Anfêmero

Capítulo 1


A movimentada noite zaunita estava apenas começando, ruas abarrotadas de pessoas indo e vindo, barracas de comida cheias até a borda, algumas crianças se divertiam no meio do mar de gente. Um dos vários distritos das vielas de Zaun, encravado na sua rua principal um bar pulsava vida, de fora se escutava a música frenética e estranhamente cativante

Zeri se encontrava sentada no balcão fingindo desinteresse para cantora no palco do lado oposto do bar, daqui ela conseguia ver um bando de chireanos baixinhos muito próximos ao palco, um pouco atrás ela podia ver os cabelos pretos amarrados da mesma maneira dos seus, Kay sua irmã mais nova ao lado de seus amigos fogolumes

— Uma dose para você — o barman de barba longa, alto e rechonchudo com braço cheio de tatuagens colocava um copo na frente dela

— Eu não pedi nada — olhou interrogativamente para o homem — sabe que não aceito cortesia da casa

— Me pagaram para te dar uma dose assim que saísse da mesa da sua avó — piscou e apontou com a cabeça para a cantora de cabelo rosa no palco que sorria começando mais uma música junto dos instrumentistas do bar — e convenhamos que com todas as vezes que você me livrou dos barões você beberia de graça por duas vidas

— Eu aceito essa dose da cantora se você esquecer esse papo de gratidão — brincou com homem que riu antes de voltar a atender os clientes

Voltou atenção para a mesa não muito distante onde podia ver sua mãe e avó sentadas bebendo e conversando com um casal negro que lhe parecia familiar

— Vejo que os velhos já acharam sua avó — se virou vendo Ekko parado ao lado dela no balcão

— Claro que você viria — sorria debochada — fogolumes e seu líder, os maiores fãs da cantora em Zaun

— Posso não concordar com ela, mas nem você pode discordar que ela é boa no que faz — se sentou ao lado dela tentando roubar um gole do copo dela

— Como fui me cercar do fã clube da Seraphine? — bebeu toda sua dose antes do garoto pegar o copo dela, mostrando a língua para ele

— Você só reforça minha teoria que você está virando uma baronesa — ela deu um olhar falsamente ofendido para o garoto que começava contar com os dedos — tem um território nas vielas, anda armada, vive indo no lado de cima e tem antipatia para a cantora, no seu caso fingida.

— Quantas vezes tenho que dizer que não tenho nenhum território? — bufava divertida — devia te fritar por me comparar com eles

— Um distrito inteiro que os barões evitam incomodar que por coincidência você mora aqui — sinalizava por uma bebida para o barman antes de encarar a mais baixa — se não é um território seria o que?

— Você literalmente tem um covil secreto nos limites da cidade e eu sou a baronesa? — cutucou com força o braço olhando nada impressionada — me poupe garoto salvador

— Quem me chamou assim? — fechou a cara como tivesse provado algo amargo, Zeri apontou para o palco deixando o garoto de cabelos brancos visivelmente confuso

— Não quebre a cabeça com isso — desfez com a mão — estraga seu rostinho bonito essa cara confusa e amarga

— Você já fez flertes melhores que isso — pegava sua dose olhando divertido para ela antes de beber

— Por mais que você sonhe com isso, nunca flertei com você — os dois riam

— Desculpe por esquecer que sua única personalidade e de pirralha atrevida — se levantou esbarrando nela — vai continuar fingindo que não está vendo a apresentação ou vem comigo?

— Depois, pode se divertir fanboy — ele olhou nada impressionado mas logo foi na direção no palco onde o bando de chireanos pulavam animados

Zeri apoiou as costas no balcão olhando ao redor, sua comunidade em volta do bar retratava uma cena cada vez mais rara em Zaun, diversão quase despreocupada de pessoas bebendo e falando alto, escutando música zaunita cantada por uma pilt(!!)

Por um tempo ela só observou com sorriso no rosto com um sentimento que ela ainda não sabia qual em seu peito, querendo que durasse mais. Viu de canto de olho Kay se aproximando dela

— Já se cansou da sua cantora preferida? — estranhou a falta de uma resposta atrevida, olhando interrogativamente para irmã

— Não é nada de mais, mas acho bom você saber — apontou com os olhos as mesas próximas a parede da saída — tem membros da Glasc, e capangas de outros barões conversando naquela mesa

— Ótimo, aqui virou território neutro para negociatas — falou para si mesma antes de bufar — não se preocupe Kay, volta para lá que se alguma coisa acontecer o chefinho e eu resolvemos — piscou para irmã antes de enxotar ela de volta

— Eles fazem Seraphine parecer discreta — debochou para si mesma olhando de relance a mesa das prováveis negociatas, dava para saber quais eram das indústrias Glasc pela diferença de vestes que em comparação faziam os outros capangas de barões parecerem mendigos maltrapilhos.

Ela escolheu ignorar eles se não fizessem nada suspeito, noite estava muito boa para atrapalhar por algo que podia significar nada, afinal esses idiotas também tinham vida.

A noite passou rápido pelos olhos da garota, logo ela cedeu aos chamados da irmã e foi para o meio dos amigos próximos ao palco. Com piscar de olhos tinham já estavam acabando a última música, logo Seraphine, o pequeno grupo de fogolumes e ela se dirigiam a mesa da sua avó.

— Se sentem que vamos pedir mais alguma coisa — mulher grisalha falava com os recém chegados saindo da conversa com a filha e os pais do líder fogolume.

— Não a necessidade, só vim me despedir das senhoras — Seraphine sorria para a matriarca sentada — adoraria ficar mais tenho que ir

— Se você não pode ficar, Zeri pode te acompanhar até os elevadores — ela ignorou o "ei" revoltado da neta — e mais seguro.

— Bem não precisa, eu não vou subir essa noite — Zeri olhou para a quase imperceptível vermelho no rosto da piltovense, vendo a oportunidade única a sua frente

— Eu faço questão de acompanhar até seu compromisso — cantou a última palavra ganhando uma cotovelada nada discreta da irmã — vielas muito perigosas a noite

Foi o primeiro princípio de olhar azedo que ela viu Seraphine direcionar a ela em todos esses meses que se conheciam — Não precisa, você pode muito bem ficar com sua família não é muito longe dos limites de Zaun

— Sendo assim Ekko vai com a gente, conhece essa área muito bem e voltamos bem rápido — ela ignorou o olhar incrédulo do garoto, que logo estava em uma conversa sem palavras com os pais que tinha sorriso conhecedor

— E perigoso para gente de cima, eles vão te acompanhar querida — apesar da simpatia a matriarca não deixou espaço para discussão

— Claro — sendo voto vencido voltou a seu humor doce e simpático de sempre — Kay, Shomi e Bo foi ótimo revê-los, fiquem a vontade para fazer a Faísca ir com vocês nas próximas apresentações aqui em baixo ou lá encima. Tchau pessoal

Logo os três saíram do bar para as ruas não tão movimentadas como nas horas anteriores, Seraphine colocou um pesado casaco marrom por cima de seu vestido e seguiu na direção oposta aos elevadores os guiando

— Porque me meteu nisso? — olhou desconfiado para Zeri que parecia divertidíssima

— Não vou perder essa oportunidade, ela tá indo ver o zaunita que ela esconde de todos — parecia uma criança que ganhou um doce enquanto sorria debochada

— Ainda posso escutar vocês — para deleite de Zeri parecia humor mais azedo que viu da piltovense

— Eu sei — respondeu cantante

— Zeri! — falou baixo — cuidado para não exagerar

— Já que estamos aqui — começou Ekko mais próximo a Seraphine — a onde vamos?

— Vamos até as fissuras, e de lá sigo sozinha — já estavam em ruas menos movimentadas

— Sua companhia mora tão perto das antigas minas assim? — curiosidade também levava o melhor sobre o fogolume

— Alguma coisa do tipo — desfez com as mãos desviando o olhar

— Esse mistério todo por seu amorzinho — debochou Zeri — que complicação

— Complicado mas vale a pena — sorriso contemplativo enfeita o rosto da cantora — vocês entende esse tipo de coisa melhor que eu como zaunitas

— Como você transforma minha implicância em um elogio — erguia as sobrancelhas — na hora que achei que estava te irritando

— Continue tentando baixinha — Ekko diz rindo

— Eu devia mesmo estar irada com vocês — ria para confusão dos dois — vocês chamam muita atenção

— Você literalmente brilha — Zeri continuava confusa enquanto Ekko começava olhar ao redor entendendo mais cedo o significado da frase da cantora — como nos chamamos mais atenção que você?

— Nunca sou seguida quando sozinha — dizia calmamente antes de parar antes da esquina onde quatro homens com respiradores esperavam

Vindo atrás deles logo surgiram mais cinco, três deles Zeri reconheceu do bar — realmente devia ter interrompido aquela reunião — tirava sua pistola do cinto

Ekko tirou seu bastão das costas — acho que vocês estão nos confundindo

— Longe disso garoto, três problemas na mesma noite — o aparente líder da gangue com aprimoramentos quintec nos punhos comentou divertido — muita sorte nossa

— Bem eu estava precisando descarregar mesmo — Zeri esfregava os dedos criando estática

— Não tão rápida fedelha — logo a gangue avançou, uma lâmina longa foi em direção a Zeri ricocheteando em uma barreira translúcida que cercava o três, assim que cessou ela eletrocutou o capanga

— Desde quando seus abracadabras ficaram legais? — Ekko desviava de dois acertando um terceiro nas pernas o derrubando

— Treinando para ver o que posso fazer com isso — Seraphine pulava para trás ficando de costas para Zeri que escutava notas agudas e alguns que as cercavam ficavam visivelmente atordoados

— Conversa casual, sério? — tom incrédulo de Zeri seria cômico fora da situação, logo puxava a piltovense desviando de alguns braços mecânicos, chocando os atordoados

Logo os primeiros atingidos se afastaram abrindo o círculo em volta dos três que estavam de costas um para o outro. Notaram que tinham mais alguns além dos nove iniciais que os cercavam

— Está bem para uma pilt preguiçosa — Ekko enxugou a testa

— Lisonjeada, vindo de um engenheiro arcano — Seraphine devolvia no mesmo tom

— Flerte agora? — Zeri bufava enquanto sentia sua jaqueta carregada vendo os capangas fechando o círculo em sua volta

— Ele não faz meu tipo/Ela não faz meu tipo — respondiam em uníssono

— Vou apanhar por causa de dois idiotas — Zeri falou para si mesma apesar de ser auditivo na distância que estavam

— Merda! — Seraphine recebeu olhar preocupado dos dois, levantou escudo em volta deles e gritou — não mata!

Tiros rasgaram a escuridão acertando os capangas de um dos lados, em seguida Seraphine soltou um som alto derrubando outros próximos e aproveitando caos Zeri soltou uma explosão eletrocutado os do lado oposto, enquanto Ekko acertou os restantes.

Com maioria desmaiada ou gemendo de dor no chão e alguns outros fugindo mancando, Seraphine foi a primeira a baixar a guarda — relaxem não vai atirar em vocês

— Gostaria de uma explicação — Zeri dizia olhando para os telhados e pontos do desfiladeiro em volta — se não for pedir muito.

— Primeiro — Ekko puxou o líder da gangue do chão pelo colarinho — porque você não abre a boca e nos poupa de ver uma bala encravada na sua cabeça

— Por favor — choramingou tentando inutilmente se afastar

— Era sobre isso que você conversou com Mave da Glasc no bar? — Zeri pressiona enquanto guarda a pistola

— Estamos em divida com as indústrias químicas — engolia seco — ela disse que poderia aliviar a dívida se nos livramos de alguns problemas — apontou com cabeça para piltovense que corou

— E nós três era uma oportunidade muito boa pra cair na graça dos barões? — Zeri perguntou divertida enquanto ele acenava afirmativamente — Sera, porque raios a baronesa que mais circula que Piltover quer você morta?

— Vai saber né — piscou para os zaunitas — bem eu tenho que ir e vocês também

Ekko soltou o homem antes de ser abraçado junto de Zeri pela cantora — vejo vocês depois

Ficaram alguns segundos olhando para Seraphine que logo sumiu nas vielas, até Ekko dar de ombros e começar a ir embora

— Espera chefinho — alcançou seu ritmo — entendeu alguma coisa?

— Nada de novo — sorri debochado — e você ?

— Que vou ter mais dor de cabeça, mas pelo menos ela não é problema só meu — riram enquanto caminhavam deixando aquela bagunça para trás — Kay não vai acreditar que sua ídolo lutou nas vielas

Com algumas brincadeiras e risadas logo os dois sumiram na escuridão e fumaça de Zaun.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.