Amor Perfeito XIV - Versão Arthur
Volta triunfal
Kevin Narrando
Achei que já tinha vivido de tudo naquela noite, mas vi que estava enganado quando Rafael sentou ao meu lado. Fiquei olhando pra ele esperando o que ele diria.
— Você tá puto comigo, não tá? – concordei. – Mas você tem que me entender, eu não vou deixar um cara vim do nada e ficar de papinho pro seu lado.
— A questão não é essa... – eu iria falar sobre Murilo, mas notei que ele estava olhando pra gente junto do amigo. Preferi não trazê-lo para a conversa. Rafael aproximou seu rosto lentamente.
— Achei que eu não faria isso, mas eu vou fazer. – ele selou nossos lábios.
— É uma recaída? – sorri.
— Não porque não estamos separados. É uma vontade incontrolável que antes eu conseguia controlar com os meus problemas. – o puxei e o beijei. Não estava nem aí para quem estava olhando ou se meu pai podia chegar a qualquer momento e enlouquecer. Não me importava.
— Arthur foi pra casa e não voltou. – ele falou depois de um tempo e me olhou preocupado. – Ele não estava muito bem hoje.
— Parece que renunciou ao amor de Alice de uma vez por todas. Ele não comentou nada comigo. – suspirei. – Sinto que ele tá se afastando de mim e se não fosse esse nosso grande problema eu e ele nem conversaríamos direito.
— Mérito todo do seu pai. – ele deu um suspiro triste.
— Exatamente. – concordei e abaixei o rosto.
— Nem posso imaginar o que vocês dois passaram quando pegaram vocês. – ele me olhou com tristeza. – Você devia mesmo matar o seu pai. – seu humor mudou para raiva.
— Não estrague o trabalho da Alice. Ela está insistentemente tentando salvar minha alma.
— Rafael você não vai acreditar! – Lari disse ao chegar. E com ela veio quase todo mundo. – Uma amiga minha quer te conhecer. – apenas Kevin e Murilo haviam visto nosso beijo, ninguém sabia de nada ainda, então pra eles estávamos daquela forma estranha. – Não sei como vocês dois estão, mas ela me encheu tanto o saco pra vim falar com você...
— Posso conhecer a amiga dela? – ele me perguntou e sorriu. Fiquei sério. Eu não precisava responder essa pergunta. Ele pegou meu rosto pelo queixo o apertando. – Ele é muito fofo!
— Pelo visto a resposta é não. – ela disse rindo e saiu.
— Aquele cara tá vindo. Vou insulta-lo, estou avisando. – olhei e vi o tal do Kevin.
— Não precisa ficar me encarando, eu não me apaixono por homens que amam outro homem, tenho amor próprio. – ele já chegou afrontando o Rafael. - Você ainda não conseguiu controla-lo né? – ele me perguntou e eu vi que eu iria perder a paciência.
— Ele não é um animal para que eu o controle. – respondi tentando não me exaltar. – Fica na sua se quiser ficar aqui.
— Pra mim ele é pior que um animal.
— Devo ser um animal bem melhor que você que é um veadinho ridículo.
— Tá aí. Usou a palavra que você estava doido para usar.
— Não precisava falar assim Rafael. – uma das meninas disse e foi apoiada pelos olhares da maioria. Rafael percebeu e saiu de lá.
— Vai conseguir defende-lo? – olhei nos olhos daquele imbecil.
— Você é um veado escroto do caralho. – sai de lá antes que as coisas ficassem ainda piores.
— Você está bem? – perguntei ao achar Rafael afastado de todos.
— Não vai agir como todos e me condenar, me achar um intolerante ou sei lá o que? – ele perguntou sem me olhar.
— Eu me importo mais com você e ele te tirou do sério. Você tem problemas maiores que ele agora, tenta focar nisso e... – ele não me deixou continuar falando e me beijou.
— Você sempre se preocupa comigo. E mesmo com isso entre a gente você não muda o seu jeito. Como consegue ser assim?
— Você é um homem, deveria saber que quando um homem ama alguém ele não consegue desistir tão fácil assim. E como você me disse no dia que conversamos... Ainda namoramos. E eu cuido do meu namorado.
— E se eu não baixar a guarda?
— Pelo que estou vendo já tá baixando.
— Mas... Não é tão simples Kevin.
— Bom... Então nesse caso iremos terminar. Eu nunca vou forçar a barra com você ou com qualquer pessoa.
— Sabe que eu não te mereço né? – sorri. – Me leva pra casa. Essa festa já me encheu o saco. E estou mesmo preocupado com o Arthur. – sorri mais ainda.
— É muito bom ele ter você. Vamos.
Murilo passou como um furacão por Torres, mas felizmente já havia ido embora. E eu esperava que a próxima vez que ele viesse ele deixasse por lá aquele cara que tinha o mesmo nome que eu, mas que era mais idiota do que eu podia ser em toda a minha vida.
— Bom dia. – falei ao entrar no quarto de Arthur depois de ver que o quarto de Rafael estava vazio. – É um alívio te encontrar dormindo aqui depois de ver sua cama arrumada. – falei olhando pra ele.
— Agora que ele aceitou o fim do namoro está passando pelas fases do término então eu fiquei aqui pra ele se sentir melhor. – ele respondeu enquanto Arthur nos ignorava.
— Ah é? E que fases são essas? – quase sorri.
— Pesquise. Uns dizem que são cinco e uns chegam até oito ou dez. Eu uso sete, que pra mim são as mais importantes. A primeira é choque. Foi como ele ficou um pouco antes de conversar com Alice. Ontem a noite ele estava em negação, se é que ele pode se permitir sentir isso, porque acho que ele já sentiu demais. – ele deu uma pequena risada. - Agora ele está com raiva.
— Ela não tinha o direito de fazer isso comigo e eu já devo ter dito isso alguma vez, mas... – olhei Arthur. – Agora é mesmo real e é tão desumano.
— Antes também era real, você só não queria aceitar. – opinei.
— Ah! A aceitação é a última fase. Sabemos que ele vai demorar a chegar lá.
— O que ele vai fazer nas próximas horas ou dias? – perguntei com medo.
— O que chamamos de negociação... Vai pedir para voltarem. Não pra ela, talvez pra entidade a qual ele acredite. Ou talvez pra ela, dizendo que pode fazer isso ou aquilo em troca. Mas acho difícil.
— Isso quer dizer que ele vai restaurar as esperanças?
— PAREM COM ESSA MERDA. – ele gritou e se levantou.
— Você tá atrapalhando a forma das fases dele fluírem bem. – ele me olhou e riu.
— O que você tá fazendo aqui? – Arthur perguntou de forma séria.
— Acabei de saber que Diana voltou. E sabe como? Com ela me ligando ameaçando o Yuri. Ou a gente acha o irmão dela ou ela vai machucar nosso irmão.
— Posso lidar com isso. – olhei para Yuri entrando e quase dei uma risada.
— Não deboche dele. – Arthur ordenou com a voz grave.
— Tudo bem. – peguei meu celular. – Só veja qual foi a mensagem clara do que ela fará com você. – ele arregalou os olhos e deu um passo pra trás. - Queria fazer parte disso? Aí está, é matar ou ser morto, ela te mataria na primeira chance. Então aguenta ou vai embora agora.
— Ela tá blefando. Ela não vai me torturar.
— Ela quer o irmão de volta. Ela torturaria até eu que ela diz amar e é louca obcecada.
— Mas por que ela quer o irmão de volta se ele tá contra ela?
— Preciso mesmo lembrar que ela não é uma pessoa normal?
— Já que o Yuri quer participar eu tenho uma ideia. – depois de eu dizer o que estava pensando Arthur ficou me olhando.
— Essa ideia é ruim.
— Isso de ideia ruim não existe. Só ideias incríveis mal executadas.
— Não gosto da ideia do Yuri estar na mesma casa que a Diana.
— O Yuri está seguro. Além do mais, é uma missão conjunta, totalmente sem riscos.
— Escuta. – ele chegou bem perto de mim. – Sem ataques escondidos, sem surpresas, sem nada que possa coloca-lo em perigo. Tá ouvindo Kevin?
— Perfeitamente chefe. – ele saiu irritado.
— Não fica assim, ela acha que está fazendo a coisa certa, pra você e para vocês dois. – Yuri disse chegando perto dele.
— Ele assim como você ganha na hora de consola-lo. – falei para Rafael e dei de ombros. – Não posso ser perfeito. – Estou indo e depois do almoço eu volto.
A gente se reuniu de tarde e todos ficaram sabendo que Yuri iria até Diana e então tudo foi decidido em recorde de tempo. Yuri saiu com Rafael para resolver algumas coisas e Arthur ficou para acertarmos detalhes finais, para que nada saísse errado.
— Luiz? – perguntei estranhando ele estar ali.
— Preciso muito falar com você. Fui até sua casa, não tinha ninguém, mas quando eu estava indo embora seu pai estava chegando e ele disse como eu chegava aqui... – ele estava nervoso e falava sem parar. Aquilo não era legal.
— O que aconteceu? – fiquei olhando esperando uma resposta. Ele olhou pra todo mundo.
— Por que você é tão discreto nas redes sociais hein? Por que eu não sabia que era o loirinho que era o seu namorado? – franzi a testa. – Aquele dia que você foi ao bar e disse aquilo tudo... – o interrompi.
— Tá Luiz. Diz logo o que quer dizer.
— Lembra a festa que você deu em sua casa? Ele ficou com um cara e... Eles se encontraram algumas vezes... Como amigos parece, é o que eu sei. O fato é que o Maicon tá louco por ele.
— E o que eu tenho a ver com isso? – ele deu uma risadinha irritante.
— Você não conhece o Maicon.
— E ele com toda certeza não quer me conhecer.
— Kevin... Quando ele souber que você é o namorado do cara que ele quer, eu não sei o que ele vai fazer, então achei melhor vim te avisar.
— Não vai ser um problema, porque eu não o namoro mais. – ele me olhou surpreso. – Eu disse aquele dia... Não estávamos bem.
— Menos mal. Digo... Que pena, mas que bom. – ele riu. – Você é esquentado demais e brigas podem acabar muito mal né?
— Você se preocupa mesmo comigo não é?
— Sempre. Queria que reconhecesse isso um dia. – o acompanhei até a porta e quando voltei meu irmão ficou me olhando.
— Ele te ama. – Arthur disse sério. Fiquei olhando pra ele. – E por que mentiu pra ele? Você ainda namora Rafael. É um namoro diferente talvez, mas é um namoro.
— Conheço Luiz. Tinha alguma coisa errada.
— Talvez esse Maicon o esteja pressionando. Ou talvez ele só esteja morrendo de ciúme de você. Eu te disse, ele te ama.
— Sabe o que eu mais gosto em você? – ele me olhou. – Da sua boca fechada. Vem agora. – seguimos Luiz até o bar e antes que ele o abrisse encontramos um cara diferente se exaltando com ele. Pude ouvi-lo dizer o nome dele.
— Eu o amo. – o cara disse assim que me viu.
— Eu sei, já estive em seu lugar. – cheguei bem perto dele. - Mas Rafael só vai te machucar, deixa que eu faça isso por ele. - o pressionei contra a parede. – Quem tá por trás disso? – perguntei baixo.
— É verdade que ele é homofóbico? – o apertei ainda mais. - Como vocês ficam juntos?
— Kevin você está machucando ele. – Arthur avisou bastante preocupado.
— Anda, responde. – mandei perdendo a paciência.
— Você é louco? Por que teria alguém por trás? – ele não diria nada. Soltei aquele com raiva. Não era possível.
— Você se encontrou com o tal de Maicon que você ficou aqui em casa? – perguntei assim que Rafael chegou.
— Casualmente. Ele estuda em Alela. Por quê?
— Nada. Só isso que eu precisava saber. Pode ir. Hoje a noite temos que fazer o negócio do Yuri e eu não quero distrações.
— Você vai me responder por que tá perguntando isso. – eu me levantei e fiquei de costas pra ele tentando pensar o que responder. – Tá achando que te trai com ele? Isso é impossível porque você me pediu em namoro um pouco antes do natal esqueceu?
— Você ficou com ele outra vez? – o olhei.
— Não. E não entendo você me questionar isso. Devia ser eu a fazer perguntas.
— Que? – fiz uma expressão como ele fosse ridículo e ele era.
— Essas fotos que eu recebi de você saindo na companhia de um cara me deixou com muitas dúvidas. – ele disse e pegou seu celular. Era o dia do bar. Agora a coisa toda se complicou ainda mais. Quem estava por trás do Maicon também estava por trás dessas fotos e essa pessoa não surgiu agora. – É... Você não vai mesmo me dizer nada. Tá aí o cara que preza pela fidelidade. Se alguém me contasse eu juro que não acreditaria, mas eu estou vendo e tem até vídeo. Vocês dois entrando em seu carro e depois a pessoa filmou... – ele ficou me olhando. - Você já sabe. Sabe muito bem onde entraram.
— Eu ia te contar sobre isso depois que você resolvesse o seu problema. Vai ser inútil eu tentar dizer que eu não fiz nada? É até porque eu fiz né. Só de ter ido já foi errado.
— Por isso estava agindo de uma forma tão perfeita comigo, por se sentir culpado?
— Não. Eu sou assim Rafael. Não estou me sentindo culpado, eu não fiz nada. Foi um erro, mas não tão grave pra eu me sentir culpado.
— Você tinha todo direito de fazer alguma coisa. – ele disse e abaixou o rosto. – Eu no seu lugar faria. Naquele momento eu estava estranho, te evitando e você achava que eu estava te traindo devido a uma fofoca da garota que eu amava antes. É a receita perfeita pra uma traição. – nos olhamos.
— Tem alguém tentando nos separar. – conclui após me sentir aliviado em saber que ele não terminaria comigo. – Mas por que essa pessoa esperou uma semana pra enviar esse vídeo e essas fotos?
— Uma semana depois que cheguei né? Ela podia ter enviado quando eu estava lá em casa.
— São muitas dúvidas. – fiquei pensando e tentando achar uma ligação naquilo tudo.
— E esse Maicon? – o olhei. Seu celular vibrou. – Seu irmão.
— Vai. Não o deixe mais nervoso do que ele já está.
— Ah, não. Agora ele tá deprimido. Já é a penúltima fase. – ele sorriu. E então chegou perto de mim. – Ainda não estou bem com o que eu vi. Vocês trocaram telefones?
— Sim, mas eu apaguei assim que cheguei em casa.
— Bom garoto. – ele deu um sorriso grande. – Deve ter sido frustrante pra ele ir a um motel com um cara tão gato e não fazer nada.
— Na verdade foi proveitoso, batemos muito papo. – ele me olhou irritado.
— Tchau Kevin. – dirigiu-se até a saída.
— Isso foi por me fazer achar que você me traiu. – falei e mordi meu lábio inferior tentando não rir. Ele se virou e me olhou.
— Que pena que não era verdade. – respondeu nervoso e saiu com raiva. Não acreditava que ele havia dito aquilo. Rafael era ciumento em um nível absurdo, isso quase o controlava, mas pelo menos dessa vez ele foi prudente o bastante para saber que eu não fiz nada. Não posso nem pensar o que eu faria se essa armação tivesse dado certo.
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