Kevin Narrando

Cheguei da capital e vi Rafael tão animado com a Alícia que a única atitude que eu tive foi a de ir pra casa. Quando fechei o portão da garagem entendi o que estava acontecendo comigo. Ciúme. Eu estava morrendo de ciúme dele. E eu não sentia isso quando via Murilo com Eliot, talvez por saber que ele não o ama ou... Por sentir algo mais forte agora por Rafael. Não sei. Só sabia que a minha raiva não me deixaria dormir.

No outro dia minha mãe me encheu o saco por eu ir almoçar lá com a família feliz. Só que eu preferia evitar ver aqueles dois. Só fui quando não dava mais para evitar, já que era necessário me reunir com Arthur e o resto para discutirmos sobre Alice. E eu perdi o controle, claro.

— Volta aqui. – Rafael me chamou quando sai da biblioteca. Continuei andando. – Estou me perguntando quando é que foi que você virou esse ciumento raivoso. Kevin para.

— Aprecio você vim aqui pelo bem de achar uma solução para o caso da Alice, mas eu só vou andar um pouco e já estou de volta. Enquanto isso vocês pensem sozinhos.

— Não estou aqui por ela. Dá pra parar de tentar sair?

— Estamos em um corredor e você tá atrapalhando minha passagem.

— Você com raiva e ciúme fica mais intragável que um vinho barato.

— Você não precisa me engolir. Nem eu quero que faça isso.

— Pode me escutar?

— Diz logo o que quer dizer.

— Seus olhos são lindos. – acho que ele viu a raiva estampada em meu rosto aumentar. – É o que eu queria dizer, não o que preciso. Ontem não foi o que você pensou. Pela primeira vez eu e Alícia nos demos bem porque o motivo da nossa desavença envolvia um sentimento que já não existe mais. Eu a esqueci Kevin. E foi como se víssemos o quão idiota nós dois fomos brigando um com o outro apenas por nos amarmos. – ele suspirou. – É isso. Eu não te vi chegar. Se tivesse visto eu iria interromper o papo e ir até você, pode ter certeza disso. E não é por dever satisfações antes que você diga que não te devo. É porque se ainda não reparou quando eu te vejo eu só sei ir até você.

— Ensaiou o que diria a noite toda?

— Metade dela. Tive que dormir um pouco para fixar o pensamento.

— Sei lá, eu me senti enganado. Se quiser ficar com ela por mim ótimo, sei o quanto a ama. Só me fala antes. Não me pega de surpresa assim.

— A parte que eu a esqueci você passou completamente por cima né? – fiz sinal negativo.

— Você não a esqueceu. Acha que esqueceu.

— Como o Murilo achou que havia te esquecido? E agora ele tá igual um cachorrinho tentando chamar sua atenção. Você tá com ciúme de mim, mas... Eu devo ter ciúme dele?

— Ele namora Rafael. Não faria isso com o namorado dele. Muito menos eu.

— É, mas a gente sabe o lugar que ele ocupa em sua vida.

— Não foi por ele que fiquei acordado ontem. Vamos voltar pra lá. – ele deu um sorrisinho pretensioso e veio andando comigo. – Para Rafael! – exclamei assim que ele veio cheirar meu pescoço.

— Ainda bem que você desistiu de trocar seu perfume. Sabe que adoro ele né? – entrei na biblioteca o ignorando. O caso da Alice ficava cada vez mais complicado de resolver já que invés de ideias surgiam ataques.

Sem falar no laudo médico dela que não ajudava em nada. Mas eu estava fazendo de tudo. O possível e o impossível. Meus dias, horas, minutos e segundos estavam sendo resumidos em solucionar essa vingança antes que ela se concretizasse. Dei até a ideia de um churrasco de despedida para o namorado do Murilo para que assim eu conseguisse afastar meu pai do hotel e invadisse a sala dele. Pra isso tive que manipular minha mãe para ela fazer um drama pra ele acompanha-la e, além disso, ainda estava sendo um caos com a secretária.

— Qual é a sua? Já te disse que não sou gay. – olhei pra cara do Danilo e pensei em algo que me acalmasse e não me fizesse sair dali. No caso foi Alice morta mesmo.

— Sei que você faz de tudo por grana. – ele me olhou desconfiado.

— Sabe?

— Sua família é rica, mas seus pais cortaram toda fonte de dinheiro após... Os incidentes na cidade que você veio.

— Como você sabe disso?

— Sei de muitas coisas Danilo. Acho que você já percebeu isso.

— E o que você quer?

— Oferecer um servicinho fácil para uma grana boa.

— Depende. Diz quanto e o que é.

— Preciso ver uma coisa no computador da secretária do meu pai, você vai dar em cima dela e vai fazer com que ela saia da sala, como? Não sei. Se vira.

— Quanto? – mostrei o dinheiro pra ele e ele entrou no carro na hora. Devia ter diminuído o valor. Erro de principiante. O que a preocupação com a Alice não faz.

— Essa velha é muito feia? – ele perguntou se olhando no espelho. – Vou ter que transar com ela? Tem camisinha aí? Tem droga? É melhor chapado. – olhei pra ele.

— Você tem o que? Dezessete anos? Uma senhora iria sair com alguém da sua idade? Para pra pensar!

— A vantagem é toda dela!

— Você é bem pior do que eu penso.

— Você pensa em mim? Já disse que eu não gay Kevin.

— Danilo. Ela tem vinte e poucos anos. Meu pai é um escroto e já deve ter saído com ela. E vocês não precisam transar e nem vão. Só distrai. Poucos minutos.

— Nunca ganhei um dinheiro tão fácil em minha vida.

— Então faz direito.

— Vou contar as histórias de quando morei em Londres. Elas adoram.

— Você já morou em Londres?

— O que você acha?

— Nunca nem pisou lá. Você e sua irmã nasceram doentes assim ou adquiriram todos esses problemas psicológicos com o tempo? Estou perguntando na seriedade mesmo, sem brincadeira. – fiquei sério.

— Sabe que não fomos presos por todos esses diagnósticos né? – ele me olhou de um jeito estranho. Por mais corajoso que eu fosse eu estava começando a me arrepender daquilo. – O que foi?

— Por que vocês tem obsessão pelas pessoas?

— Não temos. Ela tem. Meu caso é outro.

— Ah é, você só quase matou sua namorada. – estremeci. – Você é bem mais perigoso que ela.

— Ou não. Eu posso matar qualquer pessoa. Não precisa ser necessariamente por amor que eu quis mata-la. Posso também nunca mais tentar matar ninguém. Já você tá condenado... Minha irmã não vai desistir Kevin. Não sei mesmo o que ela viu em você, acho que foram os olhos verdes claros.

— O que eu faço pra ela desistir? – perguntei em um tom de voz ameno e amigável e rezei pra ele não sair de si.

— Quer um conselho? – ele me olhou de uma forma séria. – Faz as malas. Ainda nem começou. Eu a vejo desenhando seu rosto no quarto cantando. Sei que daqui um tempo vou vê-la com o olhar perdido e irritado tentando achar novas formas de te prender a ela. Por que aposto que ela já está tentando alguma coisa e não vai demorar a ver que não obteve êxito.

— Por que tá sendo legal comigo? Você me ameaçou por causa dela.

— E ameaço de novo. É só que você confiou em mim pra essa parada aí e eu valorizo confiança.

Fiquei pensando em suas palavras ele percebeu que elas mexeram comigo. Entrei no estacionamento no hotel e ele respirou fundo.

— Não ache que entre você e minha irmã eu o escolheria. Isso é bem claro.

— Óbvio. – respondi enquanto estacionava.

— Você tornou tudo ainda pior transando com ela. Só deu mais impulso na coisa toda. – ele disse a última frase mais baixo, parecia ser difícil falar aquilo. – Ela experimentou e quer mais. Muito mais. É como uma droga pra ela. Eu fui descobrir por que você fez isso. Pra salvar a pele do seu primo né? – nos olhamos.

— Não deixaria ninguém ser acusado daquilo injustamente! – me defendi rapidamente.

— Mas não iria tão longe se não fosse por amor. Percebi que você o ama. E imagino que deva sofrer ao vê-lo com outro. Sei como é isso.

— Desiste da Alice Danilo. – pedi com esperança de que ele me ouvisse.

— Ela é tão linda. Tão perfeita. Esqueça o irmão dela primeiro e eu desisto. – nos olhamos e ele sorriu.

— Estou tentando. Juro que estou. – suspirei. – Vamos sair pra beber hoje depois dessa festa idiota?

— Eu não sou gay. –fiquei olhando pra ele. – O que foi? Tá duvidando?

— O Rafael também era meio assim. – dei uma risada. – Estou te chamando apenas para conversarmos Danilo. Percebi que não fez nenhuma amizade e eu preciso estar com alguém diferente.

— Não confio em ninguém. – o jeito dele mudou e ele se fechou.

— Mas eu confiei em você. Não mereço uma ida ao bar? – ele me olhou diabolicamente.

— Você vai pagar?

— Vai me falir? – respirei fundo.

— Provavelmente. Se essa cidade idiota tiver bebida cara o suficiente.

— Você não gostou de vim pra cá né?

— Vamos ficar batendo papo no carro ou ir fazer o que viemos fazer?

— É, deixa o papo pra mais tarde. – repassei todos os passos com ele e subimos. Em vão. Não achei nada. A única saída que me restava era ir até ele.

— Você não me procurou mais. As coisas estão ótimas? – o olhei com o olhar que ele conhecia.

— Não muito. Mas sou capaz de resolver sozinho. Garotinho.

— Não acho que seja. E você sabe disso. E todo esse desdém não combina com aquele desespero em me ter por perto.

— Você é esperto, inteligente, sabe lidar com as mais diversas situações... Foi uma grande perda. Mas já era Kevin. Não temos nada pra conversar.

— Os seus negócios estão ameaçando a integridade física dos seus filhos. Mas acho que já sabe disso né? – ele riu.

— Se eu fosse me preocupar com ameaças nunca havia feito nada em minha vida.

— Você absorve a minha força sabia?!

— Eu? Não. Você ficou fraco a partir do momento que deixou o seu primo te controlar. Quer mais alguma coisa? Vim fazer companhia a sua mãe e ela está sozinha. – sai de perto dele quase sem ar. Não conseguia mais lidar com isso. Lidar com todo mal que eu soube que ele fez e fazia a Murilo. Lidar com as consequências dos seus atos que poderia acabar com a vida de Alice. Minha sanidade estava por um fio.

— Opa. – Rafael tirou o copo da minha mão. – Você já tomou três desse.

— Pode chegar alguém. – falei assim que ele me beijou.

— Você realmente se importa?

— Por mim não, mas por você sim. – respirei fundo. Vi Alice subindo. Queria falar com ela, era a única pessoa depois de Murilo que me acalmava. – Vou ao banheiro.

— Ei. – ele pegou em minha mão antes que eu fosse. – Se você não ficar bem vai ser impossível mantê-la segura. Pensa nisso.

— Eu sei. – sorri. – Seus olhos são lindos. – ele riu.

— Essa vai ser a nossa frase pra quebrar qualquer assunto difícil?

— Talvez. Dessa vez só quis devolver elogio.

— Eu nunca soube, mas acho que foi esse seu jeito que fez com que isso aqui acontecesse.

— Eu já sabia. – respondi antes de sair.

Não consegui conversar com Alice. Giovana parecia estar com problemas maiores que os meus e no fim do dia o Arthur demonstrou estar pior que nós dois juntos.

— Imaginei que ele iria surtar. – Rafa comentou ao entrar em meu carro.

— Mas esse surto foi bem além do que se podia imaginar. – tentei entender. – Não é só preocupação. Ele percebeu que eu menti.

— Você mentiu? Sobre o que? – nos olhamos.

— Meu pai. Não sei quem são as pessoas. – estalei meu pescoço.

— Ele entende que você não consegue lidar com ele mais.

— Não ele não entende e agora acha que eu fiz isso porque estou apaixonado pela namorada dele.

— Vamos sair daqui antes que ele venha e quebre tudo. – fiz o que ele disse e assim que chegamos até o centro eu o olhei.

— Danilo está me esperando.

— Pra que?

— Sairmos. Um bar.

— Entendo que esteja nervoso com isso tudo, mas vai sair com esse garoto escroto?

— Ele foi bem diferente comigo hoje. Alguma coisa me diz que ele pode nos ajudar. Ele é muito parecido comigo, é perspicaz e eu gosto disso.

— Por que lembra Murilo? Até onde eu vi no abrigo ele era bem assim também. Esperto era o sobrenome dele.

— Já reparou que ele não é mais assim? Os remédios parecem fazer ele... Sei lá... – fiquei um pouco pensativo. – Quando ele não está irritado ele parece não ser ele. Pelo menos não ser aquele Murilo que eu conhecia.

— Já ouvi dizer que essas drogas mudam as pessoas. Por que não tem outro nome, são drogas. Totalmente legalizadas e normalizadas, mas não deixam de ser drogas.

— Eu sei. – respirei fundo. – Talvez ele esteja acabando com a vida dele. E pensar que isso tudo tem uma única causa. Meu pai.

— E sentar em um bar com um psicopata resolve alguma coisa?

— Você tá com ciúme? – o olhei de forma séria.

— Não vem me dizer que ele não é gay porque eu nunca pensei em ficar com um cara.

— Tem pessoas que realmente não se interessam em pessoas do mesmo sexo, sabia?

— Mas e você, tá interessado nele?

— Não Rafael. Eu não estou. Já disse o motivo de querer ir. Não te chamo porque se eu não estiver sozinho ele não vai se abrir. Acho que ele pode me ajudar com a irmã dele. Se eu tirar essa maluca do meu pé vai ser um problema a menos.

— Tá bom Kevin. Vai lá. Ninguém te controla mesmo.

Assim que ele bateu a porta do carro eu descobri que por mais que não assumíssemos ou disséssemos, já éramos um casal. Eu estava dando satisfações a ele, os dois estavam sentindo ciúme e os dois sentiam algo muito forte um pelo outro, além de até onde eu sei serem fiéis. Não ia demorar muito tempo para ficarmos sem saída e entrarmos em um relacionamento.

Arthur Narrando

Deixei todas as pessoas que eu podia irritadas comigo e eu não sabia nem como sair dessa situação.

— Prefiro ir embora com os pais daqueles irmãos doentes do que com você. – Otávia disse e saiu da casa.

— É melhor eu pegar a chave do carro do meu pai e leva-la? – Murilo perguntou mesmo não estando nada bem com tudo aquilo.

— Deixa. – suspirei. Ainda bem que Yuri já havia ido. Menos um para me detestar.

— Acho que é melhor você ir também. – olhei pra ele após sua fala.

— Quero conversar com ele antes. – Alice falou sabendo que seria contrariada. – Preciso Murilo!

— Acha que ele merece que converse com ele agora depois das afirmações que ele acabou de fazer? – eles se olharam.

— Ele não tá com ciúme. Quer que eu termine porque não tem coragem de fazer isso. – fiquei olhando pra ela. - É. Foi ele. Vocês combinaram isso?

— Não. O que ele disse?

— Que tínhamos que terminar.

— Conheço o Kevin, o Arthur enganou até a ele. Ele só teve a mesma conclusão que o irmão.

— Tá bom, vamos fazer isso. – a decisão rápida dela me deixou um pouco chocado.

— Eu não quero fingir Alice. Realmente quero terminar. E eu quero que você comece a namorar outro.

— Arthur eu juro que te daria um soco se eu não soubesse que isso é desespero. – Murilo falou com bastante raiva.

— Namore alguém você se quiser.

— Não vou colocar outra pessoa em risco Alice.

— Amanhã a gente reúne com Kevin e vê como faz pra isso tudo se tornar o mais eficaz possível. Não precisa de mais pessoas nesse inferno. Vou lá fora ficar com Eliot. – assim que ele saiu dei um passo, mas voltei no mesmo instante.

— Acho que é melhor não ter despedidas né?

— Tchau. – ela foi para o quarto e eu fui embora.

Não sei, estava estranho. A forma como ela foi fria me deixou preocupado. A regressão dela havia começado a se manifestar. Alice não sofreria, pois ela já não sentia mais o que ela sentia por mim. E parando pra pensar ela veio dando sinais nos últimos dias e eu apenas quis ignorar.

— Você parece mal. – falei ao passar em frente o quarto de Rafael. Entrei e me sentei na poltrona.

— O que foi aquilo Arthur? – ele perguntou e eu semicerrei meus olhos.

— Não fuja de uma pergunta com outra pergunta.

— O que você acha? – dei uma risadinha. – Adivinha com quem ele foi beber.

— A sua maior ameaça está grudado ao namorado. Quem pode ser?

— Danilo. – arregalei os olhos.

— Tá rolando alguma coisa?

— Não sei. Ele diz que o cara é diferente com ele. Que ele se abriu. Presta atenção nisso Arthur. Não era ele que era o assassino psicopata irmão da garota que o persegue?

— Na verdade quase assassino porque não chegou a matar. – ele me olhou de cara feia. – Eu li os papéis. – respirei fundo. – Parece que Kevin é assim Rafael. Tentei avisar. Né?

— Como ele consegue isso? Ele é algum bruxo? Sua família tem algum histórico de magia?

— Engraçado... – parei pra pensar. – Uma coisa não faz sentido nisso...

— Ele sempre insultar Danilo? Deve ser a forma de mostrar interesse. – continuei pensando. – O que Arthur?

— Ele conversaria comigo antes. E eu teria percebido alguma coisa. Em um dia? Por que ele foi te buscar, não lembra? Antes disso ele estava na capital.

— Foi essa ida deles ao hotel. Rolou alguma coisa diferente.

— Vou descobrir agora. – peguei meu celular.

— Não vai perguntar nada diretamente né? Ele vai saber que sou eu que quero saber. – o olhei.

— Você é meu melhor amigo, mas ele é o meu irmão.

— E o que isso tem a ver?

— Que eu divido muitas confidências com ele Rafael, ás vezes sem nem precisar falar. – o celular começou a chamar e ficamos em silêncio. Coloquei no auto falante assim que ele atendeu, o olhei com certo carinho caso o que ele ouvisse fosse muito ruim.

“Pensei em rejeitar sua chamada, mas como eu espero um pedido de desculpas eu resolvi aceitar.”

— Você acreditou que eu estava com ciúme?

“Não estava? O inacreditável é você achar que me apaixonei por ela. Como eu me apaixonaria por duas pessoas ao mesmo tempo? Rafael já suga minhas emoções demais.”— o loiro sorriu.

— Você está realmente muito distraído. Não era ciúme Kevin. Era uma tentativa de fazer com que ela terminasse comigo.

“Na minha aula você é um aluno exemplar. Mas essa foi exagerada, eu confesso. Até pra mim.”

— Pior que isso seria trair. Algo que eu não faria.

“Devo lembrar que quase fez?”

— Você tá sozinho né?

“Sim. Por que não estaria?”— olhei Fael. Kevin estava me testando.

— Não sei. Mas tá falando disso então eu fiquei com medo. Onde você tá? Sai da casa da Alice agora mesmo.

“Em um bar.”

— Sozinho?

“Se eu falar você vai surtar. Então me deixa contar disso pessoalmente.”

— Alice e eu terminamos. – meu amigo fechou a cara. Ele não sabia que pra arrancar as coisas do Kevin eu tinha que distrai-lo primeiro.

“Então deu certo?”

— Não. Mas ela aceitou terminar. Kevin eu acho que ela está em regressão, ela nem manifestou tristeza.

“A gente fala disso amanhã, vou voltar pra mesa, aquele imbecil tá trocando mensagens e eu estou começando a achar que eu cai em uma cilada.”

— Quer que vá pra perto?

“Não. Não preciso de irmão mais velho me protegendo.”

— Você tá com Caleb? Ou Danilo? É isso? Você é louco?

“Preciso dele pra me livrar da irmã dele. E acredite ou não o filho da puta é legal.”

— KEVIN! Não tá rolando nada né?

“Você me ouviu falar do Murilo quantas vezes desde que ele chegou?”

— Não sei, por quê?

“Porque foram poucas. E sabe o motivo disso? Deve tá bem em sua frente. Diz a ele que assim que sair daqui vou ir aí. Tchau.”

— E eu ainda acho que consigo engana-lo. – falei e dei uma risada.

— Como você tá com tudo isso da Alice?

— Ela vai voltar a ser inexpressiva. Não ter mais defesas. Vai ser aquele inferno todo de novo. É o pior momento pra terminamos, porque ela não vai voltar pra mim.

— Então não termina Arthur!

— E vê-la morrer?

— Denuncia o seu pai cara, é sério.

— Vou falar o que Rafael? Não temos provas de nada!

— O Kevin consegue fazê-lo falar as coisas. Ele pode gravar.

— Não acho que ele consiga nada que o coloque atrás das grades. Qualquer coisa que seja positiva ele derrubará também.

— Arthur se lembra do que o Murilo disse sobre eu não saber sobre os negócios do seu pai? – concordei. – Você sabe quais são?

— Não. Você sabe?

— Desconfio. Ele faz esquema de nota fria, sabe disso né?

— Imagino. E não é aqui em Torres e Alela ou apenas aqui, ele faz isso em todas as redes do hotel que ele tem controle.

— Ele acaba com o patrimônio da sua família.

— Ele veio cobrar a filiação dele com o único objetivo de adquirir bens e dinheiro. Ele foi herdeiro do meu avô falecido e, além disso, teve o casamento com minha mãe, dois filhos e na época o emprego desde novo pra montar toda a escada que ele subiria.

— Seu pai é muito sujo Arthur. Como você é assim tão integro?

— Observando ele ser desse jeito.

— Mas vamos pensar... Esses caras que estão atrás dele, você acha que são empresários?

— Kevin não sabe a pessoa exata e nem o que aconteceu na negociação, mas ele sabe o que é o negócio e não quer falar. Ele disse que é o tipo de coisa que depois que se sabe não tem como esquecer. E que a última pessoa que ele contou reagiu muito mal, imagino que seja Murilo.

— Você ficou com medo né? – concordei. – Pensei em algumas coisas, mas... Lembra da primeira noite que fiquei com Murilo? Ele passou no hotel antes de pegar as drogas.

— Pensei nisso. Só que a conta não fecha. Como pode ser? Ele só fica em casa e no hotel.

— Passa por ele. Ele não é o chefe, pra não dizer aquele nome. Imagino que ele deva ser responsável por alguma conexão ou travessia. Corrupção de policiais. Sei lá. Ele tem avião? Pode usar para transporte. Existem milhões de possibilidades Arthur!

— Eu não sou desse mundo. Como você sabe dessas coisas?

— Não sou um playboyzinho que foi criado pela vovó. – ele deu uma risada. Depois ficou sério. – A casa dele vai cair ainda... Mas poderia ser sendo preso e não fazendo inimigos.

— Por que alguém não o mata de uma vez?!

— Não é assim tão simples. Ele deve ter alguma relevância.

— Pois pra mim nenhuma. – me levantei. – Você tá avisado. – sorri. – Seu amor vem aí.

— É. No fim da noite e com cheiro de bebida. O que eu me tornei?

— A puta do Kevin. – sai quase correndo e rindo. Essa noite eu só queria tentar dormir e descansar. Amanhã eu pensaria nisso tudo de novo.