Daniel entrou na biblioteca praticamente correndo; desde que o conheceu Camila não tinha visto o garoto tão animado, e não conseguiu imaginar o porquê da empolgação dele.

─ Mila, Mila, você não sabe.

─ Shihhh! – reclamaram os outros estudantes que estavam na biblioteca.

─ Desculpa, desculpa; Mila, você não sabe! – disse novamente, ao sentar em frente à Camila.

─ Eu não sei o que, Dani?

─ Quem vai tocar aqui!

─ Quem?

─ O The calling! – agora Camila entendia, essa era abanda favorita de Daniel.

─ Sério? Quando?

─ Hoje; é, eu nem acreditei quando o Eduardo me ligou e falou, por que, putz, como é que eu não sabia? Mas, tipo, o Eduardo ia vir com a namorada dele, mas ele teve que resolver problemas do trabalho e não pôde viajar, então, ele disse que eu posso ficar com os ingressos, que estão com um amigo dele; então, eu pensei, poxa, a Camila tem que ir comigo. O que você acha? – Camila mal conseguia entender o que Daniel dizia de tão rápido que ele falava.

─ Daniel, você tem autorização pra sair da escola hoje?

─ Não, mas...

─ Nem eu, então...

─ Mas, isso é só um detalhe, Camila, a gente estar falando do The calling, o que é uma autorização besta?

─ Você está sugerindo que a gente saia da escola sem autorização?

─ Estou dizendo exatamente isso. – Daniel sorriu de orelha a orelha; Camila não reconhecia o amigo.

─ Você pirou.

─ Uma vez só não mata ninguém.

─ Eu não vou fazer isso, Daniel.

─ Você não quer ver o Álex Band?

─ Eu... Eu... Não quero ser expulsa!

─ Você não vai, poxa, vai ser divertido. – Camila pensou um pouco, também era fã da banda, e estava tendo uma oportunidade de ouro; considerando que os ingressos que Daniel tinha eram do irmão dele que ia assistir ao show deveriam ser ingressos de camarote vip, então...

─ Bom, suponha que eu diga sim, qual é o plano pra sair e voltar sem ser descoberto?

─ A gente vai pular o muro! – Daniel disse naturalmente e Camila não conseguiu conter a risada, que foi seguida por vários pedidos de silêncio – Não foi uma piada, Camila!

─ Pular o muro?

─ Claro, o portão fica fechado a noite toda, não tem como sair sem ser visto, sem falar nos alarmes que tem, e você sabe; mas lá atrás o muro não é tão alto e tem as árvores, bom, é bem fácil de pular pra dizer a verdade.

─ Você está mesmo falando sério?

─ O que você me diz?

─ Não sei, isso é completamente maluco!

─ Eu sei que é, mas o que a vida sem um pouco de risco? Você tem a tarde toda pra pensar, e me dar a resposta no jantar, ok?

─ Ok; - Camila passou o dia pensando na ideia mais que maluca de Daniel; sair do colégio numa quarta a noite, sem permissão pra ver um show, era mesmo uma maluquice; se ela fosse descoberta, perderia a bolsa e ainda levaria uma broca dos pais, por que com certeza eles não iam deixar que ela fosse. Mas se não fossem descobertos seriam com certeza a noite mais divertida da vida, afinal, era o The calling, e só de imaginar ouvir a voz de Álex Band de perto, era um sonho para Camila. Na hora do jantar ela já encontrou-se com Daniel arrumada, com sua melhor roupa, e disse que topava a maluquice dele; o rapaz ficou radiante com a aceitação da amiga e os dois se encontraram logo em seguida nos fundos do colégio.

O jardim da parte de trás do colégio era cheio de árvores, e algumas bem perto do mundo; não seria tão fácil pra Camila subir em uma daquelas arvores e pular para o outro lado.

─ Tem certeza que vai dar certo?

─ Qual é Camila, você não teve infância não? – pra Daniel que sempre tinha passado as férias em fazendas subindo em arvores a tarefa seria bem menos complicada. – Tudo bem, eu vou primeiro e te ajudo a descer. Ok?

─ Ok. – Camila respondeu vacilante; Daniel, com muita habilidade, subiu na arvores, e passou a perna pra cima do muro; Camila pôde ouvir a batida quando ele pulou do outro lado;

─ Certo, eu tô vivo, Mila; pode vir!

─ Ah meu Deus! – Camila não foi tão eficiente quanto Daniel e teve uma pequena dificuldade pra passar da árvore para o muro de quatro metros de altura e apenas um de largura; Camila sentiu um calafrio quando estava lá em cima, o que seria aconteceria se alguém aparecesse ali agora e lhe visse pulando o muro do colégio? Melhor não pensar nisso! Daniel ofereceu o ombro pra que ele descesse sem precisar pular. – Eu vou cair, Daniel.

─ Não vai, eu estou te segurando, boba. – foi uma manobra incrivelmente maluca, como Camila pensou, mas ela não caiu e os dois seguiram para o show. Daniel encontrou o amigo do irmão na casa de shows e recebeu os ingressos. Eram quase dez da noite quando o show começou e Camila nunca imaginou que pudesse se divertir tanto. Eles foram à loucura com as músicas da banda preferida de Daniel. Quando terminou o show passava da meia noite e eles voltaram de táxi pra escola; claro que entrar seria bem mais complicado, por que não tinha árvore pra ajudar no lado de fora do muro.

─ Acho que a gente vai se ferrar, Daniel!

─ Dessa vez você vai primeiro, só que você vai ter que me ajudar a subir depois.

─ Ah, eu vou é? Como?

─ Me puxando, ora! Vem, sobe aqui! – Daniel fez uma espécie de escada com as mãos pra que Camila subisse – Depois você coloca o pé no meu ombro e sobe e quando você estiver lá em cima, me puxa, ok?

─ Daniel, eu sou menina, sabia?

─ Sério? Às vezes eu nem reparo esse detalhe! Agora, anda logo. – ainda duvidando que conseguiria subir, Camila seguiu as instruções de Daniel; colocou um dos pés nas mãos dele, subiu e colocou o outro no ombro; com um grande esforço conseguiu se içar até em cima do muro e sentiu de novo náuseas ao olhar pra baixo. – Certo, agora me ajuda. – disse o garoto estendendo a mão pra amiga; Camila pensou que ele estava brincando; “Daniel pretende mesmo que eu o puxe?”, pensou; é, ele pretendia. Camila esticou o braço até alcançar a mão de Daniel e começou a puxar; mesmo colocando toda a força que tinha não estava sendo de muita ajuda.

─ Acho que você vai acabar me puxando de volta pro chão.

─ Será que você não pode colocar um pouco mais de força?

─ Daniel, eu sou uma menina! Essa é toda minha força! – depois de muito esforço, Daniel conseguiu escalar até em cima do muro; os dois amigos estavam exaustos e ficaram sentados lá uns instante pra recuperar o fôlego; depois começaram a descer pela arvore. Foi muita sorte eles terem conseguido passar despercebidos pelo vigia da escola que estava fazendo a ronda e entrar no dormitório sem que ninguém, nem mesmo os colegas de quarto reparassem. Tanto Daniel quando Camila foram dormir sem nem trocar de roupa pra não fazer nenhum barulho.