Animos Domi

Capítulo 26 - Pedido


Chegaram a uma caverna. Mais nem de longe o lugar se parecia com uma caverna. Não. O chão era de algum tipo de cristal muito branco que iluminava o lugar de um jeito amigável. O teto de perdia de vista. Vários seres começaram a aparecer, um por um. Todos olhavam curiosos para John e Rose.

—-Por que deveríamos confiar em vocês?—Perguntou um deles.

—-Não sei. –Respondeu John com sinceridade. –Mas é isso ou passar sabe-se lá mais quantos anos escondendo esse lugar. Juramos que não vamos fazer nada de mal.

John sentiu que um dois dos seres seguraram seus braços.

—-AI!—Gritou, involuntariamente. –Soltem meu braço direito, por favor...

O ser afrouxou o aperto, mas não o soltou. Outro deles se aproximou de Rose.

—-Abaixe. –Pediu. Rose obedeceu, receosa. O ser teve que ficar na pontinha dos pés para conseguir alcançá-la. Então colocou as duas mãozinhas no rosto da humana. Por um segundo ou pouco mais, Rose encarou o ser, então, sem mais nem menos, seus olhos se fecharam. John se soltou dos seres e correu até a humana, que continuou sentada por alguns segundos antes de cair para o lado, sendo amparada pelo braço esquerdo de John.

—-Não se preocupe. –Disse outro ser. –Apenas vimos sua mente, ela está bem.

E estava. Não estava realmente inconscientes, mas definitivamente não estava em suas forças totais.

—-Oi. –Disse ele, sorrindo.

—-Olá. –Respondeu ela.

—-Pode vir. –Disse um dos seres. John levantou a cabeça e notou que todos os seres estavam em circulo a alguns passos dali.

—-Você vai ficar bem?—Perguntou ele a Rose.

Ela fez que sim com a cabeça e se sentou. John se levantou e foi até o centro do circulo. Lá notou duas coisas: Havia uma placa redonda de madeira no centro da roda com cinco buraquinhos que lembravam tigelas rasas e havia um espacinho entre dois seres. Pareciam esperar algo. E mal havia se passado um segundo, outro ser apareceu, como se tivesse se teletransportado, trazendo a sacola com as esferas. Ele ocupou o lugar vago no circulo e jogou a sacola aos pés de John. Rose assistia a cena, estupefata.

—-Siga minhas instruções. –Disse o ser.

John obedeceu tudo o que o ser disse. Para John todas as esferas eram iguais, mas obviamente os seres notavam algumas diferenças entre elas: Havia uma ordem a ser seguida e se essa ordem não fosse respeitada, nada aconteceria.

Quando John colocou a quinta esfera, teve tempo apenas de dar um passo para trás e a tampa de madeira começou a vibrar e um segundo depois emitir uma forte luz azul.

Então os seres começaram a cantar. Suas vozes lembravam um sopro: Uma coisa muito suave porém muito rígida. Toda a calmaria e glória do universo falada na canção. Foi impossível não se emocionar. A canção era em um idioma ALIEN que achou que estivesse extinto, mas ali estava.

“Dheuu tha yio

Cakdee mashe raveni

Intuijoo ma modocke

Ahkate isha kodano

Marananu enti hudah

Aash o kokoro.

ALOSH!”

John entendeu o que a letra dizia: Beleza do universo/ Onde podemos nos refugiar?/Seus contos nos dizem a milênios/ Onde o futuro chegará./ Mas todos são tolos, não podem ver/ E desejam realizar seu coração. / Pois venham!

John olhou para Rose. Ela parecia um pouco assustada, então ele sorriu para ela antes de voltar sua atenção para o circulo. O verso foi repetido e a tampa de madeira começou a subir, sem nenhuma corda visível. E de dentro do poço que havia embaixo da tampa, veio um som que lembrava a respiração de um bicho adormecido e uma luz branca. Linda, completamente deslumbrante. Era impossível parar de olhar.

—-Peça agora. Mas não ressuscitamos mortos e não geramos o amor. –Disse um dos seres, voltando à canção logo em seguida.

—-Hã... –Começou John. Por um segundo lhe pareceu besteira pedir algo bobo. Passou por sua mente humana tudo o que poderia pedir naquele momento: Voltar para a TARDIS, riquezas e outras coisas idiotas que os humanos querem.

Mas Rose havia se levantado, passado pelos seres e se posicionou ao lado de John, pegando sua mão. E de repente ele sabia o que pedir.

—-Desejo poder ser feliz no final de tudo. –Disse ele. –Ser feliz com Rose. Não quero me livrar dos problemas, sei que isso é impossível... Mas quero que todos os dias, depois de enfrentar os problemas, eu tenha forças para ser feliz e lembrar que tudo tem um propósito. Lembrar que não estou sozinho. Para sempre juntos. –Ele sorriu para a humana— Concorda?

—-Concordo. –Disse ela, sorrindo.

Aconteceu em menos de um segundo: A canção ficou mais alta, como se o ser adormecido do poço cantasse também. Um vento forte varreu os cabelos do casal e os fez fechar os olhos. Por trás das pálpebras fechadas, notaram uma luz muito forte. Então tudo parou.

Estavam no telhado de torchwood. Ainda machucados, ainda cansados, mas com uma inexplicável sensação de que tudo dera certo. Os seres não estavam mais lá, tão pouco os guardas. Apenas Anne, caída, Liz, Holly, Jackie, John e Rose.

—-Mas o que houve?—Perguntou Liz.

—-Os seres, sumiram... –Disse Jackie.

—-Estavam bem aqui... –Comentou Holly.

Os guardas olhavam para os lados, desorientados. Alguns coçavam a cabeça, se perguntando como tinham ido parar no telhado.

John olhou para Rose e eles chegaram a um acordo silencioso: Explicariam depois. Agora tudo o que queriam era deitar um pouco, talvez tomar um café. John se sentia muito mal por ter matado Anne. Sabia que não fora sua culpa, que fora um acidente, mas seus olhos encheram de água involuntariamente.

A multidão lá embaixo começou a gritar excitada. Alguns segundos depois, Peddy Miles, a enfermeira, apareceu no telhado, branca como a neve. Ela ordenou que todos entrassem e seguissem para a enfermaria imediatamente.

Daniel estava lá, dormindo com o braço enfaixado. Theodore, o Doutor, correu a ajudá-los. A coisa mais urgente foi cuidar dos ferimentos e pancadas.

—-Isso foi tortura!—Peddy não parava de repetir. –Tortura! Deviam instaurar um inquérito para saber por que os guardas agiram assim...

—-Calma, Peddy. –Disse Theodore. –Tente se controlar, sabe que contrariar as diretrizes de torchwood pode lhe custar o emprego.

—-Mas como foi que todos os guardas sumiram?—Perguntou Jackie, olhando feio para John. Rose havia encostado sua cabeça no ombro do humano e ele encostara sua cabeça na dela e entrelaçaram as mãos(esquerda, no caso de John.) enquanto Peddy cuidava do braço de John e ele tentava não fazer caretas.

Rose explicou. Contou das esferas, dos portais, dos seres, das cavernas, de como os seres haviam dominado a mente dos guardas e de como eles havia ido até a caverna realizar um pedido.

—-Vocês saíram?-Perguntou Holly.

—-Sim. –Respondeu John.

—-Impossível. –Disse Jackie.

—-Estávamos todos lá, você não saíram.

—-Acho possível que os seres tenham nos deixado aqui no segundo em que saímos. –Declarou John. –Ai, Peddy!

—-Pare de choramingar. –Disse Peddy. –Minha nossa, acho que crianças fariam menos escândalo.

—-Então simplesmente... Acabou?—Perguntou Holly.

—-Acho que sim. –Respondeu John.

—-E o que vocês pediram?—Perguntou Liz, ansiosa.

John não respondeu. Achava que os outros não entenderiam seu pedido, que o achariam inútil. Rose pareceu pensar mais ou menos o mesmo.

—-Pedimos que todos estivessem bem. –Disse ela.

O resto do dia foi dedicado a comer, dormir e responder muitas perguntas. Afinal, o ato dos guardas havia sido considerado tortura. Todos os guardas foram chamados para interrogatório, mas nenhum deles tinha consciência do que fez e isso estava aos poucos se provando. Depois do que pareceu a milésima pergunta, Peddy tangeu os cientistas dali insistindo que os agentes precisavam dormir. John fiou muito agradecido, estava exausto. Havia colocado seu braço em uma tipóia.

—-Muito bem, vão dormir, todos vocês, agora. –Disse Peddy. Ela apagou as luzes a saiu.

—-Rose!?—Chamou John. As camas da enfermaria eram separadas umas das outras por cortinas, de modo que ele não podia ve-la. Mas não se levantou, estava cansado demais.

—-Vai dormir, cabelos. –Ouviu-se o resmungo de Liz.

—-O que?—Perguntou sua humana, ignorando a amiga.

—-O que vai acontecer agora?

Ele não sabia por que perguntou aquilo; Sabia apenas que se sentia ansioso e um pouco assustado. O desfecho do mistério de Mirai parecia ter fechado também uma era. Rose demorou um pouco para responder.

—-Podíamos almoçar fora. Ou quem sabe botar uma gravata em Spock. –Ela fez uma pequena pausa, como se pudesse ouvir John sorrir. –Fique calmo. Vamos dormir, chega de pensar por hoje.

Ainda sorrindo, John virou com o braço machucado para cima e logo adormeceu, tendo sonhos perfeitamente felizes.