Newt Scamander se encontrava em seu aposento, encarando as paredes floridas do hotel Escama Negra, no pequeno vilarejo de Hogsmeade.
Se perguntava se havia tomado a decisão certa, voltar depois de tanto tempo para Hogwarts, sendo que da última vez que esteve no lugar, foi expulso.
Mas agora era diferente, ele não era mais o garoto que se sacrificou pela amiga. Era um homem, um bruxo feito, detentor de extrema sabedoria do trato das criaturas mágicas, não teria ninguém melhor para o cargo. Enquanto devagava em pensamentos, Newt começa a ouvir uma discussão ali próximo, na rua. Ao se aproximar da janela, notou uma garota que discutia com um homem. Próximo a eles estava um cachorro grande e branco, parecia abatido. A garota falava nervosamente, gesticulando para o cachorro. O homem parecia ainda mais nervoso. Newt ficou por um momento assistindo tudo pela janela, e então decidiu interferir quando o homem ameaçou jogar um feitiço no animal, apontando a varinha para o mesmo.
O jovem sai apressado do hotel, logo chegando na rua que espiara momentos antes.
— É um ultraje o que você faz com esse pobre animal! - A garota argumenta. - Não ouse apontar esta varinha para ele! Ou juro por Merlin, eu…
— Com licença. - Newt se aproxima, fazendo o homem grande e gordo bufar. - Está tudo bem aqui?
— Não! - O homem esbraveja. - Esta maluca quer levar meu cachorro raríssimo da região do gelo! Perdeu completamente o juízo!
— Você não se importa com ele! - A garota retruca. Agora mais próximo, Newt via que era bela, com cabelos castanhos longos e expressivos olhos verdes, parecia feroz.
— O cachorro é meu e eu faço o que bem entender com ele! - O homem puxa o animal com força pela coleira.
— Você maltrata ele! - A garota se coloca na frente dos dois. - Não ache que não sei que usa da violência, o deixa passar fome por dias e ainda por cima o obriga a continuar procriando, um cachorro já idoso! O senhor não tem vergonha?
— Mas como é que você sabe de tudo isso?! - O homem pergunta boquiaberto. - Não importa! Estou indo para casa e levando o MEU cachorro!
— Por favor, não o deixe sair vitorioso! Esse pobre animal esta sofrendo. - A garota suplica, encarando Newt. Ele desvia o olhar dela para o cachorro, que o olhava quase que com a mesma expressão. O bruxo suspira, em seguida corre para alcançar o homem que andava apressadamente para se livrar dos dois.
— Com licença, senhor, mas não posso deixa-lo levar o animal. - Newt diz com convicção.
— Está de brincadeira?! - O homem exclama descrente. - Você não pode…
— Na verdade, posso. - Newt murmura, procurando desajeitadamente algo na carteira. Ele mostra uma credencial do Departamento de Regulação e Controle de Criaturas Mágicas para o homem rapidamente, apenas para que o visse superficialmente e que não notasse que Newt não estava mais no cargo.
O homem empalidece, em seguida estende a coleira para Scamander.
— Devo alerta-lo que, se for pego maltratando criaturas novamente, terá uma dura pena. - O jovem fala, mesmo não tendo autoridade para tal. Queria assustar o homem, e pela feição do mesmo, estava dando certo. Este apenas assentiu com a cabeça, saindo andando apressadamente em seguida.
Newt se vira, andando com o cão para perto da garota, que o olhava com um grande sorriso nos lábios.
— Você conseguiu! - Ela exclama. - Como é que convenceu aquele troglodita?
— Apenas disse que era do departamento de controle de criaturas mágicas. - O bruxo responde, estendendo a coleira do animal para a garota.
— Minha tia vai me matar. - Ela murmura aceitando a coleira. - Não deveria acolher mais um animal.
— Como sabia de tudo aquilo? Andou espionando aquele homem? - Newt pergunta curioso.
— Claro que não! - A garota faz uma careta. - Digamos que uma importante testemunha me contou.
— Bom, fico feliz de ajudar. - Ele responde. - Mas está tarde e você não deveria andar sozinha por aí.
— Não estou sozinha. - Ela sorri. - Estou com o Rufus. - A garota desvia o olhar do cão para Newt- E com você.
— Então devo acompanhá-la até sua casa. Para que você e Rufus cheguem em segurança.
Por um momento os dois se encaram em silêncio, e Newt cogitava se deveria mesmo ter se oferecido para acompanhar a garota. Realmente estava tarde e talvez fosse perigoso, mas algo nela a deixava nervoso.
— Tudo bem. - Ela sorri. - Meu nome é Davina Blake, a propósito.
— Newt Scamander. - Ele se apresenta.
Os dois então passam a caminhar pelo vilarejo, em silêncio. Ambos estavam nervosos e não sabiam o por quê, e naquele momento, não faziam idéia do que aquele pequeno encontro os ocasionaria para o futuro.
Quando finalmente param em frente á uma casa no final do vilarejo, Newt decide quebrar o silêncio:
— Você mora aqui?
— Não, esta é a casa da minha tia. Estou ficando aqui por alguns dias. - Davina responde com um sorriso. - Obrigada por me acompanhar e ajudar com Rufus. Estamos muito gratos. Não sei como posso te agradecer.
— O obrigada já basta. - Newt sorri com timidez. - Boa noite.
Newt se vira e começa a se afastar da casa, quando uma voz chamando seu nome o faz retornar.
— Que tal tomarmos um chá amanhã? - A garota sugere. - Você fez muito por nós. Queremos agradecer devidamente.
Newt a encara, pensando por um momento se seria errado aceitar o convite. A garota provavelmente era de menor, pois seu rosto inocente e delicado não negava, apesar de ser feroz e forte como uma mulher de sua idade. Ele se detém, prestes a dizer não, quando uma crescente voz em seu íntimo se questiona: "por que não?"
— Claro. - Newt sorri. - Vamos tomar um chá.


(…)


No dia seguinte, as exatamente três e meia da tarde, Newt Scamander aguardava no Fada Flutuante, uma casa de guloseimas e chás, mais frequentada por bruxos de idade. Ficou aliviado quando Davina sugeriu aquele lugar, era bem mais tranquilo que o Cabeça de Javali ou Três Vassouras. Ele batia os dedos na mesa, inquieto. Se perguntava diversas vezes o por quê fazia aquilo, saindo com uma garota que deveria ter a metade de sua idade. Não era ético. Não era inteligente. Mas era um agradecimento, certo? Nada demais. Tentava se convencer daquilo.
Quando o sininho anunciando a entrada dos clientes tocou, o bruxo ergue a cabeça, vendo Davina se aproximar. Ela vestia vestes simples, uma saia longa e florida, uma blusa branca três-quartos e rendada. Os cabelos castanhos estavam soltos e quase flutuavam conforme a garota se movia delicadamente até ele, se sentando em sua frente.
— Boa tarde Newt. - A garota abre um sorriso, e por um instante, ele fica inebriado com o perfume doce e gostoso de Davina.
— Olá. - Ele cumprimenta, retribuindo o sorriso. - Como você está?
— Bem, minha tia não gostou muito da surpresa de ontem, mas aceitou. Acho que já está apaixonada por Rufus…
— Que notícia boa. - Newt responde, acenando para um dos funcionários o atendessem. - Você sempre faz isso? Ajuda os animais?
— Sei que pode parecer meio bobo… Mas sinto que é meu dever os ajudar. Quando vejo um animal sofrendo não consigo me conter.
— Não é bobo. É incrível. - Newt sorri. - Também tenho grande interesse em criaturas mágicas.
— O que os senhores desejam? - Um senhor se aproxima com a caderneta em mãos.
— Um chá de hortelã com limão, e uma torta de chocolate, por favor. - A garota pede.
Newt observava todos os seus movimentos. Não podia negar: estava encantado com aquela garota.
— Vou querer um chá de ibisco. - Ele pede.
O senhor anota os pedidos, saindo em seguida.
Mais uma vez o sininho toca e a porta se abre, mas ninguém parecia ter entrado no lugar. De repente, Newt sente algo se roçar em sua perna. Ele se assusta, olhando para baixo e vendo um gato preto, sem absolutamente nenhum pelo no corpo. O gato lhe encarava com os olhos grandes e azuis.
— Smeagol! - Davina sibila. O gato se vira para ela. - Disse para você ficar na casa da tia Rose!
— Smeagol? - Newt indaga confuso. - Esse gato é seu?
— Ele deve ter me seguido até aqui. - Davina esclarece. - Gato teimoso.
O gato mia em resposta, em seguida sobe em uma das cadeiras, se acomodando ali.
Newt estende a mão, acariciando o gato. Logo ele se deita na cadeira, abrindo as pernas para que ele fizesse carinho em sua barriga.
— Normalmente ele não é tão receptivo com estranhos. - Davina comenta. - Gostou de você.
Minutos depois, os pedidos chegam. Os dois começam a tomar o chá, conversando animadamente sobre animais. Geralmente Newt estaria tímido diante de uma garota, mas era como se conhecessem a tempos, se sentia extremamente á vontade com ela.
Quando o chá terminou, ambos se levantaram, pagaram as contas - Newt se ofereceu para pagar todas as despezas, que Davina relutante aceitou.
Enquanto caminhavam de volta para a casa de tia Rose, com o gato Smeagol atrás, Davina refletia se encontraria alguém tão legal como Newt em Hogwarts. Não tinha muitos amigos, na verdade, só tinha uma amiga, Victória, a qual dividia o dormitório na Grifinória e Luke, seu amigo de infância. Todos a viam como a garota estranha, a que prefere ficar com animais do que com pessoas. Até a chamavam de maluca, mas já estava acostumada. Não podia deixar Newt descobrir como era fracassada, e não queria se afastar dele, apesar de no dia seguinte embarcar para Hogwarts.
Será que voltaria a vê-lo? Estava hospedado no Escama Negra, provavelmente a trabalho, de passagem. Talvez nunca mais se vissem. Por isso teria que fazer valer a pena.
Quando se aproximaram da casa, Davina de repente para de caminhar.
— Aconteceu algo? - Newt pergunta, estranhando aquela atitude.
— Todos dizem que sou impulsiva e as vezes ajo sem pensar. - A garota começa a falar, se aproximando mais do bruxo. - Mas acontece que penso nisso desde ontem.
— Nisso? - Ele indaga sem entender.
Davina respira fundo, encerrando o pequeno espaço que havia entre os dois com um beijo. Newt de começo paralisa, não esperava por aquilo, e também não esperava puxar a garota pela cintura, os colando mais e retribuindo o beijo.
Quando se separam, ambos ofegantes e confusos com o que estavam sentindo, não faziam ideia que haviam selado mais que um beijo naquele momento.
— Desculpe. - Davina murmura corada. - Na verdade, não me desculpe. Eu só… Partirei em viagem amanhã e temi que nunca mais o visse.
— Também irei embora amanhã. - O jovem revela.
Os dois se encaram por um momento em silêncio, sem saber direito o que dizer um para o outro.
— Então acho que é adeus. - Davina murmura.
— É. - Newt concorda ainda atordoado. - Adeus.
— Adeus.
Então, cada um tomou um rumo diferente, sem saber que novamente seus caminhos se cruzariam.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.