— O que? grávida? - ele ficou alguns instantes em silencio para processar todas aquelas informações na sua cabeça. Primeiro Victoria liga para ele e diz que a filha deles havia sido levada por alguém e depois dá simplesmente a noticia de que ela está grávida novamente de um filho fruto da relação dos dois, de uma noite de paixão e ciúmes, aquilo tudo pareceu ser coisa de novela e ele inicialmente não soube como ordenar direito as palavras e acabou deixando Victoria mais aflita ainda.

Será que esse silêncio é a resposta de que novamente ela teria que criar mais essa criança longe dele porque ele estaria disposto a rejeitá-la depois de tudo e esse seria o seu castigo por amá-lo tanto?

As perguntas naquele momento eram muitas, mas ela não quis esperar por uma resposta a todas elas, começou a falar no telefone e agora parecia que o seu desespero e o seu medo eram ainda maior, Victoria não conseguia se conter e chorava copiosamente chamando por Heriberto.

— Heriberto por favor me escuta! - ele não dizia nada, mas era audível a sua respiração alterada - Heri...

— Eu estou aqui Victoria... você tem certeza mesmo do que está dizendo? Nós vamos ter mais um filho?

— Sim, o doutor me disse agora a pouco, mas eu preciso de você aqui, temos que encontrar a nossa menina, eu fui buscar Amy na escola e quando cheguei ela já não estava mais lá. Eu não consigo entender porque alguém iria querer fazer isso comigo!

— Calma meu amor - Heriberto a chamou assim porque era exatamente o que ele desejava que Victoria fosse novamente, o seu amor e ele não podia mais negar que ainda a amava muito, senão ainda mais que antes - eu estou indo praí hoje mesmo! Vou pegar o ultimo voo para o México e nós dois juntos vamos encontrar a nossa princesa. - ela estava quieta, ainda chorava, mas sentia que as palavras que ele estava dizendo começavam a fazê-la se sentir mais segura e confiante.

— Eu não aguento mais sentir a sua falta e todas as noites agora eu penso em você, nas coisas que me disse... não me deixe sozinha agora Heriberto, eu sei que fui a pior das pessoas com você e errei em tentar afasta-lo de Amy mas, por favor não quero que simplesmente vá embora ou que viaje pelo mundo sem me avisar! Eu estava disposta a ir atrás de você porque a nossa filha a todo tempo pede para te ver, ela também tem sentido muito a sua falta...

— Foi uma emergência... mas eu queria que você pensasse em suas atitudes e que viesse atrás de mim. Eu fui um idiota! - ele se sentiu culpado e se arrependeu amargamente de deixa-las sozinhas.

— Volta! Volte para a gente meu amor, eu te amo Heriberto!

— Eu também, muito! E nós dois vamos encontrar Amy, eu prometo.

A ligação foi encerrada com palavras sinceras e um pedido de socorro, Heriberto poderia ajuda-la a recuperar a menina e ele era o que trazia um pouco de calma ao coração sofrido de Victoria. Ainda com o celular nas mãos ali sentado na cama do hotel, Heriberto se sentiu novamente a pior pessoa do mundo por não estar presente quando a sua família mais precisava. Sim, Victoria e Amy agora eram a única família que ele tinha e que estava crescendo com a chegada de mais um bebê.

Agora ele seria um homem realizado, estava começando a se acertar com Victoria, tinha uma filha e ia ser pai mais uma vez, mas para tudo isso se tornar uma realidade concreta ele teria que se apressar ou perderia tudo de novo.

Pegou sobre a cama a sua carteira e as chaves do carro colocou em um canto e foi depressa para o banheiro tomar um banho. Heriberto estava decidido a refazer a sua vida ao lado da mulher que ama porque a sua mãe já não estava mais ali para atrapalhar, então não era hora de perder mais tempo.

No hospital toda aquela avalanche de sentimentos e de desespero que tomou conta de Victoria começava a se acalmar, mas ainda faltava um pedaço do seu coração que era a sua filha tão amada e querida por ela, Amy.

Victoria pegou ao seu lado em uma mesinha de canto uma imagem da sua santa de devoção e com a medalhinha nas mãos ela se pôs a fazer orações. Pedia com os olhos banhados pelas lágrimas de dor, que onde for que a filha estivesse chamasse por ela, assim quem a levou não teria um minuto de paz até devolve-la, mas ela sabia que não seria uma tarefa fácil e que a filha estava correndo um sério risco.

Se quisessem o seu dinheiro ela entregaria, até mesmo toda a sua fortuna, mas por que a menina? Quem quer que fosse a pessoa que a levou para longe, Victoria sabia que a conhecia e isso era o que dava mais medo, mas uma hora esse pesadelo teria que ter fim.

Juan Pablo tentava acordar Amy que há horas "dormia" mas não estava obtendo sucesso e apesar de tudo o que planejava, Bernarda que estava ao lado dele sentada na cama, começava a ficar preocupada.

— Seu inútil faça alguma coisa! Essa pestinha não pode morrer agora! - ela gritava com ele que estava com a criança no colo.

— Eu não sei mais o que fazer! Para de gritar comigo se foi você quem apagou a garota! Você é maluca Bernarda? Essa droga é muito forte para ela! Chame o seu filhinho que é medico para ressuscitar a filha dele agora, assim ele fica sabendo de uma vez de tudo o que você é capaz de fazer por vingança! - ele dava tapinhas no rosto da menina, mas nada estava adiantando e ela estava ficando roxa.

— Não seja cínico porque você está comigo nessa e se eu me ferrar te levo junto seu canalha! Larga essa menina que eu dou um jeito nela. Enquanto isso quero que continue com a sua parte do plano.

— Heriberto já não está bem longe? Isso não é o bastante para você? O que mais quer que eu faça? - Juan entregou Amy para Bernarda e andou pelo quarto.

— Quero que faça exatamente como combinamos. Ligue para ele agora e faça o que tem que ser feito! Eu tenho certeza que a uma hora dessas aquela vagabunda já ligou para encher a cabeça dele com o sumiço da filhinha! E o que mais me deixa feliz Juan, é ver Victoria sofrer, tomara que ela morra de amargura! É isso que ela merece! - Bernarda estava quase satisfeita e tudo o que estava acontecendo com Victoria agora, era tudo o que ela queria que sofresse, mas ainda era pouco. Muito pouco!

Ao ouvir aquelas palavras seguidas de uma sonora gargalhada, Juan Pablo pegou o telefone e novamente fez o que Bernarda queria. É claro que não fora por acaso que Heriberto tinha sido convidado para participar de um simpósio de medicina tão de repente e encima da hora e os dois cumplices tinham uma boa parcela de participação para que esse convite acontecesse sem que o médico desconfiasse e enquanto ele ligava, ela finalmente despertou a menina.

— Acorda peste! - Bernarda disse fazendo manobras de respiração quando viu Amy abrir os olhinhos.

A pequena desatou a chorar um pouco assustada, estava em um lugar diferente e sem a presença da mãe, viu a mulher que a segurava e como se lembrasse de algo chorou mais alto ainda.

— Cala a boca dela! - Juan Pablo gritou bem na hora em que do outro lado da linha Heriberto atendia a ligação e Bernarda saiu com a menina para outra parte da casa.

— Quem fala?

Heriberto já tinha saído do hotel e estava a caminho do aeroporto quando o seu celular tocou. Ele pensou ser Victoria mas o numero era o mesmo da "empresa" que sediava o evento que ele havia participado.

— Doutor Heriberto Ríos Bernal?

— Sim? - ele parou o carro em um acostamento para continuar falando.

— Aqui é o representante da empresa que lhe convidou para o simpósio. Ligo para te informar que amanhã cedo haverá uma reunião no Hospital São Gabriel e o senhor está sendo convocado.

— Olha senhor, eu sinto muito, mas eu não poderei estar presente. Minha esposa não está bem e eu estou voltando para o México agora mesmo. Agradeço pelo convite, mas não poderei participar dessa vez.

— Mas doutor é muito importante e... - Heriberto não estava mais com tanta paciência e a sua cabeça doía de preocupação, desta vez ele não deixaria a sua família, nem por toda a fama e reconhecimento profissional do mundo.

— Me desculpe, mas não posso! - e desligou a ligação na cara de Juan.

Ele ficou puto da vida! Quem Heriberto estava pensando que era para estragar os seus planos? Teria que dar um jeito nessa situação ou Bernarda o mataria de verdade. Caminhou pela casa procurando por ela e não achou, então resolveu checar o ultimo cômodo, o banheiro.

— O que está fazendo? - ele se aproximou de Bernarda que arrancava as roupinhas de Amy enquanto a pequena gritava pela mãe.

— Alguém tem que dar banho nessa pirralha não é? - ele foi até a pia que estava cheia com água, sabia que ela não estava cuidando da criança porque queria e havia algo mais por trás daquilo.

— Mamãe!!! Mamãe! - Amy chorava muito e não estava entendendo nada, só queria Victoria e aquilo enchia Bernarda ainda mais de ódio!

— Cala a boca sua praga! A vagabunda da sua mãe vai para o inferno e é para lá que você vai se não ficar quieta! - ela deu um tapa forte na menina que gritava mais, era uma cena de cortar o coração. Juan Pablo observava tudo e colocou a mão na água.

— Ai! Essa água está fervendo! Você não está pensando em... Bernarda! - ele se assustou porque o que ela iria fazer era uma imensa crueldade com aquela criança que não tinha culpa de absolutamente nada.

— Eu não estou pensando, eu vou!

E na mesma hora ela colocou Amy ali dentro e sorria vendo a menina chorar de dor ficando com o corpinho queimado pela alta temperatura da água. Ela não queria mata-la agora e aquilo seria apenas um "sustinho", pensou que ver a filha de Victoria sofrer era como ver a mãe sofrer também e aquilo foi real porque toda mãe sente as coisas, toda mãe é uma parte do filho.

— Nããoo!! - Victoria deu um salto da cama sentindo o seu coração doer da pior maneira possível e sabia que algo muito ruim estava acontecendo com a filha.

Uma enfermeira se aproximou da cama quando a viu gritar em desespero.

— Acalme-se senhora, o que sente?

— Uma dor horrível no peito... a minha filha está precisando de mim, eu preciso sair, eu tenho que ver a minha menina, minha Amy...

— Acalme-se senhora, por favor! Sabe que se não estiver bem amanhã, não poderá sair do hospital para encontrar a sua menina. - Victoria sentiu verdade nas palavras da enfermeira e respirou fundo, elas se conheciam da época em que Heriberto trabalhava ali como residente e eles eram namorados, foi no hospital que se conheceram e se apaixonaram, Victoria estava doente e ele mesmo cuidou dela a noite toda ainda que não houvesse sido nada grave e ali nasceu o amor dos dois.

— Eu sei, mas entende que não é nada fácil para mim? Quando você for mãe um dia vai entender as coisas que sentimos e eu tenho certeza que a minha filha está precisando de mim nesse exato momento. - Victoria se ajeitou melhor na cama ficando sentada e a enfermeira ficou escutando o que ela dizia com atenção. - Sabe, se eu não tivesse visto aquela maldita mulher morrer, eu poderia apostar todas as minhas fichas de que esse pesadelo que surgiu em nossas vidas é coisa dela.

— De quem está falando?

— De Bernarda de Iturbide, a mãe de Heriberto.


Aquela era mesmo capaz das piores coisas no mundo e Victoria tinha toda a razão mesmo que ainda acreditasse que a mulher estava morta, a verdade mais cedo ou mais tarde iria aparecer.

Juan Pablo era o maior e único aliado de Bernarda e ao ver aquela cena dela machucando com água quente a própria neta ele pensou se realmente valia mesmo a pena continuar com aquilo que pareceu diante de seus olhos ser tão desumano a uma criança. É claro que ele não estava disposto a abrir mão da menina no futuro, era dono de uma casa noturna muito famosa por lucrar com mulheres bonitas na noite e algumas das garotas que trabalhavam para ele tinham sido "pegas" ainda meninas por ele para seguir aquele ramo de prostituição, o mesmo fim planejava para Amy que era uma criança muito bonita e ele já pensava que ficaria ainda mais quando crescesse mais um pouco.

Esse caminho já estava traçado na mente dele, mas ao ver toda aquela tortura diante de si, "teve piedade" e arrancou a menina que chorava em completo pânico das mãos daquela mulher.

— Você ficou maluco? - Bernarda deu um grito com ele quando Amy foi tirada daquela pia fervente e sentiu Juan a empurrar com força contra a parede.

— Isso sou eu quem deveria te perguntar! - ele pegou uma toalha e enrolou a criança nos braços - até onde é capaz de ir? Vai matar a minha mina de ouro sua doente!

— Você é mesmo um inútil! - ela tentou pegar a menina de novo das mãos dele, mas não conseguiu.

— Eu não quero a menina morta! - vociferou e viu Amy desfalecer sobre os seus ombros.

Juan entrou em parafuso, aquela situação já estava saindo do controle demais e Bernarda poderia acabar com a vida da menina se ele permitisse que ela continuasse a agir daquela maneira tão fria com a própria neta apenas por um capricho de vingança. Estavam juntos nessa desde o inicio há muitos anos, mas para ele nada devia ser feito dessa forma e sim de um jeito "menos doloroso" para a criança, assim ele pensou que de qualquer forma a teria e quem sabe ainda poderia usar Victoria também visto que sentiu atração por ela também.

— A onde vai Juan Pablo? - ela perguntou assim que o viu pegar as coisas de Amy e fazer menção de sair com ela pela porta da casa.

— Eu vou fazer o que deve ser feito agora e você não vai me impedir. As coisas não podem mais seguir da forma que você quer que aconteçam, eu sinto muito. E apesar de tudo eu ainda tenho um pedaço de coração aqui comigo e essa garota vai para onde deveria estar agora, para a mãe dela!

— Não se atreva a sair ou eu te mato!

— Experimenta e eu acabo com a sua raça! A partir de hoje você vai fazer como eu quiser se ainda quer acabar com aquela mulher e eu vou ter essa menina para mim de um jeito bem mais fácil sem precisar machucar muito!

Satisfeito com o que disse e vendo Bernarda queimar de ódio diante dele, saiu pela porta e foi para o hospital mais próximo cuidar de Amy antes de devolvê-la a Victoria e poder seguir com os seus planos da mineira que achava ser a mais correta. Ele encostou o carro e pegou a criança que estava no banco de trás sem consciência e "desesperado" entrou com ela no hospital pedindo por socorro e sendo imediatamente atendido por uma enfermeira e por um médico que estavam ali de plantão.

O doutor quando viu aquele homem desconhecido entrar com a criança nos braços, a pegou no colo e olhou o seu rostinho marcado. Ela estava com o corpo quente e molinho, olhou bem para ela e se lembrou de uma foto que Heriberto o havia mostrado semanas antes de viajar.

Flash Back On

Heriberto saiu do expediente na escola infantil e foi para o hospital da cidade auxiliar em uma operação de alto risco e quando terminou, ele e o amigo foram para a lanchonete do hospital comer alguma coisa e enquanto isso conversavam sobre os últimos acontecimentos de suas vidas.

— Olha só como é linda a minha filha! - Heriberto exibiu todo orgulhoso um retratinho que tirou de Amy na escola e guardou em sua carteira antes mesmo de saber que ela era dele.

— Você é pai? - o colega se espantou porque ele nunca tinha falado daquela criança antes - ela é linda mesmo mas deve se parecer com a mãe porque você não é nada bonito! - ambos riram pois viviam tirando sarro um do outro, foram amigos de faculdade.

— Amy é mesmo tão linda como a mãe dela...

Flash Back Off

— Mas essa menina é a filha do Heriberto! - ele pensou aflito e pediu ajuda das enfermeiras para seguirem até a sala de emergência, enquanto isso Juan Pablo foi embora com medo de ser reconhecido por alguém.

Amy não chegou nada bem no hospital e o médico que a socorreu estava preocupado porque era nítido que ela tinha sofrido uma tortura, cuidou dela com carinho e profissionalismo tratando as marcas em seu corpinho com medicamento e pomada aliviando assim a dor dela, depois deixou a menina ali no quarto hospitalar sob a supervisão de outra médica e foi olhar os outros pacientes.

Amanheceu e ele entrou no quarto em que Victoria estava, fora ele quem a deu a noticia de que estava esperando um bebê mas ainda não sabia que ela era a mãe de Amy ou que o pai da criança que ela estava carregando era justamente o seu amigo Heriberto, o destino vira a vida das pessoas do avesso!

Victoria dormiu muito mal essa noite porque estava muito aflita e não parava de pensar em sua filha e em Heriberto que disse que voltaria para ficar com ela. Acordou por volta das cinco da manhã e viu o doutor em pé a sua frente anotando algumas coisas em uma prancheta...

— Como se sente Senhora Sandoval? - ele perguntou tirando os óculos do rosto para olha-la melhor.

— Meu corpo dói doutor e uma angustia terrível toma conta do meu coração... - ela começava a chorar novamente não estava sendo fácil aquele momento.

— A sua dor vai passar com um medicamento que eu vou te dar, mas agora eu recomendo que passe a se alimentar melhor para cuidar desse filho que está esperando. Quer que eu avise alguém da sua família de que está aqui ou que chame o pai da criança? - foi atencioso.

— Não doutor, eu não tenho família além da minha filha, mas agora eu também a perdi e o pai do meu bebê está viajando para longe, mas disse que vai voltar, ele é médico também.

— Me perdoe por minha indiscrição, mas o que aconteceu com a sua filha e quem é o seu marido? Já que ele é médico quem sabe eu o conheça... me permita te ajudar de alguma forma.

— A minha menina foi levada da escola por um estranho ontem a tarde, tiraram o meu tesouro de mim doutor, alguém muito mau quer destruir a minha vida e a vida da minha Amy sem nenhuma explicação. - Victoria sentia seu coração em pedaços e o que era pior para ela pois mesmo que quisesse fazer alguma coisa não podia porque havia outra vida ali com ela também.

Quando ouviu aquele nome na mesma hora o médico teve um estalo em sua mente e associou tudo aquilo que Victoria o havia confidenciado com aquela criança que deu entrada no hospital horas antes em estado de violência.

— Como disse que se chama a sua filha?

— Amy. O nome da minha bebê é Amy Sandoval...

— Meu Deus do céu, senhora!

— O que houve doutor, por acaso sabe de alguma coisa sobre a minha filha? - ela quase saltou da cama e ficou mais nervosa ainda.

— Calma, por favor. Mas eu tenho que te dizer isso! A sua filha está aqui no hospital e eu mesmo a atendi quando ela deu entrada sendo trazida por um homem que eu não me lembro como se chama... - colocou as mãos na cabeça tentando se lembrar da pessoa que trouxe a criança até ele, mas não conseguiu e agora tudo se encaixava, agora ele sabia que Victoria era a mãe daquela menina e que o pior de tudo o seu amigo era o pai dela e da outra criança que a sua paciente estava esperando.

— O que, ela está aqui? - Victoria deu um grito carregado pelo choro e por toda a dor que estava sentindo, Amy foi trazida de volta por alguém que ela não tinha ideia e não importava naquele momento porque só quis saber da filha. Ela tentou se levantar fazendo toda a força que conseguia, mas não foi possível, estava medicada e não devia fazer esforço por causa da sua gestação que era de risco e ela não devia se alterar tanto mas pareceu impossível. O médico não deixou que ela saísse dali e por um segundo se arrependeu de ter contado a ela sobre aquela criança, deveria esperar pelo menos que Victoria tivesse alta para contar a ela depois mas por outro lado ele era sensível e não podia mais vê-la sofrer daquela maneira tão dolorosa e teve piedade dela quando mais ninguém estava ao seu lado para dar apoio nessa hora tão angustiante.

— Acalme-se por favor, senhora Sandoval! Não pode sair dessa cama antes de estar completamente bem, mas se aguardar até mais tarde eu posso leva-la para ver a sua filha, não se preocupe agora ela vai ficar bem. - ele tentou acalma-la em vão.

— O que ela tem doutor?! - o seu desespero era maior que todas as respostas.

— Mais tarde conversamos mais Dona Victoria, eu garanto que ela está bem e que mais tarde poderá vê-la. - O médico virou as costas e saiu antes que aquela situação se tornasse ainda pior para Victoria e para o filho que ela carregava, o bem estar deles deveria ser garantido e ele preferiu evitar dar mais informações até que Victoria estivesse bem emocionalmente para ouvir tudo sem tanto desespero e risco.


Horas antes...

Heriberto chegou no aeroporto e conseguiu comprar por sorte a passagem para o último voo em direção ao México. Ele estava com muito medo de não chegar a tempo de estar ao lado de Victoria para salvar a sua filha, se sentiu um fraco e seu coração gritava para estar ao lado delas, Victoria precisava dele e agora ele nunca mais iria a deixar sozinha nem mesmo se o expulsasse da sua vida e não iria mais ser orgulhoso e ficar apenas esperando que ela admitisse que queria estar com ele de novo, estava disposto a tudo para não perder a nova chance que a vida estava dando aos dois e a família que construíam agora com mais um filho para enche-los de amor e muita alegria.

O trajeto até o México foi tranquilo e ele acabava de chegar quando o seu celular tocou.

— Doutor Estevan?

— Sim Heriberto, onde você está?

— Acabei de chegar ao aeroporto aqui no México. Aconteceu alguma coisa? - achou estranha a ligação do amigo àquela hora da manhã.

— Aconteceu sim e eu não tenho boas noticias... A sua filha deu entrada aqui no hospital essa noite com um problema muito grave. Eu a atendi quando ela foi trazida por um homem que eu não faço ideia de quem seja, e ela tem marcas de tortura pelo corpo, algumas queimaduras de primeiro grau que estão sendo tratadas mas você precisa estar aqui porque a sua mulher também está aqui... - falou tudo de uma vez criando coragem de onde nem tinha para dizer aquelas coisas a Heriberto. Apesar dos anos de experiência profissional, naquele caso ele se sentiu impotente.

— Como é? Victoria está aí e está tudo bem com elas não é? Me diga que vai ficar tudo bem! - Heriberto sentiu as vistas escurecerem, estava perdido e devia fazer alguma coisa para salvar Amy antes que fosse tarde demais.

— Victoria Sandoval pode perder o bebê que espera a qualquer momento, Heriberto! Vem para o hospital agora, precisamos de você porque não será nada fácil para ela.