Capítulo 1. Retilíneo

Not Today

"A independência foi sempre o meu desejo, a dependência foi sempre o meu destino."

Paul Verlaine.

Abertura

Phoenix tinha os olhos cheio de lágrimas e o coração batendo forte. Sua mente que sempre fora tão organizada e cheia de detalhes estava fracassando em tentar desvendar todos os mistérios ao seu redor, e principalmente aquele que parecia tão sem causa e tão injusto. Norwood não era má pessoa. Era filho de Capitão Gancho, filho de um vilão, retirado da Ilha dos Perdidos, mas mesmo assim não era má pessoa. Era uma boa pessoa. Excelente pessoa.

Porque ele tinha que morrer?

O loiro rapidamente passou a mão pelas bochechas, retirando os vestígios de lágrimas que estavam em seu rosto, mas isso não mudaria o fato de que ele continuava a chorar. Norwood era seu melhor amigo. Fora e dentro do Clube Turvo, ele era o único que dava o apoio necessário a Phoenix, para ele simplesmente não desabar de vez, ou sair correndo toda a vez que alguém começava a mexer com ele por ser filho de Gastón e ser tão magrelo e desajeitado.

Phoenix não tinha culpa.

Mas ele se sentia culpado.

O garoto olhou para o lado, vendo sua irmã, Atlanta, com a cabeça abaixada, e segurando fortemente uma rosa em mãos. Ao seu lado, estava a filha de Pocahontas, Avery Fênix, com aquele olhar mortal, com a cabeça erguida e com o rosto fortemente equilibrado. Nem parecia que a menina estava no enterro de seu namorado.

— Norwood era uma ótima pessoa, era sempre gentil com todos, estava sempre sorrindo, e era um ótimo jogador — Benjamin, o Rei de Auradon fazia um pequeno discurso sobre a morte do rapaz. O rapaz já quase não estava mais naquela escola. Ficava mais no seu Castelo resolvendo negócios do Reino, e discutindo com todos os conselheiros. — Espero que ele esteja num lugar melhor — o monarca terminou, jogando sua rosa vermelha sobre o túmulo preto que estava pronto para ser enterrado.

Como o filho de Gancho era muito querido em toda a escola, a Fada Madrinha, diretora de Auradon Preparatório decidiu que seria interessante levar todos os alunos interessados para o enterro de Norwood que acontecia a vários quilômetros da escola. Phoenix só foi porque Atlanta havia insistido. Ele não estava com vontade de ficar chorando na frente de todos, mas a irmã insistiu, e Phoenix nunca conseguia dizer não para ela.

— Isso está me matando — Atlanta murmurou erguendo a cabeça, os olhos escuros olhando ao redor com mais curiosidade do que aparentava. — Vamos embora, Nix — a garota pediu aproximando-se mais do irmão e abraçando seu braço. Phoenix passou novamente a mão pelas suas bochechas, retirando mais vestígios de lágrimas. — Você não está bem.

— Eu quero ficar até o final, Atlanta — Phoenix sussurrou vendo a Fada Madrinha jogar sua rosa sobre o túmulo de Norwood. — E foi você quem quis vir.

— Eu só achei que seria legal — a ruiva sussurrou, e Phoenix segurou o grunhido. Às vezes sua irmã irritava-o mais fácil que o esperado. — Mas está chato, e você realmente não está legal — a menina sussurrou novamente, apertando a mão do irmão. Phoenix suspirou, e então assentiu passando novamente a mão nos olhos e nas bochechas. Estava acabado, totalmente acabado.

Começou a andar longe do caixão preto do amigo, e de todas aquelas pessoas, que abriam espaço para os dois irmãos. Atlanta na frente, puxando Phoenix, que ainda tinha os olhos vermelhos, e o nariz também, fungando de vez em outra, evitando olhar para aquelas pessoas. Já era ruim perder o amigo. Seria pior verem Phoenix naquele estado caótico por muito tempo.

— Hei, você já vai? — Ethan indagou se aproximando. O filho da Branca de Neve tinha os olhos preocupados, e segurava na mão de uma de suas irmãs, Rosalind, que igual a Phoenix tinha os olhos e nariz vermelhos e inchados. Rosalind era grande amiga de Norwood, e também era muito gentil e se emocionava fácil. Seria impossível a loira não chorar.

— Eu não estou bem — Phoenix acrescentou, enquanto Atlanta se aproximava, apertando a mão do irmão. — E Atlanta quer ir. Vamos esperar no ônibus — disse ao colega, logo sendo puxado pela irmã, que forjou um sorriso para Ethan.

Ethan não era melhor amigo de Phoenix, e talvez nunca seria, mas ele já fora um grande amigo de Atlanta, e por conta disso, havia se aproximado de Phoenix, também porque foram os dois que resolveram fundar o Clube Turvo, com a ideia de fazer novas amizades e serem eles mesmos em uma parte do dia, sem a vista de nenhum interesseiro.

Mas agora, com a morte de Norwood, Ethan se perguntava o que seria de Phoenix. O loiro era dependente de Norwood, por mais que nunca afirmasse isso em voz alta, mas ele era. Sem Norwood, Phoenix voltaria a ser aquele Phoenix que todos brincavam e gozavam de sua cara.

Foi por isso, que no meio do silêncio que se fazia ali, Ethan prometeu a si mesmo cuidar de Phoenix como cuidava de seus irmãos.

[...]

— Oh meu Deus, Ethan, o que você está fazendo? — Phoenix gritou enquanto via o rapaz abrir a porta de seu quarto e fechar rapidamente, ofegante, encostado na porta, assustado, de uma forma que Phoenix nunca visualizou o colega.

— Eles... — o garoto parou, colocando as mãos no joelho, e curvando seu corpo, buscando tentar respirar. Ethan era bom em arco e flecha, mas isso não mudava o fato de que era o único esporte que praticava, e uma corridinha qualquer já lhe tirava o fôlego. Ele havia prometido começar a correr mais junto de Riley, porque ainda não havia feito isso?

— Eles quem? Eles o que? Fala logo! — Phoenix exigiu enquanto gesticulava exasperado. Estava pronto para estapear o garoto se ele demorasse mais alguns minutos para lhe contar o que estava acontecendo. Phoenix era um rapaz muito curioso, e agora ele precisava saber o que estava acontecendo.

Ethan ergueu a mão pedindo um tempo.

Depois de alguns segundos tentando normalizar sua respiração, o rapaz voltou a ficar ereto, fitando Phoenix que tinha uma cara angustiada.

— A Fada Madrinha, junto com aqueles policiais lá, eles descobriram o Clube Turvo — explicou, e logo foi se sentar na cama que outrora era de Norwood. Norwood e Phoenix dividiam um quarto em Auradon Preparatório, por tal motivo a amizade deles foi ficando cada vez mais forte. — Eu fui lá para espairecer, e quando eu cheguei, eles estavam revirando tudo, estava uma zona, Phoenix — o garoto soltou, passando a mão no rosto.

Phoenix sentou em sua cama, assustado, paralisado. Não bastava Norwood morrer, eles ainda queriam tirar a única coisa boa que lhe restava?

— Mas por quê? Nós não fizemos nada de mal, e como ela descobriu? Oh meu Deus, será que alguém de dentro falou para ela? E porque ela estava revirando? Quem foi que falou?

— Calma, rapaz — Ethan pediu fitando o colega, e pedindo para que ele respirasse. — Eu não sei. Eu só cheguei lá e eles estavam zoneando completamente — suspirou. — E eu tenho certeza de que não foi ninguém do Clube. Todos gostam, você sabe disso, ninguém iria dedurar.

— Mas, mas... Como ela descobriu? — indagou num tom fino de voz. Seus olhos estavam começando a marejar novamente, e Phoenix xingou-se mentalmente. Como ele poderia ter sido tão fraco? — Estava tão bem escondido, tão bem articulado para ninguém sequer saber o nome.

— Eu sei, eu sei, e nós vamos descobrir o que está acontecendo — Ethan afirmou, convicto. — Vamos reunir toda a equipe quando isso passar, vamos nos focar em começar de novo, se for necessário. Ninguém vai tirar o Clube da gente, Phoenix, ninguém — falou. Sua feição estava séria, e Phoenix sabia que ele estava falando a verdade. Num gesto silencioso agradeceu, e logo baixou o olhar para não verificar se Ethan havia entendido sim ou não.

— Eles te viram?

— Não.

E então ficaram em silêncio, porque a probabilidade de perder aquele grupo magoava ambos de uma forma inacreditável. Eles eram os fundadores, eles não podiam deixar nada acontecer.

Logo duas batidas na porta foram escutadas, e Aaron, o filho de Tiana e Naveen entrou no quarto com o rosto preocupado, uma coisa rara em si. Aaron estava sempre sorrindo, e mandando mensagens de paz e esperança.

Ele então fechou a porta atrás de si, e suspirou, aproximando-se dos dois rapazes que permaneceram sentados, com os olhares no moreno. Aaron então fitou os dois, e então criou coragem para falar o que ouviu de Jane, filha da Fada Madrinha, a menina com qual tinha uma pequena amizade (mas era um dos únicos que realmente falava com ela, por isso ela sempre lhe contava as coisas).

— A Fada Madrinha está culpando o Clube Turvo como responsável pela morte de Norwood.