— Roslyn, pedi que servissem nossa refeição…no quarto.

Roslyn paralisou na metade da trança e, antes que ao menos pudesse raciocinar, já estava imersa até o queixo dentro da tina. Sua trança balançou insegura no alto da cabeça e seus joelhos estremeceram pelo susto tardio.

A sua combinação interior, agora, aderia a sua pele como se fosse uma massa particulamente pegajosa. Marion sempre a deixava parcialmente vestida quando fazia uma de suas viagens por mais baldes d'água até a cozinha, pois sempre havia o risco de algum soldado entrar sem aviso e a encontrar em uma situação no mínimo compremetedora.

Ela tentou se aprumar, apoiando as mãos na madeira úmida. Mas, seu pobre coração ainda ensaiva o que um dia já foram foram batidas serenas.

— Eu já contei sobre os sonhos que tive com você? - Alaric indagou suavemente.

Roslyn arqueou as sobrancelhas e, logo depois, negou.

— Há um em particular que eu daria minha alma em barganha de bom grado somente para concretizá-lo. - A voz adquiriu um tom mais baixo, mais rouco, e, inegavelmente, mais feroz. Roslyn espichou dentro d'água. Seu coração tremeu.

— E como era?

— Acredito que para ser uma boa história, é preciso haver uma perfeita encenação. - Por algum motivo, Roslyn estremeceu. Seus joelhos pareciam ter se liquefeitos em água pura. - Por que contar, se posso mostrar, não concorda?

Um pensamento coerente subjugado pela malícia, pensou. Não que condenasse a natureza deles. Eram, definitivamente, os mais divertidos.

— Devo temer o que está por vim? - Provocou.

— Temer? Não, querida. Ansiar, com toda a certeza. Afaste-se.

Ela inspirou e rastejou para trás, suas costas encontraram a madeira úmida, sua nuca descansou contra a beirada fria. A água se agitou. Se sentia uma oferenda naquela posição, as pernas flutuando, a camisa de linha a afagando somente em alguns lugares e o olhar de Alaric a arder sobre si. Era aquilo que nunca, jamais, iria se acostumar. Não podia ver, mas podia sentir. E como sentia. Em cada parte do seu corpo, em cada recanto de sua alma, aquele olhar depravado e ao mesmo tempo, tão terno, se derramar sobre si, como se nunca cansasse de percorrer as mesmas linhas, curvas e imperfeições dia após dias, noite após noite.

Os dedos de Alaric capturaram seu pé e puxaram levemente para si. Roslyn inspirou.

— Conte-me sobre o sonho.

— Há muito tempo, trovadores de reinos distantes…

— Pensei que contaria sobre o sonho. - Roslyn o interrompeu e, em reprimida, levou um pequeno puxão no dedo mínimo.

— Tão ansiosa. Se tiver paciência, chegarei nele.

— Desculpe. - Murmurou com um sorriso pequeno de travessura nos lábios. Pigarreou e se ajeitou melhor na banheira, pôs sua melhor expressão de seriedade. - Continue, por favor.

— Como eu estava dizendo, trovadores de reinos distantes disseminaram aos quatro ventos, a história de uma mulher. Uma mulher de lábios macios como seda e voz fina como uma harpa. Ela surgia às noites de inverno, em um lago banhado a prata, para curar às feridas dos homens.

— Feridas do corpo?

— Da alma. - Roslyn acentiu. A voz de Alaric voltou a envolvê-la. - Eu escutei essas histórias mais vezes do que o meu próprio consciente poderia suportar. Os homens deliravam após taças e mais taças de cevada viradas, a ponto de correrem para o lago mais próximo somente para terem um vislumbre da pequena náiade de lábios doce. Mas, claro, ela não existia. Não para mim. Nunca para mim. Quando os trovadores chegavam a cidade e começavam a cantar a melodia da pequena ninfa do lago de Prata, eu escutava como se fosse esterco humano sendo vomitado pela boca de homens tolos.

Os dedos de Alaric rumaram em direção a sua perna, nunca deixando de falar.

— E, então, anos depois…eu sonhei. Com ela. Como em todas as histórias contadas, ela estava em um lago. Perfeita. - De repente, o toque de Alaric se desfez e Roslyn se sentiu um pouco perdida.

Ela ouviu o som de farfalhar de tecidos. A água se agitou um pouco. Do lado de fora, o vento rugiu furioso.

— A Lua a tocava nos pontos certos, refletindo as gotas de água como cristal, como prata derretido…- E, então, ela sentiu. Em seu laço da camisa interior. O toque leve como uma pluma, mas preciso o suficiente para estremecer. Alaric parou. Ela arfou. -…eu posso?

Sempre, quis falar. Mas, somente assentiu. Incapaz de falar, de respirar e, até mesmo, de pensar. Só de sentir aquela miríade de sensações entorpecentes e excitantes.

Em silêncio, Alaric defez laço por laço, até ter Roslyn de joelhos para alcancar ao último. Ela queria tocá-lo, desesperadamente. Sentir suas mãos sobre si, beijá-lo até sentir seu peito arder. Mas, não queria romper aquele momento. Não queria deixar de ouvir a voz baixa de Alaric a envolvê-la em uma dança em que o final seria o caos completo.

— O que aconteceu depois?

— Fui até ela.

— Você foi?

— Seria um louco se não tivesse ido. - Roslyn sentiu o coração acelerar, parar, e, logo depois, acelerar de novo em um ritmo doloroso. Seu peito vibrava pelas batidas ensandecidas. A camisa de linho arranhava sua pele sensível. - Por que precisava dela para curar minhas feridas. Cada uma delas.

— E ainda precisa?

— A cada dia da minha maldita vida.

Dedos quentes se apossaram de sua cintura; necessitados e primitivos. Os dedos de Alaric subiram reverentes pelos declives da barriga plana, acariciando os pequenos sóis rosa pálido que empinavam contra o tecido transparente, desenhando as constelações de sardas na clavícula arfante, até chegar as dobras do tecido. Roslyn achou que fosse arder em puras chamas quando ele alcancou as dobras de linho. Seu peito tremendo a cada respiração. Seus joelhos bambos na água.

Ela arqueou, a camisa de linho caiu de seus ombros, o vento gélido bateu em sua pele aquecida. Tremores a dominaram. Sua barriga parecia uma depósito de cristais de gelo.

— Perfeita. - Alaric sussurrou contra seu ouvido, descendos os dedos pelos picos de suas costelas. - Minha pequena ninfa. Meu céu estrelado. Meu amor.

Ele a puxou para si. Ela se comprimiu contra ele, pele contra pele, quadril contra quadril. Suas pernas o enrolaram como cordas de um navio. Seu seios se emprensaram contra o peito forte, sentindo os pêlos macios e masculinos a acariciarem, o seu coração correu para acompanhar as batidas descompassadas de Alaric.

— Quero-o.

— Na água? - Ele indagou malicioso só por que não resistia a colorir ainda mais aquele rosto sardento.

Ela deslizou os dedos pelos cachos curtos, apertou ferozmente e respirou o ar exalado por Alaric. O peito dele expandiu, seus músculos se contrairam. Roslyn o acomodou entre as coxas esbeltas, as pernas firmes em sua cintura…ele arfou…e, então, o silêncio se partiu.

— Agora.
♡♡♡♡♡

Alaric caminhou em direção a Sebastian. O som do alaúde a preencher o cantos do salão. Já passava do horário de todos se recolherem, mas abrira uma exceção para aquela noite. Os homens estavam há dias sobre pressão, treinando até os braços protestarem. Não mereciam mais do que um momento de descanso junto a lareira, com um música a ecoar pelas paredes revestidas de tapeçarias.

Ele cumprimentou alguns pelo caminho, detendo-se ao lado do loiro. Os dois permaneceram em silêncio, absorvendo a atmosfera animada. Deixando-se levar por um pequeno momento de felicidade perdida.

— Já estão quase no fim. - Sebastian comentou depois de levar a caneca até os lábios. - Os alimentos.

Alaric concordou.

— Sabe o que precisamos fazer.

— É arriscado.

— Não temos outra alternativa. Gostaria que tivéssemos, também não me alegro em oferecer meu pescoço em uma bandeja de prata aos lobos.

— Eu já lhe disse que posso muito bem comandar a todos. Nós sabemos que você não deve se arriscar tanto. É mais valioso governando vivo do que morto. Além disso, posso governar uma legião de homens muito melhor que você.

Alaric arqueou a sobrancelha, não deixando passar a provocação.

— Prefiro Não arriscar. - Ironizou.

— No momento em que sairmos do clã, estaremos por conta própria. Não haverá muralhas para nós proteger.

— Nunca houve antes.
♡♡♡♡♡♡

Alaric sentiu o vento gélido afagar as lapelas do seu casaco e perfurar o seu peito. Mas, nem mesmo as fagulhas frias de neve seriam capazes de competir com o sentimento frio que abarcou o seu peito naquele instante.

Em um movimento ágil, seus dedos encontraram o cotovelo feminino e o arrastaram junto consigo para dentro de uma pequena reentrância que decorava o corredor mal iluminado.
Roslyn se deixou ser levada, esperando pacientimente que Alaric se recuperasse do choque de sua ideia e voltasse a ter os nervos em funcionamento. O que levou mais tempo do que gostaria.

— Não fale que não. - Ela falou ao mesmo tempo em que ele falava um inflexível e sonoro "não".

— Você nem ao menos me escutou direito!

— Escutei o suficiente.

— Você é tão teimoso…

— E sou obstinado também, portanto esqueça essa sua ideia. Não vou treiná-la.

Roslyn se desvencilhou de seu toque. O queixo erguido em desafio. Sua trança densa oscilou sobre seu ombro direito, escorregando em direção ao colo imaculado apertado contra o corpete, acompanhando o subir e descer agitado do peito. Alaric perdeu sua vista por um instante sobre o enorme e obsceno pedaço de pele desnudo sobre o corpete do vestido. Ele teve um trabalho duro consigo mesmo para aceitar que Roslyn descesse com aquele vestido do pecado, feito para enlouquecer o mais castos dos homens e pisar em sua já esmagada sanidade. E mesmo ali, com ela cuspindo fogo de ódio, ele ainda queria tacar fogo naquele vestido, mas não antes de saborea-la dentro dele.

Roslyn bufou e ele rapidamente voltou sua atenção para as pequenas labaredas de fogo que coloriam a face furiosa da sua mulher.

— Alaric ouça-me. Precisa entender que mesmo estando coberta por guardas dos pés a cabeça, eu preciso me sentir segura. E por isso preciso de você, preciso que me ensine a me defender, a cuidar de mim mesma quando não houver ninguém por perto. Preciso que me ensine a me proteger. - Ela falou acalorada.

Ele a avaliou em silêncio, absorvendo as palavras rápidas.

— Não. - Sentenciou com os braços cruzados.

Roslyn abriu e fechou a boca duas vezes, a expressão completamente ultrajada, os punhos cerrados contra o corpo. Ele quasia podia sentir a raiva emanando do corpo diminuto. Mas, não poderia se permitir treinar Roslyn. Só de pensar em suas mãos enormes a tocando de uma forma que beirava a violência, seu estômago já apertava de horror. Suas mãos nem chegavam perto de merece-la tocá-la, mas ainda assim ele ousava ama-la com seus dedos ásperos, com seus nós calosos. Não ousaria mais do que isso.

— A minha paciência está se esgotando.

— Querida, a minha já está extinta. - Ele retrucou notando a forma cheia e redonda que seus seios adotaram quando ela cruzou os braços sobre o peito; a expressão fechada. - Consigo ver os seus seios daqui e, apesar deles estarem incrivelmente tentadores sobre a meia luz e serem terrivelmente saborosos, ainda assim não consigaram mudar a minha decisão.

Roslyn deixou os braços penderam ao lado do corpo, o rosto da cor dos cabelos expressava completo horror e fúria. Ela conseguiu crescer ainda mais sobre a pequena estatura.

— Oh, você é…impossível! Eu jamais faria tal coisa.

— Não era o que parecia, amor. - Murmurou sedutor, afagando a pele rosada da face rubra. Roslyn o afastou com um tapa. Ele riu entre dentes. - Aborreci você?

— Você não faz ideia do quanto. - Murmurou em um sibilo.

Ele riu no início, mas deixou risada morrer ao perceber a chateação nas linhas escondidas do rosto de Roslyn, na forma como ela mordia o lábio para impedir que o queixo tremesse levemente. E aquela expressão de desolação o desarmou mais rápido do que uma lágrima furtiva.

— Céu…- Ele sussurrou pegando o punho cerrado de Roslyn e o atraindo até os lábios, beijando os nós dos dedos contraídos contra a palma. Ela ainda permanecia ressentida, com as sobrancelhas franzidas e o rosto voltado para o chão. -…o que está me pedindo…é demais para mim. Só de imaginá-la machucada já sinto o meu corpo perecer. Nunca me perdoaria se algo parecido acontecesse com você.

Ela piscou surpreendida, o entendimento a fazendo amolecer aos poucos. Sua palma se abriu para ele e Alaric afundou os lábios nas linhas que cruzavam a pele suave da mão feminina, aspirando o cheiro característico da esposa.

— Você não vai me machucar.

— Como pode saber?

— Por que o conheço. - Ela afirmou simplesmente.

Ele entrelaçou os dedos juntos e capturou uma mecha fujona entre os dedos com a mão livre, circulando a orelha delicada para depositar o cacho rebelde na pequena curva.

— Não sei se essa afirmação denuncia a sua ingenuidade ou a sua ousadia. - Ele brincou querendo mascarar o medo que tinha de se revelar algo pior do que ele mesmo achava de si próprio.

— Denuncia que eu conheço seu coração mais do que você mesmo.

— Não discordo.

O silêncio caiu sobre eles. Roslyn afagou seu dedo mínimo com o dela, deslizando para cima para baixo. Ele suspirou derrotado e grunhiu furioso consigo mesmo por ser tão fraco. Suas determinações eram como folhas empilhadas que facilmente era levadas por uma brisa ruiva e sardenta.

— A sua sorte é que sou louco por você. - Roslyn absorveu a afirmação apaixonada com os olhos arregalados e os lábios entreabertos. - E para de me manipular com essa seu queixo tremente…ele me irrita.

Ela piscou e se recompôs.

— Você ama ele. - Ela brincou depois de parecer encontrar a voz, deslizando os dedos pelo braço forte.

— Quando não está me manipulando, ele consegue ser passível. - Ele admitiu depositando um rápido beijo sobre a covinha que se escondia no queixo teimoso. - Se eu treiná-la será por poucas aulas e será com as minhas regras…

— Que regras…- Ela começou com as sobrancelhas franzidas.

—Roslyn. - Ele a advertiu.

— Tudo bem. - Ela emendou rapidamente.

— Ótimo.

Ela guinchou quando ele a pegou nos braços e rumou obstinado até o quarto. Os braços femininos se enrolaram no seu pescoço. A respiração dela se misturou a sua. O peito se apertou contra o dele.

— O que está fazendo?

— Indo me livrar deste maldito vestido. - Grunhiu.