Dentro de um pequeno café, em algum lugar perto dos arredores de Paris, luzes alaranjadas alinham-se no teto, embora apenas algumas estivessem acesas, dando ao espaço uma sensação escura e quase aconchegante. Os sons leves de colheres batendo em torno de xícaras, de garfos batendo suavemente em pequenos pratos preenchidos por generosas porções de crème brulée e petit gateau, mesmo em um ambiente com tão poucas pessoas, ainda fazia parecê-lo bastante animado. O aroma inebriante de café esfumaçado e pães frescos percorreu o ar, mesmo antes que a garçonete trouxesse a xícara rotunda da bebida escura, curvando-se levemente sobre as mesas para entregar a bebida para os clientes que estavam ali, que se dividiam entre turistas hipnotizados com o charme da cidade luz ou residentes da cidade luz que já estavam acostumados com a paisagem que os rodeava, sentados solitariamente ou acompanhados, nas mesas que preenchiam o ambiente.

Já passava meia-noite, e apenas os notívagos que apreciam esta hora da noite permaneciam ativos no mundo. O café ficava na esquina de uma pequena rua, longe do centro da cidade. Os turistas raramente iam tão longe, exceto pelos poucos que gostavam dessas coisas, como vivenciar a verdadeira vida de uma cultura noturna, o único tipo de turista em que a maioria dos clientes deste café recebia. Sentada longe das janelas, em uma das mesas mais distantes do café, Amélie Guillard estava ao lado de uma pequena caixa de instrumentos, segurando folhas de papel na frente dela, seu dedo envolvendo o papel para levantá-lo para ela leitura. Seus olhos seguiram a partitura, cuidadosamente, tentando ouvir a música enquanto seus olhos percorriam o papel.

"Se o verão fosse um ..."

Ela mordeu o lábio inferior enquanto sua testa franzia. Ela estava tentando imaginar a melodia em sua mente, simplesmente olhando para as notas, sem perder tempo puxando seu instrumento. Além disso, não teria sido adequado, aqui, em um pequeno café tão tarde da noite. Ela abaixou a cabeça por um momento para se recompor antes de começar novamente.

"Se o verão fosse um pouco ..."

Ela suspirou baixinho, balançando a cabeça antes de deixar cair os papéis sobre a mesa, simplesmente pegando sua xícara para um gole de café. Enquanto tirava a xícara dos lábios, ela rapidamente passou a língua pela frente dos dentes, como se estivesse fazendo o possível para evitar amarelá-los com a bebida escura. Seus olhos se demoraram ao redor, observando cuidadosamente o bar no meio da sala, observando a garçonete recolher algumas xícaras deixadas nas mesas do estabelecimento em sua pequena bandeja. Os olhos de Amélie a seguiram até uma mesa próxima, agora examinando o jovem sentado ali, aceitando graciosamente o copo entregue a ele antes de voltar toda a sua atenção para a tela de seu laptop. Talvez ela devesse comprar um também? Certamente ajudaria a transpor o som em pulsações dentro de seu cérebro. Ela voltou os olhos para sua mesa, gentilmente segurando seu saleiro, rolando-o em um círculo sobre a mesa enquanto pensava, provavelmente sobre amanhã. Ela precisava voltar para casa logo, de qualquer maneira. Seus dias se alternavam e amanhã era seu dia de ballet. Ela precisaria deixar seu violino no armário até a próxima vez. Enquanto ela pensava, ela olhou fixamente para a janela na frente dela, alinhada com a parede externa do café. De repente, um homem apareceu, quase com pressa, caminhando rapidamente com a cabeça baixa. Amélie o observou com curiosidade, a cabeça girando lentamente enquanto o homem se aproximava da esquina, contornando-a apenas até chegar à porta do café, entrando no local apressadamente. Seu foco permaneceu na janela para onde Amélie estivera olhando para si mesma, como se estivesse procurando por algum perseguidor obstinado. Ele rapidamente deixou cair o casaco pelos ombros, torcendo-o do avesso, pois era reversível, o forro interno não apenas em uma cor diferente da anterior, mas em um padrão de costura diferente. Enquanto ele descia apressadamente pelas janelas, os olhos de Amélie escureceram quando ele se aproximou de sua mesa e ela ficou muito incomodada por ele estar fazendo isso, imaginando o que ele estava pensando. Em uma mudança repentina, ele saltou em direção à mesa dela, cambaleando na cadeira em frente a ela, puxando o casaco sobre os ombros, cobrindo seu torso e cabeça, e seu corpo instantaneamente ficando imóvel. Amélie o observou, desanimada, embora seu foco rapidamente se voltasse para fora enquanto um grupo de homens corria furiosamente pela mesma fileira de janelas, a maioria deles virando a esquina. Um, no entanto, olhou para as janelas do café e parou na porta, curiosamente colocando a cabeça para dentro. Amélie se virou para o homem em sua mesa, com raiva puxando sua perna para cima antes de chutá-lo furiosamente na canela. Além de um pequeno gemido, nada saiu dele, e ela se virou para o capanga entrando no café, olhando ao redor com maldade em busca de sua presa. Enquanto ele caminhava lentamente ao longo das mesas, eventualmente ele ia se aproximando cada vez mais de Amélie, provavelmente curioso com o homem encapuzado em frente a ela. Ela o observou quando seus olhos se encontraram, seu olhar cheio de antipatia com a ideia dele incomodando-a. Ele apenas a observou seriamente sem mudar sua postura intimidadora, parando em sua mesa, enfiando as mãos nos bolsos enquanto seu corpo rolava para trás, como se tentasse impressioná-la.

— É esse o homem que estou procurando? — disse o homem em pé olhando fixamente para ela.

— Ele é meu irmão — Amélie respondeu com um tom de voz frio, porém com segurança, sem quebrar o contato visual.

— Seu irmão? Há quanto tempo ele está aqui?

— Acho que para alguém que eu não conheço você está querendo saber demais, não acha?

O capanga observava ambos sem dizer nada. Ainda estava curioso, embora o casaco do homem certamente fosse diferente do anterior ele tinha uma certa semelhança com o homem que ele perseguia. Ele fungou ameaçadoramente, mas antes que esboçasse qualquer reação um de seus colegas correu de volta para a porta, pulando para dentro do café e gritando:

— Vamos, Reilly! Pegamos ele!

O segundo cara saiu correndo, deixando o valentão sozinho na mesa de Amélie novamente. Ele fungou mais uma vez enquanto recuava em passos vagarosos, antes de virar e sair, rapidamente, em direção à saída. Ele foi tão rápido que a porta não se fechou e a campainha não tocou, deixando o “visitante” de Amélie sob o casaco. Com raiva, ela puxou a perna para trás novamente, antes de imediatamente acertá-lo com chutes, repetidamente, até que ele finalmente gritou de dor, levantando-se no assento, com o casaco escorregando para a cadeira enquanto ele esfregava a perna.

— Sabe, isso dói — ele murmurou, com desdém.

Amélie olhou feio para ele.

— E você deveria aprender boas maneiras!

O homem a observou, mas rapidamente desviou seu olhar, incapaz de argumentar com o fato de que ele simplesmente entrou sem explicação. Ele continuou esfregando a canela, desviando o olhar quando a garçonete apareceu, indiferente.

— Você gostaria de algo para beber?

— Uh, sim — o homem respondeu — E ela merece um...

Ele percebeu rapidamente que ela já tinha tomado um café, então ajustou seu pedido.

— Uh, você tem cheesecake?

A garçonete acenou positivamente com a cabeça enquanto se virava para ir embora, o homem inclinando-se para o lado enquanto pegava sua carteira, totalmente ciente do olhar digno de uma mulher chamuscada. Ele tentou ignorar, enquanto dobrava o casaco e o deixava ao lado dele.

— Eu não como cheesecake — Amélie falou baixinho, quase sem fôlego, enquanto o homem olhava para ela.

— Oh, uh, eu posso pegar outra c...

— Deixar-me em paz já seria o suficiente — ela murmurou com raiva. — Seus perseguidores já foram embora, não? A porta é ali.

O homem riu nervosamente.

— Oh. Ok, bem, obrigado, senhora.

Ele estendeu a mão para um aperto de mão, embora ele não tenha sido correspondido, então ele simplesmente sorriu desconcertado enquanto recuperava sua mão,

— Eu sou Chadwick. Pierce. E foi um prazer fazer negócios com você.

Ela o olhou sarcasticamente.

— O mesmo aqui.

Ele riu desconcertado enquanto deslizava para fora da cabine, caminhando para outra mesa próxima, sentando-se enquanto puxava uma pasta de dentro de seu casaco. Amélie revirou os olhos ao voltar para a partitura, balançando a cabeça. Ela pegou sua xícara, engolindo um pouco do café, com gosto amargo servindo para realçar seu humor a experiência do que quer que tinha acabado de acontecer. A garçonete voltou, mas Chadwick acenou para que ela se aproximasse de sua nova mesa, embora não tenha pegado o cheesecake, deixando a garçonete trazê-lo para Amélie. Por um momento, ela pensou em mandá-lo de volta, mas percebeu que valeria mais a pena simplesmente aceitá-lo e em seguida jogá-lo fora. Era um cheesecake caro, não que ele soubesse sem ver um menu, mas pelo preço que pagou pelo seu próprio café era fácil presumir isso. Ela empurrou o cheesecake para longe, puxando sua partitura para cima, seus olhos mais uma vez correndo pelas barras de notas. Ela tentou ouvir a música mais uma vez, a letra que a acompanhava, novamente, usada como um guia para ela seguir.

"Se a soma - ..."

Ela reprimiu um grunhido, sua mão apertando ainda o papel com as partituras antes de respirar fundo e bufar. Ela regrediu. Ela não podia acreditar que estava tendo tanta dificuldade com isso. Ela tinha sido uma bailarina durante toda a sua vida. Ela podia mover seu corpo no ritmo da música, podia memorizar melodias. Mas quando colocada em uma forma tão vazia e concreta em um papel ela não conseguia ouvir o que sabia que estava lá. Ela pegou sua mala, suspirando, preparada para perturbar o café, de qualquer maneira, na tentativa de encerrar seu ciclo enlouquecedor de futilidade. Ela precisava aprender a peça de qualquer maneira. Quando ela agarrou o plástico estriado, no entanto, de repente ouviu um zumbido sutil vindo de trás dela. Ela se virou lentamente, notando Chadwick ali, se afastando dela enquanto ele escrevia em uma pequena pilha de seus próprios papéis, cantarolando alto para si mesmo. Isso não era tão importante quanto o que ele estava cantarolando. Era de um ballet, no qual Amélia havia se apresentado, anos atrás. Seus olhos dispararam enquanto ela o observava, reconhecendo tão intrincadamente sua melodia, a ponto de ela ver a performance em sua cabeça. Ela de repente falou, bem alto, soando quase como um grito:

— Chadwick Pierce!

O homem pulou de susto com seu nome sendo exclamado desta maneira, virando-se lentamente, com o braço pendurado nas costas da cadeira.

— Sim?" — respondeu ele timidamente.

— Você conhece 'La Sylphide'? — Amelia perguntou, curiosamente, embora ainda com uma carranca no rosto.

Chadwick franziu as sobrancelhas enquanto seus lábios ficavam entreabertos involuntariamente.

— Errr... Sim? — respondeu ele com um certo embaraço — Eu vi quando passou pela cidade pela última vez. Não consigo tirar isso da minha cabeça.

Ele começou a rir enquanto coçava o queixo, nervoso, enquanto Amélie prosseguiu com o interrogatório:

— Então você conhece música?

Chadwick acenou com a cabeça positivamente.

— Acho que sim. Quer dizer, não é o que eu faço profissionalmente, mas toco piano. Um pouco de guitarra.

Ele pensou em qualquer outro instrumento antes que Amélie o interrompesse, acenando para ele, impaciente. Ele se virou para terminar algo em sua mesa antes de se levantar e caminhar na direção dela, empurrando suavemente o pires de cheesecake de volta para o meio da mesa, sentando-se enquanto Amélie continuava falando.

— Aqui! — ela falou, sem rodeios, entregando-lhe a partitura. — Você pode ler isto?

Ele acenou com a cabeça simplesmente.

— Sim. Eu só...

— Hum — murmurou Amélie, interrompendo Chadwick e ganhando um olhar fixo. — Você queria me agradecer, correto? Então essa é a hora de me agradecer.

Sua sobrancelha se arqueou insegura, enquanto ele olhava para o restaurante, pensando que eles estavam longe o suficiente de qualquer outra pessoa. Chadwick pigarreou, balançando a cabeça enquanto se preparava, olhando lentamente para o café mais uma vez antes de cantarolar junto com a melodia, mais devagar do que costumeiro, já que estava fazendo pela primeira vez. Amélie acenou com a cabeça em aprovação quando ele o fez, reconhecendo a melodia que o instrutor havia tocado antes. Eventualmente, no entanto, a cabeça de Chadwick começou a balançar, lentamente, à medida que ele se tornava mais e mais absorvido na música, acelerando, lendo as letras. Eventualmente, ele começou a simplesmente cantar as palavras, embora baixinho. Ele terminou, largando lentamente a partitura sobre a mesa, encolhendo os ombros.

— Como foi isso?

—Muito melhor do que eu — observou Amélie, sem expressão, recolhendo as folhas enquanto as folheava mais uma vez.

Chadwick sorriu.

— Você parece incomodado com isso.

Ela olhou para ele por cima dos papéis por um breve momento antes de continuar lendo as folhas. Chadwick ficou sentado ali por alguns momentos antes de se mover suavemente para fora de sua frente para retornar a sua mesa.

— Ei — Amélie falou, chamando sua atenção. — O que você está fazendo?

— Trabalhos de avaliação — ele respondeu com um sorriso que significava que sabia que ela não iria acreditar nele. — Eu sou um professor, afinal.

Com certeza, ela o olhou desconfiada, mas ele pegou um dos papéis de sua pilha e entregou a ela. Ela foi apenas brevemente antes de devolvê-lo, encolhendo os ombros.

— Olha, traga tudo aqui — Amélie falou baixinho, indiferente — Alguém tem que comer isso e nem em sonho eu vou tocar nisso.

Chadwick deu um sorriso indiferente antes de fazer o que ela disse, sentando-se em frente a ela mais uma vez, organizando seus papéis novamente. Ele puxou uma caneta verde e começou a marcar as páginas, deixando Amélie incapaz de resistir a ver o que ele estava fazendo.

— Você é inglês? — ela perguntou, sinceramente.

Ele riu, sem tirar sua atenção do papel abaixo dele.

—Quase. Eu sou americano, na verdade.

— Bem, eu acho difícil de acreditar.

A cabeça de Chadwick se ergueu para revelar um sorriso irônico antes de voltar seus olhos para seus papéis novamente.

— Por que isso? Meu francês é muito bom?

Amélie deu de ombros.

— Muito bom, eu diria. Praticamente sem sotaque. Não há nada como crescer na língua para identificar isso. No entanto, você gosta de ballet também. Eu achava que os americanos eram estúpidos demais para qualquer uma dessas coisas.

Sorrindo amplamente, Chadwick respondeu:

— Bem, agora você sabe, eu suponho. E sempre me disseram que as parisienses eram incrivelmente...

Ele fez uma pausa, notando de repente o olhar intensamente divertido de Amélie, apenas esperando que ele falasse, o que, é claro, resultou em ele não o fazer. Ele simplesmente abaixou a cabeça para tomar um gole de café antes de limpar a garganta.

— Eu sou de Annecy, não se preocupe — Amélie confirmou, divertida, embora ainda em seu jeito inexpressivo.

Aliviado, Chadwick riu levemente.

— Arrogante, era o que eu ia...

Ele de repente se virou para ver a garçonete na mesa, olhando para ele com uma expressão confusa. Chadwick sorriu de volta, nervoso, embora ela tivesse certeza de encher novamente a xícara de Amélie com café, pulando a xícara vazia, antes de ir embora.

— Ela pode ser daqui — Amélie confirmou, fechando os olhos enquanto tomava um gole de sua xícara mais uma vez, limpando os dentes novamente com a língua enquanto abaixava a xícara novamente.

— Ah — Chadwick acenou com a cabeça, com conhecimento de causa — Você é uma cantora.

Pardon?!

— Seus dentes — observou ele — Você é uma atriz ou cantora ou algo assim. Você faz apresentações ou algo assim. Você está muito consciente dos seus dentes.

O rosto de Amélie ficou levemente vermelho quando ela começou com raiva de seu convidado.

— Então você está me analisando?

Ele riu.

— Eu ficaria com muito medo de fazer uma coisa dessas com qualquer pessoa com caixas de instrumentos grandes. É apenas, você sabe...

Ela lentamente voltou seu olhar para sua partitura, quase esquecendo porque o convidou para sua mesa até que ele começou a cortar seu bolo de queijo. Felizmente, ele ficou em silêncio enquanto começava a corrigir seus papéis mais uma vez. Ela só se permitiu olhares apressados ​​em direção a ele, tentando entendê-lo. Ainda não convencida de que ele estava falando a verdade, embora admitisse que os fatos pareciam se encaixar, ela o vigiava, cuidadosamente, presa entre a curiosidade e aquele sentimento que um predador tem ao espreitar uma presa.

— O que você ensina? — ela perguntou, de repente. — Parecia inglês.

Chadwick acenou com a cabeça, sem levantar a cabeça ao escrever cautelosamente no papel de um aluno.

— É. Sou professor de inglês em Paris. Acredite ou não, algumas pessoas desejam aprender, mesmo aqui. Eu os faço escrever muito no papel em vez de usar computadores. Isso me ajudou muito quando eu estava aprendendo francês.

Amélie assentiu lentamente.

— Certo, e como você aprendeu francês? Ainda mais tão bem?

Como se já esperasse um interrogatório, Chadwick sorriu, largando a caneta na folha de cima antes de empurrá-la de lado, puxando o cheesecake para mais perto.

— Bem, eu moro aqui há cerca de dois anos, agora, ensinando. Isso ajudou muito. Quanto a pôr que estou aprendendo em primeiro lugar, eu não sei. Sempre fui ótimo em inglês, o que explica minha escolha de carreira, mas francês...

Ele fez uma pausa para pensar, enfiando o garfo no cheesecake, um barulho suave derramando-se quando ele quebrou a crosta, batendo no molho por baixo.

— Eu não sei. Eu simplesmente gosto, suponho.

Amélie o observou atentamente enquanto ele dava uma mordida, olhando para o lado como se para evitar observá-la enquanto ele mastigava, antes de falar.

— Tudo bem, acho que mereço algumas perguntas.

— Como o homem que eu salvei de alguns caras que aparentemente queriam comê-lo vivo? — Amélie questionou, presunçosamente.

Chadwick sorriu.

— Não, mas não obtive resposta antes. Eu comeria um desses papéis se descobrisse que você não é algum tipo de artista.

Amélie o encarou, sua voz escapando muito lentamente, quase relutantemente.

— Sim... Eu sou uma dançarina de ballet.

— Mesmo? — Chadwick perguntou com interesse. — Ok, isso explica La Sylphide. Você deve ser boa então. Tem feito isso a vida toda?

— Praticamente — ela balançou a cabeça junto — Eu nunca fui do tipo que falha muito, honestamente. É por isso que essa coisa de música me incomoda tanto. Eu não tive nada além de problemas desde que comecei a tocar violino.

Chadwick olhou para o caso dela, curioso.

— Violino? Senhora, você me acusa de afirmações que são difíceis de entender, mas de todos os instrumentos você escolheu o violino.

Amélie deu de ombros.

— Eu decidi dar uma chance, tirar um tempo do ballet. O violino era a única coisa que faltava no grupo sinfônico local, então por que não? Por quê? É um instrumento mítico para você?

— Pode ser — Chadwick sorriu — Se você me mostrasse isso e um erhu, eu certamente não saberia dizer a diferença, pessoalmente. Apenas acho uma coisa interessante de ouvir.

Ele fez uma pausa, sua cabeça movendo-se ligeiramente em confusão.

— Muito parecido com o seu nome, do qual ainda não estou ciente.

Como se fosse uma coisa muito mais pessoal do que qualquer outra coisa sobre a qual ela tinha falado, Amélie ficou tensa, batendo o dedo na mesa distraidamente, pensando em fazer isso, eventualmente falando:

— Amélie.

— Poulain? — indagou ele sorrindo, ganhando apenas uma cara de estranheza.

— Amélie — Chadwick assentiu levemente, como se sentisse o gosto do nome rolando na língua — Bem, não há dúvida de que você é francesa.

A isso, Amélie deu apenas a mais leve sugestão de um sorriso, indetectável por Chadwick, ao responder:

— Não sou eu que estou fazendo afirmações ultrajantes.

Chadwick encolheu os ombros ao lado de seu próprio sorriso.

— Não posso culpar você, eu recebo quase o mesmo de qualquer pessoa.

Amélie assentiu.

— Como você veio dar aulas aqui?

Com o rosto mudando totalmente de tom, Chadwick abaixou a cabeça, pegando sua caneta.

— Isso não é algo que você gostaria de saber. Mesmo se soubesse, não é o tipo de história que eu contaria até mesmo para amigos.

Ele parou por um momento, seus olhos brilhando em sua direção.

— Vamos apenas dizer que eu simplesmente tive vontade de ensinar aqui, só isso.

Amélie inclinou a cabeça indiferente, preparando-se para a próxima pergunta de Chadwick, embora ele demorasse um pouco. Ele voltou à sua classificação, rabiscando notas na parte superior de cada um, com caneta verde, antes de dar uma nota em letras. A maioria dos escritos dos alunos era incrivelmente bagunçado, embora Amélie pudesse facilmente dizer quais foram feitas por mulheres em vez de homens.

— Por que você estava correndo? — ela perguntou, calmamente.

Chadwick sorriu, levantando a cabeça para revelar seu sorriso infantil.

— Eu dei uma dica ruim, ao que parece. Eles notaram meus óculos, pasta e gravata, e acho que acharam que eu era um professor ou, pelo menos, alguém aprendeu. Perguntei em qual cavalo apostar, me mostrou uma lista intrincada de estatísticas que eles devem ter furtado online.

Ele riu consigo mesmo.

— O inglês é o que está mais longe das estatísticas que você pode chegar, mas eu não estava prestes a incomodar alguns valentões da rua. Dei a eles a melhor resposta, à esquerda, e a caminho de procurar um lugar para corrigir trabalhos, eles surgiram do nada, gritando comigo com um sotaque francês que eu não conseguia entender.

— E então você me recebeu tão gentilmente em sua mesa. — ele concluiu com elegância, embora Amélie permanecesse sem graça.

Ela apenas balançou a cabeça enquanto pegava o café.

— Você certamente é um homem interessante, Chadwick Pierce.

Ele sorriu em reconhecimento.

— Sério?

— Bem — Amélie continuou. — Você é um tipo interessante de homem absurdamente estúpido, talvez.

Com isso, Chadwick caiu na gargalhada, cobrindo rapidamente a boca para não incomodar os outros fregueses, exceto a garçonete, que ainda o olhava do balcão. Ele acenou com a cabeça agradavelmente.

— Bem, certamente pareceria assim no seu lugar, eu suponho — ele acenou com a cabeça, pegando sua caneca, apenas para perceber que não estava cheia, forçando outra risada suave dele. — Eu só continuo fazendo inimigos esta noite, parece.

Amélie o observava, quase com pena, por trás do rosto inexpressivo. Ela se virou, acenando para a garçonete, que se aproximou da mesa com atenção, passando a encher a bebida de Chadwick a pedido de Amélie, com a mão aberta direcionando-a como tal. Ela não se incomodou em reconhecer Chadwick, embora deva ter reconhecido Amélie como um cliente regular, ele imaginou, antes de ela ir embora.

— Nos Estados Unidos, as garçonetes trabalham com gorjetas, você sabe — Chadwick observou, pegando sua caneca — Aqui, certamente vale a pena não irritar a garçonete.

Amélie balançou a cabeça, quase incrédula.

— Para alguém de uma vida tão incivilizada, você parece...

Ela fez uma pausa, lembrando-se de como ela encontrou este homem pela primeira vez, balançando a cabeça.

— Não importa.

Ele apenas sorriu para ela, pegando a caneta novamente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.