Animos Domi

Capítulo 41 - Aprendendo


Duas crianças corriam pela neve. O menino não devia passar de três anos e a menininha, um. Era seu primeiro inverno e ela corria feliz com uma bolacha nas mãos.

John e Rose tinham combinado com Jack e Pete que que o jantar de natal seria na casa do casal mais velho, e que convidariam Liz e Holly. Ainda era cedo e os dois levaram as crianças para correr um pouco no parque e não ficarem tão enérgicos na casa da avó, embora fosse verdade que Jackie os deixasse fazer tudo o que quisessem.

–-Não se afastem muito! — Disse Rose, alto, se jogando no banco do parquinho.

–-Eles vão ficar bem. –Comentou John, sentando ao seu lado, colocando os óculos e puxando um livro. Havia começado a usá-los a um tempo.

–-Meu Deus! Eles crescem muito rápido.

John sorriu, olhando os pequenos correrem.

–-Jack Smith Tyler e Sarah Smith Tyler! Ainda acho que o seu nome deveria vir por último. –Comentou Rose.

–-Bah! Eu prefiro Tyler. Quero dizer—Ele baixou a voz. –É um sobrenome que vem de família.

Rose não conseguiu negar um sorriso. Já haviam discutido o assunto inúmeras vezes, mas aparentemente John havia aprendido a dizer não a Rose. Ele insistiu que o nome da loira viesse por último, de modo que as crianças o utilizariam na escola, no trabalho e em toda a sua vida.

–-Mamãe, mamãe, olhe! — Gritou Jack. Era realmente uma miniaturazinha do pai. Os adultos correram até lá. Havia um pequeno esquilo no chão e Sarah lhe dava sua bolacha.

–-Que bonitinho! — Comentou Rose. –Um esquilo.

–-“Equilo” — Repetiu Sarah, rindo.

–-Podemos ficar com ele, papai? —Perguntou o menino, esperançoso.

–-Acho que não. –Respondeu John, sério. –Ele roeria seus sapatos.

O menino voltou a olhar para o animal, meio triste.

–-Essa não, olhe a hora! —Exclamou Rose, olhando o relógio de pulso. –Vamos chegar atrasados para o jantar de natal.

–-Tem razão. –Disse John, pegando a menorzinha no colo. Ela era igualzinha à mãe. –Jackie não vai nos perdoar se perder a chance de estragar vocês.

Rose tomou o maior pela mão e começaram andar.

–-“xau, equilo” —Disse Sarah, abandando a mãozinha em adeus. Para uma criança que havia acabado de completar um ano de idade, ela falava muito.

–-Tem certeza de que não podemos ficar com ele? —Perguntou Jack novamente.

–-Não! —Responderam John e Rose juntos, sorrindo. E continuaram a caminhar.

–-Papai –Chamou Jack. –O que vai ter para mim na casa da vovó?

Isso por que John vinha citando a dias que quando chegassem a casa de Jackie, no natal, Jack teria uma surpresa. Uma surpresa para Jack e uma para Sarah. A garotinha, por ainda ser pequena, não estava ligando muito.

–-Ah, espere para ver. –Disse John, rindo da impaciência do menino. –A propósito, o que está escrito ali? –Perguntou John, apontando para uma placa.

–-Não... Estaci... Estaci...

–-Estacione. –Completou John. –Mas parabéns. Poucas pessoas de três anos sabem ler. –Jack assumiu uma postura orgulhosa. Aos três anos, lia quase tudo, empacando apenas nas palavras grandes demais.

O casal colocou as crianças no banco de trás, depois de alguns não-não por parte de Sarah, e partiram.

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A casa de Jackie inteira cheirava a pudim, peru e pão. Havia uma enorme arvore de natal na sala e tudo, desde os corrimões até a lareira, estava decorado com fitas vermelhas e verdes. Tonny estava brincando com seus presentes recém adquiridos, e Jack e Sarah se juntaram bem depressinha a ele. Os dois traziam uma mochila cada um, com seus presentes guardados nelas.

John e Rose foram para a cozinha, onde Jackie os fez trabalhar como nunca haviam trabalhado na vida. Pete também havia recebido um lista de tarefas, a julgar pela sua expressão. Liz, que já havia chegado com Holly, mais comia que ajudava, de modo que Jackie a tangeu com um pano de prato, mandando-a ir vigiar as crianças. Ela beijou Holly e empurrou Rose e John antes de sair.

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O jantar ocorreu um bom tempo depois do planejado, graças a pequenos atrasos na cozinha. As três crianças vieram correndo quando foram chamadas, famintas. Depois de arranjar uma almofada para que Sarah pudesse alcançar o nível da mesa, o jantar foi servido, os sacos de confete estourados, conversa jogada fora e chapeis arranjados para todos.

As crianças adoravam Liz e Holly, e chamavam-nos de tio e tia. Liz fazia caretas, contava piadas, jogava confete, ria e brincava, uma fórmula certa para conquistar crianças. Holly, embora quieto, também as fazia rir de vez em quando, brincava com elas e estava sempre disposto a dar uma volta de carro.

–-E a sobremesa, mamãe? –Perguntou Tonny depois que todos comeram. Jack levantou os olhos do saco de confete que ele puxava com toda a força, mas que não conseguia estourar.

Rose deu uma piscadela para o filho e disse que ia buscar. John a seguiu.

Voltaram pouco tempo depois, com dois pequenos bolos de glace branco. Um deles tinha uma vela azul e um tinha uma vela rosa.

–-Um para Sarah, que ficou mais velha a dois dias. –Riu-se John, pensando que um ano não era nada velho. –E um para comemorar o fato de que Jack sabe ler.

–-Nossa, você sabe ler? –Perguntou Liz, com uma expressão de exagerada surpresa.

–-Tia, eu te contei isso ontem. –Respondeu Jack, revirando os olhos.

–-Ela sabe, seu ser humaninho... –Disse Holly, fazendo cócegas em Jack. Ele se livrou, ansioso, e ficou de pé na cadeira, o que, visto seu tamanho, não fez muita diferença. Sarah olhava feliz para o fogo flamejante das velinhas. Tonny, por sua vez, parecia estar com ciúmes. Jack e Pete se entreolharam, rindo.

Os bolos foram colocados em cima da mesa e um parabéns a vocês foi cantado. Jhon segurava um dos braços de Jack, preocupado que ele pudesse cair, como todo pai humano. Sarah continuava sentada, mas era segurada por Rose, pois queria melecar o dedo nos bolos. Em certo momento, quando Rose estava mais distraída, Liz pegou um pouco de glace com uma colher e deu a Sarah, que comeu antes de Rose pudesse notar algo.

Jack soprou sua vela sem hesitar, sob algumas palmas dessincronizadas.

–-Tonny, Sarah ainda não sabe soprar a vela sem babar o bolo. –Disse Rose, vendo que Tonny continuava triste por não ter um bolo. –Ela precisa de ajuda. Você pode soprar a vela para ela?

Os olhinhos de Tonny brilharam por um momento, então ele se esticou todo e soprou a vela. Novamente os adultos aplaudiram brevemente e Jackie o pegou no colo. Crianças humanas se satisfazem facilmente.

Jack e Tonny cortaram os bolos e todos comeram, felizes. Depois disso, as crianças voltaram a brincar e a correr pela casa e os adultos foram arrumar a cozinha. Em certa altura John jogou espuma em Rose, e ela revidou. Jackie se ofereceu para ajuda-los a se secar, o que John achou bondoso, até ela quase mata-los com um pano. Liz incentivava e Holly e Pete riam.

Depois de muita arrumação, brincadeira e leitura, por parte de Jack, chegou a hora de dormir, pelo menos para as crianças. Pete, reconhecendo os sinais de sono e sabendo que os três nunca se deixariam colocar na cama, deu a proposta de que todos assistissem um filme. As luzes foram apagadas e o DVD foi ligado. Jack, Tonny e Sarah estavam dormindo depois de dez minutos. Haviam caído na armadilha dos adultos.

–-Acho que é hora de irmos. –Disse John, pegando Jack no colo com todo o cuidado do mundo. Embora falasse bem e soubesse ler, tinha apenas três anos. Rose pegou Sarah, que dormia com um bico e os dois foram até a saída. Liz e Holly acompanharam o casal enquanto Jackie e Pete levavam Tonny para o quarto.

–-Tchau, cabelos. –Murmurou Liz, dando um tapa na nuca de John e puxando Holly para o próprio carro. Ele acenou.

John e Rose tiveram que se arranjar para conseguir abrir a porta do carro, mas depois disso foi fácil colocar as crianças no banco de trás, nas cadeirinhas. Depois entraram e John ligou a seta, depois foi virando e começou a andar, bem devagar, pois tinha a carga mais preciosa do mundo no banco de trás. Precisava ser cuidadoso.

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O tempo passou novamente, suave como o vento. As crianças cresceram um pouco mais. Aconteceram tragédias e alegrias, como é típico dos humanos. John Smith não se parecia em nada com o senhor do tempo agora. A aparência continuava a mesma, mas agora Rose, em hipótese alguma se lembrava do Doutor ao olhar para o humano que pertencia inteiramente a ela.

Mais algumas mudanças ocorreram: A casa passou por outra reforma, e agora tinha um parquinho na parte de trás e um pequeno jardim, além de um espaço onde poderiam montar um churrasqueira ou uma piscina. John trocou de carro, optando por um modelo novo e enorme. Rose comprou um, também, porém menor e com designer meio achatado.

Jack tentou ensinar Sarah a ler aos quatro anos, mas ela só conseguiu com cinco, pois estava mais interessada em brincar e correr, enquanto Jack ficava parado as vezes e escrevia um pouquinho. Jackie Tyler costumava dizer que Jack havia herdado a inteligência de John e que Sarah havia herdado o espírito solto de Rose. Eles cresceriam, e não demoraria muito. Era como Rose havia dito: Eles crescem rápido demais.