Roslyn esperou pelo momento em que sua boca fosse esmagada pela fúria de Alaric. Porém, lábios suaves e provocativos roçaram os seus em uma carícia leve, provando. Os seus lábios que estavam comprimidos de medo e raiva ficaram moles com o toque em seus lábios rubros.

E, quando ela achou que não aguentaria mais aquela provocação de roçes inocentes, quando pensou que estava prestes a se humilhar arqueando o corpo contra o dele implorando por um beijo de verdade, a boca faminta de Alaric desceu sobre a sua impetuosa e saqueadora.

Suas mãos ficaram livres e como se tivessem vontade própria, se enredaram nos fios finos e ondulados. Ela sabia que estava fazendo uma algazarra em seus cabelos e o beijando com tanta intensidade que Alaric facilmente poderia pensar que nunca havia sido beijada antes, a não ser pelo próprio marido, mas não se importou. Estava extasiada demais com as sensações que entortavam até mesmo os dedos dos seus pés.

Mãos se apossaram da sua cintura, erguendo o seu corpo contra um peito forte e, de repente, em um movimento ela estava sentada sobre o seu colo sem desgrudar as bocas.

No entanto, uma dor em suas costelas a fez terminar o beijo quando passou os braços pelos ombros largos, perplexa pelo seu descontrole.

Um grunhido gutural de rejeição pelo seu afastamento fez um arrepio descer por toda sua coluna apesar da dor.

—Não ouse se afastar, Roslyn.

—Solte-me. -Roslyn disse esbaforida com o rosto em chamas tão envergonhada com sua reação exagerada que não sabia para onde fugir a não ser para o colo do marido.

—Considere o seu castigo por ter desobedecido minhas ordens. -Alaric sussurrou contra seus lábios, antes de beijá-la novamente.

Alaric sentiu um sorriso se desenhar em seus lábios enquanto a beijava de modo a descarregar toda a tensão de dias sem provar daquela boca pequena e petulante.

Roslyn tinha as mãos em seus ombros como se fosse a sua forma de se negar a ele, mas a sua resistência acabava ali, pois ela o beijava com tanto empenho quando ele próprio. Se ele mudava o ritmo do beijo, ela rapidamente atendia, deixando que ele a beijasse de forma suave.

Quando o fôlego faltou, Alaric se separou, deixando o olhar vaguear pelo rosto corado e os cabelos soltos que caiam desordenados até além das suas costas.

—Gosto do seu cabelo. -Alaric não soube da onde veio aquele claro elogio mas não conseguiu se conter quando enrolou uma mecha ruiva encaracolada em seu dedo. -Vermelho e vibrante.

—Gosto dos seus beijos. -Roslyn sussurrou timidamente de uma forma tão rápida que ele quase precisou perguntar novamente o que havia dito.

Ela se remexeu em seu colo constrangida, mas não reclamou pela posição ou se ergueu. Alaric estava hipnotizado pela forma tímida e, ele se atreveria a dizer mesmo que jamais sob nenhuma hipótese admitiria em voz alta, doce com que Roslyn estava sentada em seu colo.

Roslyn tinha a atenção voltada para o outro lado do cômodo como se tentasse fugir da sua vista, mas parecia se esquecer que estava perfeitamente acomodada em seu colo. Alaric puxou uma mecha de seu cabelo até ter o rosto sardento voltada para ele novamente. Ele não perderia a oportunidade de beijá-la novamente em poucos segundos. Nem que precisasse mantê-la ali com seus braços.

—Por que pediu para Marion lhe colocar em outro quarto?

Alaric tentou mascarar a raiva ao se lembrar de todos as portas que precisou abrir até encontrá-la, uma vez que a criada parecia mais propensa a morrer do que contá-lo onde havia escondido Roslyn.

Ele percebeu o corpo da ruiva ficar tenso e seu movimento rápido para tentar se levantar. Porém, ele previu antes o movimento e enlaçou sua cintura estreita e esguia com seus braços.

—Solte-me, agora.

Apesar da expressão superior de Roslyn, com o nariz adoravelmente arrebitado erguido para cima, e os lábios comprimidos. Ele percebeu o pânico crescer em seu interior com o contrair agitado de suas sobrancelhas.

O seu queixo tremeu um pouco e Alaric sem resistir a sua expressão temerosa, beijou a pequena ondulação em seu queixo, sentindo a textura macia de sua pele.

—Roslyn?-Perguntou contra a pele ruborizada da sua face.

Roslyn não tinha nem forças para articular uma frase coerente. Então murmurou apenas "o que" tão baixo que nem ela mesma ouviu.

—Por que pediu a Marion para colocar suas coisas em outro cômodo?

Alaric se afastou olhando seriamente para os piscar agitado dos cílios longos contra as bochechas proeminentes.

Roslyn retirou as mãos dos ombros fortes de Alaric voltando a deixar as mãos recolhidas no colo, esquecendo completamente do quanto se sentia protegida e segura rodeada por braços fortes e uma respiração contra o seu rosto.

—Eu gostaria de ter um cômodo somente para mim.

—E eu posso saber o porquê dessa mudança?

—Por que se importa?

Roslyn dessa vez virou seu rosto totalmente para Alaric sentindo a respiração pesada contra seu rosto.

—Para todos os efeitos você continua sendo minha esposa.

—Só porque não dividiremos o mesmo quarto isso não anula o nosso casamento.

Alaric quase podia sentir a irritação crescer em suas entranhas quanto mais Roslyn fugia do assunto.

—Roslyn, eu quero o motivo. -Disse categórico.

—Então me solte.

Abafando a exclamação de aborrecimento por tanto mistério, Alaric se pôs de pé a levando consigo. Ele esperou impacientemente que ela colocasse nervosamente as mechas revoltas atrás da orelha, inalando uma respiração profunda e sonora.

—Soube que anda passando suas noite com outra mulher. -Roslyn falou com dificuldade, escolhendo as palavras com cuidado. -Então, prefiro que respeite a minha decisão de ficarmos em quartos separados. Assim, você não precisa se preocupar em voltar para o quarto para manter as aparências.

Alaric teve muita dificuldade de mascarar sua surpresa mesmo que ela não pudesse enxergá-lo. E, depois, uma raiva desceu sobre ele dirigido a pessoa que ousou contar a Roslyn sobre suas visitas a Rachel.

—Quem foi que lhe contou sobre isso?-A urgência em sua pergunta fez Roslyn se esticar amedrontada pelas criadas que não tinham culpa.

—Ninguém.

—Não acha mesmo que eu acreditarei por um segundo se quer nessa mentira, acredita?

—Não me interessa se acredita ou não. Estou apenas lhe comunicando que pretendo ficar neste quarto.

—Comunicando?-Alaric pronunciou a palavra lentamente como se desconhecesse o significado. -Quer dizer que já se decidiu sem nem ao menos me perguntar?

—Sou sua esposa, não sua escrava.-Roslyn ergueu a cabeça como se aquele ato mostrasse a sua superioridade. -E, sim, já me decidi.

Uma risada de escárnio e puro cinismo ecoou pelo quarto, Roslyn sentiu o efeito daquela risada em todo o seu corpo em pequenos arrepios. Mas, não de êxtase, mas de puro medo e raiva pela forma como Alaric se comportava. Completamente diferente do homem que havia beijado minutos atrás.

—Oh, Roslyn. Você é muito inocente. -Um dedo áspero deslizou pela sua bochecha, Roslyn afastou o rosto em repúdio, mas Alaric aprisionou seu queixo com dois dedos não permitindo que se afastasse do seu toque. -Quando você vai aprender que não é você que dita as regras?

O rosnado incontido de fúria não a intimidou, mas por dentro ela se sentia como um coelhinho assustado que Edward uma vez a fez segurar. Tão trêmulo e pequeno que mal tinha reação para fugir.

—E quando você vai aprender que não é por meio da intimidação que vai conseguir me fazer seguir as suas ordens idiotas?

Ela esperou por rugidos raivosos, coisas sendo quebradas. Mas, apenas ouviu uma respiração pesada e o som do crepitar das chamas.

—Você irá comigo, agora. -Alaric declarou controlando a revolta que os argumentos de Roslyn estavam causando em seu interior.

—Não.

Alaric agarrou o cotovelo de Roslyn sem mais paciência para lidar com aquela birra infantil.

—Eu disse que não!

Roslyn afastou com força seu braço de Alaric dando uma passo para trás vacilante, mas algo macio impediu que recuasse mais, fazendo-a tropeçar sobre os próprios pés.

Pensou que fosse cair quando um braço ágil a pegou pela cintura, prendendo-a contra um peito largo.

Ela instintivamente colocou os pulsos entre os corpos, rejeitando a aproximação drástica.

—Não me faça ter que arrastá-la, Roslyn. -A ameaça explícita não a fez recuar.

Ela sentia a respiração ofegante de fúria de Alaric contra seu peito e aquilo apenas a enervou ainda mais.

—Tente e eu vou acordar os mortos se for preciso.

—Eu não tenho medo de gritos. -Alaric falou debochado.

—Eu não duvido disso, mas pense no quanto os aldeões ficariam irritados por saberem que você me maltratou.

Alaric a soltou bruscamente. Roslyn cambaleou para trás sabendo que venceu uma batalha.

—Estou impressionado. Quantas faces você tem Roslyn? Um hora é uma menina inocente e frágil, e no outro uma mulher que usa da ameaças para fazer suas vontades. Qual delas é você de verdade?

Roslyn sentiu as bochechas corarem pela insinuação e pela vergonha.

—E-eu...-Ela gaguejou horrivelmente se sentindo esquisita com ela mesma. -…estou apenas tentando sobreviver sem ser pisoteada por suas vontades.

—Belo jeito de se expressar. -Alaric caçou da ruiva que de repente havia ficado tímida e envergonhada. -Vou deixar você vencer essa batalha, mas não espere que eu seja tão misericordioso com você na próxima.

Roslyn deveria se sentir vitoriosa, mas apenas sentiu um vazio doloroso no peito quando ouviu os passos de Alaric se afastando e o baque surdo da porta.

Ela se orientou pelo quarto pelo número de passos e os objetos que Marion havia deixado para que ela se localizasse. E quando deitou na cama macia deixou lágrimas grossas de solidão deslizarem por suas bochechas.