Capítulo 5. Retomando a vida.

Try Hard

“A vida é feita de poucas certezas e muitos dar-se um jeito.”

Guimarães Rosa

Abertura

— Você tem certeza, Wan? — a filha de Elsa e Devon indagou com aquele olhar preocupado sobre a filha de Mulan. Li Wan assentiu devagar com a cabeça, e a outra apenas concordou. Dagna Elizabeth Westbrook Solberg estava com realmente muita pena da amiga. Quando ela descobriu da morte de Norwood Jones, Dagna apenas ficou indignada com a situação. Ela conhecia Norwood muito bem, por mais que não estivessem na mesma sala, ou frequentassem basicamente os mesmos lugares. Mas ela conhecia Norwood. Ela conhecia o Águia. E havia, sim, estranhado o fato de que ele havia sido morto, assim, do nada, sem pistas, sem nada.

— Pode ir, Day, eu vou ficar bem — Li Wan repetiu com um pequeno sorriso no rosto branco e pálido, com o nariz e olhos vermelhos e grandes olheiras. Dagna sabia que Wan não havia dormido basicamente a noite inteira, especialmente pelos choros contidos e soluços que vinham de vez em outra e fazia a menina sair do quarto e ir ao banheiro do corredor chorar mais um punhado de lágrimas.

Dagna realmente queria ter contado isso a Li Wan, e não deixado Jin contar.

— Okay, se precisar de mim, já sabe — Dagna deu um pequeno sorri a Wan, que retribuiu de forma mais contida, e então saiu. Assim que adentrou ao corredor do 3º andar com todas as meninas do 3º Ano, ela soltou um suspiro. Gostaria muito de poder ficar junto de Li Wan, lhe fazendo um cafuné e dizendo coisas que talvez nem fizessem sentido para as meninas (e que elas sabiam que eram apenas mentiras), mas ao menos seria melhor que nada. Mas ela definitivamente não podia perder a aula de Química.

Além dela adorar a aula de paixão, Dagna realmente ficava perdida quando faltava as aulas. Além de que todas as faltas sem algum pedido médico lhe davam um prejuízo danado. E ela não podia estar correndo o risco (mesmo sendo basicamente a primeira da turma).

Dagna caminhou livremente sentindo o cheiro de terra molhada da chuva forte da madrugada, e observando outros alunos irem ao refeitório. Ela conseguiu avistar uma grande parte de alunos, e todos eles demonstrando seu luto ou pouco se lixando para o fato de que agora Norwood Jones não iria mais a aula e aprontaria na sala do 4º Ano - A.

Ao longe, deu um curto aceno a Avery Fênix, que também estava no 4º Ano, e junto dela viu Aaron e Finnegan, a quem também retribuiu um curto aceno. Todos estavam sentados ao lado de fora do refeitório, Avery bebendo um copo de — provavelmente — café, enquanto Finn e Aaron conversavam sobre alguma coisa, mas não tão animados como antigamente.

Assim que entrou ao refeitório, Dagna conseguiu ver basicamente todos os alunos ali dentro. Suspirou, culpando a si mesma por ter se atrasado, e basicamente ter ficado sem uma mesa para si, quando avistou sua irmã do outro lado do salão, trocando pequenas palavras com Faye, basicamente o pivô de várias brigas de Avery e Norwood (ele sempre negava, mas não era difícil de concluir, especialmente quando Avery transparecia tanto o seu ciúme). Deu um pequeno sorriso a irmã mais nova, que retribuiu ao avistá-la, e então foi se colocar na fila para pegar aqueles deliciosos ovos que somente Josephina conseguia fazer.

Rapidamente Kaled Ali também se posicionou atrás de Dagna com um sorriso grandioso no rosto, e cutucando a costela da menina, que virou assustada.

— Bom dia flor do dia! — o filho de Aladdin e Jasmine exclamou, mas não tão alto, de certa forma ainda em luto a Norwood (assim, ele não estava, mas sabia que existiam aqueles que ainda estavam, como Phoenix e Avery). — Como foi a noite?

— Cruz credo, Kaled! — Dagna exclamou na mesma altura que a voz dele.

— Por favor, não me congele! — Kaled ergueu os braços em claro sinal de rendição, e com uma cara assustada, mas Dagna sabia muito bem que era apenas uma brincadeira do rapaz, por isso apenas virou seu corpo para frente, pegando uma bandeja azul que estava ao seu lado. A loira escutou a risada calma e contagiante de Kaled atrás de si, mas apenas mordeu o lábio para não rir junto. — Acordou de mau humor hoje, é? — o rapaz insistiu também pegando a bandeja.

— Eu mal dormi hoje à noite — Dagna sussurrou ainda virada pra frente. — A Wan só ficou sabendo da morte do Jones ontem — completou soltando um suspiro e dando uma breve olhada em Kaled, que fazia uma careta.

— Que pesado — murmurou mais para si mesmo do que para Dagna, e logo acompanhou o movimento de Dagna de pegar um prato branco e seus talheres. — E como ela está?

— Horrível — Dagna falou pegando seu guardanapo e colocando na bandeja, que apoiava no local indicado. — Ela basicamente chorou a noite inteira, e por consequência eu não dormi — concluiu, mas não com raiva, e sim com pena.

— Você poderia ter ido dormir lá no meu quarto — Kaled falou com um mínimo sorriso, e Dagna virou seu rosto para o menino. — Aaron iria adorar — seu sorriso se tornou divertido, e Dagna revirou os olhos, voltando seus olhos logo em seguida para os ovos mexidos. — Não, mas é sério, pode ir lá esta noite se precisar — o rapaz continuou com um mínimo sorriso, e Dagna apenas assentiu. Kaled sabia que ela não iria mesmo se precisasse.

Depois os dois ficaram em silêncio. Cada um pegando seus próprios alimentos. Dagna com um prato mais bonito, e Kaled com um prato bem gorduroso. Mas ele não se importava muito em ver que a menina a sua frente e o menino atrás de si realmente estavam sendo mais (bem mais) saudável que ele. Por isso terminou seu prato rapidamente e com um leve aceno se despediu de Dagna indo pra sua mesa, onde Louis Westergaard estava. O filho de Hans e Olivia Ann Westergaard mantinha os olhos fixos em um ponto, como se apenas olhar para esse local fosse fazer alguma mágica.

Kaled sentou-se ao lado do rapaz com um mínimo sorriso, e logo focalizou seus olhos onde Louis olhava. Não demorou muito para achar e observar a mesa onde Dagna havia acabado de sentar, junto de Katherine e Faye.

— Sabe, seria bem mais fácil só chegar lá e dizer, “hei Dagna, quer sair comigo um dia desses?” — falou com a voz um pouco mais alto para Louis ouvir com toda a conversa que havia no refeitório. Nem todos estavam ainda tristes pelo o que aconteceu com Norwood, e Kaled agradecia isso. Havia sim, ficado triste pela morte do rapaz, mas... Odiava ter que ficar em lugares silenciosos, e com pessoas chorando e tristes. Já havia suportado o velório no dia anterior, não queria mais. — Eu te garanto que você não vai morrer — completou com um sorriso divertido quando recebeu o olhar de Louis sobre si.

Louis revirou os olhos.

— Kaled, é muito mais fácil-

— Falar do que fazer — o filho de Jasmine e Aladdin completou com um sorriso torto. — Sério, Louis, esse é o seu bordão agora? O que aconteceu com o “Tá de sacanagem?”? — Kaled continuou com um sorriso divertido, e engrossando um pouco a voz, fazendo um bico divertido ao imitar o filho de Hans.

— Porque eu sou seu amigo? — Louis perguntou mais para si mesmo do que para o rapaz. Mas Louis sabia a resposta muito bem. Não era só porque gostava do temperamento de Kaled, mas sim porque ele era filho de Jasmine e Aladdin e aquilo lhe poderia trazer muita vantagem no futuro.

— Porque você me ama, é claro — Kaled respondeu de forma séria, logo voltando para o seu prato, e mexendo em seus ovos, espetando alguns.

— Que blasfêmia — Louis completou com um meio sorriso, tirando os olhos da filha da Rainha Elsa e fitando o amigo ao seu lado.

— É verdade! — Kaled riu, dando de ombros, e fitando Louis. — Foi você quem se aproximou dos gêmeos, e consequentemente de mim — concluiu com o sorriso divertido, e Louis sorriu, voltando a olhar o seu prato. — Viu? É a mais pura verdade — o mais novo riu, e então ficou sério rapidamente, o que levou Louis a fitá-lo. Kaled colocou sua mão no ombro de Louis, e a outra em seu próprio coração. — Mas, desculpe, Louis, você não faz meu tipo — concluiu, o que fez Louis soltar uma gargalhada atraindo a atenção de alguns alunos ao seu redor.

— Oh, não se preocupe com isso, Kaled, você também não faz meu tipo — falou fitando Kaled, que soltou um sorriso, e logo depois fez uma cara de ofendido.

— É só porque eu não tenho peitos, e isso é uma injustiça, Louis — afirmou com certo sorriso, e Louis soltou uma pequena risada.

— Só tome seu café da manhã, por favor — Louis falou voltando seu próprio, e ouvindo uma curta risada vinda de Kaled.

— Sim, chefe! — Kaled falou alto, e então numa postura reta por cinco segundos iniciou seu café da manhã, logo pegando o celular no bolso e digitando algo apressado e com um sorriso.

Louis ignorou o amigo por alguns instantes, voltando seus olhos para a mesa das três garotas que eram parentes. Faye mexia em seu prato com o garfo de forma desinteressada, provavelmente ainda triste pela morte de Norwood, o que fez Louis revirar os olhos. Ele havia morrido há dois dias, já havia se passado o tempo de luto! Depois seus olhos focalizaram na filha mais nova da Rainha Elsa, Katherine, a que havia sido seu alvo primeiro. Assim, Louis nunca realmente chegou ao lado da menina e começou uma conversa, ou ao menos tentou algo muito forte. Mas ela havia sido sim, seu primeiro alvo, e eles já haviam conversado algumas vezes, mas depois ele percebeu que iria repetir o mesmo erro de seu pai: aproximar-se da mais nova, e ter a intenção de matar a mais velha.

Isso não daria certo. Se não deu na primeira porque daria na segunda? Além de que, mesmo Katherine sendo a mais nova, ela parecia ter o mesmo gênio que a mãe. Receosa, desconfiada. Louis nunca realmente chegou a conhecer melhor, mas também nunca se interessou por isso. Quando percebeu que Katherine nunca falava demais, e sempre o necessário, ele rapidamente se afastou, e depois nunca mais falou com ela. Às vezes troca algum sorriso ou um leve aceno, mas nada mais que isso.

Dagna também não parecia muito mais diferente que a mãe. Mas, por algum motivo, talvez pelos sorrisos, ela parecia até ser mais fácil de conquistar. Além de que seria bem mais fácil ganhar algum título chegando à menina mais velha, e não na mais nova. E menos clichê também, já que elas eram filhas da Rainha Elsa, não da Princesa Anna.

Por fim, seus olhos focalizaram na mais velha. Dagna conversava com Katherine de forma interessada, e elas às vezes se voltavam para Faye, como se pedindo para ela participar da conversa, mas a filha de Rapunzel apenas dava um sorriso, falava alguma coisa e voltava para seu prato. Louis continuou a fitando, de forma até mais intensa, torcendo para que ela olhasse de volta, mas ela nunca fazia. Ela nunca olhava de volta.

E isso fazia o menino ficar irado. Basicamente quase todos do círculo de amizade de ambos sabiam que Louis tinha uma queda por Dagna, porque diabos ela não poderia saber disso também? Ela era tão distraída assim? Ou sabia, mas fingia que não? Ela não gostava dele? Ela tinha medo dele?

O rapaz bufou, baixando a cabeça e desistindo de atrair seu olhar naquele café da manhã.

— Eu te avisei — Kaled cantarolou colocando uma garfada de ovo mexido na boca.

— Cala a boca.