Com a proximidade do Dia das Bruxas, Frankie ficava cada vez mais insuportavel. A cada meia hora mudava de ideia quanto ao presente que queria. Parecia mais que ele ia fazer seis anos de idade do que dezesseis.

Ainda estou pensando seriamente se dou ou não um presente de aniversário. Em parte, porque ele não tá merecendo (N/A: Tadinho, sou mau, né?); em parte porque eu não sei presentear ninguém.

Bem, vou pensar no caso.

Mas outra coisa me pertubava imensamente: essa amizade entre minha avó e o Way. E essa história dele estar se passando por alguém que não é.

"Educado, amigavel, excelente...", as palavras da minha avó não paravam de soar na minha cabeça toda vez que pensava nisso.

Hoje, como na maioria das vezes, estou no colégio (pra variar?). Não estou prestando muita atenção na aula, porque eu e Bert estavámos conversando em silêncio na sala.

Vocês devem estar se perguntando se isso tem pé e cabeça... Simplificando, mandamos mensagens um pro outro por uma folha de papel.

A Jessica deve estar olhando, mas ela não vai perder a oportunidade de me sacanear no intervalo contando pros professores. Por isso que gosto dela. Ela é que nem Frankie, não perde essas oporrtunidades... triste, não?

"Vai ter aula hoje, professora?" - ele escreveu.

" Vou pensar a respeito. Você já melhorou e muito em Fisica pra continuar com essas aulas." - respondi.

"É só uma desculpa pra ir na sua casa, não se preocupe" - Bert corrigiu-se.

"KKK... Você tá parecendo o Frankie"

"Ei, não acredito que escreveu isso! Ah, sabe a resposta desse exercicio?"

"Não."

"Talvez você saiba, mas não quer me dizer?"

"Tá ficando inteligente, hein?"

"Hum... não gostei desse comentário irônico, Natallie."

"A vida é irônica, Bert."

"Você tá filosofando?"

"Eu acho. Mas acharia melhor você se concentrar nos seus exercicios."

"Tá bem, professora... Sem estresse..."

"¬¬\\\' Problemático."

"Sabe isso me lembrou uma coisa. O que sua avó queria com você ontem?"

Não sabia se respondia ou não. Decidi não responder.

"Ela queria saber se a gente ia demorar muito estudando." - menti em parte.

" -_- Se bem que a gente não tava estudando..."

"Ela não precisa saber se você não contar. E fale por você, porque eu estudei muito."

"^o^... Okay..."


Quando o Intervalo começou o Bert recebeu uma ordem de ir até a diretoria. Olhei com surpresa para a Jessica e ele parecia tão confusa quanto eu. Me sentia preocupada, mesmo sabendo que ele não tinha feito nada digno de ir para lá.

- Vem, Natallie - disse Jessica, me puxando da cadeira - Depois você vê ele, não deve ter sido nada.

Antes de sair da sala, não pude deixar de reparar no sorriso cinico do Way. Esse sim merecia passar o resto de seus dias na diretoria.

- Se te irrita tanto, por que você não o denuncia? - perguntou Jessica, quanto sentamos nas arquibancadas, de frente para a mesmissima piscina em que um dia Gerard resolvera aprontar mais uma de suas maravilhosas vinganças.

Apague o maravilhosas. Devo estar pirando.

- Eu não me rebaixaria a tanto - respondi - Além do mais, Way não é da minha conta.

- Mas tá parecendo que é, do jeito que você olha para ele.

- Não acredito que disse isso - retruquei - No dia em que ele for, me interne num hospicio.

- Como quiser - disse Jessica, dando de ombros.

- E pare de falar nesse imbecil.

- Okay, okay... tá muito estressada hoje.

- Natallie?

A voz não era de Jessica. Vinha de alguém as nossas costas. Jessica olhou para trás.

- Não olhe agora, mas o Way está te chamando.

Levantei-me, enfurecida.

- O que você quer? - perguntei.

Way se aproximou de onde eu e Jessica estavámos.

- Falar com você, posso? - ele usava o mesmo tom educado que usara com minha avó, mas seus olhos permaneciam da mesma forma, cinicos, maliciosos.

- Eu vou indo nessa, Natallie - disse Jessica, levantado-se também e passando por mim - Aproveito e vejo o que aconteceu com o Bert.

Eu não sentia a menor vontade de falar com ele.

- Você tá me seguindo? - perguntei mais uma vez, decidida a não me aproximar daquele imbecil.

- Talvez - respondeu ele, desinteressado - Mas isso não interessa agora, quero falar com você.

- E quem disse que eu quero falar com você?

Ele suspirou, cansado.

- E quem disse que eu tô aqui porque quero?

- Por que você então não vai embora?

- Porque eu não quero, oras - respondeu Way - estamos num país livre (eu acho) e você não manda em mim e...

- Eu já entendi!

- Finalmente - comentou - Já é um começo.

- Vai falar o que quer ou não?

- Tenho escolha?

Já ia descendo das arquibancadas, enfurecida, quando Way puxou meu braço. Fazia um esforço para prosseguir, mas ele não deixava.

- Será que você não muda esse seu gênio nem namorando aquele idiota? - perguntou ele, no meu ouvido.

Parei subitamente de tentar ir embora.

- Você que é o idiota.

- Quê?

- Só você que não percebe Way - continuei, ainda de costas para ele - Você é o único idiota aqui.

Senti ele soltar minha mão.

- Seria bom se você deixasse sua raiva por de mim de lado - ele disse - Estou aqui por causa do Frankie. Então o que você tiver entalado na sua garganta, fale depois.

A mudança repentina de tom fez com que eu ficasse surpresa. Era frio, distante. Resolvi jogar o mesmo jogo dele.

- Que seja - disse, sentando novamente na arquibancada - O que o Frankie quer?

Percebi que ele sorria. Um sorriso minimo. Ele sentou-se também do meu lado.

- Até que enfim. Bem, você deve saber que o aniversário do Frankie se aproxima, não?

- Que pergunta estupida, é claro que eu sei.

- Vai ser na minha casa.

- O quê?

- A festa - explicou - Eu ofereci minha casa para ele fazer a festa.

- Por que você faria nisso?

Ele pareceu pensativo.

- Boa pergunta - respondeu - Até agora não descobri.

- Vai ver porque você é um rapaz adoravel, gentil com as pessoas, muito educado... - disse sarcasticamente - Não é?

- De quem você tá falando? - perguntou ele, surpreso.

- Não é esse imagem que você passa pra minha avó?

- Você pirou. Mas, isso também não interessa agora. A Nestor vai.

- Jamia?

- Quantas Nestor você conhece?

- Esquece. Continue. O que tem a Jamia ir?

- Você deve ter reparado que não é a favorita dela, não?

- E daí?

- Não tá obvio? - perguntou - Ela não vai querer você lá.

- É sério? - perguntei novamente em tom sarcastico - Quem disse que me importo?

Ele cruzou os braços, como se eu não estivesse entendendo a situação.

- Ela se importa. Vai pensar que Frankie te convidou e...

- E seu plano iria por água abaixo, não é?

Ele ficou sério. Depois riu.

- Cara, o Frankie não segura aquela boca dele! Sabia que ia contar pra você...

- E com certeza você acha isso agradavel, Way? Ficar enganando Jamia?

- Jamia não é adoravel. E isso também não interessa.

- E o que interessa?

- Que você vá. Na festa.

- Por que?

- Porque eu quero.

O.o?

- E Frankie - acrescentou, rapidamente.

Fiquei calada, pensando.

- Então? - perguntei depois de alguns segundos de intenso constrangimento - Qual é o plano, Way?

- Você vai - respondeu ele, descruzando os braços - Comigo.

Me afastei depressa, como se a ideia você novamente aquele monstro de marshmallow querendo pegar a mim, ao invés do Frankie.

(N/A: Talvez deva mesmo parar de tomar LSD... XD)

- O QUÊ?

Way se levantou rindo. A campa tocou em algum lugar.

- Pense a respeito, Natallie - disse ele.

- Por que acha que eu iria com você, quando posso ir com o Bert.

Ele contraiu o rosto. Depois, como se tivesse acabado de se lembrar de algo, sorriu, balançando a cabeça.

- Você não pode ir com o McCracken - respondeu, colocando as mãos nos bolsos, num gesto muito seu.

- Quem disse?

- A mãe dele.

- Como assim?

- O pai dele ficou doente, pelo que soube - explicou ele, desviando o olhar - E ele mora em outra cidade, então... digamos que o seu namoradinho vai ficar fora durante algumas semanas.

- Como sabe disso? - perguntei, assombrada com esse informação.

- Eu sou bem informado, só isso. Bem, me procure quando concordar com a minha ideia. - e dizendo isso, começou a descer as arquibancadas.

Fiquei parada no mesmo lugar. Depois, virei-me, indo atrás dele. Não por querer, só íamos para o mesmo lugar!

- Eu posso ir com algum dos seus colegas.

- Sem chance - disse ele, pensativo.

- Por que?

Ele riu antes de responder.

- O Ray contou para eles como você era quando criança, Natallie - disse, enquanto uma massa de estudantes se deslocava pra suas salas - Depois disso, morreram de medo de você. E suas respostas...

Não conseguia acreditar nisso.

- Sobrou pra mim, então. Gosto das suas respostas.

- Por que? - perguntei, no corredor dos armários.

- Sei lá. Talvez eu seja... masoquista...

Ò.Ó! IDIOTA!!!

Fiquei em silêncio até chegarmos na sala de aula. É, eu estava pagando muito caro pelas burradas do Frankie...