Era o sol. Naquele momento tudo parou. Os pássaros pararam de voar, o vento parou de soprar e os animais pararam de sussurrar. Parecia que até mesmo a gravidade tinha desaparecido. Eu estava flutuando. A cada segundo o sol chegava mais perto e a cada segundo eu flutuava mais. Eu queria dividir essa sensação com ele, mas quando virei para olhar para ele, ele já estava flutuando. Mas seus olhos estavam fechados e suas bocas estava aberta. Ele estava pálido e não demonstrava estar vivo. Tentei alcança-lo mas não sabia voar. Segundos depois de minha tentativa, notei que estava tudo bem. Ele ali, deitado no nada, sem vida. Isso é o que era pra ser. Então eu relaxei e deixei aquele calor tomar conta de mim. Aos poucos meus olhos perderam foco e minha boca fez um ultimo som.

Eu conseguia ver minha alma descansando e cada brilho de vida que saia de mim um brilho a mais nele. Conseguia ver sua pele ganhando vida ao mesmo tempo que eu entrava em estado vegetativo. Meus olhos iam se fechando e depois de um segundo vi seus olhos abrindo em surpresa. Conseguia ouvir sua respiração a cada batimento cardíaco meu que falhava. Eu estava olhando para o menino ao meu lado ganhar vida, quando ele me vê e estende a mão. Então escureceu.

Estava escuro. Tudo que eu via era escuridão e tudo que eu ouvia era sussurros. Sussurros não deveriam ser tão altos, deveriam? Mas talvez fazia sentido que os sussurros fossem tão altos, já que eles vinham da minha cabeça. Minha mente estava discutindo consigo mesma sobre algo entre o passado e o futuro.

Não estão preocupados que vou acordar? Eu acho que eles pensam que eu estou morta. E talvez eu estou mesmo morta. Talvez todos nós estamos e talvez, só talvez, isso é o que nos mantém vivos.

"Adeus" foi o ultimo som que meus ouvidos se permitiram ouvir. Um brilho de luz e depois novamente a escuridão.

Eu estava de volta na rua que estava no dia de natal, mas estava vendo por um outro ângulo. Eu estava sentada dentro da loja de frango frito, com um copo de café em minha frente. Pela janela, via a mim mesma sentada no chão. Vi a mulher velha indo embora e vi a pessoa que atendia a loja de frango frito. Ele era um menino de aproximadamente 19 anos de idade e estava no telefone, provavelmente com a família e a namorada, pois disse que logo chegaria alguém para trocar de turno e que ele estaria chegando em casa. Pelo visto ele estaria com seus amados na noite de natal. Eu fiquei feliz por ele. Então me lembrei que estava lá fora, e que logo começaria a chover e eu iria dormir. Fiquei me observando chorar e deitar no chão. Também vi, duas horas depois, um carro de neve me tirar dali. Antes de me retirar da minha cama simples, o senhor fez um sinal da cruz e me cobriu em um cobertor. Talvez eu tenha mesmo morrido lá. Talvez seja lá que ele tenha nascido, pois eu ouvi um choro de bebê assim que meu corpo foi carregado. Eu desejei esse bebê mais sorte que eu tive. Me conformei que não existia mais, e deitei no mesmo lugar que deitei na noite de natal. Ali era meu lar. Eu me encontrei ali. Nunca mais acordei, e foi o melhor sonho que tive.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.