Amê Souer

Capítulo 14: Monstrinhos Ruivos


Dia seguinte

Quarto de Luka

Quando Alix chega, Luka está tocando violão com uma folha rabiscada a sua frente enquanto ele anota alguma coisa nela.

— Por que me chamou aqui, Couffaine? – ela pergunta, de braços cruzados se apoiando no batente da porta.

Ao ouvir a voz dela, ele tira os olhos do papel e diz sorrindo:

— Oi para você também, Ruby-Rose.

Ela bufa, andando até a cadeira da escrivaninha e se largando nela.

— Diga logo, eu tenho mais o que fazer.

— Bom, para começar, nós precisamos convencer a todos, incluindo nossos pais, de que estamos juntos de verdade. Para isso precisamos realmente nos conhecer um pouco. Certo?

— Certo, e por onde começamos?

— Sei lá, eu nunca fiz isso antes – ele dá ombros.

— Jura que nunca sentou para conversar com a sua namorada falsa para bolar um plano para enganar todas as pessoas que você conhece? – Alix perguntou, ironicamente.

— Muito engraçada Ruby-Rose. Você é hilária. – ele revira os olhos, mas não consegue conter um sorriso.

— Ok, roqueirinho. Vamos fazer isso logo porque eu ainda tenho que fazer meu dever de casa – ela cruza os braços.

— E se a gente fizesse um jogo de perguntas? – Luka sugeriu. – Você me faz uma pergunta e eu te faço outra em seguida.

— É pode ser – Alix dá o braço a torcer.

Luka então se jogou na cama, dizendo:

— Eu começo então – Luka franze o rosto, pensativo – Sei que seu irmão se chama Jalil e seu pai Alim. Você mora com os dois no prédio anexo ao Louvre. Seus pais são separados, você sempre viaja muito devido à profissão dele e graças a isso você é fluente em varias línguas. E mesmo com todas essas idas e vindas para outros países você é uma ótima aluna.

— Fez a lição de casa, Couffaine – ela o olha, com surpresa estampando suas feições.

— É claro que eu sei algo sobre você! Você é uma das melhores amigas da minha irmã – Luka se justificou, na defensiva.

— Justo. Bom, o que eu sei sobre você? – Alix batucou o lábio com o dedo indicador, pensativa – Você tem uma irmã gêmea. Mora num barco. Gosta de tocar guitarra. Estuda num colégio centrado em artes. Tem uma queda pela Marinette. Seu pai é, ironicamente, Jagged Stone. Sua mãe me adora e o principal... – completou com um sorriso travesso – você consegue me irritar com uma frequência assustadora.

Luka revirou os olhos.

— E você é um monstrinho irritante também, sabia?

Com isso, ela gargalha. Uma risada solta que parece preencher o cômodo inteiro, fazendo Luka sorrir em resposta.

— Justo – ela diz, por fim - Vamos continuar. Quando é o seu aniversário?

— 21 de abril. E o seu?

— 19 de maio.

— Parece que temos alguma coisa em comum afinal Couffaine – ela o provoca. – Comida favorita?

— A macarronada da minha mãe sem dúvidas. A sua?

— Qualquer tipo de doce.

— Comida, Kubdel, não sobremesa – ele balançou a cabeça, sem saber se ria ou se ficava preocupado com a taxa de açúcar no sangue dela.

— Não tenho preferência, como qualquer coisa. E a sua?

— Eu já disse.

— Sobremesa...

— Ah tá. Sorvete de flocos.

— Banda favorita?

— Beatles. Você?

— Parece que temos outra coisa em comum – ela disse, sorrindo.

— Quantos anos você tem?

— Estamos no mesmo ano, Kubdel, temos a mesma idade - ele revirou os olhos como se fosse óbvio e ela ruborizou dizendo:

— Na verdade eu tenho 15 anos.

— Serio?

— Sim. Esporte favorito?

— Patinação no gelo.

— Serio? - ele dá de ombros

— Sim, e você?

— Roller derby.

— Legal. Filme de ficção favorito?

— De volta para o futuro. Óbvio. O seu?

— Quinto Elemento.

— Até que você não tem um gosto tão ruim assim para filmes.

— Obrigada.

— Já ficou bêbada?

— O quê? – a garota o olha confusa.

— Quero saber se você já ficou bêbada – ele repete.

— Por que isso é importante?

— Sei lá, só fiquei curioso. – ela disse, depois de um tempo, dando de ombros.

— Já, apesar de não que seja da sua conta... como começamos a namorar?

— O quê?

—Quando perguntarem, não vai pegar bem se cada um de nós contarmos uma história diferente.

— Certo. Bem... sei lá, temos alguns amigos em comum, você é amiga da minha irmã, começamos a conversar e aconteceu.

— Só isso?

—Tem uma ideia melhor, Kubdel? - ele levantou a sobrancelha em desafio.

— Eu não sei, mas podia ser uma história um pouquinho melhor. Mais convincente.

— Algo romantizado?

— Não, mas acho melhor deixarmos aquela historinha que contamos para o Adrien e a Mari.

— Ok. Pode ser.

— Terminamos?

— Por hora acho que sim.

— Ok, estou indo então – ela fala, já se encaminhando até a porta. Porém, ele se levanta e a segura pelo braço, dizendo:

— Não, espera!

Ela olha pôr sobre o ombro e esboça um sorriso travesso, falando em tom sarcástico:

— O que foi, Roqueiro, não consegue viver sem mim?

Ao ouvir as palavras da ruiva, a pele do garoto adquiri um leve rubor.

— Não – ele entra na defensiva – Quero dizer... sim ... argg ... não é isso... eu só achei que poderíamos passar um tempo há mais juntos e assistir algo. Tem uma coisa que eu queria te mostrar, lembra-se? - ela diz rindo da confusão de palavras dele:

- Ok. E o que seria ?

— Você vai ver! – e dando de ombros ela se senta novamente.

Ele então liga a tv fazendo a tela se acender, já aparecendo o famoso símbolo da Netflix.

— Para Todos os Garotos Que Já Amei? – Alix exclama, incrédula. – Não me diga que temos que assistir a isso?

— Porque não? – Luka retruca. – Precisamos descobrir mais sobre namoros falsos e ouvi dizer que esse filme aqui é melhor do que uma enciclopédia quando se trata do assunto.

Dito isso, ele aumenta o volume da televisão, tentando calar as reclamações da ruiva.

Mas, obviamente, não seria tão fácil assim.

Alix, ainda o encarando com incredulidade, pergunta:

— Porque você não assiste e depois me conta como eles fazem isso?

Luka revira os olhos, sem tirar a sua concentração da tela, onde Lara Jean desperta do seu devaneio com Josh.

— Você trouxe a lista? – ele pergunta, ignorando completamente o que ela havia dito.

— Sim, por quê? – ela responde, cautelosa com a mudança repentina de assunto.

— Precisamos acrescentar algumas coisas nela – Luka diz, cruzando os braços. – Você precisa ir aos meus ensaios e eu aos seus treinos. E eu preciso busca-la na escola também.

Alix bufa em desdém, mas Luka ignora e continua:

— Também precisamos sair só nós dois. Ah! E eu vou te mandar bilhetinhos pela Juleka sempre que não puder te acompanhar. E, por fim, precisamos postar coisas nas nossas redes sociais.

— Que tipo de coisas? – Alix pergunta, ainda em choque.

Como que a sua vida havia virado uma peça de teatro brega?

— Não sei ao certo ainda, mas coisas que casais fazem – Luka dá de ombros.

— E o que casais fazem? – Alix pergunta, irônica.

— Não sei, e é por isso que estamos assistindo a este filme, para descobrimos juntos – Luka fala, com toda a calma do mundo, encerrando a discussão.

Lista de coisas que teremos que seguir:

1) Levá-la e buscar na escola sempre que possível;

2) Registrar esses momentos juntos;

3)Não revelar sobre as identidades;

4)Não falar com ninguém sobre o assunto em questão (“namoro”);

5)Ir a encontros com os amigos sempre juntos;

6) Tentar se conhecer melhor para evitar problemas no caso de fazerem perguntas indiscretas;

7) Ir a encontros todas as sextas à noite;

8) Conhecer as famílias um do outro;

9) Ir aos ensaios e aos treinos;

10) Postar fotos e mensagens nas redes sociais;

11) Coisas de namorado (escrever versinhos).

— Mais alguma coisa? – ela pergunta, sarcástica.

— Acho que não – ele diz, prestando atenção no filme.

Ela revira os olhos, guarda a lista e cruza os braços, começando a prestar atenção ao maldito filme.

Enquanto as cenas do filme iam se desenrolando, as coisas começaram a ficar um tanto quanto constrangedoras.

E tudo só piorou quando Rose entrou toda sorridente e saltitante no quarto.

— O que estão assistindo? – ela perguntou ingenuamente, fazendo Luka e Alix saltarem no lugar de tanto susto.

Luka foi rápido ao mudar de canal.

—Nada importante – ambos dizem em uníssono, mas as caras de culpados não enganam ninguém.

E, como a cereja do bolo, Juleka aparece na porta também.

— Eu e a Ju vamos tomar um sorvete, querem ir conosco? – Rose pergunta, desconfiada.

— Claro! – tanto Alix quanto Luka dizem ao mesmo tempo, se levantando e indo em direção a saída querendo se livrar daquele constrangimento.

Mais tarde naquele mesmo dia...

Luka estava indeciso. Esse filme havia deixado às coisas mais estranhas do que já estavam, mas também tinha lhe dado algumas ideias do que poderiam fazer.

Suspirando, ele olha para a tela da Netflix.

— Será mesmo que eu devo assistir? Ou será melhor ignorar e seguir as coisas do nosso jeito? – ele se perguntava.

Não muito longe dali Alix enfrentava o mesmo dilema. Ela estava nervosa, curiosa e desesperada. Tudo ao mesmo tempo.

Esse filme tinha deixado às coisas mais confusas do que já estavam em sua cabecinha ruiva.

— Não é possível – ela resmungou consigo mesma. – Vou terminar de assistir a essa comédia boboca e vou rir na parte que a Lara da um fora no Peter-qualquer-coisa. É, é isso que eu vou fazer.

Assentindo para si mesma, Alix pegou o controle da tv.

Sem saberem disso, os dois deram o play no filme ao mesmo tempo.

Uma hora e quarenta depois...

Revoltada, Alix arremessou o balde de pipoca na tv, gritando a plenos pulmões:

— Isso definitivamente não vai acontecer!

Luka, por outro lado, estava olhando para a tv com uma expressão indecisa quando apareceu na tela a indicação para assistirem a sequencia do filme.

Ambos deligaram a tv, afirmando:

— Definitivamente não!

Alix estava resmungando enquanto ajeitava - na verdade socava - o travesseiro, se preparando para dormir:

Eu me apaixonar por aquele roqueirinho de quinta idiota? Até parece...impossível...

Luka não se encontrava de modo diferente, também estava resmungando, mas ao invés de socar seu pobre travesseiro, como fazia Alix, ele o abraçava como se fosse um ursinho de pelúcia.

— Até parece que vou me apaixonar por aquele monstrinho ruivo azedo... – ele revirou os olhos antes de apagar a luz e tentar dormir.

Naquela noite, ele sonhou com monstrinhos ruivos invadindo o seu quarto e acordou no dia seguinte sem entender o que aquilo significava.