Já eu, não escondia que achava o Naruto muito bonito, ele virou meu segundo melhor amigo. Não me entendo, acho todos os meus amigos bonitos, não sei se isso é atração ou é, sei lá, o poder de uma amizade carinhosa. Todos estavam tão bem vestidos que quase me senti uma mendiga, estava sem maquiagem e com calça ao invés de um vestidinho fofo como as outras meninas que estavam conosco. Eu sempre usava roupas simples, qualquer coisa combinada com meu coturno ficava legal, a meu ver. Minha mãe não se importa muito comigo. É como se ela morasse sozinha. Meu quarto era isolado no segundo andar da casa e o dela era no térreo. Mas essas pessoas são tão legais que acho que não dão a mínima para isso e me sinto mais confortável pelas roupas que uso. - Ichiraku, poderia me trazer mais um ramen, por favor? – Pediu Hinata ao dono do restaurante. Era incrível a quantidade de comida que cabia nela. - Hinata – advertiu Neji, - será o seu quinto, tem certeza que quer? - Sim – Hinata ficou muito vermelha quando ouviu a risada do Naruto, porém sorriu. Brincadeiras iam e vinham toda hora, foi realmente incrível, peguei amizade com todos e pagamos a conta com o dinheiro que recebíamos nas missões. Quando saímos do Ichiraku já estava tudo fechado na cidade e fomos para o parque brincar de fazer jutsos. No caminho percebi uns olhares estranhos vindos tanto do Kiba quanto do Naruto e do Neji. Às vezes acho que o Naruto me olha do mesmo modo que ele olha para a Hinata, mas creio que seja somente impressão. Talvez ele ache legal o fato de eu não tê-lo tratado mal como muitas trataram. Quando chegamos no parque que ficava perto da nossa antiga academia estudantil, nos reunimos em forma de roda para fazermos uma brincadeira. Sakura foi para o centro da roda e ditou as regras: - Vamos brincar de Jutso Secreto. É assim: eu escolho alguém para fazer um jutso aqui no meio da roda. Pode ser qualquer um, desde que seja realmente um jutso que utilize chakra. Essa pessoa deve dedicar o jutso para alguém. E esse alguém será o próximo a fazer o jutso. Entenderam? Todos concordaram com a cabeça e a Sakura indicou o seu alguém. - Kiba, já que você é o aniversariante do dia, você começa. - Mas, já passou da meia-noite, não sou mais o aniversariante – disse Kiba tentando se livrar da brincadeira. - Não vem com essa, você acabou de fazer aniversário, será o primeiro – Sakura foi até ele e o puxou para o centro do círculo e ficando no lugar que ele estava, entre mim e Naruto. Senti uma repentina vontade de esmurra-la por ter arrastado o Kiba daquele jeito, mas logo passou. - Eu dedico esse jutso à minha melhor amiga Anna – Kiba olhou direto para mim e piscou um olho. Agora sei como a Hinata se sente. Foi muito desconcertante. Kiba fez uns símbolos tão rápidos com as mãos que não deu para decifrar. Em dois segundos ele estava vestido igual a mim. Mas não só a roupa, ele... era eu... Como ele consegue fazer isso? Em poucos segundos ele voltou a ser o mesmo de sempre, aquele que estou acostumada a ver todo dia. Com o próprio corpo, magro e alto, com sua calça e camisa pretas, que lhe caíam tão bem. Nossos amigos aplaudiram e ele veio ao meu encontro, pensei que ele ia me abraçar, ou me beijar, ou fazer qualquer outra coisa comigo, mas aí lembrei das regras do jogo, era minha vez. Eu saí de onde estava, deixando espaço para o Kiba e fui para o centro da roda. Eu não tinha a mínima ideia de que jutso fazer, muito menos a quem dedicá-lo. Então decidi fazer algo simples que aprendi com Gaara quando ele veio fazer o exame chunnin e ficou hospedado na minha casa com seus dois irmãos. Sei que minha mãe não aprovou, mas como eu e ela mal nos falamos, ela acabou que nem se manifestou e eles ficaram lá. - Dedico esse jutso à... ao Neji – falei meio sem graça, pois meu plano original era dedicá-lo ao Kiba. Mas parece que o Neji e todos os outros ficaram surpresos com minha dedicatória. Entendo, eu também fiquei, mas não vi outra pessoa a quem poderia dedicar. Fiz alguns poucos símbolos e utilizei a areia do parque para fazer um desenho no ar. No desenho, via-se a imagem que eu e Kiba vimos quando chegamos ao Ichiraku Ramen e seus amigos estavam lá, sentados de costas para a rua. Não consegui segurar por muito tempo, mas foi tempo suficiente para todos aplaudirem e elogiarem. Neji fez um jutso no qual fazia um kaiten e direcionava o campo magnético que se formava ao seu redor para cima, deixando pairar por pouquíssimos segundos uma bola azul e brilhante acima de sua cabeça. Ele dedicou o jutso à Hinata, que fez surgir em seus punhos dois leões incrivelmente azuis. O jogo foi passando até que Shino dedicou seu jutso ao Naruto, utilizando cupins que ele botou para comerem pedaços das calças do amigo e foi sua vez. Naruto, com seu jeito brincalhão e gentil de ser, fez primeiro o jutso. Ele fez uns símbolos e então se transformou em uma versão feminina, nua, dele mesmo. Ele trajava apenas um biquíni, que, em minha opinião, era pequeno demais. E então falou com uma voz a mais dengosa que já ouvi na vida, fazendo biquinho: - Eu dedico esse Oiroke no jutso ao Neji – mandou ao Hyuga um beijo e voltou para sua forma normal. Todos riram da reação do Neji, que ficou tão vermelho que seus olhos pareciam não combinar mais com seu rosto. Ficamos mais algumas horas conversando e contando piadas no parque e nos despedimos. Estava quase amanhecendo, os que restaram foram para casa e eu fui com Kiba. No caminho até lá ele ficou bem calado. Mas eu não aguento tanto tempo assim, então falei: - Gostou do seu dia? - Muito. – Ele disse ainda olhando para o chão. - Você me parece triste... - Não estou – disse ele olhando para mim e pude vê-lo esbanjando aquele lindo sorriso que eu amava tanto e que me deixava sem jeito. - Eu gostei muito dos seus amigos. Eles foram legais comigo. - Eles são legais com todos. Obrigado Anna. - Obrigado? – Perguntei, confusa. - Obrigado por existir. Ele me pegou de surpresa com isso. Viramos a esquina para entrar na minha rua, ele parou de andar e virou para mim. - Vamos, - falei. Fui obrigada a parar também, senão esbarraria nele. O que, pensando bem, não seria ruim... - Sua mãe e sua irmã devem estar preocupadas. Aposto que o Akamaru também, você costuma levá-lo sempre, e hoje não levou... - Verdade, mas eu queria falar com você. “Meu Deus, o que ele quer falar comigo?” pensei. “Será que vai ser agora? Meu primeiro beijo vai acontecer agora? Não, ainda está muito cedo. Não quero que seja aqui. Ah, tanto faz, sendo com ele, tudo bem.” - O que você quer falar comigo? - Quer saber... – ele disse olhando para os lados e passando a mão na nuca. – Deixa para lá, amanhã eu falo. - Não, agora que começou, termine, você sabe que não gosto disso. – Eu odiava quando uma pessoa começava a falar algo e desistia no meio do caminho. Ele respirou fundo, ainda olhando para os lados e falou: - Amanhã vou dar banho no Akamaru, poderia passar lá em casa às 9 da manhã? Eu sabia que não era desse o assunto que ele deixou de falar, mas já que ele não queria me dizer agora, devia ter um motivo, então deixei como estava. - Claro que posso. Continuamos andando e paramos na porta da minha casa. Esta tem três andares, duas salas, uma cozinha, um quintal, duas suítes e mais dois outros quartos. É meio grande para apenas duas pessoas, mas foi a melhor que minha mãe encontrou, e como meu pai ganhava bem sendo o braço direito do Kazekage, ainda tínhamos dinheiro deixado por ele o suficiente para viver em ótimas condições. Kiba mora três casas à frente, então sempre me deixa em casa e depois vai para a sua. Ele me agradeceu pelo dia com um abraço bem apertado, pegando nas minhas costas com uma mão e acariciando meus cabelos com a outra. Eu adorava aquele abraço, era aconchegante. Eu sentia os músculos da sua barriga na minha e pegava nas suas costas. E então ele sussurrou um “boa noite” no meu ouvido e foi para casa. Entrei e fiquei deitada na cama, me torturando, pensando nas mil possibilidades de iniciativa que eu poderia ter tomado.