Decisões Difíceis

Murilo Narrando

“Devo começar reforçando o que você já sabe que você foi meu primeiro amor, peculiar e de certa forma assustador, mas eu não me arrependi nem um minuto de tudo que vivemos. Você disse que eu te mudei, eu não te mudei, só te fiz gostar de você mesmo e assim ser o melhor que pode ser... Isso é o mais importante. Eu amo o seu jeito. Nunca encontraria no mundo todo alguém tão irreverente e intrigante. Partir me machuca de inúmeras formas e sei que é assim com você também, então para não te machucar mais ainda eu prefiro acabar com tudo. Quando eu chegar ao meu destino sei que não vai ter como eu esconder meu número novo de você, só peço para não mandar mensagens nem me ligar. Não responderei e nem vou te atender. Se está se questionando os motivos da minha atitude, também não sei dizer. É uma mistura de vontade de acabar com esse drama e medo de correr o risco de te perder pra sempre caso eu não consiga ser fiel. Pra ser bem sincero a verdade mesmo é que eu acho que devo focar na minha evolução pessoal, essa viagem talvez seja a oportunidade que eu nunca tive. Estou longe dos meus pais, da minha família, dos meus amigos, da minha cidade, tenho todo o tempo do mundo para me conhecer, aprender comigo mesmo e saber o que eu quero da vida em todos os aspectos e sentidos. Sei que é difícil compreender, vai parecer egoísta, mas eu só vim porque era necessário então eu tenho que aproveitar de alguma forma. Eu te amo Kevin... Eu te amo pra caralho. Não vou dizer que nunca vou te esquecer, mas pode ter certeza que eu sempre vou ter um carinho muito especial por você e quando nos reencontramos tenta deixar a mágoa de lado e não seja um escroto comigo. Não esqueça que sempre fomos amigos. Por favor, não vá ceder ao seu pai e nem ao seu lado sombrio, você é muito mais que isso. Nunca duvide do quanto te amei.”

Acabei de enviar a mensagem para Kevin aos prantos. Estava no avião ainda esperando que todos entrassem. A garota ao meu lado me olhava estranho, mas não disse nada. Pelo que entendi parecia que sua vontade era dizer “calma, vai ficar tudo bem”. Antes que decolasse enviei também uma mensagem para a minha irmã.

Provavelmente essa tenha sido a decisão mais difícil que eu tomei em toda minha vida. Deixar Kevin e sair do País não era só um sofrimento. Era um desafio. Não vou mentir. Eu era um garoto mimado. Acostumado com a mãe fazendo tudo o tempo todo. Essa era a minha realidade. E agora eu teria que me virar sozinho e isso iria me fortalecer ou me destruir por inteiro.

Tudo bem que eu estaria em um hotel e teria a maioria dos serviços prestados. Mas ainda assim não era a minha casa e nem a minha mãe. Ninguém sabe o que é ter uma mãe como a minha, de tão zelosa chega a ser insuportável.

As portas do avião foram trancadas e logo os avisos começariam. Não tinha mais volta. Kevin iria ser só uma passagem em minha vida... Será que seria apenas ele? Ele estava certo... Não pude evitar o sorriso ao concluir isso. Eu queria estar com outro cara. Saber se essa coisa louca, essa química, esse encaixe... Se só acontecia por que eu o amava ou se era assim com todas as experiências que eu tivesse com alguém do mesmo sexo.

Eu tinha direito de ter essa curiosidade. Para ele já era normal, pra mim não. Você não fica com a primeira pessoa na sua vida pega na mão casa e morre ao lado. Pelo menos, eu Murilo não quero isso e não penso assim. A vida é feita de momentos e experiências. Você tem que ter muita certeza e vivência para se estar ao lado de alguém e dizer que é realmente para sempre e se o destino infelizmente nos separou eu vejo mais como um “não era para ser”.

Dói. Muito. Mas eu levaria isso com o meu jeito Murilo de ser. Se isso significava sexo para fugir do que sinto? Talvez. Drogas? Quem sabe. Quando se é imprevisível como eu não dá para criar uma regra para fugir do sofrimento. A coisa mais importante pra mim agora lembrando mais uma vez, é que eu queria me entender. Só que antes de me entender eu teria que me encontrar.