Animos Domi

Capítulo 8 - Pedras


Eles continuaram andando e um movimento as suas costas fez John virar a cabeça.

Uma das criaturinhas pretas havia os seguido e os observava com a cabeça virada. John cutucou os outros e eles olharam também. Mais uma criaturinha surgiu. E mais uma. Logo havia meia dúzia delas.

--Não podem ser tão ruins, podem?—Perguntou Liz. –Quero dizer, não estão nos atacando!

--Mas tenho certeza que foi um deles que nos atacou com as pedrinhas. –Disse John.

--Talvez só estivessem assustados. –Sugeriu Rose.

Holly tirou algo pequeno da mochila. Ouviu um baixo “click”.

--Está fotografando?—Perguntou John.

--Essa é minha função. –Explicou ele, batendo outra foto. –Coletar evidências e analisá-las. Será que é seguro se aproximar?

--Não!—Exclamaram os outros três, um tanto alto demais. Os bichinhos mostraram as presas, acuados.

--Eu vou.

Holly foi se aproximando devagar, a mão esticada. Primeiramente os seres se encolheram, mas logo em seguida começaram a cheirá-lo, curiosos. Então um deles apertou seu dedo e fez um barulho que lembrava uma risada. Mais dois deles chegaram. Um deles, corajosamente, lambeu a mão de Holly.

--Que bonitinhos. –Disse Liz.

--Bonitinhos, nada. –Disse John. –Se eu fosse você eu saia daí.

--Pode ser... –concordou Holly.

Os quatro saíram andando, deixando os bicinhos para trás. Viraram uma curva e os quatro estacaram, perplexos.

O chão era vermelho sangue e tinha algumas pedras enormes flutuando e se movendo para lá e para cá. O calor estava insuportável. Mas o que mais os chocou foi que havia esqueletos, esqueletos humanos que usavam uniformes de torchwood, largados pelo chão.

Rose cambaleou, assustada. John segurou seu braço.

--Calma. –Disse. Então ele olhou além daquele cenário. Havia um enorme portão de ferro. Talvez os outros agentes estivessem tentando chegar lá. Holly tirou fotos do cenário e dos corpos. –Eu vou tentar passar.

--Eu vou junto!—Disse Rose com firmeza.

--Seria melhor você ficar, é perigoso. –Disse ele.

--Deixe disso! Ou vamos juntos ou não vamos.

--A gente também vai!—Exclamou Liz. Holly concordou com a cabeça.

--Mas...

--Ah, chega disso, cabelos. Todos nós vamos. Queremos ver o que tem no portão.

--Acho que o único problema será se cairmos das pedras flutuantes. Não parece difícil.

--Se fosse assim tão fácil, os outros teriam conseguido. –Disse John. –Podem vir, mas fiquem avisados.

--Vamos tirar as botas um pouco e tomar água. Não vai dar para fazer isso enquanto estivermos passando.

Eles sentaram, tiraram as botas, beberam bastante água e comeram, também. John achava que nunca ia se acostumar com a comida das missões.

Depois eles recolocaram as mochilas e as botas (“Odeio o calor.” Berrou Liz). Estavam completamente suados e seus olhos ardiam.

--Bom, vamos. –Disse Holly, olhando para John.

John respirou fundo e pulou para a primeira pedra. Passou um segundo de alivio então a pedra começou a se sacudir violentamente. Ele caiu de barriga, mas conseguiu abraçar a pedra e não ousou se levantar. Ele deslizava quase sessenta centímetros cada vez que a pedra se sacudia.

Os outros gritaram seu nome. Ele ouviu um baque surdo e viu que Liz pousara na pedra ao lado, que começou a subir e descer. Liz quase foi arremessada.

--John, você tem que avançar para a gente poder subir também!—Disse Holly.

John ajoelhou, ainda apoiado nas mãos. Tomou impulso, quase escorregou, mas chegou na próxima pedra, se segurando como pode.
Ouviu alguém chegar a pedra atrás de si, mas não ousou olhar para trás. Mas a pedra estava parada. Então, com muito cuidado, ele se levantou. Ia tomar impulso para pular quando a pedra subiu de repente, fazendo-o cair de barriga e bater o queixo. Sentiu gosto de sangue. Alguém gritou atrás dele. A pedra mexeria caso ele se levantasse... John se apoiou nos braços e se arrastou para a próxima pedra. No meio do caminho, a alça da sua mochila rasgou e ela ficou presa por um braço.

--Droga!—Exclamou ele. A pedra começou a girar. John a abraçou com os joelhos e as pernas. A mochila, meio solta, arrastou no solo vermelho embaixo e pegou fogo. John gritou e tratou de soltar rapidamente a mochila, se agarrando a pedra.

--Não encostem no chão!—Berrou John, olhando para trás enquanto a pedra dava uma segunda volta. –É encostar e pegar fogo!

Rose estava junto a parede e sua pedra girava no próprio eixo. Liz estava ao lado de John e saltou mais uma pedra, acertando-a por pouco. Holly estava seguindo John, prevenido.

John, que estava um bocado tonto, esperou a pedra se virar para cima novamente, se levantou e saltou para a próxima. A pedra começou a subir, cada vez mais rápido. John não pensou duas vezes; Pulou para a próxima e se virou em tempo de ver a pedra que tinha deixado se espatifar no teto. Holly olhava desalentado para o lugar onde sua próxima pedra estivera. Teria que achar um caminho sozinho.

A pedra em que John estava deu um solavanco para a frente e ele caiu sentado.

--Hey!—Gritou Liz. Ela estava do outro lado, sã e salva. John olhou para a frente. Só mais duas pedras. Para Rose faltavam três. Holly havia passado para a pedra ao lado e agora lhe faltavam quatro.

John saltou e seu coração quase parou. A pedra era lisa como gelo. Ele foi parar bem na beiradinha, assustado. Mas se recompôs e seguiu em frente, escorregando um pouco ao saltar. A ultima pedra o tentou levar para trás, mas ele tomou impulso e saltou, chegando ao lado de Liz.

--Muito bem, cabelos. –Respondeu ela.

Depois de alguns giros e sacolejadas, Rose chegou também, respirando depressa. Ela levou um escorregão na ultima pedra, mas John a agarrou. Ela não o soltou até Holly chegar, algum tempo depois.

--Isso foi estranho. –Arfou Holly. –A física simplesmente não se aplica aqui.

--Ah, aplica, sim. –Disse John. –Acho que aqueles bichinhos, aqueles de olhos brancos, são telecinéticos. Isso explicaria tudo.

--Explicaria se existisse telecine. –Comentou Liz.

--Ah, o pior é que existe, não na terra, mas existe. –Disse John. –Não sei o que fazem aqui.

John começou a andar até o enorme portão, os demais em seu encalço. O lugar onde ficaria a fechadura tinha um buraco redondo liso. John ficou intrigado. O que haveria atrás do portão? Como uma chave de fenda sônica fazia falta...

--Um... pombo!?—Disse Rose, baixinho.

John olhou para trás e também o viu. Um pombo cinza, carregando uma mochilinha vermelha. O bichinho bicou carinhosamente os dedos de Holly e depois a própria mochilinha.

--Acho que ele quer que a gente fique com isso. –Comentou Liz. Holly começou a pegar a mochilinha e Liz tirou a garrafa de água da mochila, despejou um pouquinho nas mãos e deu para o pombo beber. Ele pareceu grato e afundou o bico na água. Os outros tomaram água das garrafas. Rose dividiu com John.

--Hey, é uma pedra!—Exclamou Holly quando abriu a mochilinha do pombo.

--A pedra que Alden me deu!—Gritou John de repente, passando as mãos pelos cabelos e pegando a pedrinha branca e lisa das mãos de Holly.

--Tem uma carta também.

John a pegou e leu em voz alta.

“John,
Cuide bem de Shiff, meu pombo. Ele está te levando o que você irá precisar. É agora o momento de você gostar do meu presente.
ALden”

John olhou da pedra para a fechadura, deu um grito de hesitação e correu, derrubando Holly.

--Desculpe. –Disse. E colocou a pedrinha na fechadura. Ela ficou magicamente grudada, como um ima. O portão começou lentamente a se abrir.

Enquanto todos olhavam isso, vários seres de olhos brancos começaram a chegar. Shiff bateu as asas, assustado, e saiu voando. Os seres continuaram olhando-os.

--Vamos. –Disse John. –Quanto mais rápido sairmos, melhor.

Eles entraram em uma pequena sala circular de pedra atrás do portão. Havia uma pequena mês de pedra polida com uma orbe repleta de fumaça branca e outra pedrinha, meio amarela. John se aproximou e pegou as duas coisas. Holly tirou algumas fotos.

--O que significa isso?—Perguntou Rose.

--Conto quando sairmos. –Disse John, com firmeza. –Vamos, travem as rotas, agora.

Os outros obedeceram. Os seres continuaram encarando-os.

Um segundo depois apareceram no saguão de torchwood, onde estava gloriosamente frio. Imediatamente, vários agentes de branco começaram a examiná-los. Daniel chegou, algum tempo depois.

--Relatórios. –Disse.

--Senhor, nós... –Começou Holly, mas John o interrompeu.
--Vamos falar em uma sala reservada, só nós quatro e o senhor, sem escutas nem soldados. Agora, por favor.

--Como quiser, Doutor. –Disse Daniel.

--Só mais uma coisa. –Disse John, baixinho para os soldados não ouvirem. –Eu não sou O Doutor.