Corey estava escorado ao batente da porta, os cabelos lhe caiam na altura dos ombros e os olhos antes tão serenos possuíam uma angústia sem tamanho... Do mesmo modo que abri, fechei a porta.

Minhas mãos tremiam, tremiam tanto que foi quase impossível girar a chave para trancar a porta... Meu coração batia tão forte que eu podia ter certeza de que estouraria meu peito.

– Eu não vou sair daqui até você abrir. – disse a voz do outro lado da porta e recebi uma forte onda de emoções e fui obrigada a segurar firme na maçaneta tendo-a como apoio.

– Pois então espero que não se importe de passar as noites no chão duro. – ralhei com a voz trêmula, mas que me fazia mais parecer gripada à nervosa.

– Dez anos de noites mal dormidas... Não me importo com o chão duro. – rebateu calmo, mas eu podia sentir a dor através de sua voz.

– Onze. – o corrigi e bati a cabeça contra a porta tentando amenizar as dores que já começavam a aparecer.

Minhas mãos começaram a suar, não era um bom sinal, não era...

– Anna não adianta o quanto você tente adiar essa conversa, ela irá acontecer! Eu não vou desistir de você por que... Por que... - caminhei alguns passos para trás.

“Não diga! Não diga” meu cérebro vociferava enquanto eu já sentia o chão rodar sob meus pés.

– Eu te amo Anna. – ele terminou por dizer e eu cai com as pernas moles.

Náuseas me atingiram e um grito de pavor escapou de meus lábios, enquanto eu apertava meu abdômen com força descomunal... Gritei mais uma vez perturbada. Pelo visto as reações ao “amor” tinham se intensificado...

Acalmei-me cantarolando a cantiga de ninar mentalmente.

Meus olhos estavam molhados, a respiração falhava e as mãos estavam pegajosas pelo suor excessivo... Meu corpo tremia todo, não por frio, nem doença, mas sim, medo, um medo descomunal, pânico, pavor...

– Anna! Anna! Você está bem? Responda-me! – ouvia a voz desesperada ao longe, mas não conseguia responder, minha fala estava travada e a sensação de desmaio me rondava- Anna se não responder terei que arrombar a porta! – exclamou mais grave e então senti minha garganta se fechar, nem o grito ultrapassava...

Ouvi um estrondo, senti um espasmo percorrer-me o corpo e as imagens tornaram-se distorcidas para meus olhos... Contudo, ainda podia ver os olhos gélidos, como o céu da Antártida, me encarando.

Seus braços apoiaram meu corpo inerte, e o silêncio predominou... Como alguém que volta do coma prolongado, fui me recuperando aos poucos, quando a garganta se abriu tossi exasperada e a visão se tornou clara. Os sintomas foram diminuindo gradativamente, até finalmente eu estar normal.

– Anna? – chamou Corey passando a mão em meu rosto, tirando os cabelos que o cobriam.

– É melhor você ir embora. – disse tentando levantar de seu colo, ele não me permitiu e só então percebi que estávamos no sofá.

– Você estava tendo espasmos, quase vomitando... Praticamente convulsionando até agora e realmente espera que eu vá embora? – perguntou com uma sobrancelha arqueada me juntando mais para si.

Eu sabia do quanto aquele homem podia ser persistente, eu sabia que não importava o quanto eu tentasse expulsá-lo do apartamento ele continuaria fixo ali, e se por acaso eu o enxotasse de minha casa ele me levaria pendurada em seus ombros... Corey nunca desistia, e essa era uma qualidade e defeito seu que eu tanto odiava.

– Tudo bem, apenas deixe-me descansar então. – pedi e ele assentiu aliviado ao mesmo tempo em que caminhava comigo nos braços até o quarto.

Senti ser depositada sobre uma superfície macia e ser coberta pelo edredom pesado... Senti também seus lábios deixando um beijo casto em minha bochecha, fechei os olhos quase que automaticamente e demorei a dormir.


Acordei batendo a mão no maldito rádio relógio que insistia em tagarelar na manhã... Surpreendi-me com a risada alta e em bom tom que soou pelo quarto, eu conhecia aquela risada. Pulei na cama levando a mão ao peito pelo susto tomado.

– Desculpe se te assustei. – disse cabisbaixo desencostando-se da parede e andando até minha cama.

– Você podia ir embora? – perguntei encolhendo-me até encostar na cabeceira.

– Eu não vou embora até conversarmos! –assegurou-me e sentou-se aos meus pés.

– Fale de uma vez. – disse me levantando pelo outro lado da cama e indo até o armário pegando algumas peças de roupas de lá, olhei de canto para a caixa que ontem estava com as fotos pelo chão, tinha sido organizada.

– Você está doente? – perguntou virando-se para mim.

– Não. – respondi segura ainda olhando para a caixa organizada. – Por que estaria?

– Digamos que a cena de ontem não é digna de uma pessoa normal. – ri ironicamente olhando para ele.

– Você me faz doente Corey! – exclamei assustando-o. – Então por favor, ouça-me e vá embora, vá embora antes que eu vomite na sua cara! – doía mentir para ele, doía assim como no dia em que eu o deixei.

– Pois então vomite! – disse com mesma intensidade e levantou da cama andando até mim. – Não acredito em nenhuma de suas palavras Anna, desde aquele dia eu deixei de acreditar nelas. – ele estava a alguns passos de distância.

– Deveria acreditar... Deveria. – sussurrei para mim mesma dando passos para trás e encontrando a parede em minhas costas.

– Sabe por que eu não acredito? – perguntou e sem esperar minha resposta voltou a dizer. – Porque infelizmente Anna seus olhos não são bons atores como sua boca, e tenha certeza que eu aprendi desvendar teus olhos antes de desvendar tuas palavras... – ele se aproximava feito um leão, encurralando-me na parede e passando os braços na superfície plana deixando-me presa a ele.

– Corey, não adianta, não adianta... – o pânico começava a aparecer em meio a minhas células borbulhantes. – Nada que você faça não vai adiantar, ou melhor há uma coisa, vá embora, suma, esqueça da minha existência! – pedi suplicante não querendo mais ter aquela sensação.

– Eu preciso entender o que aconteceu com você. Nós vivíamos tão bem e bastou eu lhe dizer aquelas malditas palavras e você foi embora... – sua cabeça balançou negativamente algumas vezes, depois levantou-se encontrando-me - Anna, eu estive visitando especialistas. E não, não me considere um idiota por te feito isso, eu apenas, eu estava visitando especialistas para mim mesmo e acabei descobrindo algo. – as palavras dele soavam pesadas enquanto eu era obrigada a encarar seus olhos.

– EU NÃO QUERO SABER O QUE VOCÊ DESCOBRIU! – gritei desesperada esmurrando seu peito, ele deu alguns passos para trás e sentou na cama atrás de si.

– Anna! É sério. Eu vou estar sempre ao seu lado, eu vou te ajudar a superar, sempre... Agora chega disso e venha cá. – seu lado foi apontado para que eu sentasse preferi continuar de pé. – Sente-se por favor. – acatei a seu pedido.

– Chega de enrolar! – pedi e ele se virou para mim.

Pegou minhas mãos nas suas e examinou perfeitamente minhas unhas arredondadas sem esmalte... Alguns minutos se passaram e ele voltou a me encarar. Os olhos tão claros que poderiam ser comparados à calmaria do mar-morto.

Era difícil admitir que devia ter esperado esse momento por 11 longos anos, anos que passaram ora numa lentidão profunda, ora numa rapidez inédita... Tanto tempo que custei para adormecer todos os sentimentos e bastou um olhar para tê-los acordados novamente.

Admirei seus cachos loiros desmazelados que roçavam na camiseta usada, tracei com os olhos a barba rala que pairava em seu rosto, parei por um momento em seus lábios nem grossos, nem finos, na medida perfeita... Feitos para colar-se nos meus.

Fechei os olhos inalando seu perfume, aquele perfume marcante, marcado em minha mente, o perfume tão conhecido que eu era capaz de reconhece-lo a metros de distância.

Era fato que Corey sempre esteve presente durante todos anos, mesmo que adormecido em cada núcleo das células de meu corpo... Corpo que clamava por tê-lo e mente que temia recebe-lo.