And In This Pool Of Blood

Lembranças compartilhadas, significados diferentes


Depois da desconfortável hora em que não conheci nada sobre a Jamia, dispensei o convite do Frankie de me levar para casa; não precisava de mais olhares fulminantes da namorada dele. Ela não gostara do meu jeito, tampouco da minha amizade com Frankie. Enfim, Jamia Nestor havia me odiando à primeira vista.

Vim andando pelas ruas escuras, sobre a luz noturna e alguns postes públicos. Não me animava voltar para casa. Na verdade, não me animava mais nada. Puxei o casaco preto que estava usando, contra o corpo. Estava muito fria a rua.

Andava sem ter ideia do que fazer quando percebi onde estava: no Parque de Beleville. Imediatamente me lembrei daquele dia. Way... era simplesmente impossivel conviver com ele.

Parei no meio da rua, que estava deserta. O vento mexeu levemente com os meus cabelos, quase fazendo um convite para que eu vencesse a distância e fosse até lá.

Fui. Não podia deixar de ir. Sabia que não haveria ninguém ali. Olhei em volta. Nada era o mesmo; eu não era a mesma.

Sentei-me num banco que havia ali perto. Fiquei observando o movimento do vento ao tocar as copas da árvores mais próximas. Way... fora ali, naquele parque. Como eu o odiava...

- Sabe, você não tem cara que vem aqui...

Dei um pulo do banco, aterrorizada. Não, era sacanagem: Way!

É, lá estava ele, parado atrás do banco. Sorrindo cinicamente.

"Beleza! Agora toda vez que eu pensar nesse imbecil, ele vai aparecer e me dar um susto!".

Não respondi. Minha política era ter o minimo contato possível com ele.

- E então? - perguntou, colocando suas mãos pálidas nos bolsos da jeans - Que faz aqui?

Me lembrei, irresistivelmente, daquele dia em que o conheci. Estreitei os olhos.

- Não é da sua conta.

- Que resposta feia, Natallie - disse ele, contornando o banco até chegar perto de mim.

- Não me lembro de ter dado tanta intimidade à você, Way.

Ele pareceu ainda mais satisfeito com o situação. Seu sorriso não podia ser mais cinico.

- E ao McCracken? - sussurrou - Você deu intimidade à ele?

Não consegui me controlar. Levantei quase que automaticamente minha mão em direção à cara do Way; ele a segurou, evitando o golpe.

- Me... solta! - disse, com os dentes cerrados. Mas ele não soltou.

- Calma - retrucou - Eu não tenho culpa se você me entendeu mal...

- Você é um retardado! Me solta! Agora!

Ele finalmente soltou-me. O olhava com um raiva tão grande... era impossivel Way não sentir isso.

Então ele deu meia volta e sentou-se no banco. Cruzou os braços, entediado.

- Sabe, já faz algum tempo desde a nossa última discurssão.

Fiquei surpresa. Desviei meus olhos dele.

- Então você se lembra?

- Claro que lembro - respondeu - Não houve momento algum em que não te olhasse e lembrasse daquele dia. Mas... porquê?

- Por que o quê?

- Por que você me odeia tanto? Não pode me culpar por uma coisa que eu nem sabia.

- Você não muda mesmo... - e virei-me para ir embora, já que não havia sentido continuar ali.

- Então acabamos assim - disse Way às minhas costas - Você me odeia e ponto final?

- Como pode acabar se nunca começou?

Senti ele se levantar do banco. Ele novamente chegara perto de mim.

- Você fala como se houvesse mais alguma coisa por trás disso.

- Agora foi você que me entendeu mal.

Andei o mais depressa que pude. Estava decidida a odiá-lo. Agora mais que nunca.

Mas, nisso tudo... acabei de quebrar o pacto comigo mesma de evitá-lo. Tinha falado com o Way, e isso havia sido a pior experiência do mundo. Ele compartilhava aquela lembrança, porém, para ele não tinha o mesmo significado. Não tinha vestigios de raiva ou coisa parecida em sua voz. O que isso queria dizer?

Cheguei em casa pouco depois, essa pergunta martelando na minha cabeça. Fiquei tranquila em saber que minha avó já estava dormindo.

Ela conhecia o Way...

Bom, eu decididamente estava confusa com tudo. Primeiro a tal Jamia, depois o Way... não havia sido a noite que eu esperava...

No fim, ainda estava sendo a mesma Natallie, com os mesmo problemas, que pareciam ter somente mudado de lugar.

" É, preciso de férias...", pensei antes de dormir.

"... preciso também que algo bom aconteça, de preferência o mais rápido que der. Senão, eu piro."

Adormeci, nem feliz, nem nada.