10: Estrela

O local de encontro era uma colina onde Shinji, Kensuke e Touji costumavam acampar, mas nenhum deles estava presente, o céu já estava laranja quando Shinji começou a subir a colina, e no topo, perto de uma árvore cortada, Kaworu estava sentado.

Foi um daqueles momentos em que parece que não existe mais nada.

Kaworu estava murmurando “Ode to Joy”.

Shinji inevitavelmente sorriu. “Achei que nós tivessemos combinado depois do pôr-do-sol”. Disse se aproximando.

Mas a quinta criança já havia o notado. Ele continuou onde estava, apenas virou o rosto na direção de Shinji. “Dizem que o pôr-do-sol é algo a ser apreciado”.

Shinji deu de ombros meio sem jeito. “Acho que só casais fazem isso”.

O sorriso de Kaworu se tornou um pouco maior. “E o que nós somos?”

Shinji largou a mochila no chão. “Estranhos”. Respondeu sem pensar duas vezes, Kaworu riu.

Amigos. Companheiros. Pilotos de Eva. Colegas de classe. Colegas de trabalho. Não importa o nome que fosse dado, para cada um desses encontros havia um sentimento. –Namorados- -Amantes- ou seja lá como se chama um casal de duas pessoas do mesmo sexo, parecia que nada era compatível, porque eles não levavam uma vida normal.

“Se você parar de pensar por um momento que ‘isso é errado’, será que você não é capaz de analisar se é realmente incômodo pra você ou se é só um conceito da sua cabeça?”

Shinji parou de relutar, e por alguns instantes ele poderia jurar que as batidas de seu coração também eram audíveis, por que ele estava tão agitado?

Kaworu estava parado com a mão estendida.

Eles arrumaram tudo, no entanto, agora havia um singelo problema...

“Nee Kaworu-kun, você trouxe um saco de dormir?” Shinji perguntou entrando na tenda que estava finalmente montada, Kaworu estava sentado lá dentro lendo um livro.

“Eu deveria?” Perguntou tirando os olhos do livro.

Shinji deu um meio sorriso, ele certamente deveria ter explicado como funciona acampar e também ter imaginado que Kaworu não teria o material necessário uma vez que ele residia na NERV.

Shinji apenas maneia a cabeça positivamente.

“Isso significa que eu vou ter que dormir com você”. Ele disse num tom de voz tão natual que Shinji sentiu um arrepio percorrer a espinha.

“É impossível, não cabem duas pessoas”. Shinji murmurou com o rosto em chamas.

Kaworu apenas riu e tirou da mochila uma manta fofa. “Eu uso isso”.

Shinji respirou aliviado.

Embora admitir seus sentimentos por Kaworu fosse também permitir a proximidade entre eles, não significava que ele conseguiria desfazer de toda a barreira que havia criado, embora Kaworu sempre entrasse sem pedir licença...

Shinji sentou um pouco do lado de fora, acampar sem Kensuke e Touji era bem menos barulhento, normalmente Kensuke ficava até tarde narrando alguma aventura ou mistério com sua filmadora e Touji costumava levar bebidas e acabava falando pelos cotovelos.

Estava acostumado a apenas ficar sentado como agora observando, mas só com o estalar de galhos na fogueira, não havia muito que ouvir.

Shinji tirou o marshmallow do fogo, parecia estar no ponto. Antes que pudesse mordê-lo, sentiu um peso nas costas, Kaworu estava basicamente debruçado sobre si.

“Posso?” Shinji estendeu o graveto e Kaworu mordeu um pedaço. “Achei que você não gostasse de coisas doces”. Comentou passando a língua pelos lábios.

Shinji estendeu o graveto e Kaworu terminou de comer. E logo se lembro do beijo, não havia começado com uma conversa parecida?

“E-eu não gosto”. Shinji murmurou com o rosto corado.

“Quer experimentar?” Kaworu basicamente sussurrou em seu ouvido.

O calafrio em seu corpo não tinha nada a ver com o frio que estava fazendo. Ele chegou a olhar para o graveto, mas já não havia mais marshmallows ali. Quando entendeu ele virou o rosto completamente na direção oposta.

Kaworu pareceu entender que havia o provocado demais e saiu de cima dele, mas não mudou muito de posição, permaneceu sentado atrás da terceira criança.

“Relaxe, você não veio ver as estrelas?” E gentilmente massageou os ombros tensos da terceira criança.

“A sua presença me distrai”. Confessou fechando os olhos e aproveitando a massagem.

“Por quê?”

“Eu não sei, acho que é porque eu não sei o que esperar quando estou com você, tenho a impressão que tenho sempre que estar alerta”.

“Então você está dizendo que não confia em mim”. Debochou.

Ele abriu os olhos.

“Eu ainda... eu ainda estou tentando confiar nas pessoas, mas você vive passando do limite, entrando no meu espaço pessoal...”

“Como agora?”

“Como agora”.

Olhos azuis encontram olhos vermelhos. Eles sorriem sinceros.

Continua.