Arthur Narrando

Estava dentro do carro esperando a aula de Alice acabar quando vi todos saírem e Kevin chegar. Diana veio rebolando com um sorriso enorme em direção ao “namorado” e selou os lábios dos dois. A sorte era Rafael não estar aqui para ver isso.

— Isso é tão ridículo! – Soph comentou olhando a cena assim que todos chegaram perto de mim. A garota sacou o celular e tirou uma foto deles.

— Não querendo ser a do contra, mas vocês deviam levar em consideração o fato dele sair do serviço, trocar de roupa e vim busca-la. É muito trabalho pra um namoro forçado. Será que... – cortamos Giovana quase todos juntos.

— Você acredita em papai noel, fada do dente? Kevin não quer estar com ela. Deixa de ser sonsa.

— Devo ser muito sonsa mesmo né Sophia? Pra deixar você roubar o Yuri de mim. – arregalei os olhos ao ouvir a afirmação da loira.

— Que? Você tá doida? Bateu a cabeça?

— O que é isso Giovana? – meu irmão a questionou completamente confuso.

— Ah tá, vocês dois vão bancar os sonsos. A gente nem parou de se ver direito e você não perdeu tempo para ir atrás dela.

— Você é que não me quis. Eu fiz de tudo pra você namorar comigo! E eu não fui atrás dela, apenas estou sendo o amigo que sempre fui.

— Dá pra pararem com essa discussão sem sentido? – Ryan perguntou olhando para os três.

— É isso que dá envolver entre vocês. – Otávia opinou dando de ombros.

— Certo mesmo é ficar com caras como Danilo né? – Gih a criticou indo embora.

— Ninguém pode discordar. Até que enfim ela deu uma dentro. – Alê riu. – Vamos? – eles se foram e Alice entrou no carro.

— O seu irmão já ligou para o Kevin? – a olhei.

— Ainda não. Ele disse que iria pensar se ligaria. Ele não quer. – ela respirou fundo, parecia ainda mais contrariada com ele. – Usou um argumento que não faria bem a ele e traria sua ansiedade à tona... É inacreditável.

— Temos que entendê-lo se ele decidir não ligar.

— Não sei ser tão compreensiva quanto você. – dei um sorriso.

— É o primeiro elogio que recebo de você em meses.

— É... Devo mesmo ser uma péssima namorada.

— Não disso isso. – parei em frente a sua casa. – Tenho que voltar para o serviço. Rafael está completamente improdutivo e eu estou tendo que fazer o meu trabalho e o dele.

— Tá bom. Qualquer novidade eu te mando mensagem. – nos beijamos. Olhei em seus olhos e fiz carinho em sua bochecha. Seu celular começou a chamar, virei o rosto.

— É ele né? - o reconhecimento de que eu estava certo despontou em minha face. De forma involuntária acabei bufando. Odiava ter que lidar com isso.

— Não vou atender. – ela guardou o aparelho.

— Pode atender. Se for por minha causa sinta-se a vontade.

— Eu sei que se importa então por que age assim? – fiquei olhando em seus olhos por um breve momento.

— É a sua vida afinal. E eu não devo opinar sobre quem você conversar ao telefone. – ela abaixou o rosto. Se estivesse sentindo todas as emoções eu diria que ela se sentia culpada agora. – Não precisa se esforçar para evita-lo Alice. Se ele te faz bem como você me disse, veja-o.

— Eu juro que eu não te entendo.

— Só te coloco acima das minhas vontades. – ela sorriu genuinamente, o que era muito difícil ultimamente. – Vai. – olhei sua mãe bem ao longe na porta da casa. – Quer que eu abra o portão pra você? – negou gestualmente.

— Pode dizer que me ama? - a olhei tentando entender aquele pedido.

— Posso, mas... Por que tá me pedindo isso?

— É que você não tem dito muito.

— Eu te amo. Demais. – beijei sua testa com carinho. E ela deu novamente aquele sorriso, me deixando com esperança de que um dia a Alice que todos conhecíamos voltasse.

Quando cheguei ao trabalho fiquei olhando a cena tentando compreender o que se passava. Rafael permanecia com o olhar parado na moça que tentava chamar a atenção dele ao mesmo tempo em que parecia que ele a via eu sentia que ele nem ali estava.

— Oi. – falei e olhei os dois.

— Boa sorte, ele mal me responde. – ela saiu com um péssimo humor.

— Você viu isso? – me mostrou a foto de Diana e Kevin.

— É, ele tá com muita expressão de felicidade e satisfação. – revirei os olhos. – Quer deixar de ficar abalado com essa merda? É uma palhaçada. Coloca isso de uma vez por todas em sua cabeça.

— Até que eles combinam. – continuou olhando a tela do seu celular. – Os olhos são verdes, o cabelo praticamente no mesmo tom... Eles teriam filhos bonitos não teriam? – nos olhamos.

— Fala isso pra ele com essa mesma convicção e tenha a chance de nunca mais vê-lo.

— Ela podia se cansar. – deu um suspiro triste. – Mas não ia adiantar nada, ainda tem o pai de vocês. Falando nisso o Murilo... – interrompi sua fala.

— Não. Ainda não ligou. Nem sabemos se vai. Ele não quer se envolver.

— É justo. O Kevin o descartou como se fosse nada.

— Será por que mesmo? – franzi a testa o encarando. – Mas não é por isso. Murilo quase não guarda ressentimentos das pessoas.

— É claro, ele é perfeito. O santo Murilo.

— Já vai fazer um ano que ele está longe. Você ainda tem ciúme dele?

— Arthur – olhou dentro dos meus olhos. – Eu não sou burro.

— O que você quer dizer com isso Rafael?

— Eu estive com eles o tempo todo. O jeito que o Kevin olhava para o Murilo ele nunca vai olhar pra mim. – eu tinha vontade soca-lo às vezes.

— Será que é por que cada relacionamento é único e a forma dos comportamentos e olhares são diferentes?

— É fácil pra você já que Alice não tem ex namorado.

— Mas ela se apaixonou pelo meu irmão. E o beijou por mais de uma vez. E eu demorei MUITO a superar isso. E quando eu digo muito, é muito mesmo.

— Saber que ele é gay deve ter te ajudado a superar mais rápido né?

— Não. Ele ter mudado foi o que me ajudou.

— Voltamos ao ponto inicial. Quem o fez mudar? – travei o maxilar. Não tinha o que responder.

— Vamos trabalhar, anda.

No outro dia fui atrás do meu irmão, apesar dele tentar e conseguir me evitar a todo custo. Eu o encontrei em casa, com Pedro, Kemeron e o tal garoto novo.

— É uma orgia? – perguntei com receio. Ele ficou me olhando e sorriu.

— Você não pode ver gays juntos que logo pensa que eles estão transando?

— Ei eu não sou gay e já disse isso algumas vezes desde que cheguei aqui. – o garoto novo se pronunciou.

— Fica quieto e o deixe imaginar que estamos todos numa suruba louca e insana.

— Quem é ele Kevin? – ele ficou me olhando sem a mínima vontade de responder. Meu celular começou a tocar estranhei ao ver que era o número do hotel. – Você não está trabalhando?

— Não. Enquanto nosso papai não voltar de Alela eu não faço nada. E se for preciso deixar tudo fora de ordem pra chamar a atenção dele para que ele venha correndo, é isso que eu vou fazer. – atendi a chamada.

“Senhor Arthur, desculpa te ligar, mas é urgente.”

— Pode falar o que aconteceu? – já me preparei pra ir embora, Kevin me segurou.

“Recebemos uma pessoa na recepção preocupada avisando que parecia que havia alguém tentando se jogar do hotel. Quando vimos era o seu amigo, fomos até a cobertura, mas o cômodo que ele está tá trancado. A gente não sabe ainda se ele tá mesmo tentando se jogar, você pode vim aqui?”

— Estou indo. – tentei me soltar de Kevin. – Me solta caralho.

— Vou com você. – ele sabia que era muito sério. Eu tremia tanto e mal conseguia respirar.

— Deve ser um engano. Ele não faria isso. – murmurei bem baixinho.

— As meninas não estão com ele Arthur? – ele logo fez uma suposição.

— Elas iriam passar a tarde sozinhas? Estão com o pessoal. Era pra ele ter ido se encontrar com eles. Não entendo o que se passa na cabeça do Rafael. – na verdade a única coisa que se passava na cabeça dele com certeza era o Kevin.

Cheguei no tempo de um minuto ou menos e corri o mais rápido que pude. No elevador meu irmão não dizia nada, ele estava tão preocupado quanto eu ou ainda mais. Passei pela entrada e atravessei a porta de vidro, a sala estava em total silêncio. Comecei a gritar seu nome na porta do seu quarto.

— Sai. – Kevin ordenou e eu pensei que ele fosse quebrar a porta. – Rafael, por favor, abre a porta. – ouvimos um barulho lá dentro e não demorou muito a chave rodar e a maçaneta girar revelando um Rafael deprimido e aborrecido. Eles se abraçaram enquanto eu me encostei à parede e respirei fundo.

— Você pode me explicar que porra foi essa? – impedi que o momento intenso entre os dois continuasse.

— Tomei remédio pra dormir, mas me deu um branco... Não me lembro de ter conseguido dormir. Fui fumar na sacada.

— Sacada? Aquilo não é sacada. Você só pode ter ficado louco. Que remédio? Quem tá te dando remédio?

— É... – ele coçou a cabeça. – Sua vó.

— Ela é doente?

— Eu disse que não estava dormindo há três dias. Acho que ela ficou com dó de mim.

— Ela era psicóloga, ela sabe o quanto isso é prejudicial.

— Mas foi só uma cartela Arthur... E segundo ela era um dos mais fracos. – olhou para Kevin. – Por que você tá aqui?

— O Arthur saiu correndo da minha casa e eu fiquei com medo de ser algo com você ou Alice.

— Sua namorada não deve gostar de você estar aqui.

— Desculpa pela forma que falei com você a última vez. Eu não me importo com ela, não queria que parecesse isso. Ela não é minha namorada, ela é só alguém que eu tenho que ficar agora, mas... Isso tá acabando.

— Por que tá acabando? Eu nem mesmo sei o motivo disso tudo Kevin!

— É você o motivo. O que mais poderia ser Rafael? Acha que se ele não pudesse fazer algo contra você eu iria me submeter a isso?

— Ele ameaçou me matar? – eles ficaram se olhando.

— Quanto menos você souber é melhor. Só saiba que isso está com os dias contados. – eles ficaram se olhando fixamente.

— Se beijem logo, que inferno. Vou ligar pra recepção e explicar que tudo não passou de um engano. – sai e deixei os dois sozinhos. Eu podia assegurar que eu estava mais feliz que os dois juntos. Ver alguém que você ama sofrer era ruim, sendo duas pessoas então... Era horrível, quase intolerável. Mas agora que Kevin garantiu que as coisas logo ficariam bem eu finalmente podia parar de pensar o tempo todo em como tira-los disso.

Kevin Narrando

Não queria parar de beijar Rafael de jeito nenhum, mas sabia que um segundo a mais nos levaria a um lugar que eu não queria ir antes que eu resolvesse tudo, porque eu não ia mais aceitar sair e enfrentar a minha realidade. E eu sabia que precisaria fazer isso.

— Por que não? – indagou assim que me afastei dele.

— Ainda não acabou. – vi sua expressão de insatisfação. – Você sabe que é melhor assim. – usei uma voz mansa e carinhosa.

— Não, não é. Eu quero você Kevin. Eu preciso. - lutei contra o impulso de ceder e aceitar seu pedido.

— Você vai ter. Mas não assim. Vai ser da forma que você merece, como sempre foi.

— Eu gostei de você desde o momento que sentamos naquele abrigo e bebemos juntos. A partir do primeiro olhar assassino que você me deu. – ficamos nos olhando e eu acabei sorrindo. – E eu estou tão assustado ao ver o quanto estou sofrendo sem você. Chega a ser pior do que a primeira vez. Não. É bem pior.

— É que agora já estamos há mais tempo juntos... Se existe sentimento, a convivência faz tudo ficar mais intenso. Acredite se quiser, também estou sofrendo muito.

— Eu quero saber tudo. Como é esse namoro? – quase ri.

— Seu ciúme é ridículo Rafael.

— Quem é esse cara que apareceu do nada? Hein Kevin? – perguntou com um tom de total desaprovação.

— Preciso ir. – peguei meu celular no bolso.

— Você tá fugindo das minhas respostas! – fiquei observando sua reação.

— Esse seu temperamento realmente sempre vai ser um problema entre a gente.

— Não maior que o seu pai. – naquele instante eu vi que eu nunca poderia pedir compreensão do Rafael em relação a nada que acontecesse por consequência das atitudes do meu pai. E vi também que eu realmente poderia perdê-lo. E assim eu fui embora.

Mal entrei em casa e senti os olhares de Kemeron, Pedro e Nícolas em cima de mim.

— Falei demais né? Desculpa. Eu sei que disse que eu devia me manter calado... – movi minha cabeça para encarar o dono das palavras. – Isso é muito pra mim Kevin.

— Eu sei. – me aproximei dele. – Mas é muito importante pra mim. Meu namoro depende disso. Não te pediria se não fosse extremamente necessário.

— Tudo o que você está fazendo é errado Kevin. – afirmou hesitante.

— Você não sabe com o que está lidando. Preciso buscar Diana em não sei onde. Você continua aqui com eles.

Tratei logo de me apressar antes que Nic viesse com mais e mais objeções. Segui para o endereço que a garota me mandou e a vi me esperando quando cheguei. Assim que entrou no carro impregnou tudo com o seu perfume forte e enjoativo. Abri as janelas e olhei pra ela.

— Qual destino? – questionei tentando manter a boa vontade.

— Sua casa. Vou dormir lá hoje, o seu pai chega amanhã, ele já me ligou. Está fazendo grevinha Kevin?

— Isso não é assunto seu.

— Conversamos tanto! Eu nunca te obriguei a nada. Sou legal e...

— Esse namoro já é uma obrigação.

— Que namoro? Você apenas passa alguns momentos comigo. Sem nem mesmo me dar atenção. – bufou e por míseros segundos pensei que eu fosse ter dó dela. – Achei que você fosse capaz de mudar. – nem respondi. No caminho de casa passei pelo centro de Torres e vi Alice sentada com Orlando em uma sorveteria, e eu achei que essa merda já estava resolvida.

— Vou te deixar na sua casa, depois a gente se encontra. Preciso ir a outro lugar.

— Sabe muito bem que não pode se encontrar com ele. – massageei a nuca me contendo.

— Tchau Diana, até mais tarde. – ela demonstrou sua insatisfação, mas saiu sem me dar muito trabalho.

Estacionei em frente ao estabelecimento e de imediato fui notado. Vi que agora Aline, Fabiana e Alícia estavam com eles. Eu não queria ter que encarar aquela que se tratava da única mulher que meu namorado amou, mas pela Alice eu faria qualquer coisa.

— Você. – me direcionei a Orlando. – Temos um trabalho pra ser feito. Vem agora. Não se preocupe, vou pagar hora extra.

— Mas nem no hotel você está indo.

— Não importa. Anda. – iria sair, mas preferi ficar devolvendo o olhar de impassibilidade das duas garotas visitantes.

— Você não pode chegar e sair mandando nas pessoas assim. Tá achando que é quem? – Fabiana perguntou me fazendo sorrir sarcasticamente. – Ele vai recuar porque é seu empregado e não quer perder o emprego, mas isso está errado. Muito errado.

— Qual seu nome mesmo? – apontei pra dona da fala.

— Deixa de ser imbecil Kevin! – torceu ainda mais o nariz. Dessa vez eu ri.

— Constatei duas coisas aqui que me deixaram bastante satisfeito. Nem sua chatice vai conseguir me tirar do sério. – voltei a olhar o garoto. – Anda Orlando. – pronunciei mais alto e devagar. Ele se virou para Alice e se despediu dela cheio de carinho e amorosidade.

— Passo na sua casa mais tarde. – avisei a ela.

— Não estamos indo para o hotel. – constatou após um tempo enquanto eu pegava uma estrada que nos levaria a um lugar tranquilo e sem ninguém. Parei e o mandei sair. – Não me bate. – levantou as mãos.

— Quantas vezes eu vou ter que dizer pra todo mundo que eu não uso violência? - neguei com a cabeça.

— Diz isso olhando no espelho. Você não vai se convencer.

— Já fui muito agressivo, talvez por isso o semblante meio... Assustador. – sorri. – Não vou encostar a mão em você. Mas vamos ter uma conversa séria.

— Precisava ser no meio do nada? – olhou para os lados.

— Você logo vai entender. – cruzei os braços acima do peito. – Você já sabe tudo sobre Alice. Eu quero saber o motivo de ainda estar rondando a garota o tempo todo.

— Saber tudo sobre ela me afastaria por acaso? – franziu a testa. – Algumas pessoas não correm diante das dificuldades.

— Me deixe explicar direito. Saber tudo sobre ela inclui que sabe que ela tem um namorado. E mesmo que esse fato não a impeça de ter amigos, você não se encaixa nesse conceito de amizade, uma vez que compreendemos perfeitamente suas verdadeiras intenções.

— O que quer que eu faça? A garota é perfeita. Não paro de pensar nela nem um segundo. E eu sempre a achei linda, mas quando a vi de perto no hotel... Kevin, eu não vou desistir. Você vai ter que quebrar a minha cara.

— Mas não foi você que há minutos atrás pediu para não te bater? – balancei a cabeça. – Não sou eu que vou fazer isso e sim o meu irmão. E a julgar pelo seu porte físico... – o olhei de cima a baixo. – Não sei se vai restar muito de você depois disso.

— E o que acha que vai acontecer depois? – sorriu. – Acha que uma garota como aquela toda meiga e cheia de princípios vai perdoar um ato violento e horrível desses? – riu.

— Se ela vai perdoar o ato eu não sei, mas que eles vão continuar juntos eu te garanto.

— Por quê? O que existe pra esse relacionamento ter tanta segurança assim?

— Ela o ama Orlando. Só está passando pela fase mais terrível do problema dela. Mas... Eles já superam coisa bem pior que você. Inclusive ainda superam.

— O casal do ano!

— Invés de inveja-los procure alguém pra você. Alguém disponível.

— Hum... Acho que não. – ele não mudaria de ideia. Então eu iria ter que ativar meu modo Kevin.

— Tá. – soltei os braços e relaxei os músculos da face. – Vamos supor que você consiga separa-los. – o que eu sabia que não era muito difícil, mas jamais diria isso. – Você ainda tem muitos degraus pra subir. E sabe de uma coisa? Eu vou estar lá pra te chutar a cada tentativa de cada subida. Vou te difamar para os pais dela, usarei com ela minha credibilidade de melhor amigo, ex cunhado e primo. – fiz uma expressão de medo. – Acho que é titulo demais, não? – sorri. – E... Ainda por cima vou te deixar desempregado e sua carta de recomendação vai ser péssima. A cada emprego que você tentar e pedirem referência... Você já sabe.

— Você não pode fazer isso! – rangeu os dentes.

— Não só posso como vou. Tenta. Vai lá e continua se aproximando dela. Mais uma coisa... – me aproximei dele. – Não é porque eu não goste mais de agressividade que eu não possa ser agressivo. Faz o teste. Vai apanhar de dois. – destravei o carro. – Agora volta andando. – pisquei e entrei com ele xingando e batendo no carro. Dei tchau e comecei a rir enquanto contornava pra casa, apenas imaginando todo o percurso que ele teria que fazer e no quanto aquela estrada quase não passava carros e logo anoiteceria. Mais uma vez eu devia admitir, o Kevin antigo se fazia mais presente do que eu queria.