Kurt e Mercedes entraram. As duas meninas ainda assistiam TV. Quinn parecia realmente interessada, mas Rachel, notaram, não conseguia ficar parada. Olhava para a loira todo o tempo e se mexia, mudando as pernas, puxando a manta que as cobria e depois ajeitando sob os pés de Quinn. Os dois sentaram no outro sofá e ficaram ali observando.
Rachel estava cada vez mais interessada em Quinn. O modo como se abrira, contando sobre a filha e tudo o que tinha deixado para trás, em busca de seu sonho. Por mais meiga que pudesse parecer, sabia que a loira era forte. Mais forte do que podia imaginar. Queria saber mais, queria conhecê-la ainda mais. Queria... Cuidar dela?
Hiram entrou na sala pouco depois. Achou graça na agitação da filha, mas não falou nada a respeito.
– Hei, se não me engano hoje é a noite do piano - chamou a atenção dos quatro.
– É sim, Hiram - Mercedes confirmou.
– Noite do piano? - Quinn perguntou, olhando para Rachel.
– É. Pelo uma vez por mês, nós cinco nos reunimos e passamos a noite comendo, bebendo e cantando - sorriu - Você canta, princesa?
– Hum, no chuveiro conta?
– Serve - divertiu-se - Vai ser minha dupla hoje. Vamos acabar com eles - fez cara de seria.
– É uma competição? - a loira achou graça.
– Sempre é. Para a Berry. - Kurt falou dando risada da cara da amiga, que ficou vermelha de vergonha.
– Legal.
– Ótimo. Vocês começam a organizar tudo por aqui - Hiram pediu - Quinn, pode vir até a biblioteca comigo?
– Claro. - a garota levantou de pronto.
– Rach, chame seu pai para ajudar. Nós voltamos logo. - ordenou - Vem Quinn.
Os dois saíram da sala, deixando uma Rachel extremamente curiosa para trás.
– Levanta logo daí, Rachel. Vem ajudar a gente. Seu pai não vai chicotear sua loira - Kurt brincou.
Rachel piscou desconcertada e olhou para os amigos. Os dois a olhavam com um sorriso maroto. Tinha medo daqueles olhares.
– Primeiro: ela não é MINHA loira. Segundo: nenhum dos dois me disse o que achou dela. - sorriu acanhada.
– Ela parece ser uma pessoa interessante. - Kurt opinou.
– E meiga. Além de sexy - Mercedes completou, esperando a reação da amiga.
– Sexy? - Rachel pareceu confusa com o comentário.
– Você não acha? - o rapaz provocou.
– Claro, mas... - a morena sentiu as bochechas arderem.
– Relaxe, Rach. A gente só está curtindo com a sua casa. Anda, vamos arrumar tudo logo. Antes que o Hiram volte e nos pegue pelo pescoço - brincou, abraçando a amiga pelos ombros.
–x-
Quinn estava sentada na biblioteca, de frente para Hiram. Estava curiosa, mas não se sentia mais tão assustada na presença daquele homem.
– Já conseguiu se instalar no seu quarto, querida? - Hiram puxou assunto.
– Sim, senhor. Obrigada. - respondeu formalmente.
– Me chame de Hiram, Quinn. Por favor - pediu simpático. A menina concordou sorrindo. - Eu te chamei aqui pra gente conversar sobre seus horários na universidade a partir de segunda.
– Certo.
– Aqui - entregou um papel impresso para ela - Estão todos os seus horários. A maioria das aulas ficou para o período da manhã. Você vai fazer uma hora de almoço, depois terá mais duas aulas.
– Tudo bem. - concordou.
– Ficou fechado que você vai trabalhar comigo das 15h às 18h. Somente durante a semana. De acordo?
– Claro. Com certeza. - Quinn estava animada.
– Agora imagino que esteja curiosa para saber o que vai fazer. - brincou.
– Admito que estou sim.
– Eu te explico - Hiram inclinou-se excitado com as possibilidades - A universidade está patrocinando a reedição do meu primeiro livro sobre neurocirurgia pediátrica. - os olhos de Quinn brilharam.
– Seu livro é minha bíblia, Hiram. - a menina sentiu-se eufórica.
– A Rachel comentou - sorriu - Então, eles querem uma versão revisada e atualizada. E eu quero que você trabalhe comigo nisso. O que acha?
– É serio? - a loira estava eufórica. - Vai ser mais que um prazer. É incrível.
– Fico feliz que esteja animada. Temos muito trabalho pela frente.
– Pode contar comigo, Hiram.
– E, é claro, que seu nome constará na publicação. - explicou - De acordo? - estendeu a mão para a garota.
– Com certeza. - aceitou a mão estendida.
– Ótimo - Hiram estava tão animado quanto a loira - Vamos para a sala. Se conheço minha filha, ela está roendo as unhas de tanta curiosidade neste momento.
–x-
Rachel estava quase tendo um colapso. Fazia quase meia hora que Quinn estava com seu pai na biblioteca. Estava a ponto de entrar lá quando os dois voltaram.
– Até que enfim - exclamou balançando os braços.
– Eu não disse? - Hiram piscou para Quinn.
– Disse o que? - Rachel quis saber.
– Nada, morena. - Quinn respondeu - Nós estávamos tratando de negócios. Seu pai estava me explicando sobre o trabalho em Columbia.
– Vai escravizar a loirinha, Hiram? - Kurt debochou.
Rachel fuzilou o rapaz com os olhos. Todos na sala riram dela, até Quinn. Nervosa, a morena pegou-a pelo braço e foi até o outro lado da sala, deixando os pais e os amigos para trás.
– E então? O que meu pai disse? - Rachel quis saber.
– Você é mesmo muito curiosa, morena - Quinn gracejou, batendo na ponta do nariz dela com o indicador. - Mas eu estou tão animada, Rach. - a morena sorriu ao ouvi-la chamar pelo apelido.
– Me conta.
– Seu pai me chamou para trabalhar com ele na reedição do livro que ele escreveu sobre neurocirurgia pediátrica. Não é demais? - Quinn estava quase pulando.
– Apesar de não entender nada sobre o assunto, pelo seu entusiasmo, é sim. - Rachel respondeu, admirando o sorriso da menina.
– E meu nome vai sair na publicação, junto com o nome do seu pai. Sabe o quanto isso significa pro meu currículo?
– Não exatamente... - admitiu.
– É como... Seu nome sair no cartaz de um musical da Brodway ao lado do da Barbra Streisand.
– Ah meu deus, Quinn. - Rachel pulou ao entender a analogia. - Vai ser incrível.
– Vai sim.
Rachel não se conteve e puxou a loira para um abraço. Sentia-se tão bem ao ver o sorriso em seu rosto, em poder estar ajudando.
Quinn foi pega de surpresa, mas aquele abraço não poderia ter surgido em melhor momento. Sentiu o pequeno corpo da morena contra o seu e sentiu-se arrepiar. Não pode deixar de notar o quão bem se encaixava em seu corpo. A cabeça da garota aninhava-se perfeitamente na curva de seu pescoço.
E tão rápido quanto começou, o abraço se desfez. Rachel sentia as bochechas queimarem, e Quinn percebeu quatro pares de olhos em cima delas. Mas tentou não pensar muito.
Rachel apenas tomou a mão da loira e a levou de volta ao centro da sala, Kurt e Mercedes sorriram um para o outro, cúmplices.
– Podemos começar? - Leroy perguntou.
Hiram e Leroy foram os primeiros, seguidos por Kurt e Mercedes. Quando os dois terminaram, Rachel sentou-se ao piano.
– O que quer cantar, princesa? - perguntou para Quinn.
– Não sei...
Mercedes e Kurt se entreolharam.
– Você conhece Keep Holding On, da Avril? - Kurt perguntou.
– Eu sei tocar e conheço a letra - Rachel respondeu - O que acha, Quinn?
– Pode ser.
Quinn nunca tinha cantado na frente de ninguém. Kurt e Mercedes tinham vozes incríveis. Respirou fundo e aceitou o mico que iria pagar.
Rachel tocou a primeira nota, Quinn estava de cabeça abaixada, o rosto vermelho. Sua voz saiu baixa quando começou a cantar.
[QUINN]
Você não está sozinho
Juntos nós ficamos de pé
Estarei ao seu lado
Você sabe que segurarei sua mão

Rachel ficou surpresa com a voz da garota. Era doce e um pouco rouca. Sentiu seu corpo todo arrepiar.

[RACHEL]
Quando fizer frio
E parecer ser o fim
E não tiver para onde ir
Você sabe que não desistirei
Não,eu não desistirei

Ao ouvir a voz da morena, Quinn ergueu a cabeça e olhou para ela. Era a voz de um anjo. A voz mais linda que já tinha ouvido na vida. Sentiu seu corpo ser atraído para perto dela. Apoiou-se no piano, olhando nos olhos da morena, enquanto cantavam o refrão.

[RACHEL E QUINN]
Continue agüentando
Porque você sabe que conseguiremos,
Conseguiremos
Apenas seja forte
Pois você sabe que estou aqui por você,
Estou aqui por você

Não há nada que possa dizer
Nada que possa fazer
Não há outro jeito em se tratando da verdade
Então continue agüentando
Porque você sabe que conseguiremos,
Nós conseguiremos

Os quatros espectadores estavam de boca aberta. A voz das duas meninas juntas se encaixava lindamente. E a interação delas era encantador.

[QUINN]
Tão longe
Eu gostaria que estivesse aqui
Antes que seja tarde demais
Isso tudo poderá desaparecer

[RACHEL]
Antes que as portas se fechem
E chegue ao fim
Com você ao meu lado
Eu lutarei e defenderei
Eu lutarei e defenderei
(yeh, yeah)

[QUINN E RACHEL]
Escute quando eu digo
Quando digo que acredito
Nada irá mudar
Nada irá mudar,
O destino
O que quer que seja
Nós resolveremos perfeitamente
(yeh, yeah, yeah, yeh-ah)

Terminaram de cantar o ultimo refrão, olhando uma nos olhos da outra, como se não existisse mais ninguém. Naquele segundo após o fim da musica, era somente ela e Quinn.
A loira estava extasiada. Tinha sido divertido cantar com a morena e parecia que não tinha se saído tão mal. Pelos menos não tinha ninguém tapando os ouvidos.
– Isso foi... Lindo demais. - Leroy elogiou. O homem tinha lagrima nos olhos.
– Você canta muito bem, Quinn - Rachel ponderou, levantando e indo para perto da garota - Tem uma bela voz.
– Obrigada - agradeceu, sem jeito.
Jô entrou na sala os chamando para comer. O resto da noite passou tranquilamente. Os seis sentaram-se em volta da mesa e conversaram até tarde.
Quinn sentia-se bem. Sentia-se mais em casa do que nunca antes na vida. Já passava da uma da manhã quando resolveram ir para a cama.
Rachel parou na porta do quarto de Quinn. Esperou que Kurt e Mercedes passassem por elas.
– Boa noite, princesa. - desejou.
– Boa noite, morena. - Quinn deu um beijo demorado no rosto de Rachel.
– Se precisar de alguma coisa, é só me chamar. Eu estou aqui do lado. - a morena devolveu o beijo.
– Obrigada. - Quinn sorriu e fechou a porta atrás de si. Sentia o rosto queimar onde os lábios de Rachel tinham tocado.
Rachel se segurou para não bater a porta do próprio quarto. Sentia o corpo arrepiar pela miléssima vez naquele dia. Tudo por causa de Quinn. Olhou para baixo. Ia precisar tomar um banho antes de dormir.