Victoria deixou o celular e a xícara de café sobre a mesinha de centro da sala e foi até a filha, sentou-se na cama junto a ela e a colocou em seu colo cheirando e abraçando muito sua princesa com todo cuidado e amor. Amy ainda precisava de cuidados e Victoria seguiu a risca todas as recomendações dos médicos que cuidaram dela enquanto esteve no hospital e depois de medir a temperatura e dar um banho quentinho nela, saiu com a menina nos braços indo para a cozinha preparar alguma coisa para as duas comerem.

Amy comeu a sopa de legumes que a mãe preparou ainda com certa recusa, fez manha pedindo colo, mas comeu e quando acabou, Victoria a levou para escovar os dentes e dormir.

"Brilha, brilha, estrelinha
Lá no céu pequenininha
Solitária se conduz
Pelo céu com tua luz

Brilha, brilha, estrelinha
Lá no céu pequenininha
Brilha, brilha, estrelinha
Lá no céu pequenininha..."


Não demorou muito e ela dormiu cansada, enquanto ouvia a musica que Victoria costumava cantar para ela desde que nasceu.

— Pronto meu amor, descansa... - ela ninava a bebê com "tapinhas nas costas" quando a campainha tocou e ela foi prontamente atender porque já sabia quem era.

— Boa noite, Victoria! Posso? - Heriberto ao vê-la não sorriu, apenas pediu permissão para entrar no apartamento.

— Claro, entre! - ela se afastou um pouco para que ele passasse, mas suspirou quando sentiu o perfume daquele homem invadir todo o ambiente e ela se deu conta de que ele não mudou tanto assim como pensava, afnal ainda usava o mesmo perfume da época em que eram namorados. Estaria ele tentando faze-la se lembrar de algo? Queria estar perto somente da filha ou dela também? Ainda não soube responder a essas perguntas que passavam na sua cabeça, no instante que viu Heriberto já sentado em uma poltrona.

— E então, como está Amy? - ele perguntou logo puxando assunto para evitar um silencio constrangedor e em seu rosto não havia muita expressão porque ainda estava chateado por causa da ultima conversa nada agradável que os dois tiveram no hospital.

— Ela ainda está sobre cuidados, mas está bem. Eu acabei de dar o jantar a ela e já está dormindo de novo. - Victoria suspirou triste, não gostava de ver sua pequena assim.

— Eu posso vê-la? - Heri perguntou preocupado e estava com saudades, queria que ela ficasse bem logo e que voltasse a ser a menina doce, amorosa e esperta que sempre era.

— Vem comigo.

Victoria andou em direção ao quarto de Amy e Heriberto a seguiu vindo atrás. Quando entraram cm cuidado para que ela não despertasse, ele caminhou até perto da cama e se sentou ali passando com amor os dedos no cabelinho dela. Estava tão linda dormindo que parecia um anjo, na testa ela tinha um pequeno curativo por causa do machucado quando caiu, mas ainda assim era a mais bela e perfeita criança, Heriberto sorriu olhando Victoria que estava em pé mas logo se sentou ali próximo dele.

— Ela é tão perfeita, Vicky! - Heriberto disse encantado, mas se desculpou por chama-la pelo apelido. - Victoria... perdão!

— Não tem problema nenhum Heriberto, imagina. - ela sorriu sem jeito e fechou a expressão iluminada da face quando pensou no que teria que dizer a seguir, não seria fácil para ninguém ela sabia, porém seria necessário para o bem de todos, inclusive de Amy Sandoval. - Heriberto, precisamos conversar sobre nossas vidas daqui em diante...

— Sim, mas o que quer dizer? - ele parou de acarinhar a filha e olhou Victoria nos olhos, sentiu medo pelo que ela diria pois anteriormente havia o responsabilizado injustamente pelo incidente com a criança, mas ele não era culpado!

— Vamos até a sala, por favor, não quero ter essa conversa aqui na frente dela, pode acordar e não será nada bom. Amy precisa descansar.

Ele prontamente atendeu ao pedido dela, Victoria pediu para que sentassem e pressentindo que precisaria, pegou uma jarra com água e dois copos deixando-os ali na mesinha.

— Bom, Victoria... o que precisamos falar sobre nossas vidas? Pelo que percebi, não quer falar sobre nós dois e sim sobre Amy.

— É sobre ela mesma, Heriberto. Bom, vou ser direta. - ela não sabia como encontrar as palavras certas, mas iria dizer aquilo, precisava. - Você sempre foi uma pessoa maravilhosa quando estivemos juntos e foi muito importante na minha vida você sabe, mas... não existe mais "nós dois" e sim somente Amy que ainda nos une de alguma forma - ela ia continuar, mas Heriberto a interrompeu.

— Ainda nos une? O que quer dizer com isso, Victoria? Ela é sua filha e minha também, então ela nos unirá para sempre mesmo que continuemos separados... - ele olhou o rosto dela e seu coração começou a saltar porque teve medo de que ela o quisesse agora longe da vida da sua filha.

— Me deixe continuar, por favor. - ele assentiu e ela continuou de uma vez - Amy ainda nos une, mas a partir de hoje não mais Heriberto, eu sinto muito em te dizer isso mas ela não é sua filha!

— O que?? O que é isso Victoria, que brincadeira é essa? - Heriberto perdeu a cor e deu um pulo do sofá, ficando em pé na frente dela. Ele não acreditava naquele absurdo que acabara de ouvir, era impossível, ele não iria aceitar!

— É verdade! É verdade! - Victoria caiu de joelhos no chão chorando desesperada e por um segundo quis gritar o contrário e não pode mais, já estava feito, Amy não era filha de Heriberto Ríos Bernal. - ela não é sua filha...

— Não minta para mim Victoria! - Heriberto a agarrou com raiva pelos braços e a fez ficar em pé diante dela, segurou seu rosto com as duas mãos a olhando com os olhos vermelhos e já banhados por lágrimas, exigindo desesperadamente que ela dissesse que aquela atrocidade que estava dizendo fosse mentira. - Por que está fazendo isso comigo? Por que quer me afastar novamente da minha filha? Amy é sim minha filha, desde o primeiro momento em que eu a vi assustada naquela escola enquanto você não chegava para busca-la eu... senti que era minha... não mente pra mim! - Ele soltou Victoria e se sentou novamente, rendido pela dor imensa daquela noticia.

Como Victoria foi capaz de dizer que a menina era deles e depois de já estarem próximos, depois da criança o chamar de papai toda alegre com a presença dele ali, ela agora era capaz de dizer que ele não era pai e que mentiu o tempo todo?

— Heriberto, eu...

— Victoria, não diga mais nada por favor ou eu não vou suportar! O que aconteceu com o que você me prometeu outro dia, que me deixaria participar da vida da minha filha, você me disse que eu era agora importante para ela e que eu poderia vir vê-la quando eu quisesse porque era minha também! Victoria, você tem noção do que está fazendo com todos nós? Tem noção do que vai causar em Amy? Onde está o seu amor de mãe? - ele estava destruído e nunca aceitaria isso mesmo que desgraçadamente ela estivesse falando a verdade, Heriberto nunca ficaria longe da sua pequena, não mais.

— Não duvide do meu amor pela minha filha! - Victoria enfurecida ergueu a mão para ele com raiva, mas Heriberto foi mais rápido e segurou o seu braço com força. Ela estava maluca e ainda queria bater nele.

— Vai me bater agora? Ficou maluca, Victoria? Eu te amei tanto e mesmo depois do que está sendo capaz de fazer comigo, eu nunca levantaria a mão para você! Olha, eu vou embora, mas não pense que essa conversa acabou aqui, você não vai mentir assim, essa menina também é minha!

Sem dizer mais nada e nem permitir que Victoria o fizesse, Heriberto saiu da casa dela batendo a porta, mas ele voltaria depois com toda a certeza, mesmo que fosse pelo menos para ver pela última vez a sua menina.

Heriberto andou para o carro ainda sem acreditar em tudo o que ouviu ali, a sua cabeça estava doendo e ele se sentia péssimo e confuso com tudo aquilo. É incrível como a vida pode mudar tão rápido de uma hora para outra! tudo estava acontecendo tão depressa, pois em um momento era pai de uma linda menina e logo em seguida já não era mais.

Não deve ser mesmo fácil entender toda essa situação. Ele entrou sentando-se no banco e abaixou a cabeça colocando as mãos sobre o volante, pensou e chorou muito sofrendo, se sentindo um zero a esquerda excluído e descartado como se não fosse nada para ninguém, nem para ele mesmo. Ligou o carro e dirigiu pelas ruas sem rumo precisando pensar no que iria fazer para reverter aquela situação de uma vez por todas, ele não queria deixar por isso mesmo e pensou até em pedir a guarda da criança na justiça se fosse necessário.

Enquanto ele sofria, Victoria encostou-se na porta da sala e desabou em lágrimas sentada no chão frio. Ela pensava no que tinha acabado de fazer com a vida delas, viveu anos sem a presença de Heriberto e agora o tirou de seu caminho de uma hora para outra, mas já estava feito e agora teria que continuar sua vida com a pequena Amy. Victoria foi até o quarto e viu a filha sentada na cama ainda com sono agarrada ao ursinho de pelúcia que ela amava, sentou e pegou a menina no colo enchendo-a de beijinhos por todo o rostinho corado e a pequena riu, mas logo parou e olhou a mãe que ainda chorava em silencio.

— Mamãe, por que ta solando? - ela colocou as duas mãozinhas no rosto da mãe fazendo carinho.

— Não é nada meu amor, a mamãe só está um pouco cansada, só isso! - Victoria beijou a testa dela com amor, Amy ainda era muito novinha para entender o que estava acontecendo.

— Cadê o papai, ele foi embola?

— Não, Amy. Ele só está um pouco ocupado no trabalho dele, mas logo virá te ver. - ela sentiu a pergunta da filha como um punhal cravando em seu peito, teve que mentir pois não podia dizer pelo menos naquele momento que Heriberto havia ido embora da vida delas e não iria mais voltar.

— Você plomete, mamãe?

— Sim minha princesa, a mamãe promete que o papai vai vir te ver. Está com fome? Deixa a mamãe ver se está melhor...

Victoria mediu a temperatura e viu que ela estava sem febre, estaria logo boa correndo pela casa com seus brinquedos feliz, tirando tudo do lugar, sorriu e levou a menina para a cozinha indo preparar o leite com achocolatado como ela gostava.

Duas horas e meia depois...

Já era inicio de madrugada na cidade e Heriberto não tinha voltado para casa, estava em um bar acabando com a quinta garrafa de bebida enquanto o dono do estabelecimento falava com ele insistindo que parasse de beber e fosse embora. Nunca em toda a sua vida ele se sentira assim, a pior pessoa do mundo, destruído e derrotado por uma mulher que ele um dia amou muito, dedicou seu tempo e sua vida sem dar a mínima para as falcatruas de sua mãe Bernarda, sendo capaz de enfrenta-la e de distanciar-se dela para estar ao lado de Victoria Sandoval. Os dois tinham sonhos juntos de construir uma família e ter um lar para que pudessem viver seu amor em paz, mas desde que sua mãe armou aquela cena com uma desconhecida para fazer Victoria acreditar que ele a estava traindo, a vida de Heriberto virou o que se pode chamar de inferno.

— Me dá mais uma garrafa aí! - ele dizia largado na mesa todo bagunçado sem nem poder falar direito de tanto que bebia.

— Nem pensar, é a ultima! Olha seu estado cara, vai para casa curar esse porre. Por acaso isso aí é por causa de mulher? - o dono do bar riu da cara dele, mas estava preocupado, nunca viu alguém encher tanto a cara daquele jeito.

— Aquela desgraçada, eu vou acabar com ela! Eu amo aquela mulher e ela quer roubar minha filha! - Heri falou virando o ultimo gole de bebida e chorando ao mesmo tempo, a coisa estava mesmo complicada para ele.

— Porra cara, desencana! Não é toda mulher que vale um porre não! Vou chamar um taxi para você. - o homem saiu para dentro do bar e fez uma ligação. Heriberto chorava e dizia coisas desconexas sobre Victoria, mas não estava sozinho, uma pessoa o observava desde o instante que chegou ali.

— Alô, sim tenho noticias e se prepara porque é bomba!

— Diz logo criatura! - a pessoa do outro lado da linha disse com raiva.

— O seu querido filho Heriberto está nesse momento em um bar enchendo a cara de cana por causa de uma tal de Victoria não sei das quantas, parece que é serio. O que vai fazer?

— Desgraçada! Olha, sai dai e vem para cá porque tenho um servicinho para você! Anda logo! - era Bernarda, disposta a agir.

No dia seguinte, Victoria ficou na cama até tarde com a filha e ligou para a casa de modas pedindo que sua secretária cancelasse todas as suas reuniões importantes. Ela não se sentia nem um pouco disposta a trabalhar porque não conseguiu dormir e teve uma noite péssima pensando em Heriberto. Amy ainda dormia na cama agarrada a ela quando seu celular tocou, o numero estava restrito mas mesmo achando estranho atendeu não entendendo nada do que acontecia do outro lado da ligação. Victoria apenas ouvia vozes de várias pessoas falando ao mesmo tempo, barulhos de carros passando e arregalou os olhos quando escutou alguém dizer:

— Ele está morto?

— Não sei, parece bêbado! É só mais um vagabundo! - a outra pessoa ria e Victoria se assustou mas continuou a ouvir.

— Tem dinheiro, olha aqui quanta grana!

— Vamos embora cara, larga ele aí!

A ligação foi encerrada e Victoria não teve oportunidade de ouvir mais nada, poderiam estar falando de qualquer pessoa e até mesmo poderia ser engano, mas ela só conseguiu pensar em Heriberto, não sabia porquê mas olhou Amy ainda adormecida e se lembrou de Heriberto, levantou-se da cama com cuidado para não acordar a filha, foi até a porta do seu quarto colocando a cabeça para fora e gritou o nome da babá pedindo que ela ficasse com a menina porque iria sair.

Victoria vestiu uma roupa mais simples do que as que estava acostumada a usar e foi para fora do prédio a pé mesmo, pois algo nela estava lhe dizendo que ele estava por perto. Apressou os passos e caminhou por algum tempo até chegar em uma praça pública que havia por ali perto onde morava, esse lugar era frequentado por varios tipos de pessoas inclusive por andarilhos que não tinham onde morar.

Ela foi até perto de um banco e seu corpo todo tremeu quando avistou a pessoa que estava ali deitado, era ele, o homem que ela amou por anos a fio, Heriberto Rios estava deitado com parte da roupa rasgada e tinha pelo corpo alguns hematomas que ela imaginou que teriam sido feitos pelas pessoas que falavam naquela ligação misteriosa que recebeu. Mas quem poderia ter ligado? Não fazia ideia mas pensou que fosse alguém que sabia da história dos dois, alguém cruel que provavelmente presenciou um espancamento e não foi capaz de fazer absolutamente nada para ajudá-lo.

— Heriberto! - Victoria deu um grito de pavor e se ajoelhou ali diante dele abraçando o seu copo ferido. Sentiu seu coração dar um salto e ela sentiu uma dor terrível porque ele estava naquela situação por sua causa, por seu orgulho e por seu egoísmo! Olhou para o céu pedindo para que Deus a ajudasse, não aguentaria tirar Heriberto dali sozinha porque ele é um homem grande e forte demais para ela sozinha carregar, então olhou em volta e viu um rapaz que passava pela rua.

— Ei, você! Me ajuda aqui por favor! - Victoria já estava chorando ainda mais porque tentou acordar Heriberto mas ele não respondia.

O homem esbelto de olhos escuros como a noite se aproximou deles na mesma hora.

— O que foi senhora? É seu marido?

— É sim, quer dizer... não! Ah não me faça perguntas, por favor me ajude a levá-lo daqui, está machucado!

— Sim, claro! - ele de pronto ergueu Heriberto com força o despertando para tirar daquela praça. O médico não disse nada, não sabia onde estava e muito menos como tinha chegado ali, ele olhou para Victoria e franziu o cenho se lembrando dela.

— Você, sua desgraçada! Quer roubar a minha filha! Olha cara, essa aí não vale uma gota de pinga que eu tomei! - ele disse olhando para ela ainda tonto e de voz destorcida... talvez nem tivesse ideia de suas palavras.

O homem que estava ali com eles, ao ouvir Heriberto dizer aquilo, deu um meio sorriso de lado mas Victoria não viu, ela estava preocupada e nervosa demais para se preocupar com quem quer que fosse aquele cara que veio para ajudar. Ele andou com Heriberto apoiado de um lado de seu corpo enquanto Victoria apoiava do outro indo para a porta do prédio que ela morava. O homem foi embora depois que ela o agradeceu mil e uma vezes e o porteiro veio ajudá-la a levar Heriberto para o apartamento que morava com a filha.

Minutos depois os dois entraram e foram recebidos pela empregada e pela babá que brincava de boneca com Amy no tapete da sala.

— Mamãe!!! Papai!!!! - Amy gritou vendo Victoria entrar toda desengonçada com Heriberto do lado que resmungava qualquer coisa. - veio correndo para abraçá-los mas foi alcançada pela babá que a pegou no colo antes que o fizesse.

— Leve Amy para o quarto! - Victoria ordenou e a babá obedeceu indo com a menina que gritava tentando sair dos braços dela.

— Eu quelo a mamãe, eu quelo mamãe! Meu papai, Nina solta eu!

A babá parou olhando Victoria e ela fez um sinal para que fossem, depois conversaria com sua filha.

— O que aconteceu, Senhora Sandoval? - a empregada perguntou toda aflita ajudando a patroa a acomodar Heriberto no sofá.

— pegue compressas e curativos para mim por favor, eu cuido dele, vá depressa!

— Sim senhora! - a mulher saiu indo buscar as coisas e Victoria ficou sozinha na sala com ele sentado com as pernas apoiadas no sofá.

— Heriberto, o que fizeram com você? Está todo ferido! - ela deixou lágrimas caírem enquanto passava com muito cuidado as mãos no rosto dele. - o que você fez? Está assim por minha causa...

—Você fez isso comigo, você é má e não pensa em ninguém além de si mesma... eu vou levar minha filha comigo, eu vou! - Heriberto tentou levantar más sentou dor e não conseguiu. - Ai! eu odeio você Sandoval!

Aquelas palavras doeram forte no coração dela, abaixou a cabeça ali e chorou se arrependendo no fundo da alma pelo que disse e pelo que fez com ele desde o momento em que se viram outra vez. Victoria se sentiu mal, ele tinha toda a razão porque em nenhum momento ela havia se colocado no lugar dele, como homem, como um filho que sofreu e também como pai.

Sim ela fora capaz de mentir sem pensar realmente em todas as consequências que a sua atitude podia causar na vida dele e da pequena Amy que tão pequena e inocente ainda, estava sofrendo por não ter tido a companhia de um pai desde que nasceu, e em toda festa de comemoração ao dia dos pais na escola ela chorava. Chorava porque via os seus coleguinhas desenharem felizes lembrancinhas para os pais mas ela não podia fazer isso com a mesma felicidade e alegria porque não tinha um, acabava por presentear o porteiro do prédio que era sempre muito gentil e carinhoso com ela quando a via entrar e sair de casa com a mãe.

É uma crueldade imensurável continuar mentindo e sendo egoísta dessa maneira e nem mesmo a pior pessoa do mundo merecia isso. Então ela suspirou, se sentou ao lado dele e disse tentando segurar em suas mãos mas Heriberto não permitiu.

— Heriberto, me perdoa! Você tem toda a razão de estar assim comigo! Mas me escuta por favor.

— O que vai fazer ou me acusar agora? - ele interrompeu se esforçando para olhá-la, estava tão magoado e ferido que nem conseguia olhar para a cara dela e nem queria.

— Nao diz nada, só me ouve! Eu não mereço que você me perdoe, mas eu só agi assim com você porque eu ainda tenho medo, você sabe que a nossa vida juntos não foi fácil em nenhum momento e depois eu te vi com aquela mulher - ele nem deixou ela continuar.

— Eu não te trai!!! Quantas vezes eu vou ter que te dizer que eu não trai você com mulher nenhuma!!!?

— Eu sei, eu sei! - Victoria chorava - mas desde aquele dia eu nunca mais tive um minuto de paz! Há três anos eu levo essa mágoa que a sua mãe me fez ter de você e não é fácil para mim! Heriberto, eu te amava tanto e naquele dia eu fui até sua casa porque eu queria te contar que eu estava grávida, eu estava grávida esperando a nossa filha, a nossa pequena Amy!

— Então você... - ele arregalou os olhos e começou a chorar novamente - aquilo que você me disse é mentira??

— Sim! Amy é sim a sua filha! Eu menti porque eu sou uma covarde, uma sem coração!! Foi nisso que eu me transformei.

Os dois se encaravam atônitos naquela conversa e foram interrompidos pela empregada que vinha com as compressas e curativos que Victoria pediu.

— Aqui está senhora.

— Obrigada, pode colocar aí na mesinha. - Victoria pediu e ela fez indo em seguida embora para a cozinha.

— Eu não sei o que te dizer Victoria, eu não sei se sou capaz de perdoar.

Essas foram as palavras vindas do coração de Heriberto, alguém que estava sendo o tempo todo tão ferido como se não fosse nada, não poderia e nem conseguiria perdoar uma mentira assim, mesmo que fosse a pessoa mais sensata e compreensiva da terra.