Adormecemos calmamente agarrados um ao outro. Jamais imaginaria estar dormindo daquela maneira tão envolvente com o homem que eu considerava meu irmão. A vida é realmente impressionante! Agora eu não tinha mais dúvidas de que não deixaria Mau-Mau sumir de minha vida novamente, e nem machucá-lo ou magoá-lo de alguma forma.

Acordei-me com as carícias de Mau-Mau, que mexia em meu cabelo e tocava meu lábios com o seu. Sorri ao sentir seus gestos tão carinhosos.

– precisamos levantar – disse ele. – logo vão desconfiar de algo!

Eu apenas assenti com a cabeça, ainda estava meio zonza por tudo o que havia acontecido ali. Mau-Mau levantou-se completamente nú, sem se importar para o quê eu poderia estar olhando, aquilo foi estranho, mas eu tive de olhar para sua bunda enquanto ele procurava suas vestimentas.

Estou em choque! Tudo ainda é muito cedo para mim, Mau-Mau andando pelado por aí, era uma coisa que eu ainda não havia visto. Assim que ele pôs a cueca e sua calça, virou-se para mim sorrindo de forma doce. Enrolada no cobertor, recolhi minhas roupas e fui até o banheiro, preferi tomar um banho enquanto Mau-Mau desceu as escadas e ficaria na sala com o pessoal.

Assim que terminei, fui até a sala também, porém estava me sentindo envergonhada, como se alguém soubesse que eu e Mau-Mau haviamos transado. Sentei-me no sofá ao lado de Mau-Mau que segurou minha mão docemente. Ricardo riu ao ver o gesto carinhoso.

Conversamos muito, Mau-Mau contou várias coisas sobre a Inglaterra, e eu não gostava nem um pouco da empolgação dele ao falar daquele lugar. Tinha medo que ele voltasse para lá e me deixasse. Depois de muito tempo de conversa, Mau-Mau foi até seu quarto, fazendo um gesto disfarçadamente para que eu logo o seguisse. E foi o que eu fiz.

Depois de alguns minutos, dei uma desculpa qualquer para o pessoal e subi as escadas até sumir do ponto de vista deles.

Entrei devagar no quarto de Mau-Mau, que estava sentado sobre a cama e sorriu ao me ver entrar.

– feche a porta – disse ele de forma calma.

Assim que o fiz, me aproximei com a intenção de sentar-me ao seu lado, mas não foi isso o que aconteceu. Mau-Mau me puxou pelo braço e me acomodou em seu colo, beijando meu pescoço antes de começar a falar.

– Mari, eu senti muito a sua falta, porém preciso que me escute. –falava olhando seriamente em meus olhos. – eu vou voltar para a Inglaterra. Daqui a duas semanas, fico feliz em perceber que meu quarto está praticamente intacto. Assim poderei ficar aqui até partir novamente.

– você vai me deixar? –perguntei triste.

– eu preciso que me entenda. Não posso quebrar o contrato agora, afinal, é uma oportunidade única para mim, assim como você já sabe. – fez uma pequena pausa – quero que você vá comigo!

– e...eu não posso! – gagejei. – se você quiser me deixar como fez, vá em frente! – falei com um pouco de raiva. Mas não dele, raiva da situação.

– não quero te deixar, e você sabe disso. Sabe que eu sofri com sua falta assim como você sofreu com a minha. Ou pelo menos, como eu acho que sofreu...

– o que você quer dizer com isso?

– Lucas não estava aqui para te consolar? – pediu de forma ciumenta.

– como você pode perguntar uma coisa dessas? Você acha que eu sou o quê?!

– Mari, eu vi você e ele se beijando aquele dia no restaurante. E foi isso que me fez decidir definitivamente em ir para o exterior. você não faz ideia do quanto eu fiquei em pedaços, ao ver vocês se beijando! Justo eu, que estava te esperando para jantarmos e assistir a um filme juntos.

–Lucas me agarrou! Eu não tive o que fazer, se você confiasse em mim não teria fugido como um canalha! – sei que falei sem pensar, mas eu estava irritada.

– eu agi por impulso, queria voltar a república para me despedir, mas você não estava aqui. Mil coisas se passaram pela minha cabeça, achei que você estaria com Lucas e não ligasse mais pra mim.

– você não se importou em me deixar. – falei triste. – você simplesmente sumiu da minha vida, e a única noticia que tive sua, foi naquela mísera carta que você me enviou. Te procurei Mau-Mau, mas até a sua mãe resolveu me dispensar. Você sabe como eu me senti inútil?!

– eu queria começar uma vida nova... estava muito exaltado por tudo o que eu havia visto. Estava confuso, inciumado, indeciso.

–e isso foi suficiente para me deixar, não é? - disse com lágrimas nos olhos.

Mau-Mau não disse nada. Fitou o chão me deixando sem reação alguma. Alguns minutos de silêncio, apenas o que ouviamos foi o meu choro abafado.

– não vale a pena a gente ficar se ferindo. – disse a ele ao prantos. – não adianta um pôr a culpa no outro. Não digo que eu não errei, mas você não é inocente nessa história.

Ficamos em silêncio por mais alguns segundos.

– por que voltou? – perguntei.

Mau-Mau pareceu pensar antes de responder, procurando as palavras certas.

– eu preciso resolver algumas coisas antes de voltar. Alguns documentos da minha faculdade daqui, e alguns documentos familiares e pessoais para que eu possa ingressar no jornalismo.

Aquilo agiu em mim como uma bomba. Senti meu sangue ferver nas veias e meu rosto cozinhar minhas lágrimas que escorriam sobre ele. Mau-Mau não voltou por mim, como eu esperava que ele fizesse. Vai voltar pra lá e me esquecer ou me deixar como fez. Apenas veio até aqui, me trouxe novas lembranças de algo que eu tentava esquecer, e me abandonaria com o coração quebrado em mãos.

Não disse mais nada, meu choro se calou e o que eu fiz, foi empurrar Mau-Mau para longe de mim e me desprender de seus braços, tentando fugir do seu colo. Me levantei afastando suas mãos e zunindo de raiva. Mau-Mau ao ver isso, tentou me segurar pelo braço para que eu permanesesse sentada ao seu colo, mas eu consegui me livrar dele.

– O eu foi?

– você ainda pergunta?! – gritei alto. –o que você espera de mim? Que eu te espere durante 5 anos até que você resolva voltar pra mim?! Ou que eu simplesmente largue tudo, meus amigos, minha familia, meus estudos, minha vida como se fosse fácil?!! Só pra que você use do seu egoísmo, e se dê bem nessa merda de vida!

Não deixei ele falar nada, gritava cada vez mais alto não me importando se alguém ali da república pudesse nos ouvir.

– Você não voltou por ninguém! Nem que fosse por duas semanas, você não voltaria para cá, por que só pensa nessa porcaria de evento político naquela merda de lugar! Acha que você é a vítima nessa história? Você sabe o quanto está sendo egoísta?

– eu também sofri, Ok?! Não foi nada fácil para mim também, e não está sendo! – ele se exaltou. – eu não estou sendo egoísta, se você acha muito difícil me esperar durante 5 anos, vá em frente, termine tudo o que temos. Mas saiba, que eu não pensaria duas vezes, em te esperar. Por que eu amo você, e nem essa distância mudaria isso dentro de mim!

Estava difícil ficar ali. Eu não conseguia mais controlar a minha raiva nem se quer o meu choro descontrolado. Então, corri até a porta pronta para abri-la e sair dali. Porém foi inútil, Mau-Mau foi mais rápido, me pegou pelo braço fazendo-me virar em sua direção. Beijou meus lábios com urgência, e eu, envolvi meus braços em seu pescoço e o beijei como nunca.